Este é o segundo post com base no livro de David Powlison Falando a Verdade em Amor. No primeiro, vimos parte do testemunho pessoal de Powlison, compartilhado em Por que escolhi ser treinado para o ministério de aconselhamento? — um dos capítulos do livro. Conforme prossegue em seu compartilhar, o autor conta-nos sobre sua experiência no mundo da saúde mental, sobre a diferença que a Palavra de Deus fez em sua vida e sobre a escolha, talvez para muitos surpreendente, de estudar teologia como preparo para ser um conselheiro.
Powlison comenta como pela Palavra, o Deus da Palavra o levou aos pés da cruz de Cristo e a uma mudança radical no seu entendimento e atuação como conselheiro. A Bíblia, melhor do que todas as psicologias juntas, lançou luz sobre seus motivos, circunstâncias e pensamentos, sobre seu comportamento, as emoções e os relacionamentos. As psicologias viam apenas a superfície das coisas, embora tivessem a pretensão de compreendê-las “profundamente”. Jesus foi ao fundo do seu coração, com simplicidade, mas não simplismo.
Não há dúvida de que os conceitos consistentes da Bíblia podem ser tornados tão simplistas e reducionistas quanto a pior psicologia pop. E os conceitos não bíblicos podem rapidamente se transformar em labirintos de complexidade. O pragmatismo pós-moderno “multimodal” dos psicoterapeutas mais contemporâneos é, por fim, uma afirmação de desespero quanto à possibilidade ou não de que possamos verdadeiramente saber qualquer coisa. Cristo, por outro lado, é simples, e ainda assim ele fala com todas as nuances. Ele nos comunica um olhar simples e um discernimento claro, deixando que reflitamos sobre cada variação e ambiguidade sem que fiquemos desorientados. Ele cria em nós um programa redentor constante, uma esperança indestrutível, que nos deixam entrar em qualquer vida, não importa quão confusa, sórdida, angustiada, violenta, viciada ou assustada ela esteja. Ele nos ensina como nos sentir fracos e oprimidos e, ainda assim, a caminhar com confiança. Num bom seminário (e numa boa igreja local), aprendi a dar a minha vida para essa simplicidade. (p. 158)
Falando a verdade com muito amor, David Powlison afirma que o ingrediente mais importantes no aconselhamento é a sabedoria bíblica. A instrução teológica consistente, adquirida em um seminário cujo ensino seja fiel à Bíblia, contribui sobremaneira para a aquisição da sabedoria bíblica.
Nenhum seminário pode garantir a aquisição dessa sabedoria – longe disso. E nenhum programa de orientação secular – que, por definição, descarta o “temor do Senhor” – pode ensinar a verdadeira sabedoria. Mas uma boa instrução teológica pode fornecer a matéria-prima para o aconselhamento à parte dos cursos de aconselhamento. (p. 159)
Por que buscar a instrução teológica e fundamentar-se nela para praticar o aconselhamento? Porque a teologia consistente é a base para o conselheiro compreender os problemas da vida. Nas palavras de Powlison, o aconselhamento é uma questão teológica — sempre! (p. 162)
Powlison mostra como todos os conselheiros, sejam eles conselheiros bíblicos ou especialistas da saúde mental, lidam com os problemas a que a Bíblia se dirige.
O que está acontecendo realmente nas vidas? O que deve ser mudado ou incentivado? Todo aconselhamento é repleto de valor. O aconselhamento é, sem dúvida, uma questão moral e teológica. Pretender que seja diferente disso é ser ingênuo, é estar enganado ou ser enganoso.
Todo aconselhamento desvenda e edita histórias; qual é a verdadeira “metanarrativa” atuando nas vidas humanas? As histórias são diferentes. Todo aconselhamento deve lidar com as questões do verdadeiro e do falso, do bem e do mal, do certo e do errado, da glória e da vergonha, da justificação e da culpa. As respostas são diferentes. Todo aconselhamento lida explícita ou implicitamente com as questões da redenção, da fé, da identidade e do significado. A redenção oferecida varia. (p. 161)
Mais adiante, ele destaca que alguns modelos aplicados pelos especialistas da saúde mental, embora alheios à verdade bíblica e falsos em seu entendimento, empregam termos até mesmo semelhantes àqueles da teologia cristã: crescimento, cura, processo. Ele acrescenta que tais sistemas seriam inadmissíveis se não fossem de algum modo semelhantes à verdade.
A mentira sempre opera sub specie boni, sob o aspecto do bem; a plausibilidade de qualquer falsificação depende de sua semelhança com a coisa real. Mas a cura não bíblica de almas é animada por diferentes objetivos e conta uma história diferente. As mesmas palavras significam coisas totalmente diferentes. (p. 162)
O desejo que David Powlison expressa é que o grande Conselheiro possa nos tornar conselheiros cada vez mais fiéis à verdade bíblica, mais simples e menos simplistas ou complicados, com uma visão mais rica das Escrituras. Nosso anseio deve ser aprender a aconselhar de modo que expresse unicamente a Cristo no entendimento, alvo e compaixão.
As coisas mais valiosas que você aprende sobre o aconselhamento podem vir de sua Bíblia e dos cursos de teologia — contanto que você faça o árduo trabalho de aplicação e nunca separe a Palavra de Deus da vida humana. (p. 164)
Que possamos ser diligentes no estudo da verdade de Deus e, então, conselheiros que aplicam a verdade em amor para entender e lidar com os dilemas mais profundos da alma!
“Então não seremos mais imaturos como crianças, nem levados de um lado para outro, empurrados por qualquer vento de novos ensinamentos, e também não seremos influenciados quando nos tentarem enganar com mentiras astutas. Em vez disso, falaremos a verdade em amor, tornando-nos, em todos os aspectos, cada vez mais parecidos com Cristo, que é a cabeça.” Ef 4.14, 15 (NVT)
Citações extraídas de: POWLISON, David. Falando a verdade em amor: aconselhamento em comunidade. São Paulo: Cultura Cristã, 2011.