O jovem e o suicídio

O movimento Setembro Amarelo, uma campanha de conscientização e prevenção do suicídio, recebe especial atenção da mídia com relação aos jovens. É possível que você seja um jovem desejoso de ajudar um amigo, ou talvez você seja um jovem que acabou de perder um amigo. Como entender o suicídio? Como transmitir esperança verdadeira a um jovem?

Situar e entender o problema
No Brasil, embora a taxa mais elevada de suicídio esteja entre os idosos, chama a atenção o fato de que o suicídio é a quarta causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos de idade. O índice é maior entre os homens, embora a maior incidência de tentativas de suicídio aconteça entre as mulheres.[1]

Na adolescência, tanto o rapaz quanto a moça passam por crises enquanto desenvolvem sua capacidade de suportar pressões, lidar com a própria sexualidade, tolerar frustrações nos relacionamentos, lidar com as emoções e fazer escolhas importantes para o futuro. No início da fase adulta, acontecem as adaptações ligadas a deixar o núcleo familiar de origem, ainda solteiro ou com o casamento, completar os estudos e se firmar na vida profissional. Nem sempre o jovem adulto lida facilmente com essas e outras pressões.

Não são raros os momentos de desapontamento como uma reprovação no vestibular, um emprego perdido, um namoro rompido, uma doença inesperada, a perda de alguém querido, as dificuldades para se inserir em um novo ambiente, que podem resultar em solidão, ou o senso de desânimo gerado pelas redes sociais onde quase todos passam a ideia de que estão felizes e são bem-sucedidos. A culpa por alguma decisão mal tomada ou erro cometido também pode ter um forte peso.

Em momentos como esses, as pessoas à volta precisam estar atentas para identificar sinais que merecem atenção como, por exemplo, mudanças repentinas de comportamento e humor, uma acentuada introspecção, falta de motivação, agressividade, ansiedade descontrolada, abuso de substâncias psicoativas, descuido com o próprio corpo, automutilação, rituais de despedidas, e frases como “eu queria sumir”, “não vale mais a pena”, “as pessoas estariam melhor sem mim”.

Os passos rumo ao suicídio começam bem antes do jovem tirar a própria vida. O suicídio pode ser visto como “uma progressão descendente, começando com um desapontamento intenso que, em última análise, leva ao desespero e a escolhas destrutivas quando alguém perde a esperança de sair do lamaçal do desespero. O cérebro, como órgão físico, é afetado quando as circunstâncias dolorosas levam ao desespero, mas não podemos dizer que a maioria dos suicídios pode ser explicada simplesmente por um mau funcionamento do cérebro […]. Precisamos lembrar que o nosso ser experimenta a vida em todas as dimensões, e a vida espiritual – desejos, crenças e valores do coração – impacta significativamente o aspecto físico também”. [2]

O suicídio não está acontecendo somente “lá fora”. Ele pode estar bem perto de nós, e precisamos falar sobre ele, alertar e estar prontos para dar esperança bíblica e ajuda prática nas crises.  É importante lembrar que o suicídio não é tão motivado pelo querer morrer quanto pelo não saber como viver e vencer com os desafios. A perspectiva, em geral, é ambivalente: o jovem quer se livrar da dor, da vergonha ou da culpa que carrega, mas, no fundo, ele quer viver. Ele necessita, basicamente, de três coisas: esperança verdadeira e razão para viver, certeza de que existe como lidar com aquilo que lhe parece intransponível, e alguém que caminhe ao seu lado.

Como ajudar?
• Incentive o jovem a falar, e escute com atenção o que ele tem a dizer — Responder antes de ouvir é tolice e vergonha. Pv 18.13
Permita que o jovem expresse sua dor. Seja compassivo ao ouvir. Não se deve banalizar nem desprezar quaisquer sinais verbais ou não verbais de uma intenção de suicídio, por menor que seja, nem julgar como mero recurso para chamar a atenção. Ainda que em alguns casos possa haver um componente manipulativo, não se pode deixar de considerar a existência do risco de suicídio.  Converse abertamente, sem receio, saiba escutar e procure entender o que se passa na mente da pessoa. Faça também perguntas especificas para perceber o quanto o jovem tem premeditado seu suicídio. Quanto mais concreto for o plano e quanto mais acesso o jovem tiver ao seu método de escolha, maior a probabilidade de que ele siga adiante e o concretize.

• Comunique interesse e esperança em Cristo —  O amigo ama em todos os momentos; é um irmão na adversidade. Pv 17.17
Não se preocupe em ter todas as respostas, mas seja um amigo que mostra amor fiel, e aponta para a graça suficiente encontrada em Cristo para a salvação e para a caminhada cristã. Incentive a ver que as dificuldades não escapam do plano de Deus para nos fazer mais parecidos com Cristo. E assim que for possível, comece a ajudar a pessoa a entrever as saídas práticas para sua situação e a dar passo concretos rumo a elas.

• Encaminhe para receber mais ajuda — Cuidemos também de nos animar uns aos outros no amor e na prática de boas obras.  Não deixemos de nos congregar, como é costume de alguns.  Hb 10.24, 25
Se você não souber como prosseguir, conduza imediatamente a alguém mais capacitado para ajudar. E seja qual for o caso, não deixe de encaminhar a pessoa à comunhão da igreja local, ainda que ela possa inicialmente relutar. Ajude-a a se inserir para que ela seja ministrada pelo corpo e também comece a servir a Deus e aos outros.

• Esteja preparado para encorajar biblicamente —Deus é fiel, e ele não permitirá tentações maiores do que vocês podem suportar. Quando forem tentados, ele mostrará uma saída para que consigam resistir. 1Co 10.13 – NVT
Os jovens precisam desesperadamente do encorajamento que só o verdadeiro Evangelho pode dar. Certifique-se de que seu amigo recebeu a vida eterna em Cristo e, em seguida, fale do plano de Deus para ele, agora e na eternidade. A verdadeira esperança – a confiança de que Deus está no controle e tem um bom propósito para o hoje e o amanhã  – encoraja nos momentos de desânimo e protege o coração do desespero e das ações destrutivas.  Estude a Palavra de Deus e aproveite bons recursos para se preparar melhor e ser um instrumento de esperança para alguém que precisa de ajuda – não só o jovem, mas também seus familiares, amigos e colegas que são grandemente impactados.

Foi por meio da fé que Cristo nos concedeu esta graça que agora desfrutamos com segurança e alegria, pois temos a esperança de participar da glória de Deus.  Também nos alegramos ao enfrentar dificuldades e provações, pois sabemos que contribuem para desenvolvermos perseverança,  e a perseverança produz caráter aprovado, e o caráter aprovado fortalece nossa esperança,  e essa esperança não nos decepcionará, pois sabemos quanto Deus nos ama, uma vez que ele nos deu o Espírito Santo para nos encher o coração com seu amor.  Quando estávamos completamente desamparados, Cristo veio na hora certa e morreu por nós, pecadores.  Rm 5.2-6 – NVT

APRENDA MAIS: RECURSOS EM PORTUGUÊS

Esboço bíblico
Esperança em Cristo

Artigos
•David Powlison. Eu quero apenas morrer: substituindo pensamentos suicidas pela esperança.
•Edward Welch. Quando o suicídio se aproxima
•Kevin DeYoung. Suicídio é um pecado, mas não o pecado imperdoável
•Valdeci Santos. Quando o suicídio acontece

E-book
•David Powlison. Eu quero morrer: substituindo pensamento suicidas por esperança (Editora Fiel, 2018)
Você está tendo pensamentos e sentimentos suicidas? Talvez você esteja convencido de que a vida não vale a pena ser vivida. Sua vida parece sem esperança, como um buraco negro sugando todo amor, esperança e alegria. Neste livreto, David Powlison descreve as várias razões pelas quais você pode estar se sentindo sem esperança e explica que Deus não está surpreso com os seus sentimentos. Ele sabe tudo sobre você. Ele quer que você leve seu desespero até Ele e clame por ajuda. Ele vai lhe responder.

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APRENDA MAIS: RECURSOS EM INGLÊS

Artigos
[Lembre que você pode recorrer ao tradutor do Google no seu navegador se tiver dificuldade com o inglês]
•Christine Chappell. Wretched extremes: the ‘Always’ and ‘Never’ of suicide
•David Powlison. Help for those grieving a suicide
•Jeffrey Black. Counseling someone considering suicide: know the myths, risks, and responses
•Jon Bloom. Help for those fighting or grieving a suicide
•Julie Ganschow. A life cut short
•Julie Ganschow. Come to Me…
•Julie Ganschow. Lies we tell ourselves- and believe
•Kaitlyn Neese (Girl Defined). God’s truth helped me overcome suicidal thoughts
•Paul Tautges. Hope for the person contemplating suicide
•Tim Allchin. A P.L.A.N. to engage a suicidal person wisely

Palestra em áudio
•Bruce Ray. Dealing with suicide: prevention and intervention (1:02:16) acompanhada de esboço.

Livretos
•Bruce Ray. Help! My friend is suicidal. (Harrisburg, PA: Shepherd, 2014. 64 p.)
•David Powlison. Grieving a suicide: help for the aftershock. (Greensboro, NC: New Growth: 2010. 24 p.)
•Jeffrey Black. Suicide: understanding and intervening. (Phillipsburg, NJ: P&R, 2003. 40 p.)

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ASSUNTOS RELACIONADOS

A depressão e o suicídio geralmente andam de mãos dadas, e o jovem precisa também adquirir habilidades para viver, nas várias áreas da vida.
DepressãoBibliografia  — Coleção de links de Conexão Conselho Bíblico – português e inglês
Vida cristã do Jovem — Coleção de links de Conexão Conselho Bíblico – português e inglês



[1] http://portalms.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/29691-taxa-de-suicidio-e-maior-em-idosos-com-mais-de-70-anos

[2] https://biblicalcounselingcenter.org/christian-response-suicide-2/