Eliza Jane Huie
As discussões sobre dependência carregam um tom sério. A realidade sombria de que um vício traz destruição é entendida, e as conversas refletem esse peso. Aqueles que acompanham dependentes ou suas famílias sabem que a necessidade de mudança é incontestável. Isso vale para as dependências que envolvem pornografia, álcool, drogas ilegais ou prescritas, jogos de azar, automutilação e outras substâncias ou comportamentos. No entanto, a dependência tecnológica não costuma ter o mesmo peso. O uso da tecnologia prevalece em nossos dias, e pode ser difícil identificar o viciado.
Abaixo está uma lista de comportamentos sintomáticos comuns, que podem indicar a dependência tecnológica.[1]
— Preocupação – Pensar repetidamente em atividades online.
— Uso crescente – Sentir a necessidade de gastar cada vez mais tempo no seu dispositivo.
— Incapacidade de parar – Lutar para reduzir o uso da tecnologia, mesmo depois de várias tentativas.
— Forte anseio – Sentir uma necessidade persistente de estar em seu telefone, computador ou outro dispositivo.
— Sintomas de abstinência – Sentir-se inquieto, mal-humorado, deprimido ou irritado quando faz uma tentativa de interromper ou reduzir o tempo diante da tela.
— Perda de tempo – Você mesmo ou as pessoas ao seu redor percebem que você perde repetidamente a noção de tempo ao usar a tecnologia.
— Negligência – Negligenciar responsabilidades pessoais, relacionais e espirituais devido ao uso excessivo de seus dispositivos.
— Comportamentos de risco – Comprometer os relacionamentos significativos, seu trabalho ou possíveis oportunidades educacionais e de carreira profissional devido ao uso excessivo da internet.
— Mentiras / ocultamento – Mentir ou ocultar a atividade on-line ou a extensão de seu envolvimento com a tecnologia.
— Escape – Usar seus dispositivos como escape para não lidar com as realidades difíceis.
O uso da tecnologia não é apenas aceito, mas esperado à vista de todos. Entre em qualquer cafeteria ou restaurante, e você encontrará rostos fixados em telas. Olhe à sua volta na próxima vez em que estiver em uma sala de espera, e você certamente verá os dispositivos em ação. Mesmo nas ocasiões mais emocionantes ou íntimas eles estão presentes, sem objeção. Embora existam algumas razões sensatas e benéficas para a presença da tecnologia, o ponto é que ainda que você faça um uso abusivo de seus dispositivos, não é comum receber uma desaprovação pública. Trata-se de um vício aceitável.
Muitos leitores deste post poderiam se dar conta de que o uso que eles fazem da tecnologia tem tido um impacto negativo em sua vida e relacionamentos. É possível que você também se identifique com alguns dos sinais indicadores listados acima. Apesar de sentir algum remorso, há pouca ou nenhuma pressão para alterar o comportamento. Muitas vezes, seus próprios amigos e familiares estão usando a tecnologia de maneira parecida.
Como administrar bem o uso da tecnologia
Para evitar cair em padrões de dependência da tecnologia, os cristãos devem considerar seriamente o assunto. Como pessoas chamadas a viver no mundo, mas sem ser do mundo (João 17. 15,16), o vício em tecnologia é algo que não devemos aceitar. Será que a solução seria cortar o uso da tecnologia? Para fazer isso, teríamos que sair deste mundo dominado pelas telas. Em vez disso, devemos considerar com seriedade como usamos os dispositivos e os administramos para a glória de Deus (1Coríntios 10.31).
Administrar bem o uso da tecnologia, significa colocar Deus acima das atividades praticadas diante de uma tela. Se o uso da tecnologia impedir que você tenha seu tempo a sós com o Senhor, em oração ou na Palavra, é hora de levar a sério a necessidade de mudanças.
Se o uso de dispositivos impacta negativamente suas responsabilidades, ou os seus interesses na tela fazem com que o seu chamado para amar aos outros fique em segundo plano, a mudança é necessária. Administrar bem o uso da tecnologia significa vê-la como algo a ser utilizado apropriadamente, de maneira lucrativa na economia do Reino. Administrar bem o uso da tecnologia significa usá-la de forma produtiva e edificante (1Coríntios 10.23).
Como controlar seus anseios
Alterar o uso da tecnologia não é uma tarefa fácil. É preciso lançar mão de uma abordagem da tentação do tipo “cortar o mal pela raiz” ou “arrancar os olhos” como diz Mateus 18.7-9. A vida cristã é um chamado para lutar contra os desejos pecaminosos. Enfrentamos essa batalha diretamente na área do uso equilibrado da tecnologia. É um exercício de domínio próprio que revela nosso compromisso de viver uma vida com Cristo para ganhar o prêmio (1 Coríntios 9.24-27).
Os cristãos renovam sua mente para viver uma nova vida. Onde antes uma dependência da tecnologia teria sido algo pouco preocupante em um contexto no qual todos usam excessivamente seus dispositivos, agora procuramos nos despir do antigo modo de viver e honrar a Deus em todos os aspectos da nossa vida, incluindo o uso que fazemos da tecnologia (Efésios 4.22-24).
A realidade da brevidade da vida
A Bíblia não silencia a respeito de quão curta esta vida é. Nossos dias estão contados, e nós somos verdadeiramente a névoa (Salmo 90.12; Tiago 4.14). Devemos viver cada dia de maneira que reflita essa verdade. Especificamente, o uso que fazemos da tecnologia deveria refleti-la. A maneira de usarmos nosso tempo limitado aqui na terra revela o que governa nossa vida e para que vivemos. Na busca de reivindicar os momentos valiosos da vida, considere isso na próxima vez em que rolar a tela.
Perguntas para reflexão
O uso da tela tem um impacto negativo em sua vida e seus relacionamentos?
Que medidas você pode tomar para conter seu anseio pelo uso da tela?
Recursos
Se este artigo revelou áreas de mudança necessárias em sua vida ou na vida de alguém querido para você, leia mais sobre o assunto em Hábitos que escravizam.
[1] Esta lista foi parcialmente adaptada de
https://www.healthyplace.com/addictions/internet-addiction/symptoms-internet-addiction .
Eliza Jane Huie é diretora executiva do Life Counseling Center, em Maryland, onde também atua como conselheira bíblica. É mestre em aconselhamento pelo Biblical Theological Seminary e completou seu treinamento na Christian Counseling Education Foundation (CCEF). É autora de Raising Teens in a Hyper-Sexualized World, and Raising Kids in a Screen-Saturated World .
Original: Screen Abuse: An Acceptable Addiction
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition
Tradução: Isabelle Largatera
Revisão e adaptação: Conexão Conselho Bíblico