“Pesquisa e produção textual” resumidas em 4 pontos para o conselheiro bíblico
Você está precisando de um material personalizado para o seu ministério, de algo para compartilhar com o seu aconselhado, com seu grupo de discipulado ou com um público maior? Quer a ideia seja produzir um breve artigo, um texto de dez ou mais páginas, uma tarefa prática ou mesmo o esboço para uma palestra, qualquer que seja o recurso a ser produzido para o ministério, é preciso passar por algumas etapas de preparo. Elas se assemelham bastante às etapas de produção de um trabalho acadêmico, ainda que permitam certa informalidade e possam variar um pouco de um tipo de trabalho para outro. O fato, porém, é que embora a produção ministerial seja ocasionalmente menos rigorosa no seguir as normas técnicas de formatação, ela nunca pode ser menos rigorosa na exatidão do conteúdo.
Caso você necessite de uma obra completa sobre a produção de trabalhos acadêmicos, sugerimos que consulte o e-book Metodologia do Trabalho Científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico, de autoria de Cleber Cristiano Prodanov e Ernani Cesar de Freitas. O acesso é gratuito, disponibilizado pela Editora da FEEVALE (link — link permanente)
1. AS PRIMEIRAS CONSIDERAÇÕES
Qual é o campo temático? Qual é o problema a ser resolvido? Quais são as minhas primeiras ideias?
Campo temático e tema
O passo inicial é identificar o campo temático de trabalho, determinado pela necessidade ministerial — por exemplo, o aconselhamento de jovens. Dentro de um possível conjunto de aspectos incluídos nesse campo temático, você deve identificar um foco ainda mais específico, ou seja, o tema. Ele poderia ser, por exemplo, o aconselhamento de jovens na escolha profissional.
![]() …….Estudo sobre a preguiça no livro de Provérbios …….Ajuda bíblica ao adolescente na questão de imagem pessoal …….Influência da internet na comunicação familiar …….Avaliação crítica da obra de um autor brasileiro no aconselhamento bíblico …….Treinamento de mulheres para serem discipuladoras na igreja local |
Delimitar um tema significa saber escolher o que tratar e o que não tratar no material que você quer produzir. Delimitar um tema não significa ser superficial, pelo contrário: quanto mais específico você for, mais profundo poderá ser. Por outro lado, pode ser que após dar alguns passos na pesquisa preliminar para o seu projeto, você descubra que precisa ampliar um pouco o tema para encontrar material e poder desenvolver um recurso significativo para o seu ministério.
Pesquisa preliminar
Você precisa entrar em contato com a produção bibliográfica já existente. Faça um levantamento que permita adquirir a primeiras noções do que já foi feito por outras pessoas e de quais seriam os problemas e aspectos a serem ainda tratados. Neste momento, você ainda não estudará em profundidade a produção bibliográfica, pois o objetivo é ganhar apenas uma visão panorâmica do tema e da produção bibliográfica. O quanto mais amplo for esse panorama, melhor será.
Onde pesquisar? Para o seu trabalho ministerial, você pode começar a pesquisa pela sua coleção de recursos, mas não precisa necessariamente se limitar a ela. É possível que você descubra a necessidade de ampliar a sua coleção de recursos e proceda conforme a orientação do Guia para formar a coleção de recursos impressos e digitais do conselheiro bíblico. Você descobrirá como encontrar e escolher os recursos que oferecem respostas fiéis à Palavra de Deus, ao mesmo tempo e relevantes.
Lembre que:
● os especialistas no assunto – autores, professores – costumam ter indicações valiosas a fazer e podem remeter para os recursos mais relevantes e atuais;
● os autores conceituados citam em seus livros e artigos obras que vale a pena consultar;
● o conhecimento do panorama dos principais autores que publicam no campo do discipulado e aconselhamento é indispensável;
● um levantamento dos sites especializados na área pode ser útil para o seu trabalho atual, e também para trabalhos futuros.
Justificativa e objetivo
Agora que você já tem um conhecimento maior do assunto e está certo da necessidade de produção de um material para atender à lacuna que você identificou, é hora de prosseguir com o planejamento mais sistematizado e detalhado do seu trabalho. É útil você colocar por escrito as bases do trabalho que fará para que não se perca pelo caminho.
● Por que fazer? Firme a sua justificativa.
Para que você prossiga motivado, é preciso saber por que é relevante você investir tempo e esforços nesse trabalho, quais são as contribuições que ele trará para a sua formação ministerial e para aqueles a quem você ministrará. Você precisa estar convencido de que a realização desse trabalho é prioritária e de fundamental importância no seu ministério.
● Para que fazer? Confirme o seu objetivo.
Saiba claramente qual o resultado concreto, a meta que você quer alcançar. O enunciado de um objetivo deve começar com um verbo no infinitivo e este verbo deve indicar uma ação mensurável. Por exemplo, você quer “mostrar a necessidade do jovem ter em mente um foco eterno ao escolher sua profissão”. É possível que além de um objetivo geral, você tenha objetivos específicos menores relativos aos desdobramentos do tema. Por exemplo, talvez seja preciso definir um conceito envolvido no tema, esclarecer as causas de um problema, e assim por diante.
Pergunta orientadora e hipótese central
A resposta à pergunta orientadora, ou seja, a suposição inicial que você faz na tentativa de solucionar o problema é chamada de hipótese central e deve ser expressa em uma sentença. A hipótese é levantada a partir da sua observação, daquilo que você já conhece sobre o tema e daquilo que deduzirá na revisão de literatura, que explicaremos logo adiante. Assim como temos perguntas secundárias, também podemos ter hipóteses secundárias. O trabalho de pesquisa confirmará ou derrubará as hipóteses levantadas. Durante a pesquisa, é comum que seja preciso modificar uma hipótese ou modificar a própria pergunta orientadora. Não desanime! A sua bagagem de conhecimento e entendimento do assunto está crescendo. O processo cíclico de pensar e repensar é próprio de toda atividade cuidadosa de pesquisa e estudo para produção. 2. SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O ACONSELHAMENTO BÍBLICO: UM RECURSO BEM PLANEJADOO planejamento é essencial para um trabalho bem-sucedido. ● Como vou fazer? Estabeleça a metodologia. ● Com quais recursos vou fazer? Verifique a viabilidade. ● Quando vou fazer? Trace um cronograma. Seja realista com respeito ao seu cronograma de trabalho. Considere que você precisa de tempo suficiente para pesquisa e leitura, mas também de tempo para refletir sobre as informações coletadas, desenvolver seus pensamentos e ordená-los para poder comunicar aos outros. Faça um balanço do tempo que pode dedicar às fases de investigação, de leitura e organização dos dados, e depois à produção do trabalho propriamente dito – a redação e edição do texto, o preparo de uma apresentação com slides ou de uma palestra. Considere que o tempo necessário para produção é geralmente igual ou superior ao tempo de pesquisa. 3. UM MERGULHO NO TEMA: A PESQUISA BÍBLICA E A PESQUISA BIBLIOGRÁFICAUma vez que estabelecemos o foco de trabalho e planejamos o que vamos fazer, é comum que comecem a surgir as primeiras ideias mais concretas de como desenvolver seu trabalho. Você deve organizar estas ideias e, em seguida, passar a uma pesquisa mais profunda. No seu trabalho na área do aconselhamento bíblico, você fará basicamente dois tipos de pesquisa: a pesquisa bíblica e a pesquisa bibliográfica. Pode ser que você queira também fazer uma pesquisa de campo, com questionários e/ou entrevistas. |
Organização das ideias
Para organizar suas ideias, dê três passos iniciais.
Passo 1 – faça uma lista exaustiva de todos os pontos relacionados ao tema que vierem à sua mente. Neste momento, não se preocupe com a ordem.
Passo 2 – comece a organizar para construir uma estrutura lógica e progressiva de pensamento: classifique, relacione e agrupe pontos, remova o entulho. Verifique os pontos que devem constar no seu trabalho e como eles estarão dispostos de forma a construir um argumento lógico.
Passo 3 — represente a ordenação de suas ideias por meio de um esboço hierárquico ou de um mapa mental.
Uma representação linear: o esboço hierárquico – Ordenar as ideias por meio de um esboço é útil não apenas para um trabalho escrito, mas também para uma apresentação oral e até mesmo se você estiver apenas adquirindo conhecimento que, no momento atual, não transmitirá a outros.
![]() 1. O conceito de depressão 2. Os tipos de depressão 3. As causas da depressão 4. Os tratamentos para a depressão …. Divisões secundárias. Dentro de cada divisão principal, encaixe hierarquicamente as divisões secundárias que explicam e expandem a ideia daquela divisão. Por exemplo: 4. Os tratamentos para a depressão 4.1 O tratamento clínico 4.2 O tratamento espiritual |
DICAS
● Não se estenda demasiadamente em divisões e subdivisões. Evite mais do que quatro subdivisões dentro de um ponto.
● À medida que o estudo avançar, o esboço provisório pode ser alterado. O processo de pesquisa é uma atividade dinâmica na qual acontece continuamente uma retroalimentação a partir da descoberta de novos dados.
● Uma boa estratégia para testar o seu esboço é mostrá-lo a outras pessoas que conhecem o assunto e ouvir sua opinião a respeito de como você articulou e organizou as ideias.
Uma representação gráfica: o mapa mental – Com um mapa mental, é possível enxergar como os pontos e subpontos se relacionam entre si e se alguns deles não se encaixam no todo ou não são essenciais. O mapa mental ajuda a determinar a melhor estrutura seja para uma pesquisa, uma redação, uma apresentação ou mesmo uma argumentação oral.
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Outras representações – Você pode criar outras formas gráficas ou lineares de esquematizar suas ideias, e o importante é escolher aquela que resulta em maior proveito para você, conforme a complexidade do seu trabalho.
A pesquisa bíblica. O que a Bíblia diz sobre o assunto?
Quando queremos trabalhar os problemas tratados no aconselhamento bíblico, um aspecto importante para ser considerado é o estudo dos vocábulos bíblicos. Precisamos entendê-los com cuidado. Sem dúvida, temos o Espírito Santo para nos guiar em toda a verdade (cf. Jo 16.13), mas devemos fazer nossa tarefa de estudar cuidadosamente as palavras, lembrando do contexto em que elas foram escritas, que determina seu significado e possibilita uma correta aplicação. Por exemplo, normalmente pensamos da palavra “ansiedade” apenas de um ângulo negativo, mas a palavra grega merimna e o verbo merimnao, usados no Novo Testamento, podem indicar tanto algo que desagrada a Deus e devemos eliminar de nossa vida (ex: os cuidados e preocupações que não devemos carregar e que prejudicam nossa vida cristã citados em 1Pedro 5.7 ou Mateus 13.22) como podem ser usados de forma positiva para indicar um cuidado correto (ex. o interesse de Timóteo para com os filipenses, elogiado por Paulo em Filipenses 2.20). O estudos dos vocábulos ajudá-nos a lidar com os problemas e as situações da vida cotidiana do ponto de vista de Deus. A pesquisa bíblica também levanta ilustrações e modelos de vida de personagem bíblicos para ministrar aos aconselhados. Para mais detalhes sobre como proceder e indicações de recursos para o estudo bíblico, consulte O estudo da Bíblia para aplicação no aconselhamento.
A pesquisa bibliográfica. O que outros já produziram sobre o assunto e qual o impacto para a solução do problema?
Para responder a esta pergunta, você precisa fazer uma “revisão de literatura” ou “revisão bibliográfica”, o que significa que você levantará um conjunto de recursos informacionais que já foram produzidos sobre o tema. Mais uma vez, para o uso ministerial, você não precisará seguir o rigor de uma revisão de literatura exigido no contexto acadêmico. No entanto, se você tiver interesse em orientações sobre como proceder no contexto acadêmico, você pode consultar o excelente artigo O que é e como fazer “revisão da literatura” na pesquisa teológica, por Valdeci Santos, publicado em Fides Reformata — Universidade Presbiteriana Mackenzie.
● Uma dica prática: a informação na linha do tempo
A data de publicação da informação é uma questão importante a ser considerada. Algumas obras — por exemplo, os comentários bíblicos — não são objeto de alteração significativa ao longo do tempo. No entanto, outros assuntos requerem atenção ao desenvolvimento do campo de estudo e aos debates entre estudiosos. Por exemplo, se você quiser pesquisar sobre a influência do ambiente digital no discipulado de adolescentes, não poderá se limitar a livros publicados há dez anos. Se for falar sobre a história do aconselhamento bíblico até nossos dias, não pode parar a sua pesquisa em obras de dez anos atrás, mas trazê-la até nossos dias. Se quiser conhecer os últimos desdobramentos sobre o tratamento do transtorno do déficit da atenção e hiperatividade (TDAH), precisa conhecer os textos publicados no último ano — ainda que o mesmo autor tenha escrito sobre o tema há dez anos, ele pode ter atualizado seus estudos e, para fazer uma pesquisa honesta, você precisa investigar qual o parecer atual do mesmo autor e apontar para esse desenvolvimento.
● Um instrumento indispensável: o “diário de bordo”
Para facilitar seu trabalho, recomendamos que você registre o processo: as livrarias e bibliotecas onde pesquisou, os sites nos quais navegou, o material que selecionou e a informação encontrada. Você precisa lembrar onde começou, onde está e para onde caminha. Isso evita a repetição de passos já dados e facilita o trabalho quando precisar reconsiderar algum material já avaliado. A partir do “diário de bordo”, você pode eliminar duplicações de conteúdo, trabalhos com um acentuado grau de similaridade e referências pouco relevantes.
REGISTRO DE PESQUISA E AVALIAÇÃO BIBLIOGRÁFICA | |||
Data | Local da pesquisa (biblioteca, site, sua estante de livros…) | Referência bibliográfica completa (autor, título, editora, data e local de edição / URL e data de acesso quando é material encontrado na internet) | Anotações (sua avaliação inicial e a utilidade do item para o seu trabalho. Se você identificar um capítulo ou página em particular, não esqueça de marcar essa localização específica para poder recuperar facilmente a informação) |
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As perguntas para verificar a qualidade e o andamento da sua pesquisa
● Quem fez contribuições relevantes dentre desse tema?
● De que forma os autores abordaram o tema e quais as suas posições?
● Como as abordagens mudaram ao longo da história e quais foram as polêmicas?
● Quais são as discussões e publicações mais recentes do tema – últimos cinco a dez anos?
● Em que formas o tema já foi apresentado e para quais grupos e/ou faixas etárias?
● Quais os aspectos significativos que ainda restam para investigar no tema?
Se nessa fase você descobrir que já existe algo de qualidade e que atende à necessidade ministerial do momento, você pode recomendar esse recurso ao seu aconselhado, em lugar de produzir outro equivalente, e investir o seu tempo em outro tema. Pode também prosseguir no tema escolhido, mas trabalhá-lo de forma criativa para fazer uma contribuição singular, aprofundando ou esclarecendo o tema, aplicando-o a um grupo e contexto específicos ainda não atingidos por outros autores.
O aprofundamento da pesquisa
Agora é hora de mergulhar no resultado da sua pesquisa bíblica e bibliográfica, e trabalhar mais especificamente no conteúdo coletado, tendo em vista a produção do seu conteúdo. Não é realista pensar que você conseguirá ler toda a bibliografia levantada, especialmente se a execução do trabalho para o qual você pesquisou é apenas uma entre tantas responsabilidades em seu ministério. Não fique frustrado, portanto, ao descobrir que não é possível interagir com todos os recursos encontrados. Algumas perguntas podem ajudar na seleção de quais itens ler no momento e quais arquivar para trabalhos futuros:
⇒ Este material discute os aspectos mais importantes do assunto?
⇒ Ele faz uma contribuição singular para o campo de estudo?
⇒ Ele constrói sobre o que outros já escreveram e aplica a um contexto específico, ou apenas repete o que já foi publicado antes??
⇒ O meu entendimento do assunto ficará seriamente prejudicado sem esta fonte?
⇒ Este material merece uma leitura intensiva ou é suficiente que eu folheie para ter noção do conteúdo?
⇒ Se dois autores tratam o assunto em aspectos semelhantes, a qual deles devo dar preferência pelas suas credenciais e considerando o propósito da minha pesquisa?
Para a leitura interativa e as anotações, siga as orientações de Interagir com os recursos: você aprenderá a ler com proveito, os recursos que você escolheu, conectá-los um ao outro e registrar seu aprendizado.
Algo muito importante é que no andamento do trabalho você não caia na tentação de deixar as anotações espalhadas na área de trabalho do processador de textos ou, pior ainda, em papéis soltos aqui e ali sobre a sua mesa. Você terá um “mar de documentos” no qual será difícil recuperar aquilo que você procura. Seja no processador de texto ou com o uso de um aplicativo, e nesse caso a sugestão é o Evernote ou o OneNote, tenha uma pasta principal com dentro subpastas com o nome do trabalho em andamento. Dentro da pasta principal, devem estar as subpastas que correspondem a cada ponto que consta no esboço do seu trabalho. Procure colocar já na ordem sequencial da argumentação — você pode fazer isso inserindo numeração quando atribui nomes às pastas. Cada pasta reunirá todos os documentos — textos, imagens, áudios, vídeos — relativos àquele determinado ponto do seu trabalho. Essa organização facilitará muito na hora da redação.
● Transfira de uma pasta para outra. Quando você perceber que uma anotação pode ser útil em um ponto diferente daquele escolhido inicialmente, transfira logo para a outra pasta . Quando uma anotação for útil em dois pontos do seu trabalho, faça links para o documento — é possível criar links tanto no processador de textos como no aplicativo.
● Revise o esboço e crie novas pastas quando necessário. No processo de organização tópica da informação, é possível que você descubra a necessidade de subdividir um ponto. Lembre-se de revisar o esboço, que é seu guia para organizar as ideias e anotações.
● Descarte o “lixo”. Ao longo do processo, você perceberá que algumas anotações são redundantes, algumas fontes são mais completas do que outras e, desta forma, parte do seu trabalho de pesquisa já não terá utilidade imediata. Descarte-as para facilitar as etapas seguintes de trabalho. Algumas, talvez, sejam boas anotações e, embora não sejam úteis neste momento, podem servir para trabalhos futuros. Guarde-as na sua coleção de recursos.
4. SUA CONTRIBUIÇÃO: UM RECURSO BEM PRODUZIDO
Chegou o momento de reler as anotações dentro de cada tópico e usá-las para desenvolver o seu argumento, mas sem fazer uma colcha de retalhos das ideias de outros autores. Você precisa dar evidência de ter investigado e de saber articular perspectivas diversas sobre o tema tratado, expor e sintetizar conceitos, transmitir conhecimento e estabelecer implicações e aplicações em conexão com o cotidiano – tudo dentro de um encadeamento lógico de raciocínio.
Antes de dar início à produção, faça uma revisão do seu esboço. A estrutura do conteúdo deve estar muito clara inicialmente em sua mente. Em seguida, você deve colocar o conteúdo em palavras, preocupando-se com captar a atenção, atingir o seu público com a verdade bíblica corretamente interpretada e aplicada, e transmitir uma esperança sólida e fundamentada em Cristo de que a Bíblia tem as respostas para a vida diária. Ao contrário do que acontece com um trabalho acadêmico, o trabalho ministerial pode ter uma linguagem e uma apresentação mais informais. Por exemplo, você deve conhecer bem qual é o seu público alvo e usar termos adequados a ele. Quando precisar usar termos técnicos, estes devem ser claramente definidos e ilustrados. Ao mesmo tempo, cuide para não usar gírias nem desprezar as regras gramaticais. Você também deve usar exemplos de aplicação da verdade bíblica, pois eles ajudam na compreensão e retenção do conteúdo.
Embora menos formal, o trabalho ministerial deve igualmente preencher alguns critérios básicos: os “5Cs”.
1. Clareza estrutural
Seja uma palestra com uma sequência de slides ou uma monografia, ou até uma conversa mais formal sobre determinado assunto, é preciso estruturar a mensagem com começo, meio e fim.
— Introdução: a apresentação e definição do tema, a delimitação (os aspectos do tema que pretende ou não tratar), a contextualização do tema e a proposta a desenvolver. Ela deve convencer as pessoas de que vale a pena ler ou ouvir sua mensagem, ou seja, que você tem conhecimento do que outros já fizeram na área, trabalha um problema importante e tem uma solução consistente para apresentar.
— Corpo: o desenvolvimento dos pontos de forma a construir o argumento. Ele comunica as ideias em ordem lógica, por meio de pontos e subpontos, para que possam ser compreendidas. Tenha ao seu lado o esboço ou mapa conceitual para guardar a noção do todo. As notas de rodapé podem ajudar a dar explicações e incluir outros pontos de vista que você queira mencionar, de forma concisa e sem com isso quebrar o desenvolvimento do seu argumento.
— Conclusão: a síntese das principais ideias desenvolvidas no corpo do trabalho, desfecho, implicações e engajamento em aplicação. Ela deve resumir a contribuição do seu trabalho e enfatizar o resultado principal, mas não inclui dados novos. Pode, também, orientar a aplicação do resultado e abrir questões, assim como direcionar um conteúdo a ser tratado em outra ocasião.
2. Coesão
Juntas, as partes do projeto devem formar um todo. Cada nova afirmação ou negação deve encontrar base nos fundamentos já construídos e cada novo ponto deve contribuir para o entendimento do ponto anterior e o desenvolvimento do assunto. Na redação, não saia do desenvolvimento da ideia principal. Dê início a novos parágrafos quando for desenvolver novos aspectos da ideia, mas faça de forma a manter o encadeamento do raciocínio sem dar saltos e fazer rupturas na passagem de um parágrafo a outro.
3. Concisão
Comunique o essencial e de forma objetiva. Não se disperse em detalhes e assuntos que não sejam importantes para o desenvolvimento de sua ideia. É aconselhável fixar a extensão do trabalho: o número de páginas, de slides ou de minutos. Suprima as palavras desnecessárias, particularmente os adjetivos e advérbios, e utilize frases breves e na ordem direta. Use ilustrações para os pontos que necessitam de elucidação. Seja objetivo, e lembre que simplicidade não significa superficialidade.
4. Consistência
O conteúdo deve ser bem argumentado e convincente. Use os termos com precisão, bem definidos e padronizados. Evite generalidades e cuide para que todas as informações que você der sejam suportadas por dados documentados com exatidão. Apresente base para suas afirmações. As suas posições devem ser defendidas com firmeza bíblica, não com base no “eu acho”. Para argumentar biblicamente, é preciso não só pesquisar as bases de pensamento de outros autores, e detectar possíveis incoerências, mas conhecer a fundo a Bíblia para que qualquer contra-argumento venha da Palavra de Deus. Não escreva algo que você não possa explicar nem defender.
5. Correção
Revise, revise e revise de novo tanto os dados e fatos quanto as referências, e também a redação quando for um trabalho escrito. Os erros comprometem a qualidade do trabalho. Enquanto prepara o seu trabalho, você pode consultar recursos on-line dicionários, gramáticas, manuais de ortografia e redação. No caso de uma redação, leia várias vezes e modifique o texto a cada leitura, fazendo todos os acertos necessários e que, invariavelmente, não são feitos em uma única revisão. Um trabalho precisa ser “esculpido”, não só criado. Sempre que possível, peça a um amigo para ler, ouvir ou ver, e fazer comentários.
BONUS
● O e-book Metodologia do Trabalho Científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico, de autoria de Cleber Cristiano Prodanov e Ernani Cesar de Freitas pode ser de ajuda na elaboração de trabalhos acadêmicos. (link direto — link permanente)
.LEMBRETE IMPORTANTE n° 1: Fuja do plágio!
● O que é o plágio?
Plágio é apresentar as palavras ou ideias de outra pessoa como se fossem suas, sem dar o devido crédito à fonte. O plágio pode não ser intencional quando se falha em citar uma fonte. No entanto, ainda assim é plágio.
● Por que se preocupar com o plágio?
O plágio é um erro ético, dentro e fora do mundo acadêmico. É falta de honestidade:
……….o plágio rouba de outros autores,
……….o plágio engana quem lê ou ouve o que você comunica, pois faz passar por seu aquilo que não é seu.
Plagiar é pecado.
● Quando é preciso dar a referência?
Toda a informação que você adquiriu mediante pesquisa deve ter sua fonte identificada quando você a usar palavra por palavra, quando fizer uma paráfrase ou mesmo quando apresentar apenas um resumo das ideias do autor. As fontes podem ser itens publicados ou não: livros, artigos, cartas, imagens, sites, blogs, gravações em áudio ou vídeo. Copiar as informações que constam em material que professores apresentam em sala, sem citar a fonte, também é considerado plágio. Por outro lado, referenciar a fonte das ideias é evidência de que você domina o pensamento de outros expoentes do seu campo de estudo ou atuação.
● Quando não é preciso dar a referência?
Não é preciso dar crédito para fatos já amplamente divulgados e/ou já plenamente conhecidos e aceitos pela grande maioria das pessoas. Em caso de dúvida, dê sempre a referência.
A Universidade Federal Fluminense disponibiliza um material elucidativo sobre o plágio que pode ser facilmente consultado e aplicado – Nem tudo que parece é: entenda o que é plágio. A Cartilha do plágio também é um material de fácil uso.
● Como evitar o plágio?
Registre com cuidado a sua pesquisa, incluindo os dados de autoria e publicação, para poder fazer referências precisas. Dê aos autores do material que você usou o devido crédito, documentando as fontes na bibliografia ou citando-as durante uma palestra. Não esqueça de inserir as fontes bibliográficas no final de uma apresentação de slides.
Na sequência do seu argumento, você pode e deve inserir citações de outros autores para dar evidências, definições ou explicações. Relacione as ideias de outros autores umas com as outras, discuta os dados encontrados e comente as afirmações, embora que sem fazer uma colcha de retalhos. No uso dos dados coletados, você pode:
● citar literalmente as palavras de um autor;
● parafrasear um trecho inteiro em suas palavras;
● resumir em suas palavras os pontos principais de um trecho.
Um ponto que merece atenção é a citação de uma citação. Quando você quiser aproveitar uma citação de determinado autor encontrada na obra de outro autor, dê preferência a procurar a obra original e fazer uma citação a partir dela. Faça a citação da citação somente quando for impossível ter acesso à obra original.
Citação direta
O que é? | Citar diretamente é escrever ou falar algo de autoria de outra pessoa, integralmente, usando as mesmas palavras do original. |
Quando usar? | Faça uma citação quando a expressão do autor é particularmente importante e impactante na transmissão da mensagem desejada, ou quando você quer analisar uma sentença em detalhes. |
Como usar? | Em trabalhos escritos, toda citação deve estar entre aspas. Se a citação for extensa, com mais de três linhas de texto, sua colocação deve ser em um parágrafo separado do texto principal e recuado. A fonte da citação precisa ser referenciada no próprio texto ou em nota de rodapé de forma que permita localizar o original. É essencial manter não só as palavras, mas a pontuação. Se o autor original cometeu, por exemplo, um erro ortográfico, você deve repetir o erro e acrescentar [sic] para mostrar que você identificou aquele erro, mas está transcrevendo as palavras exatas do autor. |
Paráfrase
O que é? | Parafrasear é transcrever as ideias do autor, de maneira completa, mas expressando em suas palavras e reordenando a estrutura da sentença. |
Quando usar? | A paráfrase é uma forma de evitar excessivas reproduções do texto original. Ela deve ser usada para capturar o significado de um texto original e não necessariamente a forma. |
Como usar? | Em trabalhos escritos, não é preciso colocar entre aspas, mas é preciso indicar a referência bibliográfica. |
Resumo
O que é? | Resumir é condensar os principais conceitos do trabalho de outra pessoa em suas palavras, omitindo detalhes. Exige fidelidade ao pensamento do autor. |
Quando usar? | Use o resumo quando você deseja se referir à ideia geral de uma obra, mas não quer descer a detalhes ou reportar integralmente o conteúdo original. |
Como usar? | Em trabalhos escritos, não é preciso colocar entre aspas, mas deve ser referenciado. |
● Em resumo, como fazer um resumo?
1. Leia o texto por inteiro com atenção, para conhecer a linha de pensamento do autor e identificar as ideias principais.
2. Leia novamente o texto, desta vez destacando as partes mais importantes, que devem constar no resumo.
3. Resuma cada uma das partes destacadas, mantendo a sequência de ideias do texto original e a coerência entre as partes de forma a resultar num texto bem encadeado, e não numa colcha de retalhos.
4. Evite copiar partes do texto original; coloque em suas palavras.
5. Seja fiel ao autor. Limite-se a fazer a síntese do texto sem inserir as suas ideias em meio às ideias do autor.
● É um resumo ou uma resenha?
Cuidado para não confundir um resumo com uma resenha, que é uma análise informativa ou crítica de um livro. A resenha é mais longa que o resumo por conter a análise do texto e alguns exemplos. Ela costuma seguir a ordem lógica do texto, mas não precisa fazê-lo necessariamente.
Se você precisa fazer uma resenha, encontre orientações específicas em:
Roteiro para a elaboração de uma resenha – Israel Belo de Azevedo
LEMBRETE IMPORTANTE n° 2: Previna-se para lidar com a instabilidade da internet!
Você encontrou um artigo muito bom na internet e guardou o link para usar aquele material no seu trabalho. Na redação, você citou parte do texto e colocou a referência da URL. Passado um mês, a URL que você citou não leva mais ao artigo, possivelmente porque o site que hospeda aquele conteúdo passou por alguma mudança. Este tipo de problema é bastante comum. Como fazer para que aquele artigo consultado na internet e citado na sua pesquisa esteja disponível para consultas posteriores?
Um serviço disponível gratuitamente pode ser muito útil:
Internet Archive – Wayback Machine – é um arquivo de páginas web, onde você pode encontrar páginas cujos links você guardou, mas não estão mais disponíveis para acesso on-line. Ele é muito útil também caso você queira citar um artigo, especialmente no formato PDF, e ter certeza de que estará disponível para o seu leitor: crie e cite o link de Wayback Machine. O serviço é confiável e você pode ler mais sobre suas credenciais aqui.
LEMBRETE IMPORTANTE n° 3: A estética também faz parte!
Formatação livre
Nem todos os trabalhos escritos precisam seguir as normas de formatação estabelecidas para trabalhos acadêmicos. Todos os trabalhos, porém, precisam de uma formatação que expresse ordem e coerência estética para facilitar a leitura. Não esqueça os detalhes básicos de formatação:
………• usar um único tipo de fonte ao longo de todo o texto,
………• numerar as páginas,
………• estabelecer um padrão de margem a ser seguido em todo o documento,
………• estabelecer um padrão para os subtítulos e sua numeração,
………• usar itálico para os destaques,
………• identificar as citações mediante o uso de aspas e dar as referências bibliográficas.
Formatação ABNT
Os trabalhos acadêmicos devem seguir os padrões estabelecidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Você pode consultar alguns manuais preparados por universidades para ajudar a aplicar as normas da ABNT:
● Caderno de Estudo USP
● Guia Mackenzie de Trabalhos Acadêmicos
Para facilitar a aplicação das normas nas referências bibliográficas, selecionamos aplicativos de uso gratuito:
● MORE − Para aqueles que sempre possuem dúvidas na elaboração de referências bibliográficas conforme a ABNT 6023, o MORE (Mecanismo On-line para Referências) foi desenvolvido por uma equipe da Universidade Federal de Santa Catarina. Para utilizar a ferramenta, basta preencher um formulário com os dados da obra e o sistema elabora a referência no padrão da Norma Brasileira. Pode-se escolher entre 15 tipos de documentos.
● MENTHOR − Serviço que cria referências para livros; web e artigos, seguindo as Normas da ABNT. Desenvolvido com apoio da PUC-PR.
LEMBRETE IMPORTANTE n° 4: Mantenha backups constantes!
Faça backups on-line ou em um disco externo. Desta forma, você não corre o risco de perder seu trabalho.