Lucy Ann Moll

Nota do Editor. Pode ser que alguém tenha compartilhado uma luta pessoal com você, dizendo que “sofre de ansiedade social”. Ou talvez este diagnóstico tenha sido atribuído a você mesmo, em algum momento. A Bíblia não menciona “ansiedade social”. Será então que não temos ajuda bíblica para este problema? Lucy Ann Moll ajuda-nos a entender o que é a ansiedade social e como a Bíblia se dirige ao problema quando nos fala sobre o “temor a homens”.
Aline ligou dizendo que estava se sentindo mal novamente. Dessa vez, não era um resfriado nem uma gripe. Em vez disso, ela estava apavorada porque precisaria fazer uma apresentação de um trabalho e isso a deixava ansiosa: “E se todos perceberem que estou transpirando e que minha voz treme? Eu passaria por ridícula!”
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Marcos recusou um convite para ir ao casamento de seu primo. Ele temia que seu rosto ficasse vermelho como um pimentão, temia passar vergonha e chamar a atenção de todos. Ele costumava comparecer aos cultos da igreja, mas se sentava sempre na última fileira, pronto para sair rapidamente.
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Aline e Marcos têm um problema que, em nossos dias, tem sido chamado de transtorno de ansiedade social, e é conhecido também como fobia social. É um problema comum. Aproximadamente 12% dos adultos nos Estados Unidos, em algum momento de sua vida, preenchem os critérios para ser diagnosticados com esse transtorno.[1] Talvez você, seu amigo ou um aconselhado estejam entre esses e precisem de ajuda e esperança. Neste artigo, você terá uma definição de ansiedade social, aprenderá os dois tipos principais de ansiedade social e descobrirá como vencê-la de forma prática e bíblica.
O que é ansiedade social?
A ansiedade abrange um espectro de leve a grave. Ficar tenso ao falar em público é normal. Você se lembra de quando precisava fazer apresentações em classe nos seus anos de aluno? É provável que você tenha dormido mal na noite anterior, por estar inquieto e temendo de gaguejar durante sua apresentação. Essa ansiedade é desconfortável, mas comum.
O transtorno de ansiedade social, porém, é um temor intenso de parecer desajeitado e ficar envergonhado em situações sociais e reuniões públicas. A pessoa aflita pela ansiedade social teme um julgamento duro, um constrangimento ou rejeição. Não é o mesmo que um receio comum; ele é debilitante e interfere na vida do dia a dia.
Alguns sintomas físicos acompanham a ansiedade social: rubor e transpiração excessiva, bem como tremores, aumento da frequência cardíaca, “frio na barriga”, uma necessidade repentina de usar o banheiro, gagueira e assim por diante. O problema pode ter início em qualquer idade, mas geralmente começa na adolescência. A pessoa fica ansiosa e muitas vezes recorre a estratégias para sentir-se melhor e evitar determinadas situações:
- Fica em casa e assiste Netflix para se distrair
- Navega nas redes sociais
- Ingere bebida alcoólica para relaxar
- Usa técnicas de enfrentamento[2]
As estratégias de evitação não funcionam, porém, em longo prazo e não resolvem o verdadeiro problema: temer a opinião dos outros. “Fundamentalmente, qualquer luta contra o temor de outras pessoas é um problema de adoração”, diz Deepak Reju. “O temor do Senhor é o princípio do conhecimento e da sabedoria (veja Provérbios 1.7), mas, infelizmente, muitas vezes ele não ocupa o primeiro lugar na nossa vida. Nós nos perdemos no mar das opiniões alheias e o temor dos outros toma conta de nós.”[3]
Dois tipos de ansiedade social
Situações de desempenho: o caso de Aline encaixa-se nesse tipo de ansiedade; ela entrou em pânico com a ideia de fazer uma apresentação e prefere trabalhar remotamente. Ela gostaria de ter um trabalho exclusivamente remoto, porque assim ninguém a incomodaria para ir ao escritório. Outros exemplos de situações de desempenho incluem ler em público, escrever ou assinar seu nome em público; tocar um instrumento em um recital ou participar de uma equipe de louvor; falar em público.
Situações de interação social: o temor de Marcos com relação a ir ao casamento de seu primo encaixa-se nesse tipo. Quando estudante, ele corou e passou vergonha em uma situação social na escola, foi provocado pelos colegas e tem lutado desde então. Outros exemplos de situações de interação social incluem comparecer a eventos importantes como formaturas, aniversários e funerais, frequentar cursos ou eventos esportivos, comer em restaurantes, usar um banheiro público, frequentar a igreja ou outros tipos de reunião.
Vencendo a ansiedade social
A abordagem secular para tratar o transtorno de ansiedade social costuma ser a terapia cognitivo-comportamental e o uso de antidepressivos e medicamentos para ansiedade. Embora alguns possam se beneficiar de alguma forma dessa abordagem, ela falha em tratar a raiz do problema e resultar em uma mudança duradoura. A Bíblia nos advertem amorosamente: “Quem teme ao homem cai em armadilhas, mas quem confia no Senhor está seguro” (Pv 29.25 – NVI). Vamos ver, então, um método bíblico para vencer a ansiedade social.
1. Identificar o temor pecaminoso
Ninguém gosta de ser rejeitado, de parecer ridículo ou das sensações físicas desconfortáveis que podem acompanhar a ansiedade social. Desejamos aceitação, amor, conforto, segurança, paz e tranquilidade. Esses desejos não são inerentemente errados, mas quando eles se transformam em exigências e procuramos nos sentir melhor por meio de estratégias de evitação, vale a pena fazer as seguintes perguntas:
- O que toma conta dos meus pensamentos quando sou tentado a temer os outros?
- Como o meu temor interfere no meu amor a Deus e aos outros?
- O que creio a respeito de Deus quando estou tomado pelo temor dos outros?[4]
A identificação do temor pecaminoso deve conduzir ao arrependimento, confissão a Deus e mudança.
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Clara, uma moça de 20 anos de idade, evita qualquer reunião social a menos que sua irmã também esteja presente. Ela quer segurança e proteção acima de tudo. Ela teme as sensações físicas de tremores e vertigens que acompanham sua ansiedade e a fazem parecer ridícula. No entanto, sua estratégia de evitação não resolve o problema. Cada vez que ela recusa um convite para uma festa, depois de uma onda momentânea de alívio, sua ansiedade volta com força total. Quando ela está tomada pelo temor de outros, ela acredita que Deus não é poderoso o suficiente para protegê-la, então ela deve encontrar um meio para se proteger.
Guarde isto: A pessoa aflita pela ansiedade social está ansiosa com a ansiedade e evita determinadas situações para reduzir seus pensamentos ansiosos e as sensações físicas.
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2. Decidir confiar em Deus apesar dos seus temores
Clara aprendeu que ter fé é crer na Palavra de Deus e agir de acordo com o a Palavra de Deus diz, não importa como ela se sinta, sabendo que Deus está cuidando do resultado.[5] “A fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se veem” (Hb 11.1). Era fácil para Clara acreditar na promessa de que Deus está próximo quando ela sentia que Ele estava próximo. No entanto, quando seus temores lhe contavam uma história diferente, ela se deixava governar por ele. Ela se tornou egocêntrica em vez de amar a Deus e aos outros.
O que ajudou Clara foi ela fazer uma escolha intencional de crer na confiabilidade e na bondade de Deus mesmo quando suas emoções discordavam. Estudar os heróis da fé em Hebreus 11 ajudou para que ela abrisse mão de sua necessidade de controlar as situações e as pessoas e, em vez disso, descansasse em Jesus (Mt 11.28-30). Ela também memorizou Filipenses 4.4-9 e outros versículos das Escrituras.
3. Colocar a fé em ação
Dar pequenos passos intencionais ajudou Clara a confiar mais em Deus e ganhar confiança para vencer seus temores. À medida que Deus renovava sua mente (Ef 4.23; Rm 12.2), ela começou a enfrentar pequenos desafios, um de cada vez: ela leu as Escrituras em seu pequeno grupo de estudo bíblico na faculdade, usou o banheiro na igreja, saiu com amigos para tomar um café, participou durante uma conversa em grupo, pegou um Uber sozinha. Esses passos foram dados aos poucos, durante vários meses. Ela se sentiu tensa, mas seguiu em frente na força que Deus lhe deu, lembrando-se destas cinco coisas:
- O que estou sentindo é apenas ansiedade.
- Não é algo perigoso.
- Deus está comigo, o Espírito Santo habita em mim.
- Deus me aceita porque estou em Cristo.
- Estou seguro debaixo dos cuidados de Deus.
Quando ela teve a oportunidade de voar de um lado para outro do País para se encontrar com amigos e familiares, ela aceitou isso como mais um desafio. Inicialmente, ela se sentiu tensa, mas continuou a confiar no Senhor e não acreditou que seu problema central fossem as sensações de ansiedade. Recentemente, ela voou para o Havaí para uma viagem de trabalho. Mais uma vez, ela se sentiu um pouco tensa, mas se recusou a deixar que isso a dominasse. Ela escolheu o amor a Deus e aos outros ao invés do seus temores.
A Escritura ensina que “o amor procede de Deus” (1Jo 4.7). Clara meditou sobre a instrução do apóstolo Paulo ao jovem Timóteo, que lutava contra a covardia: “Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação.” (2Tm 1.7). Deus não quer que nos entreguemos à ansiedade social. Temos Seu poder para enfrentar nossos temores, confiar nele em vez de confiar em nós mesmos, e encontrar a liberdade.
Jesus é a resposta para a ansiedade social
A pessoa aflita por ansiedade social caiu na armadilha do temor do homem. Sua ansiedade se manifesta em seus pensamentos e sensações corporais desconfortáveis, até mesmo assustadoras, como um coração acelerado. A verdadeira confiança não está em nossas habilidades ou circunstâncias, mas em temer a pessoa certa. Oswald Chambers colocou desta forma: “O notável sobre temer a Deus é que quando você teme a Deus, você não teme mais nada, enquanto que se você não teme a Deus, você teme todo o resto”.[6] [6]
Clara descobriu que confiar em Cristo e não nas opiniões dos outros a ajudou a superar a ansiedade social. Ela ainda luta às vezes? Sim. Mas agora ela sabe que deve recorrer a Ele e encontrar a ajuda de que precisa. “Quem teme ao SENHOR tem forte amparo” (Pv 14.26a).
Perguntas para reflexão
1- Você – ou talvez um amigo ou aconselhado – está lidando com ansiedade social em situações de desempenho ou situações de interação social? Descreva as situações, seus pensamentos e as respostas físicas e emocionais?
2- Você está “ansioso com a ansiedade”? Como seu relacionamento com Cristo e sua fé colocada em ação podem ajudar a lidar com essa luta?
[1] National Institute of Mental Health, “Prevalence of Social Anxiety Disorder Among Adult,” nimh.nih.gov, accessed July 22, 2022, https://www.nimh.nih.gov/health/statistics/social-anxiety-disorder#part_2642.
[2] É interessante notar que alguns conselheiros seculars reconhecem a limitação das estratégias de enfrentamento. Elizabeth Scott, “Avoidance Coping and Why It Creates Additional Stress,” February 22, 2021, verywellmind.com, accessed July 23, 2022, https://www.verywellmind.com/avoidance-coping-and-stress-4137836#.
[3] Zach Schlegel, Fearing Others: Putting God First (Philipsburg, NJ: P&R Publishing, 2019), 8. 31-Day Devotionals for Life series. O editor da série, Deepak Reju, compartilhou este insight no prefácio.
[4] Perguntas adaptadas de Janie Street, “Christ, God’s Answer to Your Fear,” in Women Counseling Women: Biblical Answers to Life’s Difficult Problems (Eugene, OR: Harvest House Publishers, 2010), 91-92.
[5] Biblical Counseling Center, “Faith Versus Feelings – Practical Change Assignment,” Foundations of Biblical Counseling course, module 3, https://biblicalcounselingcenter.org/we-train/foundations/.
[6] Oswald Chambers, “Psalm 128: Seemliness of Sanctity” in The Pilgrim’s Song Book (repr., London: Simpkin Marshall, 1941).
Lucy Ann Moll é conselheira certificada pela ACBC e faz parte da equipe do Biblical Counseling Center. Ela aconselha mulheres desde 2008, especializando-se na área de ansiedade, ataques de pânico, TOC, ansiedade social e fobias. Completou um doutorado em aconselhamento bíblico e escreve em LucyAnnMoll.com.
Original do artigo: Help and Hope for Your Social Anxiety
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition. Traduzido com autorização.
Tradução e adaptação para o português por Conexão Conselho Bíblico