O que fazer quando uma pessoa que você ama está presa a um hábito escravizador?


É grande o número daqueles que se reviram na cama todas as noites com pensamentos inquietantes a respeito de pessoas querida que estão presas a um vício. O livro Intervenção Divina: esperança e socorro para as famílias pode ser um bom ponto de partida.[1] Nele, Mark Shaw responde a três perguntas:

  • O que fazer quando uma pessoa que você ama está viciada, mas arrependido e disposto a mudar?
  • O que fazer quando uma pessoa que você ama está viciada, mas relutante e não arrependido?
  • O que Deus deseja que VOCÊ – amigo ou membro da família preocupado – aprenda?

Na introdução do livro, Mark Shaw nos explica a dinâmica do vício.

Existe no coração do viciado um desejo egocêntrico, pecaminoso e obstinado de satisfazer um apetite que faz com que ele negligencie responsabilidades dadas por Deus e/ou cometa atos nocivos para com o próximo e para consigo mesmo. Nas Escrituras, o termo “coração”, ao invés de dizer respeito a um coração físico real, significa a essência interior que contém todos os desejos, atitudes, emoções e raciocínios. O raciocínio do viciado é a chave inicial que dispara a conduta viciada e precisa ser mudado por ele para que tenha sucesso em sua batalha contra o vício. Um “vicio” é um sintoma físico de um problema espiritual mais profundo do coração, chamado de “idolatria” na Bíblia.

Em alguns vícios, o corpo da pessoa viciada acaba se tornando fisicamente dependente do prazer desejado. O vicio se manifesta em vários prazeres idólatras diferentes, incluindo drogas, álcool, sexo, atos homossexuais, alimentos, apostas, sono, o assistir de televisão, uso da internet, jogos de vídeo game, exercícios, compras, gasto de dinheiro, auto ferimentos e automutilação. E existem muitos outros! Todas estas manifestações externas de idolatria podem se tornar “fisicamente viciantes” no sentido de que o corpo da pessoa se adapta e se ajusta à satisfação física do apetite e exige mais para que a pessoa experimente a quantidade original de prazer. (p. 11, 12)

Destacamos aqui cinco pontos entre os conselhos práticos que você encontra nesse livro.[2]

Fique atento às suas emoções.

Pratique evitar ficar emocionalmente tomado pela ira ou pela dor quando o viciado mente para você. Fale a verdade com amor, mantendo suas emoções sob controle, e você testemunhará uma maior eficácia em longo prazo. Lembre-se de que seu alvo deve ser o de agradar a Deus em tudo o que você pensa, diz e faz. O alvo de ajudar o viciado a quem você ama é um bom alvo, mas ele é secundário em relação ao alvo de obedecer e agradar ao Senhor. (p. 112)

Estude a Palavra de Deus, medite e memorize.

Invista algum tempo no estudo da Bíblia para encontrar tópicos de interesse relacionados à sua situação. Quando você estuda a Bíblia com propósito, o estudo torna-se algo muito mais recompensador e benéfico. Para que possa ajudar o viciado que você ama, é preciso ter sua arma da “espada do Espírito” preparada para a batalha a cada instante. Essa arma é a Palavra de Deus, saturando sua mente, seu pensamento. (p.113).

Substitua as mentiras pela verdade falada com amor.

Viciados mentem tanto que muitas das suas mentiras são enganos provenientes de meias-verdades. Caso a meia-verdade não seja confrontada, corrigida e substituída com a verdade plena, o viciado continuará acreditando em mentiras. […] A mentira revela o coração do viciado. […] Você não a confronta com suas próprias crenças, mas com a Palavra de Deus.  Depois de confrontá-la, substitua a mentira com a verdade bíblica que normalmente é o exato oposto da mentira. (p.115)

Entenda que foram decisões, não doenças nem demônios.

O viciado crê que é incapaz de parar de desejar o prazer e torna-se escravo do pecado. Entretanto, o fato de que a escolha inicial foi um ato de vontade do viciado permanece. […] Muito provavelmente foi uma escolha pecaminosa de agradar a si mesmo em vez de agradar a Deus. Conquanto possa ter sido uma escolha desinformada, ela foi uma decisão deliberada. Quando uso o termo “desinformada”, quero dizer que o viciado provavelmente não estava ciente das terríveis consequências daquela escolha e de como ela redundaria em tal destruição em sua vida. (p. 118)

Aconselhe calmamente

Certamente, você pode dar conselhos bíblicos ao viciado a respeito das escolhas que ele tem a fazer. Entretanto, você não tem a permissão de se utilizar de culpa emocional, vergonha ou manipulação para fazer com que ele tome a decisão “correta”.  […] Você deve ser um despenseiro sábio da Palavra e da autoridade que o Senhor lhe concedeu, mas deve permitir que o viciado tome suas decisões. Esta é a única forma do viciado aprender, e isso permitirá que ele assuma a responsabilidade. (p. 124)

Um encorajamento final
Mark Shaw termina seu livro com palavras de encorajamento.

Você deseja promover um relacionamento saudável com o viciado, de forma a criar uma atmosfera para falar a verdade em amor. Quando reconhecer a verdade em amor, não será apenas o viciado que crescerá em Cristo; você também crescerá. “Em vez disso, falaremos a verdade em amor, tornando-nos, em todos os aspectos, cada vez mais parecidos com Cristo, que é a cabeça” (Efésios 4.15). Você será menos controlado pelas circunstâncias, aceitará a soberania divina e será capaz de identificar melhor as questões do coração que o Espírito Santo está transformando em sua própria vida.

Ao falar a verdade, você cessa de viver uma mentira com o viciado amado que se encontra deliberadamente em rebeldia contra o Senhor. Ao ser amoroso, você estabelecerá limites de maneira gentil, bondosa e humilde.  

O processo de transformação — de se tornar mais parecido com Cristo — do viciado a quem você ama requer que você fale a verdade em amor. Aprenda a verdade a partir da Palavra da verdade de Deus, e permita que o amor de Deus demonstrado pelo Espírito Santo opere em seu coração hoje. Não se canse de fazer o que é correto aos olhos de Deus. 2 Tessalonicenses 3.13-15 é um texto encorajador: “Quanto a vocês, irmãos, nunca se cansem de fazer o bem. Observem quem se recusa a obedecer àquilo que lhes digo nesta carta. Afastem-se dele, para que se sinta envergonhado. Não o considerem como inimigo, mas advirtam-no como a um irmão” (p. 165, 166).


[1] Conheça os livros de Mark Shaw disponíveis de português:

SHAW, Mark. Intervenção divina: esperança e Socorro para famílias de dependentes químicos. Eusébio, CE: Peregrino, 2017. 208 p.

Links para o livro: Amazon

Intervenção Divina traz encorajamento e esperança para familiares, amigos, cônjuges e pessoas amadas do viciado. A leitura desafia o que você pensa sobre vícios e capacita a melhor ajudar de forma bíblica alguém preso nessa situação.


SHAW, Mark. O coração do vício. Eusébio, CE: Peregrino, 2018. 392 p.

Links para o livro: Amazon

Este livro faz a distinção entre o que o mundo chama de “doença” e o que as Escrituras demonstram ser um problema da natureza pecaminosa que domina a vida. Você encontrará ferramentas bíblicas para ajudá-lo a examinar as motivações do seu coração na raiz do vício.

[2] Adaptado de Does My Addicted Loved One Have a Disease? – part 1



Mark E. Shaw tem mais de duas décadas de experiência em aconselhamento numa varidade de contextos, incluindo a igreja local e programas residenciais para diferentes tipos de viciados. Mark Shaw tem várias obras publicadas em inglês e é conselheiro certificado pela ACBC. Já atuou como diretor executivo do ministério Vision of Hope, ligado a Faith Church em Lafayette, IN (EUA) e atualmente es dedica ao ministério The Addiction Connection, do qual é o fundador. É parte da equipe pastoral de Grace Fellowship Church em Florence, KY, onde atua como diretor de aconselhamento.