Tim Keeter

Sofri bullying quando criança e sou pai de um filho que também sofreu bullying. Quando meu filho começou a passar por isso, o que durou mais de uma década, eu estava bastante familiarizado com a dor que ele sentia. Mais importante porém, como filho de Deus, a morte e ressurreição de Jesus significavam que eu não precisava pecar diante daquelas provocações, mas podia honrar e obedecer ao meu Pai. Isso significava também que eu tinha acesso à sabedoria infinita de Deus para lidar com as provocações e que meu Pai soberano faria com que cada uma delas resultasse em bem na minha vida e na vida de meu filho. Além disso, ser filho de Deus significava que eu tinha a capacidade dada por Deus de amar aqueles que pecavam contra mim e meu filho e que eu podia me aproximar ousadamente de um Salvador compreensivo em busca de compaixão, conforto e ajuda infalível nos momentos de necessidade da minha família (Hb 4.15).
Como pastorear com a sabedoria de Romanos 12
Pastorear meu próprio coração e minha família durante aquelas provações foi doloroso e difícil, mas também resultou em muitas oportunidades para compartilhar o evangelho, orquestradas e personalizadas apenas para a família Keeter por um Pai amoroso, sábio e santo. Talvez um dos aspectos mais desafiadores para mim como pai, bem como para muitos dos pais que aconselhei, foi ajudar meu filho a aplicar a sabedoria de Romanos 12.
O capítulo 12 de Romanos começa com um mandamento para que nossa mente seja continuamente transformadas para vivermos para Cristo em vez de nos conformarmos com pensamentos e comportamentos deste mundo (vv. 1, 2). Pouco mais adiante, e logo após o mandamento sobre amar e praticar a hospitalidade para com nossos irmãos e irmãs em Cristo, Paulo nos dá outro mandamento muito importante:
Abençoem aqueles que perseguem vocês; abençoem e não amaldiçoem. Alegrem-se com os que se alegram e chorem com os que choram. (Rm 12.14, 15).
Essa mudança para “aqueles que perseguem vocês” não está desconectada dos treze versículos anteriores. Se pensarmos e agirmos como o mundo não redimido (v. 2a), amaldiçoaremos aqueles que nos fazem mal e até mesmo buscaremos vingança. Em contraste, se formos renovados no Espírito (v. 2b), não apenas deixaremos de amaldiçoar e nos vingar, mas também procuraremos abençoar aqueles que nos prejudicam e mostraremos compaixão genuína por eles. Você deve se alegrar quando as coisas vão bem com eles, em vez de retribuir o mal com o mal e invejá-los. Da mesma forma, quando eles passam por dificuldades, você deve mostrar compaixão genuína, em vez de retribuir mal por mal e lançar um olhar de superioridade.
Deus leva a sério como você responde às ofensas cometidas contra você. Prosseguindo em Romanos 12, Paulo proíbe categoricamente retribuir o mal com o mal ou praticar vingança. “A vingança é minha”, é o que declara o Senhor. Simplesmente não temos o direito de nos vingar porque não somos Deus. Somente Ele é santo e perfeito no escopo e no tempo de Sua justiça. Esse mandamento segue dizendo:
Não se deixe vencer pelo mal, mas vença o mal com o bem (Rm 12.21).
Deus não somente proíbe retribuir o mal com o mal, como também proíbe ser indiferente ou ignorar a situação. Em vez disso, Ele lhe diz para “vencer o mal com o bem”. Ser vencido pelo mal é ceder ao pensamento deste mundo (v. 2a), buscar vingança e retribuir o mal com o mal. Ser vencido pelo mal significa que você permite que o mal governe seu coração mais do que o amor de Cristo.[1] Mas vencer o mal com o bem significa que você continua a ser fielmente obediente a Deus mesmo em face de danos pessoais. Significa que você vive diante de todos de maneira que honra a Cristo, inclusive diante de seus inimigos, mostrando-se humilde (Rm 12.3, 16), prestativo (12.6-8) e buscando a paz com todos (12.18). Você e seu filho precisam abençoar de maneira intencional aqueles que praticaram ofensas e até mesmo continuam a praticá-las, mostrando-se bondosos e orando por eles.[2]
Sei como isso pode parecer difícil quando você está passando por uma crise. É por isso que não obedecemos a esses mandamentos por nós mesmos. Não temos capacidade para isso. Confiamos, porém, no amor de Cristo em nós para viver para a glória e honra de Cristo:
Pois o amor de Cristo nos domina, porque reconhecemos isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. (2Co 5.14, 15).
O ponto aqui é que o amor intenso por Deus produz uma obediência fiel que busca intencionalmente retribuir o mal com o bem.
Ore regularmente com seu filho em favor do agressor, pedindo que Deus o abençoe. Peça que Deus os ajude a abandonar aquilo que há em seu coração que possa promover atitudes e respostas pecaminosas e vingativas. Peça que Deus ajude tanto você quanto seu filho a planejar atos de bondade para com quem está praticando bullying e a colocar os planos em prática assim que surgirem oportunidades.
Afinal, não foi assim que Deus nos tratou?
Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando ainda éramos pecadores (Rm 5.8).
Como passar de um espírito amargo para a bondade compassiva ensinada em Romanos 12
Portanto, como eleitos de Deus, santos e amados, revistam-se de profunda compaixão, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência. Suportem-se uns aos outros e perdoem-se mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outra pessoa. Assim como o Senhor perdoou vocês, perdoem também uns aos outros. (Cl 3.12, 13).
Não deveria ser preciso muita reflexão para alinhar nossa perspectiva com o evangelho quando outros nos ofendem. Por que não? Porque nós ofendemos infinitamente mais a Deus, e Ele nos perdoou. É verdade que mudar da amargura para o que Paulo exorta em Colossenses 3.12, 13 tem um custo para você e seu filho. Não se trata de um custo em reais, mas um custo na moeda da humildade, paciência e confiança no Deus que possui direitos exclusivos de justiça final. Você pode ter certeza de que perdoar e ser bondoso nunca lhe custará mais do que custou a Deus perdoá-lo.
Ore com seu filho, pedindo que Deus os ajude a crescer em bondade e compaixão para com quem está praticando bullying. Expresse preocupação com o relacionamento daquela pessoa com Deus, já que, ao fazer mal a seu filho, ela está se rebelando contra um Deus santo e se colocando em uma posição, com certeza, terrível! Em seguida, trabalhe para substituir pensamentos de vingança por pensamentos consistentes com o que lemos em Filipenses 4.8 e, especificamente, por pensamentos que
- são verdadeiros: estão de acordo com a verdade bíblica;
- identificam alguma virtude: buscam o que há de bom em outras pessoas, em vez de se concentrar nos erros;
- são amáveis: consideram como servir ou edificar outras pessoas, inclusive o ofensor.[3]
O fruto de vencer o mal com o bem
Recentemente, o fruto dessa lição duramente aprendida ficou evidente na vida de meu filho, agora adulto. Enquanto ele estava na faculdade, certo domingo, aproximou-se de mim um dos rapazes que o intimidava fortemente na escola, e a quem eu não via há mais de quatro anos. Esse rapaz não somente passou a frequentar minha igreja, mas Deus o colocou em minha vida de tal maneira que eu pude interagir regularmente com ele e ministrar a ele. Devo admitir que a reação inicial tanto minha quanto de minha esposa não foi de entusiasmo. No entanto, quando contamos a nosso filho o que estava acontecendo, sua primeira reação foi: “Isso é maravilhoso! Estou tão agradecido que o Senhor respondeu nossas orações, mudou seu coração e o trouxe para nossa igreja!” Que reação incrível! De onde veio isso? Veio de um coração que, através de uma série de provações dolorosas, foi ensinado a amar até mesmo seus inimigos com o amor do evangelho e a desejar genuinamente abençoar até mesmo aqueles que um dia o amaldiçoaram.
Minha esposa e eu fomos humilhados naquele domingo quando Deus, pela Sua graça, trouxe até nós alguém que nunca imaginaríamos encontrar na igreja e que, finalmente, tornou-se um novo amigo e irmão em Cristo. Deus seja glorificado!
[1] William Hendriksen and Simon J. Kistemaker, Exposition of Paul’s Epistle to the Romans, vol. 12–13, New Testament Commentary (Grand Rapids: Baker, 1953–2001), 423.
[2] Ibid.
[3] Para um excelente material sobre como aplicar Filipense 4.8 à vida diária, recomendo: VANDEGRIFF, John. In the Arena of the Mind. Howell, NJ: Ask, Seek, and Knock, 1992.
Recurso Adicional: um tratamento mais completo do assunto está no livro de Tim Keeter, disponível no momento somente em inglês: Help! My Child Is Being Bullied.
Tim Keeter lidera os ministérios de música e aconselhamento na Grace Community Church em Huntsville, AL. Ele é um conselheiro certificado pela ACBC.
Original: Helping the Bullied Child to Overcome Evil with Good
Artigo publicado pela Association of Certified Biblical Counselors. Traduzido com autorização.
Tradução e adaptação para o português por Conexão Conselho Bíblico