Como aproveitar bem uma espera

Brenda Pauken


A maioria de nós luta com situações de espera, seja na fila do caixa, seja na expectativa de que Deus dê um cônjuge ou talvez um filho. Nossa cultura alimenta uma aversão à espera quando nos oferece filmes sob demanda e entrega de compras no mesmo dia. Às vezes decidimos que, se temos que esperar por algo, vale mais a pena desistir. Podemos facilmente esquecer que Deus usa períodos de espera para nos ajudar a crescer espiritualmente. Moisés passou 40 anos em Midiã, sem saber o que viria pela frente em sua vida. Podemos aprender muito observando como Deus usou esse período de 40 anos na vida de Moisés.

Moisés em Midiã
Êxodo 2 conta-nos a história da chegada de Moisés em Midiã. É um relato de angústia, assassinato e fuga da ira do Faraó. Considere a amplitude da mudança que ele experimentou, passando da vida no palácio com sua opulência e proximidade do poder para uma vida difícil no deserto.

Para Moisés, aqueles anos em Midiã devem ter parecido um desperdício inútil de seus talentos e um trágico atraso na libertação dos israelitas. Ele queria aliviar a opressão de seu povo e tinha qualificações únicas para a tarefa, pois havia sido educado na sabedoria dos egípcios, tinha acesso ao próprio faraó e a energia de um jovem para agir. Considere, portanto, as perguntas e dúvidas de Moisés enquanto os anos passavam e ele permanecia em Midiã. Aquele homem altamente preparado cuidava agora dos animais, uma ocupação que não exigia nenhuma educação formal. Considere também como seu corpo declinou ao passar décadas ao ar livre, sujeito a extremos de calor e frio, fome e fadiga, além do estresse de lidar com animais tolos e teimosos.

Midiã como campo de treinamento
O período passado em Midiã não foi um desperdício dos talentos e da vitalidade de Moisés, pois Deus estava preparando seu corpo, mente e espírito para sobreviver à jornada do êxodo, administrar a rebeldia do povo hebreu e caminhar com o Senhor em dependência diária.

Midiã foi um campo de treinamento ideal para liderar uma multidão inquieta através do deserto. Os confortos e luxos do palácio não poderiam ter preparado Moisés para as dificuldades contínuas, como a austeridade e os desafios físicos. Em Midiã, ele aprendeu como encontrar sustento e lidar com o calor, a poeira e outras ameaças do deserto. O pastoreio desenvolveu qualidades como vigilância, coragem e determinação, e a capacidade de administrar ataques inesperados. A solidão do deserto proporcionou muito tempo a sós com Deus para crescer na compreensão de Seu caráter e Seus caminhos para que ele aprendesse a confiar. No entanto, além de ganhar habilidades práticas, Moisés precisava crescer em humildade. Embora possamos admirar e respeitar sua identificação com o povo hebreu e sua indignação com os maus tratos, ele agiu com autoconfiança no Egito. Ele se apresentou como autoridade e juiz, no entendimento daqueles que ele estava procurando apaziguar (At 7.25-28).

A transformação de Moisés
A confiança de Moisés em Deus começou a crescer quando ele correu para Midiã. Afastando-se completamente do Egito, renunciando aparentemente à sua posição elevada e a qualquer possibilidade de retornar ou de salvar o seu povo, Moisés se entregou aos cuidados e proteção de Deus. Ele também entregou a Deus o bem-estar de seus irmãos hebreus, que continuavam na escravidão, sem acusar a Deus por estar fazendo algo errado. À medida que Moisés crescia em seu conhecimento de Deus e testemunhava Seu cuidado, ele também desenvolveu paciência para aguardar e confiança nos planos de Deus.

Apesar do contraste com seu modo de vida anterior, Moisés aceitou suas novas circunstâncias em Midiã. Ele não demonstrou orgulho ou desdém pela posição inferior de seu anfitrião Reuel, mas serviu suas filhas pastoras em suas necessidades e aceitou graciosamente sua comida e hospedagem. Ele teve que se ajustar à poeira, à falta de conforto, à perda de sua posição, às realidades de habitações rudimentares, à monotonia entediante e à vida cotidiana repetitiva quando comparada aos entretenimentos e estímulos intelectuais do palácio. Embora obviamente não fosse o que ele esperava da vida, não temos registro de uma murmuração infrutífera ou reclamação.

A mudança atitude de Moisés fica evidente em sua resposta quando Deus o chamou: “Quem sou eu para apresentar-me ao faraó e tirar os israelitas do Egito?” (Êx 3.11). Sua confiança impetuosa foi substituída por mansidão e uma aparente incapacidade de ver a si mesmo como um libertador.

Lições para aqueles que esperam
O que podemos aprender com a vida de Moisés que pode nos ajudar a aproveitar bem os momentos de espera?

• A espera nunca é simplesmente uma espera. Em Midiã, Deus preparou Moisés para o serviço, por dentro e por fora, enquanto Moisés talvez pensasse que estava somente pastoreando ovelhas. A privação, a falta de certezas sobre o futuro e a rotina repetitiva que Moisés experimentou em Midiã foram ferramentas santificadoras nas mãos de um Deus que faz todas as coisas para o bem daqueles que são chamados segundo o Seu propósito. Lembrar da constante atividade de Deus em nosso favor pode nos proteger da perda de perspectiva, murmuração e autopiedade, que são tentações comuns enquanto esperamos. Também nos permite ser fiéis com tudo o que Deus coloca diante de nós para ser feito naquele momento, não importa quão humilde ou indesejado seja.

• A espera aponta para Deus. Embora Deus tenha o propósito de nos refinar em todas as fases da vida, a espera aponta para Deus. As Escrituras nos dizem repetidamente que o Senhor deve estar no centro de nossa espera. “Pois em ti, SENHOR, espero; tu me responderás, Senhor, Deus meu” (Sl 38.15). “E eu, Senhor, que espero? Tu és a minha esperança” (Sl 39.7). “Aguardo o SENHOR, a minha alma o aguarda; eu espero na sua palavra” (Sl 130.5). Moisés não saiu perfeito de Midiã; no entanto, ele saiu com a certeza de que Deus estava e estaria com ele (Êx 3.12). Visto que a espera não diz respeito a nós ou às nossas circunstâncias, devemos vivê-la descansando nas promessas, na presença e no poder de Deus.

• A espera deve ser centrada. Uma tentação é procurar escapar da espera preenchendo o tempo com distrações sem sentido. No entanto, a atenção de Moisés concentrada durante 40 anos no mesmo trabalho garantiu que ele não perdesse o chamado de Deus para algo maior (Êx 3.1-3). A parábola das dez virgens, em Mateus 25.1-13, reitera a necessidade de estar centrado e vigilante o tempo todo. Cinco virgens estavam atentas e preparadas para a chegada do noivo; as outras cinco desperdiçaram a espera e ficaram de fora. Podemos aproveitar nossa espera cultivando foco, intencionalidade e expectativa centrada em Deus.

• Uma espera por algo maior. Não importa o quão bem-vinda seja uma mudança nas circunstâncias, nunca é isso que estamos esperando em última instância. Lembre-se, Moisés deixou Midiã apenas para vagar no deserto por mais 40 anos conduzindo israelitas obstinados. A verdadeira alegria, o verdadeiro alívio da dor, luta, tédio, tristeza e perda nunca serão alcançados nesta vida. Louvado seja Deus, esta vida não é tudo o que existe! Aguardamos a volta do Rei Jesus, que nos levará com Ele ao nosso lar eterno no céu, onde nosso anseio será satisfeito, receberemos nossa herança e teremos uma vida sem mais tristeza ou dor. Este é o futuro certo que Jesus morreu para garantir para nós, e vale a pena esperar.

Perguntas para Reflexão
1- Que promessas de Deus são mais úteis para você em sua espera?
2- Como você tem visto a presença e a atividade do Senhor enquanto espera?


Brenda Pauken completou o mestrado em aconselhamento bíblico no Westminster Theological Seminary e concluiu o programa de estágio na Christian Counseling and Educational Foundation. Ela aconselha e ensina em sua igreja local, Sterling Park Baptist Church, em Sterling, Virgínia.


Original do artigo: Waiting Well
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition.  Traduzido com autorização.
Tradução de Carla Silva.