Como sair de um conflito sem fugir?

Joe Keller


Existem muitos truísmos na vida que foram transmitidos de uma geração para outra. Cito alguns: “Não corra com uma tesoura na mão”, “Faça backup do seu disco rígido” e o meu favorito que é “Onde um não quer, dois não brigam”. Na vida, o conflito interpessoal acontece quando duas pessoas em conflito uma com a outra são combativas e procuram apenas satisfazer os seus desejos controladores não satisfeitos (Tg 4.1-5). Um conflito pode durar décadas. No entanto, pode ser difícil ter um conflito contínuo se um ou ambos não abandonarem a postura conflituosa, não fugindo das circunstâncias, mas assumindo um compromisso com a obra transformadora do evangelho (1Co 5.14, 15; Rm 6.10, 11; 5.1-5; 8.28-30).

Você já tentou brigar com alguém que responde de maneira bondosa? É difícil! Na próxima vez que você se vir envolvido em um conflito, considere seguir um caminho bíblico. Tudo começa por sair do calor do conflito aplicando alguns princípios bíblicos.

Considere o seu coração (Pv 4.23; Hb 4.12; Tg 1.13-15)
Quando surge um conflito, a tendência é considerar as circunstâncias, concentrando-se primeiro no que aconteceu com você. É interessante observar que diferentes pessoas e personalidades respondem de maneira diferente ao mesmo conjunto de circunstâncias. O fogo do conflito interpessoal começa dentro de nós, não fora de nós. Para ajudar a resolver a questão, o primeiro passo é perguntar a nós mesmos: “Por que esta circunstância me incomodou tanto?” Em muitos casos, isso requer alguma ajuda. Por exemplo, pedir ajuda a Deus para identificar com precisão os seus desejos. Também pode envolver pedir a um amigo que lhe dê uma perspectiva e uma visão sobre como você está interpretando a situação. Colocar por escrito a situação e seus pensamento, e avaliá-los meditando nas Escrituras, é uma ferramenta útil para identificar o que está acontecendo no coração, pois coloca em palavras uma descrição daquilo que está no coração.

Esclareça sua responsabilidade (Rm 12.1-3; Fp 4.8; Sl 139.23, 24)
Quando se trata de conflito, a maioria das pessoas adota uma abordagem de “acidente de trânsito” para lidar com os problemas. Isso significa que elas avaliam rapidamente a porcentagem do conflito pelo qual a outra pessoa é responsável para determinar o esforço necessário para lidar com a situação. Em outras palavras, se a minha culpa for apenas de 1%, então cabe antes à outra pessoa fazer 99% do esforço para acertar a situação. Sair desta equação significa dar o primeiro passo e começar por lidar com a sua responsabilidade. Na verdade, mesmo que você tenha somente 1% de culpa, você ainda é 100% responsável por essas ações diante de Deus e dos outros. Invista tempo para esclarecer em seu coração quais ações e atitudes suas contribuíram pecaminosamente para o conflito. À medida que você refletir, pode haver expressões que não estão visíveis para os outros, mas que se tornam muito claras para você. Este esforço de esclarecer para você mesmo a sua responsabilidade cria o contexto para esforços os ativos e produtivos para resolver o conflito com a outra pessoa. Ele independe dos da outra pessoa, mas trabalha em seu coração e diminui o efeito cumulativo de culpa sobre a outra pessoa por só apontar o dedo em direção a ela.

Confesse seu pecado (1Jo 1.9; Sl 32.5; Tg 5.16)
O trabalho que está acontecendo em seu coração e o esclarecimento da sua responsabilidade são significativos e importantes para lidar com o conflito, pois criam um contexto honesto para lidar com a raiz do conflito e os efeitos do pecado. Embora existam influências que podem trazer pressões e dificuldades, o único caminho para enfrentar um conflito e promover um relacionamento bem-sucedido é o do evangelho. No conflito, é fácil tornar-se orgulhoso e proteger egoistamente a si mesmo porque parece que aquele que mostra fraqueza ou vulnerabilidade corre o risco de ser abusado. No entanto, o caminho bíblico é o oposto. O evangelho traz ajuda e esperança. Você pode ser sincero sobre as áreas de luta do seu coração e ações pecaminosas porque o evangelho é um caminho de redenção e transformação. Confessar diante de Deus o seu pecado é um ato de adoração que exalta obra de redenção em Cristo. Confessar aos outros o pecado específico que você praticou contra eles, proclama a obra do evangelho em um coração transformado. Isto não é feito para manipular outros de modo que façam o mesmo, mas é simplesmente um caminho para você tratar a sua contribuição para o conflito e ser veículo da esperança que a redenção em Cristo traz às circunstâncias de conflito.

Assuma o compromisso de amar (Fp 1.9-11; Rm 12.9-16; Cl 3.12-14)
Outros conflitos podem acontecer, e é preciso cuidado proativo e discernimento para antecipá-los. Existe uma hora específica do dia em que os conflitos com certa pessoa ocorrem? Existe um tipo de pessoas com as quais você acha mais difícil de interagir? Existem assuntos que resultam mais facilmente em conflito? Essas perguntas ajudam a antecipar momentos em que você poderia novamente entrar em conflito com a mesma pessoa ou com outra. Quando surge um conflito, existe um momento decisivo que você precisa considerar. Você responderá da mesma maneira habitual ou escolherá um caminho diferente e melhor? O trabalho que você aprendeu a fazer para compreender o seu coração e lidar com sua responsabilidade e o pecado lhe dá agora a oportunidade de responder com amor quando as tentações surgirem. 

Enfrentar ativamente o conflito com amor sacrificial acrescenta uma nova dinâmica às circunstâncias. Em vez de lidar com os efeitos agravados do pecado e as consequências do conflito, o ciclo pode ser quebrado por meio de atos de amor específicos e aplicados à situação. Assumir o compromisso de amar não elimina as dificuldades do conflito. Na verdade, pode exigir um esforço ainda maior, mas os resultados têm a capacidade de mostrar o evangelho, bem como de trazer a paz de Deus ao seu coração. O amor sacrificial que reflete o amor de Cristo busca dar, não receber. Este compromisso com o amor quebra o ciclo de exigências de retribuição em conflitos. Comprometer-se com o amor não elimina as dificuldades do conflito. Na verdade, o esforço pode ser ainda mais exigente, mas os resultados têm a capacidade de expor o evangelho, bem como de colocar paz no seu coração. O amor sacrificial que reflete o amor de Cristo busca dar, não receber. Este compromisso com o amor quebra o ciclo de exigência de retribuição em conflitos. 

Por meio da obra transformadora do evangelho, temos a capacidade e o chamado para lidar com conflitos de maneira diferente. À medida que você aplica esses princípios abandonar uma postura conflituosa, mas sem fugir de suas responsabilidades no conflito, há uma oportunidade de reconciliação sem o rumor das batalhas relacionais contínuas que nós mesmos contribuímos para alimentar.

Perguntas para reflexão
1- Como interromper uma postura conflituosa pode ajudá-lo a lidar com as questões envolvidas nesse conflito? 2- Alguém já aplicou esses princípios bíblicos  em sua vida? Como a resposta deles ao conflito o ajudou a resolver questões da sua vida relacionadas ao conflito?


Joe Keller tem atuado no ministério cristão e no desenvolvimento de liderança por mais de 20 anos. Atualmente é pastor executivo na Grace Baptist Church em Santa Clarita, Califórnia, e leciona no departamento de aconselhamento bíblico da The Master’s University. Ele completou seu mestrado em divindade no The Master’s Seminary e o doutorado em ministério no Westminster Theological Seminary.


Original do artigo: Removing Yourself from Conflict without Running Away from It
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition.  Traduzido com autorização.
Tradução de Carla Silva.