David Almack
Você já se deparou com alguém assim. Você o conhece. Quando você o vê atravessar o saguão da igreja, você é tentado a se virar e andar para o outro lado. Por alguma estranha razão, ele parece viver debaixo de uma nuvem de tristeza e desgraça. Nenhuma situação é insignificante demais para uma reclamação e nada está acontecendo como ele gostaria. Não é que ele não consiga ver o copo meio cheio; ele não vê nada no copo e quer ter certeza de que você o saiba. Ele é o cristão murmurador.
Infelizmente, a contrapartida do cristão murmurador também é muito comum. Você o vê no corredor da igreja, pergunta como ele está e é recebido com palavras como “abençoado e bem-sucedido”. Talvez você esteja ciente de alguma dificuldade que ele está enfrentando e expresse empatia. Em resposta, ele minimiza o fato e desvia a conversa, sugerindo que a vida não esteja tão mal quanto possa parecer. Raramente essas conversas são profundas. Ele expressa gratidão regularmente, mas suas palavras parecem falsas.
Embora a maioria de nós possa não se encaixar em nenhum desses extremos, nós também somos frequentemente tentados à ingratidão ou à falta de sinceridade. É muito mais fácil encontrar falhas e murmurar do que ser grato em todas as circunstâncias que enfrentamos. Revelar muito de nós mesmos traz riscos de desconforto, constrangimento e exposição ao ridículo. O evangelho, porém, chama-nos para algo totalmente diferente — uma vida fundamentada na gratidão.
A graça de Deus nos bons e maus momentos
O fato de Deus ter enviado Seu único Filho para morrer em nosso favor, para tomar sobre Si os nossos pecados e nos dar Sua justiça, é quase incompreensível. Em resposta a essa mensagem tão incrivelmente maravilhosa, somos chamados a viver de modo que honre e glorifique a Deus. Nossa motivação para uma vida de santidade e obediência é gratidão, não meramente dever. No entanto, o evangelho nos chama a ser gratos por mais do que aquilo que Deus fez e faz por nós; ele nos chama a ser gratos, em primeiro lugar, por quem Deus é. Ele é bom não somente por causa do que fez em nosso favor, mas por causa de quem Ele é — Ele é a própria definição da bondade. Nosso evangelho não é transacional, é transformacional. Quando louvamos a Deus, devemos ter cuidado para não nos concentrar somente nos benefícios de Sua obra, mas nos benefícios de Sua própria pessoa.
O que pensar quando as coisas não acontecem como gostaríamos? Todos nós, em momento ou outro, enfrentaremos dificuldades e tristezas neste mundo caído. Para alguns, a tristeza pode ser momentânea e leve; para outros, a experiência de sofrimento pode ser esmagadora e constante. Jó certamente é um exemplo de alguém que enfrentou não pouco sofrimento, e muitos dos que procuram aconselhamento bíblico estão lidando com pesos significativos ou uma tragédia pessoal. Certamente somos chamados a lamentar com aqueles que lamentam e chorar com aqueles que choram. No entanto, também somos chamados a apontar as pessoas para Deus, Aquele que está presente nos momentos sombrios e devastadores. É em nossos momentos de maior fraqueza que Deus mostra Sua grande graça.
Em tudo, deem graças, porque esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus.
1Ts 5.18
O favor imerecido de Deus para conosco pode vir de muitas formas, mas é sempre para o nosso bem e Sua glória. Precisamos reconhecer e dar crédito à Sua graça. Nos bons momentos, devemos lembrar que somos muito parecidos com os leprosos que foram a Jesus para serem curados. Eles não fizeram nada para merecer Sua obra milagrosa, mas Ele os curou mesmo assim. A questão é qual leproso seremos: aqueles que foram curados e imediatamente fugiram ou aquele que voltou para agradecer a Deus pelo que não tinha o direito de esperar?
É mais fácil “contar as bênçãos uma por uma” quando tudo vai bem ou quando sutilmente acreditamos merecer aquilo de bom que nos acontece. É muito mais difícil ser grato quando tudo parece dar errado e acreditamos não merecer isso. No entanto, o evangelho nos lembra que é “tudo pela graça” — tudo. Coisas boas e ruins, do nosso ponto de vista, acontecem porque temos um Deus que nos ama graciosamente. Devemos ser gratos por quem Deus é, não somente quando recebemos boas dádivas.
Crescendo em gratidão
Você tem aqui cinco sugestões práticas para ajudá-lo a crescer em gratidão:
1- Considere fazer um estudo sobre os atributos comunicáveis e incomunicáveis de Deus e liste as razões pelas quais você é grato por quem Deus é.
2- Durante uma semana, separe tempo todas as noites, antes de dormir, para lembrar como Deus se fez presente em sua vida durante aquele dia, e agradeça a Ele.
3- Da próxima vez que você for forçado a sair da sua rotina por algo inesperado, pegue seu telefone, abra um aplicativo da Bíblia e leia passagens que o lembrem da promessa da presença de Deus.
4- Junto com o seu diário de oração, mantenha um registro de exemplos específicos da fidelidade de Deus em sua vida.
5- Compartilhe sua gratidão com outras pessoas quando Deus as usar para serem uma bênção para você.
Perguntas para reflexão
1- Quando foi a última vez que você agradeceu a Deus por quem Ele é e não somente por algo que Ele lhe deu?
2- Você já se sentiu tentado a assumir o crédito por algo que Deus fez em sua vida?
3- Quando foi a última vez que você listou tudo o que Deus estava fazendo em sua vida naquele momento — tanto as coisas agradáveis quanto as difíceis?
4- A gratidão caracteriza suas conversas com seus amigos mais próximos ou você é mais propenso a murmurar, especialmente com aqueles que conhece mais?
5- Você já pensou em como Deus agiu mesmo nas circunstâncias mais sombrias que você enfrentou??
Dave Almack atua na P&R Publishing desde 2018, trabalhando em estreita colaboração com autores na comunidade do aconselhamento bíblico para desenvolver e publicar novos livros impactantes.
Original do artigo: Grounded in Gospel Gratitude
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition. Traduzido com autorização.
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