Quando as lutas se prolongam, você sabe como “esperar bem”?


Kevin Carson

Em conversa com um grupo de estudo bíblico, discutimos recentemente como as lutas prolongadas têm o poder de nos desgastar. Quando uma provação, ou um tempo de espera, estendem-se por dias, semanas, meses ou até mesmo anos, o peso do desânimo pode começar a oprimir a alma. Nesses momentos, é forte a tentação de esquecer o que é verdadeiro e, especialmente, a plena compaixão e misericórdia do Senhor.

Uma espera paciente em meio a uma luta prolongada – Tiago 5.7-12
Tiago, escrevendo aos crentes que sofriam injustiças, dificuldades e incertezas, chama-os de volta a uma perspectiva que confia no caráter do Senhor e na certeza de Sua volta. Em Tiago 5.7-12, ele oferece uma palavra de conforto para todo crente que atravessa um longo vale de provação e espera. Seja uma dificuldade física, relacional, financeira, espiritual, ou ainda outra, o chamado permanece o mesmo: espere pacientemente e fortaleça seu coração, porque o Senhor é cheio de compaixão e misericórdia.  Por favor, não se esqueça disso: você espera pacientemente e fortalece seu coração por causa do Senhor, que é cheio de compaixão e misericórdia. Respondemos à nossa luta à luz do caráter do Senhor.

Antes de considerarmos em detalhes os ensinamentos e o encorajamento oferecidos por Tiago, é importante lembrar que ele escreve como pastor da igreja de Jerusalém. Os leitores originais eram judeus cristãos, que naquele momento estavam espalhados. Ele escreve com um coração cheio de amor e compaixão. Além disso, ele compreende a compaixão e os ensinamentos de seu irmão, Jesus.

A paciência exige que nos lembremos de quem o Senhor é.
Tiago inicia sua exortação de forma simples: Portanto, irmãos, sejam pacientes até a vinda do Senhor.” (Tg 5.7a). Paciência não é resignação passiva. Não é “desistir” emocional ou mentalmente. Biblicamente, paciência é confiança ativa, ou seja, é repousarmos sob a mão soberana de Deus enquanto continuamos a obedecer fielmente. Contudo, muitas vezes, as provações expõem nossa natureza humana. Quando nos sentimos fracos ou feridos, buscamos naturalmente alívio e soluções. Quando não tomamos cuidado, começamos logo a alimentar a nossa natureza humana: reclamamos, buscamos ter controle da situação, afastamo-nos dos outros ou imaginamos “soluções” pecaminosas. Tiago nos lembra que essas reações somente complicam nossa vida e intensificam nossa frustração.

Não perca de vista o que o pastor Tiago nos ensina aqui. Ele nos direciona ao caráter do Senhor. Por que você deve ser paciente? Porque o Senhor é cheio de compaixão e misericórdia (Tg 5.11).

Deus não se esquece de Seus filhos que passam por lutas. Ele não perde de vista suas lágrimas, suas necessidades nem sua perseverança fiel. Ele é compassivo – sente compaixão por nós em nossa dor. Ele é misericordioso – age em nosso favor em nossa angústia. Sim, a paciência é possível quando nos lembramos de quem Deus é.

O pastor Tiago usa três ilustrações para encorajar o coração de seus leitores.
Para nos ajudar a perseverar, Tiago oferece três ilustrações: o agricultor, os profetas e Jó. Cada uma delas nos auxilia em nossa busca por saber “esperar bem”.

1. O agricultor: à espera do fruto da terra.
Tiago escreve: Eis que o lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas (Tg 5.7). O agricultor não pode apressar o crescimento dos frutos. Ele não pode forçar a chuva nem pode controlar o clima. No entanto, ele trabalha fielmente e mantém uma expectativa elevada durante a espera, porque sabe que a época da colheita chegará. O fruto precioso da terra recompensará o tempo de espera.

Da mesma forma, as provações que enfrentamos produzem algo precioso em nós (cf. Tg 1.2-4). A santificação não acontece instantaneamente. A maturidade espiritual não se adquire em um piscar de olhos. Deus usa as provações prolongadas para nos ajudar a sermos completos e espiritualmente maduros, para cultivar em nós perseverança, humildade, fé e semelhança com Cristo – qualidades de caráter que nem sabíamos que nos faltavam. O crescimento é lento, mas certo, e a colheita valerá cada lágrima.

2. Os profetas: fidelidade na obediência.
Em seguida, Tiago destaca os profetas: “Tomem como exemplo de sofrimento e paciência os profetas que falaram em nome do Senhor” (v. 10). Os profetas viveram em obediência diante da oposição. Mal compreendidos, mal interpretados, rejeitados e/ou perseguidos, eles continuaram a falar fielmente porque se entregaram a Deus. Clamavam a Deus, lamentavam o que viam ao seu redor, deploravam as circunstâncias e pediam a misericórdia de Deus enquanto esperavam e buscavam processar do ponto de vista espiritual, emocional, mental e até físico o que acontecia ao seu redor.

O exemplo dos profetas lembra-nos que a obediência pode ter um preço, mas sempre vale a pena. Nos tempos de espera, não devemos deixar de fazer o que é certo, mas continuar a caminhar fielmente – amando os outros, controlando nossas palavras, resistindo ao pecado e nos apegando às promessas de Deus. Os profetas nos mostraram que a fidelidade prospera mesmo nas dificuldades.

3. Jó: sua perseverança e a compaixão de Deus.
Tiago conclui falando sobre a perseverança de Jó: “Como vocês sabem, nós consideramos felizes aqueles que mostraram perseverança […] e viram o fim que o Senhor lhe proporcionou (Tg 5.11-NVI). Agora, preste atenção nisso. O ponto central da história de Jó não é primordialmente o sofrimento. Em vez disso, é o propósito de Deus. O “fim que o Senhor lhe proporcionou” não era a devastação, mas a restauração, uma intimidade mais profunda e um maior conhecimento de Deus. Jó aprendeu que Deus é compassivo e misericordioso. O sofrimento de Jó foi real, mas o cuidado de Deus também o foi.

O tempo de espera em sua longa luta não é em vão. Deus está fazendo algo em você que, no fim, revelará Sua compaixão e misericórdia.

Fortaleça seu coração: o juiz está à porta.
Tiago acrescenta mais um encorajamento: o Juiz está às portas (Tg 5.9). Jesus voltará em breve e, com Ele, virão a justiça, a restauração e a paz perfeitas. O mundo não está fora de controle. A sua espera e sua perseverança não passam despercebidas aos olhos de Deus. Visto que o Juiz está à porta, você deve proteger seu coração da queixa, da amargura ou do desespero. Você deve fortalecer seu coração com a verdade. Você pode esperar com confiança.

Saiba “esperar bem”!
Quer você se identifique com o agricultor que ora pela chuva, o profeta que obedece a Deus sob pressão ou Jó que sofre dificuldades inimagináveis, o chamado permanece o mesmo: motivado pela volta de Cristo, seja paciente, fortaleça seu coração, lembre-se da compaixão e da misericórdia de seu Deus.

Deus é sábio,
Deus é bom,
Deus é bondoso,
Deus é compassivo,
e Ele não o decepcionará.

Uma palavra necessária: “sofrer bem” – “esperar bem”
Algumas pessoas ficam incomodadas quando ouvem a expressão “sofrer bem”, acreditando que soa desdenhosa ou insensível à dor real. Certamente, devemos usar essa expressão de encorajamento sempre com muita sabedoria, cuidado e compaixão. Contudo, não podemos ignorar que Tiago chama os crentes exatamente a isso: a sofrer bem. Não estoicamente, não de forma independente nem com um sorriso falso, mas com perseverança paciente, ancorada na compaixão e misericórdia do Senhor, e motivada pela certeza da volta de Cristo. Negar esse encorajamento seria ignorar uma clara admoestação bíblica. Sofrer bem e, por associação, esperar bem, não é a totalidade do que vamos dizer enquanto conselheiros, mas certamente faz parte do nosso conselho. Na provação e na espera, Tiago nos encoraja a optar pela perseverança que honra a Deus, fortalecer o coração na Palavra e nos manter confiantes da volta de Cristo. Ao caminharmos com outros em tempos difíceis, devemos manter esta verdade diante deles: pela graça de Deus e no poder do Espírito, o Seu povo pode esperar bem.


Original: Waiting Well in Long-Term Struggle
Artigo publicado em Kevin Carson, traduzido e publicado com autorização.


Kevin Carson atua como pastor da Sonrise Baptist Church em Ozark, Missouri, e também como professor e chefe do departamento de aconselhamento bíblico no Baptist Bible College and Theological Seminary em Springfield, além de ensinar em outras instituições teológicas. Ele completou o mestrado no Baptist Bible Graduate School, em Springfield, e o doutorado em ministério no Westminster Theological Seminary. É certificado pela ACBC, onde atua também no ensino e treinamento de conselheiros.