Aline Provenzano Cardim
Vou abrir meu coração para vocês: morro de medo daqueles insetos que fazem “crec” quando pisamos ou batemos na casquinha para matar. Sim, esses pequenos insetos – às vezes não tão pequenos assim – causam uma mistura de sentimentos dentro de mim e me fazem ficar paralisada, sem saber ao certo como agir. E você? O que você teme? Qual o seu pior medo? Talvez o seu medo não esteja relacionado a insetos ou qualquer outro animal; talvez você tenha pavor de altura, de filmes de terror ou de ficar presa em lugares fechados.
Dando um passo a mais, é possível que, assim como eu, você também tenha medo do futuro, medo de perder aquilo que Deus tem para você, medo de deixar a rotina tirar o seu foco de servir a Deus, medo de receber “nãos”, medo fazer ou deixar de fazer alguma coisa e se arrepender. É complicado lidar com medos, não é mesmo? Mas talvez a complicação toda venha somente porque insistimos em não lidar com eles do jeito que o nosso Pai nos ensina.
O perigo do medo
O medo é definido no Dicionário Michaelis como uma “perturbação resultante da ideia de um perigo real ou aparente ou da presença de alguma coisa estranha ou perigosa”. A partir dessa definição, podemos já perceber que alguns medos são úteis, porque nos fazem ficar devidamente longe de perigos reais, mas nem todo medo é assim. Ouso dizer que boa parte deles não o são.
De acordo com a Bíblia, o medo que cresce pela nossa falta de confiança em Deus facilmente nos escraviza (Rm 8.15). Ele nos controla e nada tem a ver com o amor de Cristo (Rm 8.32-39). O tormento gerado pelo medo está ligado à nossa incapacidade real de controlar as circunstâncias e nossa falta de confiança de que Deus está realmente no controle.
A verdade é que o medo pode nos fazer tirar os olhos de Cristo e colocá-los nas situações em que estamos inseridos. Um exemplo disso é o aconteceu com aqueles homens que estavam no barco com Jesus quando foram atingidos pela tempestade (Mt 8.23-27). Eles ficaram apavorados! A pergunta que Jesus lhes fez indica que seu medo estava ligado à ausência de fé: “Por que vocês estão com tanto medo, homens de pequena fé?”. Pedro é outro exemplo, na ocasião em que estava andando sobre as águas, em direção a Jesus. Ele estava indo bem, até o momento em que tirou os olhos de Cristo e reparou apenas no vento. Ele ficou com medo, e começou a afundar, gritando para o Senhor o salvar e, “imediatamente Jesus estendeu a mão e o segurou. E disse: “Homem de pequena fé, porque você duvidou?” (Mt 14.31).
Os frutos do medo que nos controla
O medo, se não for controlado, dá frutos. Ele nos paralisa e nos faz deixar de andar na direção de Cristo. Ele abre brechas para que deixemos que a nossa natureza pecaminosa fale mais alto. O nosso medo de perder o controle e de ser humilhados ou expostos, o medo da fraqueza ou o medo da perda podem nos levar a comportamentos absurdos, a “explodir” e descontar em outros o que estamos experimentando ou até mesmo a atitudes violentas. Foi exatamente isso que aconteceu no início da história de Moisés, quando os egípcios temiam o domínio dos hebreus em seu país, o que os levou a atitudes tiranas e de opressão sobre o povo de Deus (Êx 1.9-14).
Além disso, o medo pode nos levar a querer manipular as situações e a agir dando o nosso “jeitinho” nas coisas. Se temo mais a situação ou temo mais a homens do que temo ao Senhor, com certeza estarei disposta a pecar e a renunciar ao meu compromisso com o Senhor por algo que não vale a pena e que trará amargas consequências: “Quem teme ao homem cai em armadilhas, mas quem confia no Senhor está seguro” (Pv 29.25).
Temer o futuro ou situações que nem mesmo são reais é clara desobediência às ordens de Deus e, como tal, deve ser tratada como pecado: confissão, arrependimento, mudança de atitude – “Quem esconde os seus pecados não prospera, mas quem os confessa e os abandona encontra misericórdia” (Pv 28.13; cf Ef 4.22-24). O medo nos leva a esquecer quem Deus é, a desconsiderar tudo o que Ele já fez e a perder a esperança naquilo que Ele fará. Não podemos, portanto, dar lugar ao medo que nos controla.
Sim, mas como?
Não temos motivo para temer. Você já percebeu quantas vezes na Bíblia encontramos a advertência “Não temas”? O nosso Mestre disse isso diversas vezes. Com certeza, Deus quer nos encorajar e nos ensinar por meio dessas repetições. Ele nos orienta a não temer como as pessoas do mundo temem (1Pe 3.12-14), porque Ele cuida de nós. Não deixar que o medo que vez ou outra até podemos sentir cresça cada vez mais, e chegue a ponto de nos controlar e nos fazer perder de vista Jesus e Suas promessas, não é uma opção. É uma prova do nosso amor e obediência a Ele: “Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbem os seus corações, nem tenham medo” (Jo 14.27).
É fato que na nesta vida enfrentaremos situações que nos causam medo. O segredo para lidar bem com elas é deixar que a Palavra seja aquilo que norteie as nossas ações, e não o nosso coração enganoso e corrupto (Jr 17.9). Devemos guardar conosco a sensatez e o equilíbrio, algo que só a Palavra de Deus é capaz de nos dar para que vivamos livres do domínio do medo, seguros no Senhor.
Meu filho, guarde consigo a sensatez e o equilíbrio, nunca os perca de vista; trarão vida a você e serão um enfeite para o seu pescoço. Então você seguirá o seu caminho em segurança, e não tropeçará; quando se deitar, não terá medo, e o seu sono será tranquilo. Não terá medo da calamidade repentina nem da ruína que atinge os ímpios, pois o Senhor será a sua segurança e o impedirá de cair em armadilha. Pv 3.21-26.
Por mais difícil que seja a sua situação, não temas! Busque forças no Senhor (cf. 1Sm 30.6). Seja humilde e peça a ajuda de Deus para lidar com aquilo que você não sabe como enfrentar. Disponha o Seu coração a compreender e a humilhar-se perante Deus, e Deus virá em sua ajuda. Só Ele pode nos ajudar a manter um espírito tranquilo e um coração puro, atentos à Sua voz. Portanto, olhe para Ele e não tema!
Aline Provenzano Cardim foi aluna do Curso de Liderança e Discipulado (CLD) da Organização Palavra da Vida. É fisioterapeuta, formada pela Universidade Federal de São Carlos.
Artigo publicado originalmente em Jovem Crente. Material republicado com autorização.