Monica Kergel
Alguma vez você já se deparou com lutas para aliviar a tensão entre o que se sabe ser verdade sobre Deus e as circunstâncias desgastantes e cansativas da vida cotidiana? Às vezes, nossa teologia e as árduas realidades da vida não combinam muito bem. Se nosso Deus é soberano e bom, por que sofremos por longos períodos devido a pecado, dor, desânimo, violência ou maldade?
LIÇÕES DE HABACUQUE
O contexto
No livro de Habacuque, no Antigo Testamento, encontramos um profeta que estava lutando com essa mesma pergunta. Ele estava cercado por maldade, violência e conflitos que haviam tido origem e floresciam entre seu próprio povo, o povo que supostamente representava o próprio Deus diante dos demais. Habacuque, sobrecarregado pela injustiça e pelo mal que se espalhava em Judá, lamentou diante do Senhor: “Até quando, SENHOR, clamarei pedindo ajuda, e tu não me ouvirás?” (Hc 1.2). Ele se perguntava por que o Senhor via o mal e parecia nada fazer.
Em seguida, podemos quase sentir a angústia e a confusão do profeta debatendo-se com a resposta de Deus à injustiça. Deus revelou o Seu plano: Ele levantaria um povo mais idólatra e perverso, os caldeus, para decretar Sua disciplina e julgamento sobre Judá.
A relevância
Nossos aconselhados geralmente vivenciam os mesmos sentimentos de Habacuque e fazem perguntas como as que ele fez. Por que a injustiça parece passar despercebida aos olhos de Des? Por que Ele parece distante ou silencioso? Por que os desfechos das circunstâncias são dolorosos e aparentemente injustos? Se Deus é soberano e bom, por que isso está acontecendo?
Quando nossos aconselhados sentem-se sobrecarregados pelas provações e adversidades da vida, o que podemos lhes dizer? Podemos dar orientações fundamentais e encorajar os corações cansados percorrendo com eles as páginas de Habacuque.
O que Habacuque nos ensina sobre Deus?
1) Deus acolhe nossas perguntas e queixas. Deus nos convida para derramar o coração perante Ele. Não precisamos negar nossa dor e confusão ou as dúvidas. Pelo contrário, podemos correr para Deus e colocar nossa dor e as preocupações aos Seus pés (Hc 1.2-4; 12-17).
2) Deus nos ouve. Como um pai inclinando para ouvir Seu filhos queridos falar, Deus inclina Seus ouvidos em direção a Seus filhos (Sl 31.2; 116.2). Ele ouve as orações de Seus filhos e responde a seus pedidos de ajuda (Hc 1 e 2).
3) Deus é um Deus de ação. Em Habacuque 1.5, Deus ordenou a Seu servo que olhasse, visse, ficasse maravilhado e admirado, pois Ele faria uma obra que eles não acreditariam se alguém lhes contasse. Deus não está ocioso, e Ele não está indiferente ao mal.
4) Deus está no controle. Deus enfatizou Sua soberania quando deu a Habacuque uma visão do que estaria por vir. “Eis que trago os caldeus”, Ele declarou (Hc 1.6). Nosso Deus ordena todas as coisas (Dn 4.35), até as coisas que não entendemos. Longe de estar fora do controle de Deus, nossas provações são escolhidas a dedo por um Pai amoroso para nos refinar e trazer vida (Tg 1.2-4). Nossa esperança está fundada na verdade de que Deus está sempre realizando Seu bom propósito em nossa vida. (Rm 8.28, 29).
O que podemos aprender com o profeta?
1) A abordagem de Habacuque: Observe a postura do profeta enquanto ele derramava diante de Deus as suas perguntas em atitude de adoração. Ele não minimizou as realidades assustadoras que estava vivenciando, mas também não se esqueceu de que era uma simples criatura aproximando-se do Criador. O profeta nos ensina como levar nossas orações honestas e persistentes diante de Deus (Hc 1.2, 3, 12, 13).
2) O ponto de partida de Habacuque: A esperança do profeta estava ancorada no caráter imutável de Deus. Habacuque lembrava-se constantemente de quem Deus é: eterno, santo, puro, justo. O profeta nos lembra que nosso Deus, que cumpre o que promete, é a Rocha que nos ancora durante as circunstâncias sempre mutáveis desta vida. Num mundo cheio de incertezas, podemos depositar nossa confiança no Deus fiel ao Seu caráter (Hc 1.12, 13)
3) A decisão de Habacuque: Habacuque escolheu lutar pela fé. Ele foi um homem que encontrou esperança e descanso ao aceitar que as coisas que estão encobertas a nós pertencem ao Senhor (Dt 29.29), e como os céus são mais altos do que a terra, também os caminhos de Deus são mais altos do que os nossos (Is 55.9).
Habacuque colocou em prática sua fé de diferentes maneiras.
- Ele olhou para Deus. Habacuque procurou ativamente a Deus e pediu orientação e respostas (Hc 1.1-5, 12-17).
- Ele esperou em Deus. Como um vigia que fica atento ao inimigo, Habacuque esperou firmemente em Deus (Hc 2.1).
- Ele confiou em Deus. Quando a resposta de Deus não foi o que Habacuque queria ouvir, ele escolheu confiar na bondade de Deus, sabendo que um dia Ele cumpriria Suas promessas (Hc 3.16).
- Ele louvou a Deus. Nos versos finais de Habacuque, encontramos o profeta adorando a Deus por quem Ele é, e não por causa de circunstâncias favoráveis. A alegria não foi instantânea. Habacuque lutou no processo de lamentar, olhar, esperar e confiar. No final, ele encontrou alegria e força no Senhor (Hc 3.1-19).
O Evangelho
Não devemos ser lentos no ajudar nossos aconselhados a descobrir as verdades preciosas do evangelho tecidas ao longo do livro de Habacuque. Deus é santo, puro e justo, e cumpre Suas promessas. Embora sejamos tentados como Habacuque a nos comparar a alguém mais perverso do que nós, todos nós ficamos aquém da glória de Deus (Rm 3.23). Deus poderia ter deixado que ficássemos perdidos no nosso pecado, assim como Ele poderia ter deixado a iniquidade se espalhar sem controle em Judá. No entanto, em Sua misericórdia e cuidado, Deus interveio e Sua disciplina resultou em purificação e vida para o povo do Antigo Testamento conforme Ele prometera. Jesus Cristo interveio em nosso favor e foi à cruz. Quando nos arrependemos de nossos pecados e colocamos nossa fé na vida perfeita, na morte sacrificial e na ressureição de Cristo, nós nos tornamos filhos de Deus. O Deus soberano, bondoso, cumpridor de promessas torna-se o nosso Pai celestial em quem podemos confiar.
Não se enganem, a vida cristã é uma luta: uma luta pela fé. Minha oração é que deixemos as verdades encontradas em Habacuque iluminar os cenários sombrios da nossa vida. Vamos encorajar nossos aconselhados a imitar Habacuque. Em meio a dias incertos e dolorosos, vamos encontrar alegria e força no Senhor, e ser pessoas que vivem pela fé e não por vista!
Monica Kergel é uma conselheira certificada pela Association of Certified Biblical Counselors (ACBC) e membro da First Baptist Church of Upper Marlboro, em Maryland.
Original: I Don’t Understand What You Are Doing, Lord!
Artigo publicado pela Association of Certified Biblical Counselors. Traduzido com autorização.