UMA REPRESENTAÇÃO GRÁFICA
Robert Jones
Você já passou pela mesma experiência que eu? Você está ansioso com alguma coisa — um relacionamento, seu trabalho, sua igreja, as finanças. Percebendo isso, aquele amigo que o conhece bem pergunta: “Com o que você está ansioso?” Orgulhoso, relutante em admitir que está ansioso, especialmente por ser um conselheiro bíblico, você responde rapidamente: “Não estou ansioso, estou apenas preocupado”. Afinal, os “bons cristãos” não ficam ansiosos, certo? Mas à medida que suas palavras saem de seus lábios, você não fica convencido nem é convincente. No fundo, você e seu amigo sabem que se trata de ansiedade.
Um pouco de grego pode ajudá-lo
Como podemos ajudar os aconselhados a discernir a diferença entre a preocupação legítima e a ansiedade pecaminosa? Vamos começar com uma simples lição de língua grega. Os termos gregos usados no Novo Testamento para preocupação, merimna (substantivo) e merimnaō (verbo), aparecem 25 vezes no Novo Testamento. Nós os encontramos em passagens familiares como Mateus 6.25 (“Não se preocupem com a sua vida”), Filipenses 4.6 (“Não fiquem preocupados com coisa alguma”) e 1Pedro 5.7 (“Lancem sobre Ele todas a suas ansiedades, porque Ele cuida de vocês.”).
Embora nossas versões da Bíblia em português traduzem essas palavras gregas usando o termo preocupação, algumas vezes cuidado e também ansiedade.[1] Dependendo do contexto, essas palavras podem carregar um sentido bom ou positivo.[2] Por exemplo, considere 1Coríntios 7.34 (“a mulher, tanto a viúva como a virgem, cuida das coisas do Senhor”), 1Coríntios 12.25 (“os membros cooperem, com igual cuidado, em favor uns dos outros”) e Filipenses 2.20 (“não tenho ninguém com esse mesmo sentimento e que se preocupe tão sinceramente por vocês”), o texto que influenciou minha esposa e eu a dar o nome de Timóteo ao nosso primogênito. Os sinônimos para esse uso positivo incluem preocupação, cuidado e interesse genuíno, todas essas qualidades louváveis, legítimas e aprovadas por Deus.
Como essa simples observação bíblica pode nos ajudar a aconselhar pessoas ansiosas?
1. Represente a preocupação legítima e a ansiedade pecaminosa em um espectro
Ao aconselhar pessoas tomadas de ansiedade, posso traçar este espectro:

O fato de podermos traduzir as mesmas palavras gregas merimna e merimnaō de diferentes maneiras, dependendo do contexto, sugere uma raiz comum. Sob as diferentes forma de preocupação, você encontrará preocupações legítimas. A pessoa que se preocupa com seus relacionamentos, trabalho ou dinheiro deve preocupar-se ou ter cuidado com esses assuntos. Eles compõem a vida cotidiana que Deus nos chama para viver para Sua glória (1Coríntios 10.31). O oposto de preocupação não é apatia ou descuido.
2. Ajude seu aconselhado ansioso a discernir a diferença Em seguida, traço uma linha divisória vertical e pergunto o que distingue os lados esquerdo e direito do espectro.

Uma distinção a ser considerada envolve quão bem seu aconselhado conhece e confia em Deus como seu Pai e acredita que Ele o ama e é soberano, sábio e bom em meio às suas circunstâncias de vida difíceis. Passagens como Mateus 6.19-34, Lucas 12.38-42, Filipenses 4.4-9 e 1Pedro 5.6-11 mostram que o antídoto para a ansiedade é uma visão correta de quem é Deus e uma fé em Des em operante. Em outras palavras, nessas passagens, a ansiedade é uma distorção pecaminosa de preocupações legítimas. Preocupações que deveriam nos levar a buscar e confiar em Des são sequestradas por nossa “pequena fé” (Mt 6.30). Para ilustrar essa dinâmica, adicionamos dois triângulos: um com linhas sólida à esquerda para indicar uma visão bíblica de Deus e um com linhas pontilhadas para indicar uma visão deficiente ou distorcida Deus.

Viver do lado direito da divisória, com uma visão incorreta ou turva do Deus da Bíblia, pode gerar ansiedade. Em um mundo repleto de tensões e problemas, como poderia ser diferente? A história de Marta e Maria em Lucas 10.:38-42 ilustra esta dinâmica: Marta estava ansiosa (merimnaō ) com muitas coisas; Maria sentou-se aos pés de Jesus, em adoração, e ouvi atentamente Suas palavras.
3. Nosso espectro nos dá uma metodologia clara e prática
Nosso gráfico permite um movimento simples de três etapas. Primeiro, em vez de perguntar “Com o que você está preocupado?” — fazendo com que nosso aconselhado se sinta tentado a esconder sua real situação como em nosso exemplo inicial) — podemos perguntar “Quais são algumas das preocupações que você está carregando em sua situação?”
Essa abordagem permite-nos afirmar, com compaixão e empatia, que as dificuldades do aconselhado são reais e suas preocupações são legítimas.
Após esse ponto de partida, nosso segundo passo é adicionar uma seta em nosso espectro e fazer a seguinte pergunta: “Algumas de suas preocupações, que são compreensíveis, podem estar cruzando a linha de serem submetidas ao Senhor para se tornar uma questão de ansiedade? Para quais delas você está achando difícil confiar e descansar no Senhor conhecendo quem Ele é?”

Nosso terceiro passo — nosso objetivo no aconselhamento — envolve ajudá-lo a reverter essa seta.

Ajudamos nosso aconselhado a lançar progressivamente suas preocupações pecaminosas — ansiedades, medos, pânico — sobre o Senhor (1Pe 5.7), orar (Fp 4.6, 7), lidar com ídolos do seu coração (Mt 6.19-24) e com a incredulidade (Mt 6.25-34), e descansar na presença (Lc 10.41, 42) e nas promessas (Lc 12.32 do nosso Salvador, e obedecer a Deus (Mt 6.33, 34; Fp 4.8, 9).
Perguntas para reflexão
1- O quanto este gráfico pode ajudá-lo a expor as Escrituras no seu aconselhamento? Revise as passagens bíblicas nas notas de rodapé e veja como elas podem ser usadas.
2- Com que frequência você mesmo percebe que as suas preocupações legítimas cruzam a linha, alternando entre preocupação legítima e preocupação pecaminosa? Andar pela fé é uma jornada nem sempre constante, e que requer clamar ao Senhor: “Eu creio! Ajude-me na minha falta de fé!”
[1] Mateus 6.25,31,34; 10.19; 13.22; Lucas 10.41; 21.34; Filipenses 4.6; 1Pedro 5.7. Preocupação, ansiedade e cuidado são uma mesma palavra no grego, usadas de acordo com preferência dos tradutores da versão da Bíblia em português.
[2] 1Coríntios 7.32–34; 12.25; 2Coríntios 11.28; Filipenses 2.20.
Robert Jones é professor de aconselhamento bíblico no The Southern Baptist Theological Seminary em Louisville, KY. Ele também atua como professor visitante em vários seminários nos Estados Unidos e no Brasil. É formado pela Trinity Evangelical Divinity School (M.Div.), pelo Westminster Theological Seminary (D.Min.) e University of South Africa (D.Theol.). É membro da Association of Certified Biblical Counselors (ACBC), conselheiro certificado pelo Peacemaker Ministries e autor de vários livros já traduzidos para o português.
Original do artigo: Reversing the Flow: Distinguishing Concerns and Worries
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition. Traduzido com autorização.
Tradução e adaptação para o português por Conexão Conselho Bíblico
SUGESTÃO DE MATERIAL DO AUTOR SOBRE O TEMA

JONES, Robert. Por que se preocupar? Alcançando a raiz de sua ansiedade. São Paulo: Nutra, 2020. 36 p.
Links : Livro impresso
Talvez nenhum outro problema perturbe mais pessoas do que a preocupação ou ansiedade. Ela pode surgir repentinamente e nos aborrecer diariamente. Ela suga o nosso sono, esgota nossa alegria, exaure nossa energia, nubla nosso raciocínio, arruína nossos relacionamentos e piora as indisposições do nosso corpo. Embora a preocupação seja crônica e incapacitante para alguns de nós, é uma importunação cotidiana para todos nós.

JONES, Robert. Quando os problemas surgem… Enxergando o amor transformador de Deus. São Paulo: Nutra, 2013. 30 p.
Links: Livro impresso
Embora muitos fatores possam fazer um sofrimento perdurar, nada é mais importante do que saber que há um Deus soberano e bondoso atuando tanto para o seu bem como para a Sua glória. Ele está junto nas tribulações, está no controle e tem propósitos amorosos ao permitir que os problemas surjam. Deus está usando a sua luta para produzir algo proveitoso em você e através de você.

JONES, Robert. Aprendendo o contentamento em todas as circunstâncias. São Paulo: Nutra, 2010. 36 p.
Links: Livro impresso
Deus faz uma poderosa promessa àqueles que pertencem a Jesus Cristo. Ele promete contentamento. O apóstolo Paulo descreve em Filipenses 4.11-13 seu testemunho pessoal. Mas o que é contentamento? Neste ensaio, Robert Jones oferece uma resposta a esta pergunta que é ao mesmo tempo biblicamente profunda e perfeitamente aplicável.