Interagindo nas redes sociais com aqueles que pensam diferente de nós

Jim Newheiser

Muitos estão preocupados com a maneira destrutiva com que as pessoas interagem nas redes sociais. Não se trata apenas de não-cristãos brigando uns com os outros por causa de política. Muitos crentes em Cristo têm contribuído para essa triste situação. Embora a maioria de nós admita a existência e a gravidade do problema, poucos veem a si mesmos como parte significativa dele.

Quero destacar quatro princípios das Escrituras para nos ajudar a honrar o Senhor tanto em nossas interações nas redes sociais quanto em nossas atitudes de coração.

1. O amor presume o melhor
“O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Co 13.7).

Muitas vezes estamos inclinados a dar o benefício da dúvida e nossas “curtidas” para aqueles que pertencem à nossa tribo. Por outro lado, nossa tendência é acreditar no pior com relação àqueles que pertencem a tribos que consideramos oponentes. Estamos inclinados a interpretar suas declarações da pior maneira possível e podemos postar comentários sarcásticos em suas postagens.

Por exemplo, deveríamos ser capazes de concordar com estas duas afirmações:
1- Algumas pessoas são chamadas por Deus para permanecer em casamentos difíceis.
2- Existem situações em que um cônjuge abusado tem o direito de se afastar para sua segurança.

No entanto, se cada uma dessas declarações fosse postada nas mídias sociais, a reação de alguns à afirmação 1 poderia incluir acusações de que o autor idolatra o casamento e se preocupa mais com manter um casamento do que com cuidar das vítimas de abuso. As respostas à afirmação 2 poderiam acusar o autor de encorajar as pessoas a se divorciarem de seus cônjuges por razões que não são bíblicas. Podemos concordar, porém, que é importante proteger tanto a instituição divina do casamento quanto a segurança daqueles que estão em situação de risco? Poderíamos até ter uma discussão proveitosa sobre como aplicar com sabedoria ambos os princípios às situações desafiadoras.

2. Pare de julgar indevidamente
“Irmãos, não falem mal uns dos outros. Aquele que fala mal do irmão ou julga o seu irmão fala mal da lei e julga a lei; ora, se você julga a lei, não é observador da lei, mas juiz. Um só é Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e fazer perecer. Mas quem é você para julgar o seu próximo?” (Tg 4.11, 12).

Uma triste verdade sobre a natureza humana é que gostamos de julgar os outros. Uma verdade correspondente é que, com certeza, odiamos ser julgados. Nas redes sociais, onde as pessoas se deliciam em pronunciar julgamentos sobre seus oponentes, acontece uma mistura tóxicas de ambas. O objetivo desse julgamento não parece ser restaurar com mansidão aqueles que podem estar em erro enquanto andamos no Espírito e temos cuidado para não cair também em erro (Gl 6.1). Em vez disso, o objetivo parece ser destruir – ou cancelar – nossos oponentes. Às vezes, classes inteiras de pessoas são julgadas pelos pecados de alguns maus representantes. Também notei que os julgamentos mais severos parecem recair sobre aqueles que mudaram de tribo recentemente.

Muitos usam adjetivos pejorativos com pouca preocupação de que podemos deturpar injustamente a imagem de outros e prejudicar sua reputação (Mt 5.21, 22). Isso é agravado pela natureza impessoal das redes sociais. Uma pessoa que está diante do computador, ou com seu celular em mãos, pode digitar palavras ofensivas que nunca pronunciaria de frente para alguém. Não escreva nas redes sociais algo que você não pronunciaria se estivesse na presença daquela pessoas ou de outros que você respeita.

Isso não significa que não podemos discordar publicamente de outras pessoas. Paulo confrontou Pedro publicamente em uma situação na qual ele estava publicamente errado (Gl 2.11-21). No entanto, Paulo não recorreu a ataques pessoais.

3. Seja lento para falar
“Vocês sabem estas coisas, meus amados irmãos. Cada um esteja pronto para ouvir, mas seja tardio para falar e tardio para ficar irado. Porque a ira humana não produz a justiça de Deus” (Tg 1.19, 20). “Quem fala demais acaba caindo em transgressão, mas quem controla a língua é sábio” (Pv 10.19).

Muitos já tiveram a experiência de ler palavras exaltadas nas redes sociais, que o levaram a um desejo irresistível de responder com a mesma moeda. Desacelere! Raramente é urgente que você responda imediatamente.

Muitas postagens nas redes sociais são “inflamadas” e prontas a queimar, mas nada fazem para persuadir aqueles que têm pontos de vista diferentes. Precisamos pensar se estamos falando com precisão e justiça. Será que nossa atitude reflete o fruto do Espírito Santo (Gl 5.22-24) ou as obras da carne que causam divisões (Gl 5.19-21)? Minha postagem honra ao Senhor e será edificante para outros (Ef 4.29)? Mostre sua postagem em potencial para amigos tementes a Deus que podem ajudá-lo a se expressar de maneira mais graciosa e mansa (Pv 11.14). Elizabeth Elliot sabiamente nos advertiu: “Nunca perca a oportunidade de ficar de boca fechada”.

4. Seja humilde
“Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um de vocês que não pense de si mesmo além do que convém” (Rm 12.3a). “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humilde” (Tg 4.6). “Você viu alguém que é sábio aos seus próprios olhos? Há mais esperança para um tolo do que para ele” (Pv 26.12).

O orgulho nas redes sociais pode ser sutil. Quando rebaixamos os outros, podemos sinalizar implicitamente nossas virtudes e superioridade. Outra forma de orgulho é a recusa em admitir que podemos estar enganados ou que nosso ponto de vista não é equilibrado. Por exemplo, um aspecto triste durante a crise do Covid foi como as pessoas de ambos os lados falaram com autoridade absoluta sem reconhecer que poderiam estar erradas. Teria sido melhor admitir que estávamos fazendo o nosso melhor com o conhecimento limitado que tínhamos e que pesquisas científicas poderiam mostrar no futuro que estávamos errados.

Positivamente, devemos ser rápidos em buscar com humildade o perdão quando somos pecaminosamente duros em postagens nas redes sociais (Mt 5.23, 24). Outra maneira de expressar humildade é ser rápido em ignorar afirmações perturbadoras feitas por outros: “O bom senso leva a pessoa a controlar a sua ira; a sua glória é perdoar as ofensas” (Pv 19.11). Spurgeon, em suas Lições aos meus Alunos[1], escreveu que aqueles que estão no ministério precisam de um olho cego e um ouvido surdo. Em outras palavras, não seja excessivamente sensível.

Conclusão
O problema das interações prejudiciais nas mídias sociais não é novo. A Bíblia adverte contra as várias formas de fala pecaminosa que vemos nas redes sociais. Embora seja bom sermos contidos naquilo que dizemos, a questão mais importante é a do nosso coração (Pv 4.23). Se andarmos no Espírito, não nos expressaremos de maneira carnal e destrutiva (Gl 5.16). Isso é possível por causa da obra redentora de Cristo que tanto nos perdoa quanto nos transforma (2Co 5.17).

Perguntas para reflexão
1. Em que ocasiões você já se magoou outras pessoas com postagens e comentários nas redes sociais?
2. Em que ocasiões você já se expressou de forma pecaminosa ou imprudente nas redes sociais?
3. Antes de postar algo, você está disposto a avaliar se suas palavras condizem com o fruto do Espírito ou as obras da carne?


[1] SPURGEON, C. H. Lições aos meus alunos. São Paulo: PES, 2000.


Jim Newheiser é diretor do programa de aconselhamento cristão e professor no Reformed Theological Seminary em Charlotte, na Carolina do Norte. Ele é diretor executivo do Institute for Biblical Counseling and Discipleship (IBCD) desde 2006, membro da diretoria da Association of Certified Biblical Counselors (ACBC) e atua no aconselhamento bíblico desde 1982


Original do artigo: Interacting on social media with those with whom we differg
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition.  Traduzido com autorização.
Tradução e adaptação para o português por Conexão Conselho Bíblico