Brady Goodwin
O medo pode nos levar a fazer coisas curiosas. Por um lado, ele nos impulsiona à autoproteção e a organizarmos nossa vida para nos proteger contra ameaças de vários tipos. Por outro lado, sabendo que a proteção contra todo medo é um padrão impossível de atingir, ficamos ansiosos na proporção do peso que atribuímos àquilo que receamos. Independentemente de qualquer conhecimento, o temor impulsiona nossos sentimentos e ações.
Nos relacionamentos, o medo funciona da mesma forma. Visto que o coração humano é atraído por agradar e receber aprovação dos outros, e porque muitas vezes tememos a crítica e a desaprovação, orientamos nossa atuação nos relacionamentos de forma a conseguir o favor dos outros. Fazemos apenas o que agrada aos outros e deixamos de fazer o que pode afetar o que pensariam de nós. Assim o ciclo continua, e vivenciamos repetidamente a primeira verdade de Provérbios 29.25: “Quem teme ao homem cai em armadilhas”.
O temor de homens tem a ver com o lugar errado que damos em nossa vida às opiniões e julgamentos dos outros. Nas Escrituras, o temor de homens é contrastado com o temor do Senhor. Isso porque, espiritualmente falando, esses dois temores se opõem, representando formas conflitantes de adoração. Não podemos amar, estimar e obedecer primeiramente a Deus se o nosso compromisso for com agradar a outros em primeiro lugar.
O temor de homens aparece de inúmeras maneiras no aconselhamento. No entanto, neste artigo, vou me concentrar mais especificamente em como o temor de homens influencia nossas palavras. Como as nossas palavras são o principal meio de expressão nos nossos relacionamentos, elas são uma das principais maneiras pelas quais o temor de homens pode ser identificado. A solução, como procurarei demonstrar nas Escrituras, é o amor corajoso – o amor na correta posição para com Deus e o amor fiel, mediado por nossas palavras, para com os outros.
Servir a Deus ou agradar as pessoas?
Em seu ministério de aconselhamento, você já se deparou provavelmente com o seguinte problema em relacionamentos: alguém reconhece a necessidade de falar algo difícil, mas necessário, e se sente incapaz de fazê-lo por um motivo ou outro. A justificativa do seu aconselhado para a falta de ação costuma ser plausível. Ele está ciente das muitas passagens bíblicas que prescrevem uma conversa amorosa e honesta como a solução certa para um problema no relacionamento. Ele sabe que é sábio dar esse passo de obediência e, sinceramente, ele reconhece que seria um ato de amor cristão. No entanto, apesar desse conhecimento, a hesitação permanece. Por quê?
Um exame mais atento da situação costuma revelar a verdadeira motivação: a pessoa está com medo. Normalmente, ela teme a resposta que poderia receber da outra pessoa e tudo o que isso representaria no relacionamento. Apesar do conhecimento dos mandamentos de Deus, nosso aconselhado sente-se incapaz ou não está disposto a assumir o risco de cumprir as diretrizes bíblicas. O que está acontecendo aqui é uma triste inversão: o temor de homens substituiu o temor do Senhor. Em um esforço para conseguir a aprovação de alguém, seu aconselhado – pelo menos momentaneamente – não está vivendo como servo de Cristo. Em Gálatas 1.10, Paulo diz: “Acaso busco agora a aprovação dos homens ou a de Deus? Ou estou tentando agradar a homens? Se eu ainda estivesse procurando agradar a homens, não seria servo de Cristo”.
Explicar a situação desta maneira, como uma escolha entre agradar os outros ou servir a Deus, pode ajudar muito no aconselhamento. Objeções plausíveis à parte, o medo em tais casos costuma ser uma declaração de lealdade a alguém em lugar de Deus. O aconselhado está se submetendo a outra pessoa em vez de obedecer a Deus de todo coração. É preciso ajudá-lo a reconhecer essa dicotomia pelo que ela é, para que ele busque a prática correta em amor a Deus.
Como conselheiros, podemos ajudar nessa busca, orientando o aconselhado a pensar sobre a natureza real da situação. Podemos perguntar à pessoa: “Como você acha que seria honrar a Deus nesta situação?” É provável que o aconselhado entenda a escolha que ele deve fazer e a conversa que deve ter com a outra pessoa. No entanto, ele pode precisar de ajuda para entender que essa escolha é uma expressão de seu compromisso de agradar a Deus e não às pessoas.
Podemos ajudar também destacando o impacto espiritual negativo de persistir em uma postura de agradar as pessoas em vez de agradar a Deus. Ao fazermos isso, podemos utilizar as muitas narrativas bíblicas que demonstram as armadilhas em que homens e mulheres caíram quando escolheram a submissão aos outros em oposição à obediência a Deus. Seja discutindo o engano de Abrão e Sarai diante de Faraó (Gn 12.10-20) ou considerando os exemplos de temor de homens na vida de Pedro (Lucas 22.54-62; Gl 2.11-14), podemos ajudar o aconselhado a considerar os vários estudos de caso reais que as Escrituras nos oferecem relacionados à experiência de temor de homens.
No entanto, como em qualquer processo de identificar devidamente uma perspectiva errada, também devemos ajudar nosso aconselhado a ver a segurança que resulta quando abraçamos o chamado para amar e confiar em Deus. Não podemos exortar alguém a abandonar a falsa lealdade sem oferecer a verdadeira esperança que Deus promete: “Quem teme ao homem cai em armadilhas, mas quem confia no Senhor está seguro” (Pv 29.25). Muitas das situações que revelam o temor de homens em nossos relacionamentos têm a ver com a possível perda de bens materiais ou a quebra de um relacionamento. Nossa tarefa é ajudar os aconselhados a verem as bênçãos espirituais insuperáveis de confiar, amar e seguir a Deus.
Uma conversa construída sobre a base do amor
O amor legítimo por Deus esclarece a compreensão de nossas lutas relacionais, particularmente aquelas que expressam o temor de homens. Esse amor permite-nos também nos envolver com os outros por meio de nossas palavras de acordo com a vontade de Deus. Como conselheiros, ajudamos os aconselhados equipando-os para uma conversa construída sobre tal fundamento, para ser aplicada naquelas situações nas quais, de outra forma, o temor de homens levaria vantagem.
De alguma forma, cada situação é única. Precisaremos, portanto, ser criativos na maneira de aplicar esses princípios ao enfrentar a luta contra o temor de homens. Às vezes, os aconselhados precisam de ajuda para aprender a compartilhar corajosamente a verdade com os outros (Ef 4.15; 1Ts 5.14). Em outras ocasiões, eles precisam de ajuda para entender quais situações requerem uma confrontação e quais não (Pv. 15.1, 2; 19.11).
Seja qual for a circunstância, o princípio orientador é este: como meu amor por Deus se traduz em sabedoria e palavras amorosas para com os outros? Em outras palavras, como meu temor a Deus influencia meu trato com as pessoas? É papel do conselheiro ajudar os aconselhados a considerar esses princípios nas especificidades da vida cotidiana.
A beleza do processo de aconselhamento é ver em tempo real as vitórias e o crescimento que acontecem quando homens e mulheres se voltam para Deus com fé e com amor pelos outros, visíveis especialmente por meio de suas palavras.
Perguntas para reflexão
1- Quais são algumas outras possíveis motivações que resultam em temor de homens na vida daqueles que você aconselha?
2- Quais estratégias bíblicas úteis para ajudar a vencer o temor de homens você tem usado nos aconselhamentos?
Brady Goodwin serve como pastor de treinamento na Northway Church em Dallas, Texas. Ele também aconselha no Restore Christian Counseling, um centro local de aconselhamento bíblico em Dallas-Fort Worth. Brady é formado pelo Dallas Theological Seminary e completou o doutorado em aconselhamento bíblico no The Southern Baptist Theological Seminary. Ele é um membro certificado da Association of Certified Biblical Counselors (ABCB).
Original do artigo: Courageous Love in the Face of Fear
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition. Traduzido com autorização.
Tradução e adaptação para o português por Conexão Conselho Bíblico