Dale Johnson
Este artigo fala sobre um assunto que costuma surgir frequentemente quando pensamos em aconselhamento: empatia e compaixão. No aconselhamento bíblico, com certeza, queremos que ambas estejam presentes. Na verdade, devemos demonstrar compaixão e empatia com muita naturalidade durante nossos aconselhamentos.
Recebo frequentemente esta pergunta por parte de pessoas que estão aprendendo a aconselhar e de muitos que já se dedicaram ao aconselhamento: “Como posso desenvolver empatia? Como posso ser mais compassivo com uma pessoa?”
Na compreensão secular, empatia no aconselhamento é uma expressão de consideração e respeito que o conselheiro tem para com um cliente cujas experiências podem ser bem diferentes das suas. Isso é certamente bom. Podemos não ter vivenciado exatamente as mesmas experiências que as pessoas que estamos aconselhando vivenciam. No entanto, uma maneira de pensar que nos distingue como conselheiros bíblicos – aliás, um dos princípios-chave do aconselhamento bíblico – é que quando entramos em conversa com alguém, não somos muito diferentes da pessoa que está diante de nós. Na verdade, temos experiências muito parecidas com as das pessoas que aconselhamos. Lutamos contra a tentação, lutamos contra o pecado, lutamos contra a devastação, o sofrimento, as dificuldades e as consequências do nosso pecado. Podemos nos identificar profundamente com a pessoa que está diante de nós.
Como podemos, então, ser mais compassivos para com aqueles que aconselhamos? Como cresce na empatia?
Aconselhar um indivíduo, não um problema
Se você é um conselheiro mais experiente, você pode ter lidado repetidamente com pessoas que lhe apresentam os mesmos problemas. Pode ser que você esteja aconselhando alguém ansioso ou deprimido e já tenha ajudado dezenas de vezes outras pessoas com problemas parecidos. Você precisa ser cauteloso para não cair em algum tipo de rotina e pensar: “Bem, eu sei como fazer. Já tenho experiência por ter lidado anteriormente com outras pessoas e o que vou fazer é somente colocar este aconselhado em algum tipo de “máquina de moldagem” para resolver seu problema. Já tenho um modelo para esse problema e vou trabalhar dentro dele”. Preste atenção, isso não é aconselhamento bíblico!
Aconselhamento bíblico é ser capaz de olhar para cada pessoa individualmente. Gosto de me lembrar da maneira com que Jesus foi capaz de fazer isso. Quando Ele se dirigia a alguém, Ele deixava de lado todas as demandas da multidão ao Seu redor e olhava individualmente para aquela pessoa. Vemos semelhanças em como Jesus interagiu com uma pessoa e outra, mas também vemos uma especificidade em como Ele apresentou e aplicou a cada uma delas, em sua situação única, a verdade de quem Deus é e a Sua mensagem de redenção, salvação e restauração. A verdade não mudava, mas o que mudava era a maneira de Jesus apresentar e aplicar a verdade a cada pessoa.
Como vamos conseguir fazer o que Jesus fez? Esta é uma boa pergunta. Pode parecer algo muito simples, mas que às vezes é difícil de ser colocado em prática. Vou dar algumas sugestões que podem ser úteis para nosso crescimento como conselheiros bíblicos. Quero que você e eu cresçamos em compaixão e empatia para com as pessoas que aconselhamos. É algo que devemos fazer como cristãos.
Veja as pessoas como Deus as vê
Vamos começar por considerar o profeta Jeremias. A pergunta da qual quero partir é: Como você vê cada pessoa com quem inicia uma relação de ajuda? No seu primeiro encontro com aquela pessoa, quando você inicia a coletar dados, como você a vê? Por qual lente você vê aquela pessoa? Penso que este seja um ponto crítico. É fundamental que você preste atenção nisso.
Muitas vezes, olhamos para Jeremias e pensamos que ele demonstrou em seus escritos profunda compaixão, profunda misericórdia, profunda bondade, profunda ternura para com Israel como o povo de Deus. Logo no início do livro de Jeremias, há alguns princípios que são interessantes e possivelmente úteis para nós. No primeiro capítulo, lemos que Deus o chama para ministrar ao povo de Israel e coloca a Sua Palavra no coração e na boca do profeta. Isso muda a maneira de ver do profeta. Enquanto Jeremias faz a obra que Deus o chamou para fazer, enquanto olha para os filhos de Israel, sua maneira de ver aquelas pessoas torna-se distinta por causa da Palavra de Deus que está em seu coração, sua mente e sua boca.
A maneira de Jeremias ver aquelas pessoas é exatamente a maneira de Deus ver o Seu povo. O coração de Deus está partido por causa do estado dos filhos de Israel; Deus pronuncia um julgamentos contra Israel, mas isso parte o Seu coração. Vemos Jeremias responder exatamente dessa maneira (cf. Jr 4.19-31; Lamentações).
Você percebe como é importante para que os conselheiros bíblicos possam aconselhar com sabedoria que eles sigam o que diz Colossenses 3.16 e deixem que “a palavra de Cristo habite ricamente” neles? À medida que permitimos que a Palavra de Cristo habite ricamente em nós e nos transforme, nossa maneira de ver as pessoas muda.
Quando nossa maneira de ver as pessoa passa pelas lentes das Escrituras, nós nos unimos a elas naquilo com que há para se alegrar. Aquilo com que devemos nos entristecer e que devemos lamentar nos faz chorar com aqueles que choram. Quando temos que lhe dizer firmemente a verdade, podemos fazê-lo com graça, misericórdia, bondade e ternura porque não estamos vendo como o homem vê, estamos vendo cada pessoa e sua situação única como Deus a vê.
O que começa a acontecer é que as pessoas veem que você está sendo genuíno. As pessoas conseguem perceber se você está sendo falso e está fazendo uma tentativa de simular compaixão e cuidado usando algum tipo de habilidade que você aprendeu. O que faz toda a diferença é você ver cada pessoa não como o homem naturalmente a vê, mas como Deus a vê.
Quando penso na compaixão que Jesus mostrou, a passagem que mais me vem à mente é quando, ao descer do barco, Ele encontrou uma multidão à sua espera, ansiosa para vê-lo. Ele olhou para aquelas pessoas e as viu como ovelhas sem pastor. A Bíblia nos diz que Ele se compadeceu daquelas pessoas (Mc 6.34). Ao percorrer cidades e aldeias, Jesus se compadecia das multidões, porque estavam aflitas e exaustas (Mt 9.36).
Jesus era movido pela compaixão porque Sua maneira de ver aquelas pessoas era de acordo com a maneira de Deus as ver. Não é diferente para nós. A melhor maneira de aprendermos a desenvolver empatia e compaixão não é simulando-as e aprendendo certas habilidades mecânicas num curso de aconselhamento. Não estou dizendo aqui que haja algo inerentemente errado em aprender a ser habilidoso no envolvimento com as pessoas, mas quando empregamos apenas essas habilidades sem um coração compassivo para com a pessoa, nossa expressão torna-se muito forçada e sem brilho porque, na verdade, ela não é genuína. Nossa compaixão e empatia são somente de fachada. As pessoas que estamos aconselhando são sensíveis e conseguem perceber isso. A maneira definitiva para crescer em compaixão é aprender a ver as pessoas como Deus as vê, com nosso coração transformado por Deus.
Continue a crescer no evangelho de Cristo
Voltamos à pergunta: Como crescer em compaixão? Outro ponto importante é que devemos nos preocupar com continuar a crescer nas verdades do evangelho. Como conselheiros, devemos entender que nunca deixamos de precisar investir em nosso crescimento na graça e no conhecimento de Cristo, e devemos fazê-lo diariamente pela renovação da nossa mente. Por quê? Ao nos conformarmos à imagem de Cristo, nossa maneira de ver as pessoas muda. Quando vamos aconselhar uma pessoa, não a vemos como mais alguém a quem aplicar nosso “molde de conserto”. Nós a vemos como Deus a vê, nosso coração se parte por suas lutas, nosso coração se derrama em misericórdia para com ela e queremos ver uma vida transformada. Queremos vê-la andar em Cristo.
Vamos agora para Colossenses 3. Começando no versículo 5, Paulo escreve:
Portanto, façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena: imoralidade sexual, impureza, paixões, maus desejos e a avareza, que é idolatria; por causa destas coisas é que vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Vocês também andaram nessas mesmas coisas, no passado, quando viviam nelas. Agora, porém, abandonem igualmente todas estas coisas: ira, indignação, maldade, blasfêmia, linguagem obscena no falar. Cl 3.5-8
Antes de prosseguir para o versículo 9, vamos fazer uma pausa e dizer que aquilo que Paulo escreve aqui não é somente para o seu aconselhado. A razão pela qual você pode se envolver no aconselhamento com um coração compassivo e misericordioso, com profunda paixão pelas pessoas que você aconselha, é porque você tem aplicado a verdade da Palavra de Deus primeiramente na sua vida. Você tem visto a verdade da Palavra de Deus operar em você. Isso muda sua maneira de ver as outras pessoas.
Paulo prossegue:
Não mintam uns aos outros, uma vez que vocês se despiram da velha natureza com as suas práticas e se revestiram da nova natureza que se renova para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que a criou. […]. Portanto, como eleitos de Deus, santos e amados, revistam-se de profunda compaixão, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência. Suportem-se uns aos outros e perdoem-se mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outra pessoa. Assim como o Senhor perdoou vocês, perdoem também uns aos outros. Acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição. Cl 3.9-14
Este é o ponto crítico: você não consegue se revestir de bondade, humildade, mansidão, paciência e um coração compassivo mantendo, ao mesmo tempo, ira, indignação, maldade, cobiça e outros atos pecaminosos da carne. Você não pode colocar apenas um “revestimento externo de compaixão”. Você deve fazer morrer aquilo que pertence à natureza terrena e, desta forma, você não vai mais precisar simular empatia. Você não vai mais precisar simular compaixão.
Você precisa começar, como Paulo diz aos filipenses, por ter a mesma mente e o coração de Cristo (cf. Fp 2.5). Quando você vir as pessoas, ouvir suas histórias e fizer uma boa coleta de dados, o que acontecerá naturalmente é que você começará a responder com um coração compassivo, porque você aprendeu com Cristo a vê-las como Deus as vê e o seu coração se compadece diante da situação em que elas estão.
Um pensamento final que quero deixar com você é o seguinte: às vezes, isso pode ser mais difícil quando você já está aconselhando há algum tempo e vê alguns dos mesmos padrões de comportamento se repetirem. Posso encorajá-lo a continuar a crescer em Cristo? Não confie tanto em técnicas de aconselhamento e na sua experiência como conselheiro, mas busque a cada dia morrer para si mesmo e revestir-se de Cristo como uma forma de mudar sua maneira de ver as pessoas.
Devemos ver cada pessoa individualmente, e não vê-la como algum tipo de problema que vamos consertar. Por exemplo, se você se deparar com pessoas que estão expressando contínuos pensamentos ansiosos ou depressivos, pessoas que estão continuamente lutando com determinada tentação e pecado, e assim por diante, você verá cada uma delas como alguém que Cristo quer transformar. Não pense que cada pessoa é um problema para resolver rapidamente com competências de aconselhamento que você aprendeu.
Ser um bom conselheiro significa crescer na graça e no conhecimento de Cristo. Ao fazer isso, sua maneira de ver o aconselhado mudará. Seu coração se derramará em misericórdia e compaixão, e você estará pronto para apresentar a verdade da Palavra de Deus para que ela produza restauração.
Dale Johnson é diretor executivo da Association of Certified Biblical Counselors (ACBC). Diretor dos programas de aconselhamento bíblico e professor associado de Aconselhamento Bíblico no Midwestern Baptist Theological Seminary. Serviu como pastor auxiliar e continua trabalhando pelo fortalecimento da igreja ao treinar pastores e membros para que ministrem em suas igrejas locais. É autor do livro Criando uma Cultura de Cuidado na Igreja (Nutra, 2022).
Original: How to Cultivate Compassion as a Counselor
Artigo publicado pela Association of Certified Biblical Counselors. Traduzido com autorização.
Tradução e adaptação para o português por Conexão Conselho Bíblico