Encorajando o aconselhado a mudar de alvo

Rob Green


Admitir que precisamos de ajuda não é fácil. Mesmo em uma igreja onde é ensinado que todos precisam de aconselhamento na mutualidade cristã, ainda é necessária uma certa dose de humildade, ou de desespero, para motivar uma pessoa a buscar aconselhamento no contexto da igreja. Em muitos casos, as pessoas procuraram ajuda de outras formas: conversam com alguém de confiança fora da igreja, oram, leem a Bíblia ou marcam uma consulta médica. Quando alguém o procura para aconselhamento, é provável que a pessoa não tenha encontrado até então o alívio desejado. Essa pessoa continua em busca de alívio.

Os dois tipos mais comuns de alívio que os aconselhados procuram são:

Alívio dos sintomas. Alguns aconselhados o procuram devido a diferentes graus de depressão, dores como fibromialgia ou ansiedade e medo dos quais podem resultar sofrimentos desagradáveis.

Alívio das dificuldades. Muitos aconselhados lutam em seu casamento, lutam com um ou mais de seus filhos, lutam com o relacionamento com seus pais biológicos em consequência de divórcio e recasamento, lutam devido a pressões financeiras.

Podemos entender por que eles querem alívio; a vida é difícil. O que nossos aconselhados desejam é que sua vida seja mais fácil, mais agradável, mais emocionante e mais satisfatória. Se nós, conselheiros, formos honestos, reconheceremos que também queremos isso. No entanto, aquilo que é verdade para nós, também é verdade para eles: não podemos viver simplesmente em busca de alívio de tudo o que pode ser desagradável. Isso significa que, no início do nosso aconselhamento, devemos nos esforçar para ajudar nossos aconselhados a adotar um alvo de vida diferente. Embora muito possa ser dito, os três pontos a seguir podem ajudá-lo.

1. Ouça com atenção a história de seu aconselhado e não descarte a dor que ele está sentindo
Uma maneira de afastar realmente as pessoas é ministrar sem o cuidado, a compaixão e a graça de Jesus.  Independentemente da origem da dor do aconselhado, a dor existe. Quer essa dor venha na forma de algum tipo de sofrimento físico, quer seja uma consequência natural do pecado de outros ou do pecado pessoal, o aconselhado está experimentando o aguilhão da dor. Parte de amá-lo é ajudá-lo a lidar com sua dor.  

Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou perto do homem e, vendo-o, compadeceu-se dele.  E, aproximando-se, fez curativos nos ferimentos dele, aplicando-lhes óleo e vinho. Depois, colocou aquele homem sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dele. Lc 10.33, 34

É interessante que na história do bom samaritano não encontramos nenhuma condenação ao viajante.  O samaritano não diz: “Pois é, ele foi um tolo por viajar sozinho por essa estrada perigosa, então ele está recebendo o que merece. Afinal, há um preço a ser pago por ser tolo”. Em vez disso, o samaritano cuida do homem assaltado; ele o ama. 

Em nosso aconselhamento, seremos sábios se seguirmos esse exemplo e reconhecermos a dor do aconselhado que seja física, quer seja emocional.  Muitos aconselhados abandonam o aconselhamento nos estágios iniciais por não acreditar que seu conselheiro os compreenda realmente, consiga se importar com eles ou amá-los. Você não pode esperar que vá conseguir ajudar um aconselhado a mudar de alvo se você não o ouvir e reconhecer sua dor.

2 – Ajude seu aconselhado a ver que Jesus lhe oferece um prazer maior que o alívio de sintomas ou dificuldades
Em última análise, queremos que o aconselhado agrade e glorifique ao Senhor em tudo o que faz (1Co 10.31), independentemente de obter alívio. O testemunho das Escrituras é que Cristo deve ter o primeiro lugar em tudo (Cl 1.18).  Portanto, é sábio ajudar o aconselhado a ver que a alegria e a satisfação encontradas em uma caminhada profunda e pessoal com Cristo são, na verdade, uma alegria euma satisfação maiores do que a alegria e a satisfação associadas ao alívio dos sintomas ou das dificuldades. 

Em seu livro How Long, O Lord [Até quando, Senhor], D. A. Carson enfatiza exatamente isso em uma seção que intitulou There are some things worse than dying [Há algumas coisas piores do que morrer]. Nessa seção, ele explica que para ele é preferível morrer a desobedecer ao Senhor cometendo adultério, é preferível morrer a negar tudo o que ensinou a seus alunos ao longo dos anos. Isso ilustra bem o nosso ponto. Por um lado, esperamos que nosso aconselhado obtenha alívio, mas não qualquer tipo de alívio para tornar sua vida mais fácil. Queremos que ele seja piedoso em meio ao sofrimento. Queremos que o relacionamento do aconselhado com Jesus se aprofunde enquanto ele lida com a situação que lhe causa sofrimento.

Em alguns casos, à medida que os aconselhados assumem um compromisso mais firme com Jesus, eles obtêm alívio em seu coração. Há casos em que o alívio das dificuldades e dos sintomas não acontece. No entanto, o aconselhado que se apega à mensagem e à pessoa de Jesus – Sua vinda prometida no Antigo Testamento, Seu nascimento, Sua morte, Seu sepultamento, Sua ressurreição e a promessa de Sua volta – encontra alegria e satisfação que transcende todos os desafios e as dificuldades. Para mudar o alvo de seu aconselhado, você precisa mostrar algo maior e melhor por que viver do que um alívio de sintomas ou dificuldades.

3- Interaja com seu aconselhado e mostre como o prazer e a alegria encontrados em Cristo podem estar presentes em meio às lutas da vida
Se você acredita nos pontos 1 e 2 e já procurou colocá-los pessoalmente em prática, sabe que para o seu aconselhado poderá ser algo difícil. Durante o aconselhamento, portanto, é útil conversar sobre as circunstâncias específicas que ele está enfrentado para demonstrar como alguém que tem um compromisso sincero de agradar a Jesus responde a cada uma dessas circunstâncias e como alguém interessado somente em uma vida mais fácil responde às mesmas circunstâncias. 

Essas interações pessoais podem proporcionar momentos preciosos de aprendizado sobre o que significa viver realmente para Jesus, além de que elas costumam proporcionar um crescimento na fé também para o conselheiro.


Rob Green supervisiona os ministérios de aconselhamento bíblico na Faith Church, em Lafayette, IN. Ele também exerce um ministério de ensino em conferências de treinamento e no programa de mestrado MABC do Faith Bible Seminary.


Original: Changing the Counselees’ Goals
Publicado em Counseling with Confidence and Compassion – Faith Biblical Counseling
Tradução e adaptação: Conexão Conselho Bíblico