Dez maneiras pelas quais o perfeccionismo alimenta as lutas pela imagem corporal

Andrea Lee


Os problemas de imagem corporal têm muitas raízes diferentes, e o perfeccionismo é uma delas. Identificar a ligação entre esta raiz específica e o fruto que ela produz pode equipar tanto as pessoas que lutam quanto aquelas que as ajudam para enfrentarem o problema com maior clareza bíblica e esperança. A seguir, estão dez maneiras pelas quais o pensamento perfeccionista gera problemas relacionados à imagem corporal. Estas distorções podem estar presentes mesmo na vida de um crente, e elas costumam criar muita angústia e confusão. A Palavra de Deus tem a ajuda de que precisamos para combater os pensamentos que roubam a nossa alegria.

1- Igualar o controle do corpo à piedade – As pessoas perfeccionistas podem ter abraçado a ideia de que o controle rígido sobre o corpo é um sinal de piedade. Quer escolham a magreza, a quantidade de tempo gasto em exercícios ou alguma outra métrica, elas associam a disciplina corporal à piedade. De acordo com Colossenses 2.23, porém, o tratamento severo do corpo tem mais a ver com a indulgência carnal ao ascetismo do que com a piedade. Você não pode olhar para o corpo para determinar o estado do coração.

2- Adotar padrões corporais idealizados – Se você passar algum tempo nas redes sociais, poderá listar as principais características idealizadas em nossa cultura. As pessoas perfeccionistas podem ter abraçado sutilmente a lógica: “Devo me esforçar pela perfeição porque isso mostra meu autocontrole (veja o ponto 1), e então devo chegar o mais próximo possível desse ideal”.  Provérbios 31.30 lembra-nos, porém, que “o encanto é enganoso e a beleza é vã, mas a mulher que teme ao Senhor será louvada”. Os padrões de beleza que nos rodeiam não são neutros: dos conteúdos patrocinados às recomendações de produtos, a chamada “indústria da beleza” tem uma motivação financeira para criar descontentamento e até pânico entre as mulheres. Deus estabelece um padrão de avaliação muito mais profundo para a verdadeira beleza e nos oferece uma beleza genuína à medida que crescemos na semelhança de Cristo.

3- Medir seu valor pelo cumprimento de padrões culturais de beleza – As pessoas perfeccionistas anseiam pelo momento em que podem identificar que alcançaram um objetivo. Como crentes, queremos seguir a e obedecer a Deus, mas os nossos esforços neste sentido não podem ser medidos apenas por marcadores visíveis de “sucesso”, que quantifiquem o quão bem estamos caminhando espiritualmente perante Deus. É tentador redefinir a piedade como algo que podemos medir, algo que podemos mostrar visivelmente e pelo qual recebermos elogios. A simplicidade de restringir nossos objetivos a parâmetros controláveis e visíveis atrai a pessoa perfeccionista. No entanto, fomos criados para amar a Deus com todo o nosso ser, e para amar os outros como a nós mesmos (Mt 22.37, 38).

4- Temer os elogios e a complacência – Isso pode parecer um pouco paradoxal com relação ao ponto anterior, mas as pessoas perfeccionistas, muitas vezes, sentem-se desconfortáveis ​​quando seu progresso é notado e relutam em aceitar elogios. Sua maneira de pensar pode ser esta: Se eu reconhecer o progresso, posso me tornar complacente, interromper minhas tentativas, deixar de buscar a perfeição, deixar-me vencer pela preguiça e engordar. Tenho que permanecer hiper vigilante para manter o controle que acredito que proporcionará a liberdade e as conquistas que anseio. No entanto, quando o medo do fracasso torna-se a nossa principal motivação, em vez do amor a Deus e aos outros, é hora de fazer uma pausa e avaliar. Deus nos chama para que O sigamos, abraçando o Seu propósito para nossa vida, e não para fazer das metas de beleza relacionadas ao corpo nosso propósito de vida. Nossos objetivos devem ser impulsionados pela direção e capacitação do Espírito Santo, e não pela nossa própria força.

5- Examinar-se constantemente – As pessoas perfeccionistas examinam constantemente seu corpo em busca de sinais de imperfeição. Como vivem em um mundo marcado pela maldição do pecado, encontram muitas oportunidades para ficar alarmadas quando percebem em seu corpo algum sinal de declínio. Ao ajudá-las, temos a oportunidade de oferecer plena esperança lembrando-as de que, como seguidoras de Cristo, estão sendo renovadas à imagem de nosso Criador, dia após dia (2Co 4.16). Ao contemplarmos Sua beleza (Sl 27.4), todos nós estamos sendo transformados de glória em glória (2Co 3.18).

6- Autopunir-se – À medida que as pessoas perfeccionistas agem como legisladoras com relação ao próprio corpo, elas também se tornam seus próprios juízes e sentenciadores. Quando as pessoas perfeccionistas falham naqueles objetivos relacionados ao corpo que elas estabeleceram como essenciais, elas se julgam inúteis e depois se punem por meio de conversas internas negativas, comportamento mais restritivo ou até mesmo autolesivo. O mundo se contrai ao seu redor à medida que ficam encapsuladas por uma rede de mentiras: Devo alcançar a perfeição; eu falhei e devo me punir; se minha punição for significativa o suficiente, eu mudarei. Infelizmente, Deus não está neste retrato mental. Nenhuma autopunição pode aliviar a culpa e a sobrecarga da pessoa perfeccionistas. É necessário que aconteça uma reorientação total de sua vida em direção a Cristo, nosso Salvador: Deus é o legislador, e a nossa falha em obedecer à Sua lei exige punição. No entanto, em Sua graça e amor, Deus escolheu punir o único substituto aceitável diante dEle, Jesus, o Filho de Deus. O remédio para a verdadeira culpa está em Cristo, não em nós mesmos.

7- Idolatrar os números – Os perfeccionistas adoram números: passos dados, minutos de exercício físico cumpridos, calorias consumidas, quilos perdidos, centímetros a menos, tamanhos menores. Esse amor pela exatidão alimenta o desejo de realizar mais e mais. Em Sua bondade, porém, Deus não nos deu uma fórmula exata para governar nosso corpo. Ele nos deu algo muito melhor: Sua Palavra vivificante e a história de Sua missão de resgate em nosso favor. Em vez de alcançar medidas exatas, Deus nos pede para andarmos humildemente com Ele (Mq 6.8).

8- Comparar-se constantemente com outros – As pessoas perfeccionistas são ótimas em coletar dados, analisá-los e estabelecer requisitos, traçar e seguir um plano. Elas estão constantemente aprimorando seus planos à medida que se comparam com outras. Com a acessibilidade à internet, elas podem se comparar a milhares de pessoas em todo o mundo, a qualquer momento, durante horas e horas. Isso pode alimentar um ruído constante de ansiedade, fazendo com que as pessoas perfeccionistas estejam sempre examinando seu ambiente em busca de novos dados a serem incluídos em seus planos. No entanto, isso faz com que as pessoas ao seu redor fiquem reduzidas a uma única dimensão – o corpo – e se tornem objetos de uma competição pessoal, em lugar de serem vistas como portadoras da imagem de Deus que devem ser amadas e servidas.  Em vez de nos ocuparmos com essa constante comparação, temos a alegre tarefa de conhecer outras pessoas e compartilhar Cristo com elas.

9- Ficar na defensiva – As pessoas perfeccionistas, muitas vezes, ficam obcecadas com o que consideram seus pontos negativos. Serem perfeita nos pontos que identificam como importantes torna-se um elementos tão central para a sua identidade que qualquer crítica é recebida com uma feroz defensiva. Além do mais, se você lhes oferecer uma sugestão que seja percebida como um obstáculo no alcance de seus objetivos, elas defenderão com muita paixão a validade dos objetivos já estabelecidos. Deus, porém, nos diz para acolhermos o encorajamento e a ajuda de outros (Hb 3.13). Estamos sujeitos a ficar endurecidos pelo engano do pecado e parar de ver a destruição que nossas escolhas podem estar atraindo.

10- Usar a métrica do corpo para determinar o sucesso da vida como um todo – As pessoas perfeccionistas podem deixar a percepção do corpo dar tom à sua inteira existência. Esta pode ser a razão pela qual a vida parece não valer a pena ser vivida a menos que o corpo seja como gostariam que ele fosse. No entanto, este pensamento de tudo ou nada nega a verdade de que a nossa vida não consiste naquilo que possuímos, mesmo que possuamos uma abundância de beleza. “De que adianta uma pessoa ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mc 8.36). Deus está nos tornando cada vez mais semelhantes a Cristo em um processo amoroso que dura ao longo de toda a nossa vida. Devemos confiar em Sua determinação sobre o que significa “sucesso”.

Perguntas para reflexão

  1. De que forma o perfeccionismo impacta sua visão do seu corpo?
  2. Você consegue identificar maneiras de pensar pelas quais você deixa Deus e Sua Palavra fora de cena?
  3. No papel de quem oferece ajuda a uma pessoa perfeccionista, qual pode ser a contribuição do reconhecimento de maneiras pelas quais o perfeccionismo alimenta as lutas pela imagem corporal?

Andrea Lee atua como conselheira bíblica para mulheres na Northside Church em Roswell, Georgia. Ela tem mestrado em aconselhamento bíblico por The Masters University. 


Original do artigo: Ten Ways Perfectionism Fuels Body Image Struggles
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition.  Traduzido com autorização.