Ira: o quadro completo para o diagnóstico e o tratamento

Robert Jones

Quando entristecemos o Espírito de Deus nos nossos relacionamentos

Preciso controlar a minha língua. Ela está afastando minha esposa de mim. Esta foi a confissão de Jorge − um marido que aconselhei recentemente. “O médico acredita que a minha raiva esteja contribuindo para uma colite”, relatou Catarina − uma mulher recém-divorciada. “Eu sei muito bem que a ira que eu expresso contra as crianças está nos tornando tensos e infelizes”, admitiu Douglas − um pai cristão.

O que estas pessoas perceberam? Elas sabem, infelizmente, que o descontrole nas palavras ou a ira incontida faz mal à saúde e arruína os relacionamentos. Elas vêem a conexão fatal entre o seu comportamento pecaminoso, o declínio da saúde e a deterioração dos laços familiares.

Você já se deu conta desta conexão em sua vida ou na vida daqueles que você procurou ajudar? Esta observação é válida. A ira pecaminosa pode afetar a saúde física. As pesquisas psicossomáticas sugerem conexões entre a amargura e as doenças mais comuns como resfriados contínuos, dores de cabeça, pressão alta, colites e outros distúrbios digestivos. Além do mais, fica evidente para qualquer observador que o uso pecaminosos da língua e as expressões descontroladas de ira destroem os relacionamentos interpessoais. Nunca aconselhei um casal ou uma família em conflito sem que estas sementes destrutivas estivessem presentes. “Há palavras que ferem como espada, mas a língua dos sábios traz a cura” (Pv 12.18).

Embora estas observação sejam válidas, elas são insuficientes para alcançarmos uma perspectiva bíblica completa sobre o assunto. Os problemas de saúde e os conflitos interpessoais não são a única nem a maior consequência das palavras e da ira pecaminosas. Algo maior está envolvido. Algo mais grave. Em Sua Palavra, Deus aponta para riscos mais altos.

De acordo com as Escrituras, qual é a consequência mais grave das palavras e da ira pecaminosas? A resposta bíblica é simples: ofendem a Deus e entristecem o Seu Espírito. Ouça a advertência do apóstolo Paulo em Efésios 4.30: “Não entristeçam o Espírito Santo de Deus, com o qual vocês foram selados para o dia da redenção”. No contexto, esta advertência estabelece uma ponte entre duas ordens: a primeira delas contra as palavras pecaminosas, no versículo 29, e a segunda contra a ira pecaminosa, no versículo 31.

Efésios 4.30 está entre os primeiros versículos que os alunos de um cursos bíblico aprendem quando estudam sobre o Espírito Santo. Os professores referem-se a ele, com razão, para provar que o Espírito Santo é uma Pessoa e não apenas uma força, uma substância ou mera influência. Como Pessoa, Ele pode ser entristecido. O restante do versículo oferece ao crente a certeza gloriosa do poder eterno de Deus para guardá-lo. Para nossa segurança, o Espírito sela, em união com a eleição do Pai e a intercessão do Salvador.

Ainda assim, por mais vitais que estas observações sejam, não consigo lembrar que algum dos meus professores de Bíblia e teologia tenha ido além e falado sobre o contexto deste versículo e suas implicações amplas para a vida cristã prática e o ministério na vida das pessoas. O propósito de Paulo aqui não é fazer uma preleção sobre a doutrina do Espírito Santo.

Qual é, então, o propósito do texto? Lembrar e desafiar os crentes − os Efésios na época e nós hoje − sobre não entristecer o Espírito Santo. Como você poderia entristecer o Espírito de Deus? Primeiro, de acordo com o versículo 29, você entristece a Deus com palavras pecaminosas. “Nenhuma palavra torpe saia da boca de vocês, mas apenas a que for útil para edificar os outros, conforme a necessidade, para que conceda graça aos que a ouvem.” O versículo 30 prossegue imediatamente: “Não entristeçam o Espírito Santo de Deus…”.

Repare que o mandamento tem duas partes. Por um lado, você precisa se abster de palavras torpes, ou seja, palavras que ferem e ofendem os outros, palavras infames e desonrosas. Por outro lado, você precisa ser ativo no uso de palavras que edifiquem e beneficiem os outros, ajudem e ministrem a eles. Isso implica ter palavras graciosas, ditas no momento certo, de acordo com a necessidade daqueles que ouvem. Deixar de proceder desta forma, diz o apóstolo Paulo, é entristecer o Espírito de Deus.

O que isso representa para alguém como Jorge, cuja língua descontrolada está afastando a esposa? Em outras palavras, Paulo diz: “Jorge, qualquer que seja o efeito que as suas palavras pecaminosas tenham ou deixem de ter no seu casamento, você tem um problema muito mais profundo que precisa  ser reconhecido. Embora as suas palavras possam ofender a sua esposa, elas seguramente ofendem o seu Deus! A sua preocupação principal deve ser com Deus, a quem você entristeceu. Acerte com Ele, e depois busque a reconciliação com a sua esposa”.

O contexto de Efésios 4.30 sugere uma segunda maneira pela qual você entristece o Espírito de Deus − a sua ira pecaminosa. Logo em seguida da ordem do verso 30 para não entristecer o Espírito Santo, temos os versos 31 e 32: “Livrem-se de toda amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia, bem como de toda maldade. Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo”.

Mais uma vez, temos uma ordem dupla − “despir-se e revestir-se”. Explorando o seu vocabulário, Paulo lista diversas as variantes da ira: amargura, indignação, gritaria, e por aí vai. Cada uma e todas essas manifestações ofendem a Deus e entristecem o Seu Espírito. O texto não tem o propósito de fatiar a ira em todas as suas manifestações, mas de expressar uma condenação abrangente para todas as formas de ira pecaminosa. O efeito é cumulativo, como uma bola de neve que ganha volume até nos atingir e não sermos capazes de escapar da realidade do nosso pecado.

Em contraposição, o versículo 32 nos insta a sermos bondosos e compassivos, e a perdoarmos uns aos outros − exatamente o tratamento que o Salvador dispensou para você quando você merecia a Sua ira (veja Efésios 2.1-10). Este chamado a amar aos outros é impulsionado pela cruz − o perdão de Deus para você em Cristo.

Tiago 1.19-20 toca a mesma nota de sobriedade, chamando você a se livrar da ira. “Meus amados irmãos, tenham isto em mente: Sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar-se” (v. 19). Por quê? Porque pode causar uma inflamação no seu cólon irritável? Porque vai afastar as pessoas de você? Não! Esta não são as razões pelas quais Tiago insiste que devemos lidar com o nosso problema de ira. Qual é a razão, então? Ela está no versículo 20: “pois a ira do homem não produz a justiça de Deus”. Parafraseando Paulo, poderíamos dizer: “Sua ira entristece o Espírito de Deus. Livre-se dela!”

Durante as pesquisas que fiz sobre a ira para o doutorado, meu maior desapontamento talvez tenha sido dar-me conta do grande número de livros escritos por psicólogos e terapeutas cristãos que deixam de lado completamente esta questão. Esses escritores ignoram Efésios 4.30 e Tiago 1.20. A presença de Deus é notadamente colocada de lado. Eles dizem que a ira é ruim por aquilo que ela causa em minha saúde e em meus relacionamentos. Aparentemente, ignoram a ira perante Deus. O motivo para mudar, por sua vez, torna-se centrado egocêntrico, ou seja, a mudança tem como alvo  melhorar a minha vida em lugar de ter como alvo agradar ao Criador e Redentor.

O que isso representa para Catarina com sua colite e Douglas com sua família tensa? Eles precisam erguer seu foco e olhar para Deus. Eles precisam incluir Deus no quadro! Eles precisam viver coram Deo − diante da face de Deus. Deus quer que eles controlem a língua não apenas porque suas palavras pecaminosas afastam o cônjuge, mas acima de tudo porque suas palavras pecaminosas desagradam o seu Deus, ofendem seu Salvador e entristecem o Espírito Santo. O marido preocupado com perder a esposa não está vivendo essencialmente para agradar, temer e amar ao Senhor seu Deus. A esposa cuja amargura atingiu seu aparelho digestivo precisa se dar conta de que a sua amargura, antes de mais nada e acima de tudo, atingiu o Senhor que a ama e Se entregou por ela.

O que essas pessoas precisam fazer? Elas devem se arrepender diante do Deus vivo, confessar tanto o seu comportamento pecaminoso como o seu pecado mais fundamental de ignorarem a vida perante Deus. Em seguida, elas precisam buscar a ajuda de Deus para se relacionarem com os outros de maneira agradável a Ele. A consciência da presença do Espírito Santo motiva os crentes a se despirem dos maus hábitos e se revestirem de um comportamento que reflete a Cristo.

Amigos, nossas palavras necessitam desta perspectiva bíblica. Há pouco tempo, uma manchete no jornal USA Today chamou minha atenção (e forçou minha compra): “Por Que Somos Todos Tão Irritadiços?”. A primeira parte do artigo relatava e lamentava a escalada dos incidentes de ira nos Estados Unidos. A segunda parte citava várias pesquisas e especialistas sobre a causa dessa ira epidêmica.  Infelizmente, mas não de forma inesperada, entre as várias explicações psicológica, sociológicas e biológicas sugeridas, o diagnóstico e o remédio de Deus ficaram faltando.

Que Deus nos ajude a agradar a Ele e não entristecer o Espírito Santo nos nossos relacionamentos.

Fonte: NANC Resourse Library Original: Grieving God’s Spirit in Your Relationships, publicado em The Biblical Counselor, September 2000, p. 1-2.

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