Paul David Tripp
Na presença de seu filho adolescente, escutei um pai dizer: “Você sabe como é ir à igreja e saber que todos estão falando sobre seu filho rebelde e orando por ele? Você sabe como é entrar no culto com todos os olhos voltados para você, sabendo que as pessoas ficam pensando no que está acontecendo e se você e sua esposa estão superando?”.
Ele continuou. “Isso não é o que deveria acontecer. Nós procuramos fazer fielmente o que Deus nos chamou a fazer como pais, e olhe só onde acabou! Eu pergunto a mim mesmo, se eu soubesse que tudo acabaria desse jeito, será que teríamos decidido ter filhos? Eu não consigo descrever quão desapontado e envergonhado estou.”
Naquela tarde, com seu filho escutando, aquele pai falou o que muitos pais já sentiram, mas nunca verbalizaram. Nossa tendência é encarar a criação de filhos com expectativas como se tivéssemos garantias inabaláveis. Nós pensamos que se fizermos nossa parte, nossos filhos irão se tornar cidadãos exemplares. Nossa tendência é encarar a criação de filhos com um senso de posse, com um senso de que esses são os nossos filhos e a obediência deles é o nosso direito.
Esses pressupostos pavimentam o caminho para nossa identidade se enrascar em nossos filhos. Começamos a precisar que eles sejam o que eles deveriam ser para que, aí sim, possamos desfrutar de um senso de cumprimento de nosso dever e de sucesso. Começamos a olhar para nossos filhos como nossos troféus ao invés de criaturas de Deus. Secretamente, queremos exibi-los como conquistas de um trabalho bem feito.
Quando eles falham em viver à altura das nossas expectativas, nós não nos vemos tristes com eles e lutando por eles, mas irados contra eles, lutando contra eles e, de fato, tristes conosco mesmos e com nossa perda. Ficamos irados porque eles tiraram algo valioso de nós, algo que passamos a entesourar, algo que começou a governar nossos corações: uma reputação de sucesso.
É tão fácil perder de vista o fato de que são filhos de Deus. Eles não nos pertencem. Eles não nos foram dados para trazer glória a nós, mas a Ele. Nossos filhos são dEle, eles existem através dEle e a glória de suas vidas aponta para Ele. Nós somos apenas agentes para cumprir Seus planos. Nós somos apenas instrumentos em Suas mãos. Nossa identidade está enraizada nEle e Seu chamado a nós, não em nossos filhos ou em nossa performance.
Como pais, nós temos problemas sempre que perdemos de vista essas “realidades verticais”. Quando a criação de filhos é reduzida ao nosso trabalho árduo, à performance de nossos filhos ou à reputação da família, torna-se bem difícil reagir com altruísmo e fidelidade diante do erro de um filho.
As oportunidades dadas por Deus para ministrar transformam-se em confrontação irada e repleta de palavras de julgamento. Ao invés de conduzir mais uma vez nosso filho carente para Cristo, nós iremos castigá-lo com duras palavras. Ao invés de amá-lo, iremos rejeitá-lo. Ao invés de falar palavras de esperança, nós iremos condená-lo. Nossos sentimentos ficarão inundados cada vez mais por nossa própria vergonha, ira e dor ao invés de tristeza sobre a situação de nosso filho diante de Deus.
Quero pedir a você que seja honesto hoje. Examine seu coração. Você tem uma atitude de posse? Será que você está sutilmente governado pela sua reputação? Você está oprimido pela preocupação com aquilo que os outros podem pensar de você e de seu filho? Essas perguntas – não, deixe-me refrasear isso – esses ídolos precisam ser confrontados se quisermos ser os pais que Deus nos chamou para ser.
Então, seja honesto. Confesse suas áreas de idoloatria na criação de filhos. Encha-se, porém, de esperança porque Cristo morreu para quebrar a cerviz da nossa idolatria centrada em nós mesmos. Deus quer que tenhamos um coração puro. Seu objetivo é que nossa vida seja moldada por nossa adoração exclusiva a Ele. E, preste atenção nisso: ao mesmo tempo que Deus está trabalhando em seu coração, Ele o enviou para ser Seu embaixador no coração de seu filho.
Tradução: Alexandre Mendes – Original: The Idol of Success