Convicções para aconselhar

Costumamos esperar um bom grau de preparo bíblico-teológico de nossos pastores. Eles devem não só conhecer o conteúdo da Bíblia, mas queremos que sejam habilidosos na hermenêutica e na exegese para interpretá-la com precisão e aplicá-la, e que tenham preparo em teologia bíblica e sistemática. Queremos ter certeza também de que eles têm convicções firmes quanto ao ministério e são capazes de nos transmitir ensino seguro e elaborar aplicações práticas alicerçadas em pensamento bíblico.

Por que deveríamos esperar menor trabalho intelectual e rigor bíblico-teológico daqueles que aconselham pessoalmente nos problemas da vida diária? Por que não esperar que cada conselheiro, e conselheira também, tenha convicções sólidas e alicerçadas na Palavra de Deus, e as saiba aplicar com habilidade e fidelidade no ministério formal e informal?

Em seu artigo Affirmations & Denials: A Proposed Definition of Biblical Counseling [Afirmações e negações: uma proposta de definição do aconselhamento bíblico], David Powlison escreve sobre o conhecimento e as convicções do conselheiro bíblico.

Precisamos conhecer a sabedoria assombrosa da Palavra de Deus. Deus dirige-Se de forma profunda e abrangente às situações concretas da vida de cada pessoa. Ele fala com propósito e poder para transformar-nos: “A lei do Senhor é perfeita, e restaura a alma; os testemunhos do Senhor são dignos de confiança, e tornam sábios os inexperientes. Os preceitos do Senhor são justos e dão alegria ao coração. Os mandamentos do Senhor são límpidos, e trazem luz aos olhos. O temor do Senhor é puro, e dura para sempre; os julgamentos do Senhor são verdadeiros, e são todos eles justos…que as palavras da minha boca e o meditar do meu coração sejam agradáveis a ti, Senhor, minha rocha e meu resgatador” (Sl 19.7-9,14).

Precisamos conhecer nosso chamado como filhos desse Pai. Jesus anuncia o Seu reino dizendo “Arrependam-se”, que significa “Mudem”. Sua graça e verdade operam em favor de nos transformar. Somos chamados para uma mudança individual e para mudarmos o mundo. Trilhamos um caminho de arrependimento e renovação. Jesus quer nos ensinar a viver como “discípulos” (convertidos, aprendizes, estudantes) para que nos tornemos Seus instrumentos de mudança na vida de outras pessoas. O Conselheiro Maravilhoso produz Christianoi, “pessoas como Cristo”, conselheiros aprendizes: “Seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef 4.15).

Precisamos saber que o caminho de Deus é qualitativamente diferente de qualquer outra opção disponível no mercado, diferente de outros conselhos, outros métodos, práticas ou sistemas. A única coisa razoável que temos a fazer com diligência é conhecer genuinamente a Deus. Qualquer outra coisa perpetua a nossa loucura, nosso sonambulismo: “Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Cl 2.8).

Precisamos conhecer essas coisas, vivê-las e ministrar Cristo aos outros.

A tentativa de definir a fé e a prática cristãs de maneira mais precisa e útil sempre surge em um contexto de polêmica. As afirmações e negações que reunimos aqui não são exceções. Elas tratam do “aconselhamento” no momento em que um sistema de saúde mental que não conhece a Cristo domina a área do aconselhamento e molda o pensamento e a prática da nossa cultura. Mesmo o campo do aconselhamento “cristão” tem utilizado de modo significativo o conteúdo da psicologia secular, como se as Escrituras não tivessem muito a dizer além daquilo que costuma ser entendido como religiosidade e moralidade. Mas à medida que aprendemos a olhar mais de perto para a vida e para nós mesmos com os olhos de Deus, torna-se cada vez mais claro que as Escrituras são sobre o aconselhamento: as categorias diagnósticas, as explicações para os comportamentos e as emoções, a interpretação dos sofrimentos e influências externas, as diretrizes para alcançarmos soluções concretas e viáveis, o caráter do conselheiro, os alvos do processo de aconselhamento, a configuração das estruturas profissionais para a prática do aconselhamento, a crítica aos modelos concorrentes. Todas essas são questões sobre as quais Deus fala diretamente, especificamente e com frequência. Ele nos chama a ouvir com atenção, a pensar com empenho e de modo adequado, e a nos engajarmos em um trabalho digno para desenvolver nossa teologia prática do ministério pessoal. Essas afirmações e negações procuram declarar o que o Senhor pensa, diz e faz.

David Powlison divide as afirmações e negações em sete pontos.

1. O conhecimento verdadeiro das pessoas e da prática do aconselhamento

2. Os fatos sobre a condição humana e o escopo da verdade bíblica

3. A solução para a condição humana de pecado e sofrimento

4. A natureza da mudança e os meios para alcançá-la

5. O contexto social e o escopo do ministério de aconselhamento

6. A providência de Deus e a interação entre Sua graça comum e os efeitos intelectuais e práticos do pecado

7. As boas notícias para pessoas psicologizadas que vivem em uma sociedade psicologizada

Você pode ler na íntegra em português, em tradução feita por Rafael Bello, o desenvolvimento das afirmações e negações, e a discussão das afirmações, ou pode ler em inglês o original de CCEF.

Imagem: http://www.freepik.com

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