A maior parte da literatura sobre aconselhamento bíblico, e dos posts e mídias que encontramos na internet, está voltada para o conhecimento e a prática do ministério do conselheiro bíblico: O que o conselheiro deve saber? O que o conselheiro deve fazer? Shannon McCoy, em 5 Foundational Spiritual Disciplines of Biblical Counselors, chama a nossa atenção para um outro aspecto, fundamental: Quem o conselheiro deve ser?
5 disciplinas espirituais fundamentais para os conselheiros bíblicos
Os conselheiros bíblicos são presentes singulares para a igreja. Eles têm uma paixão por entender quem é Deus e como Ele opera em nossa vida. Os conselheiros bíblicos colocam-se fielmente na linha de fogo. Eles estão dispostos a arregaçar as mangas e participar no plano de Deus para ajudar outros a crescerem à imagem de Jesus Cristo (Rm 8.29). No entanto, a utilidade dos conselheiros bíblicos depende diretamente do seu relacionamento crescente com o Senhor.
Como os conselheiros bíblicos podem aconselhar as pessoas de maneira eficaz e adequada com a Palavra de Deus? Eles devem conhecer bem a Bíblia para ter uma cosmovisão bíblica em contraposição à cosmovisão secular. Eles também devem viver aquilo que conhecem. Os conselheiros bíblicos não só devem conhecer o evangelho, mas saber como aplicar o evangelho em primeiro lugar à própria vida. Só então é que podem ajudar e incentivar os aconselhados a deixarem que o evangelho mude sua vida.
Para aconselhar outros de modo efetivamente bíblico, o conselheiro deve ser alguém que cultiva ao menos cinco disciplinas espirituais fundamentais: a dependência do Espírito Santo, a dependência da oração, a dependência da Palavra de Deus, a dependência da adoração e a dependência da comunhão com a igreja.
1—O conselheiro bíblico deve depender do Espírito Santo
Os conselheiros bíblicos não devem esquecer que o aconselhamento bíblico é uma batalha no reino espiritual (Ef 6.12) e é obra do Espírito Santo (Jo 14.16-17). Em primeiro lugar, os conselheiros bíblicos devem compreender a obra do Espírito e ver esta obra acontecer em sua própria vida. É bem fácil para os conselheiros bíblicos operar a partir do intelecto humano na aplicação das verdades espirituais para depois dar-se conta de uma ausência do poder de Deus em ação no ministério. Os conselheiros bíblicos devem depender do poder do Espírito Santo para guiá-los em toda a verdade (Jo 16.13) e para ajudá-los a aconselhar no Espírito e não na carne (Rm 8 e 9).
Em segundo lugar, os conselheiros bíblicos devem depender do Espírito Santo para operar mudanças essenciais e elementares no coração humano. Sem a dependência do Espírito Santo, os conselheiros conhecerão o desânimo, a frustração e o fracasso, além de que o processo de aconselhamento será simplesmente mais uma versão do aconselhamento secular. Somente o Espírito Santo pode dar o discernimento espiritual e a motivação para a mudança bíblica permanente no coração. A total dependência do Espírito Santo é vital para que os conselheiros bíblicos possam conduzir efetivamente a própria vida e aconselhar outras pessoas.
2—O conselheiro bíblico deve depender da prática de orar
A dependência da prática de orar é essencial para os conselheiros bíblicos. Propositadamente não usei a palavra “oração”, pois ela se tornou um termo um tanto banalizado. É uma palavra que os cristãos têm espiritualizado a ponto de parece que não tem mais significado nem poder algum.
Os conselheiros bíblicos sabem que precisam orar por eles mesmos e pelos seus aconselhados. No entanto, é comum que apenas sussurrem uma rápida oração “Ajude-nos Senhor” momentos antes de iniciar o encontro com o aconselhado. Por que falta aos conselheiros bíblicos uma maior dependência da prática de orar? Algumas possibilidades são:
- orar é algo tomado por certo,
- orar exige humildade,
- orar exige tempo.
Em primeiro lugar, os conselheiros bíblicos podem tomar por certo a prática de orar, e não lhe dar a devida importância. Eles sabem que foram capacitados e chamados por Deus para aconselhar outros crentes. Eles têm a expectativa de que Deus esteja sempre disponível para ajudá-los quando aconselham. Eles já presenciaram o poder de Deus operando por meio deles mesmo quando eles não estavam adequadamente preparados para um encontro de aconselhamento. Talvez eles até tenham reconhecido e agradecido a Deus no final daquele encontro.
Em segundo lugar, eles podem deixar de depender da prática de orar porque ela exige humildade. O ato de orar demonstra que nós não temos poder para vencer nosso próprio pecado, e muito menos para levar o aconselhado a vencer seu pecado. À medida que crescem em conhecimento e experiência no processo de aconselhamento, os conselheiros bíblicos podem depender mais e mais da própria experiência. Eventualmente, eles ficarão “perplexo” no meio de um encontro, entrarão em pânico, sem saber o que dizer em seguida. Finalmente, cairão em si e deverão confessar o seu orgulho, reconhecendo em seu coração que eles não podem aconselhar sem uma total dependência do Espírito Santo por meio da oração.
Em terceiro lugar, os conselheiros bíblicos podem deixar de depender da prática de orar porque ela requer tempo. O ministério de aconselhamento envolve tanto os conselheiros quanto os aconselhados. Os conselheiros devem orar por eles mesmos, por seus problemas pessoais. Eles são exatamente como seus aconselhados – pecadores salvos pela graça. Os conselheiros lutam pessoalmente com as mesmas questões de pecado com as quais os aconselhados também têm de lidar. Eles devem investir tempo para orar sobre os problemas de seu coração a fim de estarem livres para aconselhar os outros. Por outro lado, após a coleta de dados, os conselheiros teriam com que se ocupar pelo restante da vida, orando por todas as questões apresentadas pelos aconselhados — isso é muito tempo! Pensar nos problemas dos outros pode ser devastador e pode, sim, consumir muito tempo. Esse peso faz com que muitos conselheiros bíblicos descartem a prática de orar.
Os conselheiros bíblicos devem depender da prática de orar porque a vida cristã o exige. O ato de orar reconhece que o Deus Todo-poderoso está no controle de nossa vida. Ela reconhece que não temos em nós mesmos o poder para produzir uma mudança de coração. Orar também pode ser a melhor maneira de economizarmos tempo, pois o Espírito Santo nos dá sabedoria e orienta em nossa oração.
3 — O conselheiro bíblico deve depender da Palavra de Deus
Os conselheiros bíblicos são os paladinos da Palavra de Deus. Eles estão entre os maiores advogados, patrocinadores, defensores da Palavra de Deus. O próprio título “bíblico” significa que eles usam a Bíblia como A ferramenta para o aconselhamento. Eles investem muitas e muitas horas no estudo das Escrituras para se tornarem conselheiros bíblicos.
Com todo esse foco voltado para a Bíblia, como podem os conselheiros bíblicos chegar ao ponto de não depender da Palavra de Deus? Infelizmente, isso pode acontecer quando os conselheiros bíblicos dependem mais dos livros sobre aconselhamento bíblico e outros recursos do que da Palavra de Deus. Atualmente, mais e mais livros e recursos sobre como aconselhar estão à nossa disposição. Há recursos sobre temas específicos que você pode pegar e ler antes de um encontro de aconselhamento ou simplesmente entregar ao aconselhado para que ele leia em casa. Esses recursos são muito bons, pois alguém investiu tempo para estudar a Palavra de Deus e nos ensinar como aplicá-la a um problema específico.
Infelizmente, estes excelentes livros e recursos podem acabar substituindo o estudo pessoal da Palavra de Deus na vida dos conselheiros bíblicos ocupados. Em 2Timóteo 3.16, 17, Paulo nos diz: “Toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; a fim de que o homem de Deus tenha capacidade e pleno preparo para realizar toda boa obra”. Para que 2Timóteo 3.16, 17 seja uma realidade na vida dos conselheiros, eles devem fazer o trabalho por si mesmos. O estudo pessoal da Palavra de Deus é vital para que os conselheiros bíblicos atuem com eficácia na própria vida e no ministério de aconselhamento. Não permita que os livros e recursos sobre aconselhamento bíblico sejam atalhos no processo de usar a Palavra de Deus no aconselhamento, mas deixe que eles completem o seu estudo pessoal da Palavra.
4 — O conselheiro bíblico deve depender da adoração
Os conselheiros bíblicos devem ser conselheiros que adoram como a Bíblia ensina. Provavelmente esse não é o primeiro pensamento que nos vem à mente ao descrever um conselheiro bíblico, mas ele deve estar nesta lista das cinco disciplinas espirituais fundamentais para os conselheiros bíblicos! Os conselheiros bíblicos devem depender da adoração porque Deus requer isso. João 4.23, 24 afirma: “Mas virá a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai no Espírito e em verdade; porque são esses os adoradores que o Pai procura. Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem no Espírito e em verdade”. Os conselheiros bíblicos devem depender da adoração porque:
- A adoração bíblica tem seu centro em Deus. Ela é uma expressão de nosso amor a Deus que vem do coração. Não é um item a mais na nossa lista de tarefas, uma ação notável ou um dever.
- A adoração bíblica altera radicalmente nossa vida. Ela nos leva a ver o amor de Deus como mais real, mais gratificante e mais bonito do que qualquer outro amor (Mateus 14.33).
- A adoração bíblica é libertadora. Ele remove os ídolos que controlam o nosso coração. Ela nos permite morrer para aquelas coisas que nos controlam, colocando a nossa vontade, as emoções e a mente em Cristo (Salmo 57).
- A adoração bíblica cura-nos. Ele reordena os nossos valores, conformando-os aos valores de Deus. Ele substitui a ansiedade, a depressão, o medo e os vícios, entre outros mais.
- A adoração bíblica é eficaz. Ela determina o significado e propósito de nossa vida. As influências do nosso eu e de Satanás enfraquecem-se quando adoramos a Deus (Mateus 4.9-11).
5 — O conselheiro bíblico deve depender da comunhão com sua igreja
Os conselheiros bíblicos dependem da comunhão com a igreja porque o aconselhamento bíblico nasce na igreja. A igreja tem a responsabilidade de equipar os santos para a obra do ministério visando à edificação do corpo de Cristo (Efésios 4.12). No entanto, os cristãos lutam com a tentação de viver de forma independente. Tanto os conselheiros bíblicos quanto os seus aconselhados lutam com construir seu próprio reino na terra. No fim, eles descobrem estar em uma ilha deserta, que pensavam ser o seu reino.
A comunhão com a igreja é o relacionamento entre os crentes em Jesus Cristo, na unidade no Espírito (João 17. 23), para ajudar a construir o reino de Deus. Os conselheiros bíblicos precisam inicialmente reconhecer sua dependência de uma igreja local firme, bíblica e amorosa, onde eles são espiritualmente edificados e protegido de uma autodestruição. Ali eles são equipados para admoestar os insubmissos, encorajar os desanimados, ajudar os fracos, sendo pacientes para com todos (1Tessalonicenses 5.14). A dependência da comunhão com a igreja oferece o benefício mútuo do “ferro que afia o ferro” (Provérbios 27.17). O relacionamento entre os conselheiros bíblicos e os seus aconselhados é uma imagem bonita dos meios da graça divina na comunhão da igreja.
Considere
- Você pratica essas cinco disciplinas espirituais?
- Que outras disciplinas espirituais são úteis para os conselheiros bíblicos?
- De qual disciplina espiritual você mais depende em seu ministério de aconselhamento?
O artigo 5 disciplinas espirituais fundamentais de conselheiros bíblicos, por Shannon McCoy, foi publicado originalmente no site da Biblical Counseling Coalition e é usado com permissão.