Rob Green
O treinamento em aconselhamento bíblico, como muitos outros treinamentos, concentra muitas vezes a atenção nos assuntos. Isso significa que temos uma aula ou uma conferência sobre depressão, solução de conflitos, ansiedade ou como lidar com os filhos adolescentes. De fato, é algo muito útil. Afinal, aprender mais sobre como aconselhar diante de um problema específico ajuda-nos a pensar sobre como a Bíblia lida com tal problema. No entanto, e este é um “no entanto” bem grande, não podemos permitir que nosso conhecimento de um assunto nos impeça de ouvir o que as pessoas estão nos dizendo.
Vejamos uma ilustração para explicar o que quero dizer. Alguns aconselhados dizem que a razão pela qual estão buscando ajuda é uma “depressão”. Diante de casos assim, como conselheiro, começo inevitavelmente a pensar no que sei sobre depressão. No entanto, pense comigo em algumas variáveis.
Diferenças de significado
O termo “depressão” é bastante abrangente em nossa sociedade. Quando minha esposa me pergunta como foi meu dia, eu poderia responder que foi “deprimente”. Não quero dizer que minha condição é a de um deprimido. Estou expressando o fato de que meu dia teve alguns momentos difíceis. Talvez eu não tenha produzido tanto quanto eu esperava e esteja prevendo uma longa noite de trabalho para recuperar o atraso. Talvez alguém tenha feito uma crítica que eu relutei para responder. Eu poderia facilmente ter usado termos como “desafiador” ou “frustrante” para descrever meu dia.
Uma pessoa poderia dizer que está deprimida porque hoje é o aniversário de um ano de falecimento de seu cônjuge. Mais uma vez, essa pessoa não está necessariamente dando uma descrição que resume sua vida. Ela está expressando o fato de que hoje é um dia triste devido à lembrança de que está sozinha. Ela poderia ter usado o termo “triste” ou “saudosa”.
Outras pessoas poderiam usar o termo depressão para descrever a ansiedade com relação à vida, às finanças, a um relacionamento específico ou temores relacionados ao futuro. Em casos assim, elas poderiam ter usado a palavra “preocupação”.
Ainda outra pessoa poderia usar o termo depressão para se referir a um estado que já persiste por logo tempo e a tem levado a parar de cumprir as atividades normais da vida.
Meu objetivo aqui não é ensinar a aconselhar todas essas pessoas, mas apenas mostrar que o termo “depressão” requer certo esclarecimento por parte do aconselhado para sabermos o que ele quer dizer. A única maneira de chegar a esse esclarecimento é ouvir o aconselhado.
Diferenças de motivação
A motivação associada à “depressão” do aconselhado pode variar bastante. Em alguns casos, o que há por trás da “depressão” de um aconselhado é a falta de produtividade ou realização em sua vida. Ou então, uma mulher que deseja se casar pode descrever sua condição como “deprimida” porque ela não está casada. Um homem que atingiu os 45 anos de idade para então perceber que sua escalada corporativa não irá muito além, e que ele já chegou até onde seria possível ir, pode se descrever como “deprimido”.
Para outros aconselhados, a motivação pode ser um evento traumático que aconteceu em algum momento da vida e que eles não têm certeza de como processar. Talvez uma criança tenha morrido em seus braços, a pessoa tenha sofrido um abuso sexual ou violência física, ou então tenha feito algo que resultou em uma culpa intensa.
Eu poderia ir adiante com os exemplos. Meu objetivo, porém, é ilustrar que uma das habilidades-chaves para qualquer conselheiro é ouvir a pessoa que está diante dele. A “depressão” do aconselhado está conectada à sua história. Uma pessoa que se diz deprimida pode não ter nada em comum com outra pessoa deprimida.
Algumas dicas para ajudá-lo a crescer na habilidade de ouvir
-1- Peça ao Senhor para ajudá-lo a ouvir e fazer boas perguntas para que você aconselhe a pessoa e não a “condição” de deprimida em que ela diz estar.
-2- Pergunte ao aconselhado o que ele quer dizer quando usa determinados termos. Em vez de você definir o termo “depressão”, peça que o aconselhado o defina. Pergunte-lhe o que o leva à conclusão de que ele está “deprimido”. Você pode descobrir que a Bíblia usa um termo diferente para a condição do seu aconselhado.
-3- Peça-lhe para confirmar o seu entendimento em suas próprias palavras. Às vezes, os aconselhados pensam que, a menos que concordemos com eles, nós não os entendemos. Não é isso que estou dizendo. Estou dizendo que não chegamos a captar o entendimento de alguém se não soubermos repetir com nossas palavra aquilo que a pessoa disse.
-4- Conquanto o termo “depressão” possa imediatamente encorajá-lo a pensar sobre determinadas verdades e passagens bíblicas, lembre-se de ser paciente e deixar o aconselhado falar.
Pode ser que você precise mudar seu plano inicial para poder ministrar com maior compaixão e competência.
Quem responde antes de ouvir, comete insensatez e passa vergonha. Pv 18.13
Meus amados irmãos, tenham isto em mente: Sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar. Tg 1.19
Original: Be quick to hear – Your counselees are individuals
Publicado em Counseling with Confidence and Compassion