Michael R. Emlet. Descrições e prescrições

Uma perspectiva bíblica sobre os diagnósticos e medicamentos psiquiátricos

Na prática do aconselhamento bíblico, tornou-se corriqueiro termos oportunidades de ajudar pessoas que já foram diagnosticadas como portadoras de um transtorno psiquiátrico. Como devemos proceder?

Não podemos simplesmente descartar as categorias definidas pelo sistema psiquiátrico por elas não estarem na Bíblia nem podemos nos intimidar diante dos diagnóstico e tratamentos propostos pela psiquiátrica como se a Bíblia fosse irrelevante frente às lutas complexas enfrentadas por muitos. Necessitamos de uma abordagem equilibrada e bem informada. Michael Emlet, médico e conselheiro bíblico, oferece em Descrições e Prescrições os esclarecimentos essenciais para que tenhamos condições de entender melhor os diagnósticos e tratamentos psiquiátricos, que passaram a fazer parte do nosso vocabulário cotidiano, e estejamos preparados para aconselhar dentro de uma cosmovisão cristã.

Na parte 1 do livro,  Michael Emlet oferece uma estrutura básica para e entendimento dos diagnósticos psiquiátricos. Na parte 2, ele nos ajuda no entendimento do uso dos medicamentos psicoativos.

Compreendendo os diagnósticos psiquiátricos
O autor destaca quatro pontos que merecem atenção com respeito ao Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, conhecido como DSMEm primeiro lugar, os diagnósticos psiquiátricos são descrições dos pensamentos, emoções e comportamentos de uma pessoa, não explicações. Em segundo lugar, os diagnósticos psiquiátricos têm o potencial de transformar o normal em anormal, devido ao exagero e subjetividade. Em terceiro lugar, alguns diagnósticos psiquiátricos redefinem os comportamentos que a Bíblia primariamente caracteriza como pecados. Em quarto lugar, os valores socioculturais influenciam a inclusão ou exclusão e impactam a prevalência de diagnósticos. Ao terminar de expor suas preocupações, Michael Emlet escreve: “O DSM pode ser o melhor esquema de classificação secular disponível, mas ainda permanece repleto de dificuldades identificadas pelos próprios psiquiatras” (p. 52).

O livro prossegue com quatro possíveis implicações da discussão anterior para aqueles que querem oferecer um conselho bíblico, mas não têm uma formação na área clínica da saúde mental. A primeira implicação é “Não se apavore com o diagnóstico”. Não permita que o diagnóstico o desvie do caminho de ministrar biblicamente e ajudar a pessoa que Deus trouxe a você. A segunda implicação é que o diagnóstico não define a identidade da pessoa.  Uma terceira implicação é que o diagnóstico não define uma história de vida nem descreve o quadro completo de uma vida, mas Deus tem uma agenda de transformação para cada um de Seus filhos. Finamente, a quarta implicação é que um diagnóstico é um dos muitos pontos de partida para o ministério, não é o ponto final: “A categoria diagnóstica se torna um incentivo à compreensão das experiências de uma pessoa tanto quanto possível, usando as categorias bíblicas. Isso inclui a exploração dos temores, desejos, motivações, seu relacionamento com Deus, suas forças e fraquezas corporais, seu relacionamento com outras pessoas e as circunstâncias de suas vidas — aqueles mesmos pontos que consideramos ao ajudarmos alguém mesmo quando há ausência de diagnóstico” (p. 56).

Existem situações em que um diagnóstico psiquiátrico pode ter certo proveito para o conselheiro. Michael Emlet faz quatro considerações sobre a utilidade potencial dos diagnósticos no contexto ministerial. A primeira consideração é que eles organizam o sofrimento em categorias que nos ajudam a identificar padrões de experiências, e nos despertam para explorar aspectos da experiência humana que talvez desconhecêssemos. Uma segunda consideração é que os diagnósticos nos recordam que a experiência de outra pessoa é, sem dúvida, diferente da nossa e precisamos entrar em seu mundo e conhecê-la. A terceira consideração é que certos diagnósticos sugerem padrões de gravidade e perigo, alertando-nos para processos mentais, flutuações emocionais e ações que atuam em conjunto e cujo perigo potencial não pode ser minimizado. Em quarto e último lugar, alguns diagnósticos nos recordam do papel mais central do corpo de uma pessoa em sua luta.

“No final das contas, o objetivo não é simplesmente confirmar ou condenar um determinado diagnóstico, mas, cuidadosamente, persistente, amorosa e biblicamente oferecer a redenção divina à pessoa que luta com os problemas que estão encapsulados em uma descrição diagnóstica” (p. 69).

Compreendendo as medicações psicoativas
Michael Emler dá início à segunda parte do livro mostrando que os conselheiros bíblicos precisam estar familiarizados com as medicações psicoativas, pois “vivemos em uma época na qual mais e mais problemas da vida são atribuídos a disfunções cerebrais. A medicação é propagada como um importante (se não o mais importante) aspecto do tratamento na comunidade psiquiátrica. No nível da compreensão popular, ela é com frequência a opção de tratamento” (p. 75).

A diferença de outros diagnósticos médicos tratados com medicação, não temos até o momento como medir de forma conclusiva o alcance da ação das medicações psicoativas nos transtornos psiquiátricos nem temos como saber se elas estão tratando realmente um desequilíbrio químico no cérebro humano. “O que sabemos é que elas parecem aliviar os sintomas em algumas pessoas, mas não sabemos exatamente como elas fazem isso. Mais útil do que uma noção simplista de ‘desequilíbrio químico’ é dizer que esses medicamentos parecem estar envolvidos com mudanças na rede neural e de neurotransmissores no cérebro – mas isso permanece sem comprovação até este momento. Nosso conhecimento é incompleto. Contudo, ao destacar que o conhecimento real sobre como essas drogas operam no cérebro é limitado, não estou dizendo que deveríamos evitar tais medicamentos. Estou dizendo que, se vamos usá-los, devemos estará alertas sobre o que realmente sabemos. Temos muito que aprender e o otimismo cauteloso é válido em lugar do entusiasmo acrítico e excessivo” (p. 80).

Michael Emlet destaca que os medicamentos, apesar de tudo, podem ser um meio legítimo de aliviar o sofrimento, e não existe nada intrinsecamente errado em buscar esse alívio até mesmo para que se criem condições de conversar com a pessoa e tratar sua vida perante Deus. “Pense deste modo: usar a medicação em situações selecionadas pode ser análogo a acalmar as águas na superfície para permitir uma exploração das profundezas do mar. Você não pode realizar uma expedição de mergulho se há um vendaval acontecendo na superfície marítima” (p. 111).  Usar a medicação em determinadas situações pode ajudar a ter as condições físicas que favorecerão o investimento no crescimento espiritual. No entanto, ele lembra que “buscar o mero alívio sem uma visão da agenda de transformação de Deus em meio ao sofrimento pode ser um curto-circuito em tudo aquilo que Deus deseja fazer na vida de uma pessoa” (p. 100).

Conclusão
Nas palavras de Michael Emlet, “o uso da medicação é uma questão de sabedoria, a ser tratada individualmente com aqueles a quem aconselhamos” (p. 112). Há prós e contras, custos e benefícios a serem avaliados cuidadosamente em cada caso.

O testemunho de conselheiros bíblicos sobre Descrições e Prescrições
Vários conselheiros bíblicos encontraram no trabalho de Michael Emlet um recurso de valor para seu ministério, conforme registrado nas páginas iniciais do próprio livro.

Garret Higbee escreve:
“Mike Emlet escreveu um livro muito necessário sobre o diagnóstico psiquiátrico a partir de uma cosmovisão bíblica. O paradigma de rótulos psiquiátrico, sendo descritivo, mas não prescritivo é muito importante para os conselheiros bíblicos e os cristãos em geral”.

Elyse Fitzpatrick escreve:
“Em meio a todas as vozes conflitantes em nossa cultura acerca dos diagnósticos psiquiátricos e medicações psicotrópicas, Dr. Michael Emlet oferece um presente útil para a igreja. Neste pequeno livro, você encontrará uma discussão clara e variada sobre a sabedoria de usar ou não usar as descrições e medicações psiquiátricas. Reconhecendo a singularidade de cada situação, o Dr. Emlet o ajudará a tomar a melhor decisão para cada caso”.

Deepak Reju escreve:
“Como cristão, você alguma vez já tinha imaginado como é pensar sobre os rótulos e medicamentos psiquiátricos? O Dr. Michael Emlet nos ofereceu uma abordagem ponderada, equilibrada e bíblica acerca dos diagnósticos e medicamentos neste livro”.


Sumário
Introdução: O padrão “Cachinhos Dourados”
Parte 1: Compreendendo os diagnósticos psiquiátricos
Capítulo 1: Diagnosticar é inevitável
Capítulo 2: Como os problemas psiquiátricos são diagnosticados?
Capítulo 3: Como chegamos até aqui? Uma breve história dos diagnósticos psiquiátricos
Capítulo 4: Os problemas e os perigos dos diagnósticos psiquiátricos: descrições, não explicações
Capítulo 5: Problemas e perigos: transformando o normal em anormal
Capítulo 6: Problemas e perigos: redefinindo comportamento
Capítulo 7: Problemas e perigos: a influência da cultura
Capítulo 8: As Implicações para o ministério
Capítulo 9: O valor do diagnóstico psiquiátrico para o ministério
Capítulo 10: Conclusão: o que existe em um nome?
Parte 2: Compreendendo as medicações psicoativas
Introdução: O que você escuta?
Capítulo 11: Classes de medicamentos psicoativos
Capítulo 12: Os medicamentos tratam “desequilíbrios químicos”?
Capítulo 13: Quão eficazes são os medicamentos psicoativos?
Capítulo 14: Andando na corda bamba da sabedoria
Capitulo 15: Aliviando e redimindo o sofrimento
Capítulo 16: Danos ao crescimento espiritual
Capítulo 17: Dádivas ou deuses?
Capítulo 18: Bons e maus motivos
Capítulo 19: Os medicamentos e o coração: para o melhor e o pior
Capítulo 20: Organizando todas as coisas
Capítulo 21: A moldura da sabedoria em ação
Capítulo 22: Revisitando “Cachinhos Dourados”



Ficha Técnica
Autor: Michael R. Emlet
Título: Descrições e prescrições: uma perspectiva bíblica sobre os diagnósticos e medicamentos psiquiátricos
Título original: Descriptions and prescriptions: a biblical perspective on psychiatric diagnoses and medications  
Editora: Peregrino
Páginas: 127
Data de publicação: 2018

Michael R. Emlet  formou-se em medicina pela University of Pennsylvania e completou o mestrado na área teológica no Westminster Theological Seminary. Exerceu a medicina por mais de 12 anos antes de ingressar na Christian Counseling and Educactional Foundation (CCEF) como conselheiro e membro do corpo docente. É autor de vários artigos e livros.