Aconselhamento de jovens (parte 2)

Criando um ambiente de abertura para moças no final da adolescência

Amy Speck

Multiply é um podcast de Word of Life Bible Institute (WOBI) e tem por propósito orientar os líderes jovens a se multiplicarem, multiplicarem suas equipes e multiplicarem seu ministério. Para aqueles que lidam com adolescentes, uma das preocupações é criar um ambiente onde elas tenham abertura para conversar francamente sobre suas lutas. Na parte 1, Brian Backer conversou com Amy Speck sobre como iniciar o diálogo com as moças. A parte 2, dá continuidade à conversa, sugerindo como se envolver de maneira mais profunda em vidas.

Percebo que quando as pessoas sentem que nós nos apressamos em querer “consertar” seus problemas, a comunicação se bloqueia. Por que isso acontece?
Precisamos ser amigas, dispostas a acompanhar as jovens que estão sofrendo com seus problemas. Parte de ser uma amiga fiel e carregar seus fardos é apenas ouvir o que quer que seja que elas estejam guardando e queiram colocar para fora. A possibilidade de poder falar já ajuda a diminuir o fardo. Isso não significa que nunca iremos falar a verdade bíblica ou nunca teremos oportunidade para isso. Quando percebo que já explorei suficientemente a situação, e elas tiveram a chance de realmente dizer tudo o que queriam dizer, então chegou a hora para eu falar. A verdade da Palavra de Deus é o que traz esperança e liberdade. Creio que precisamos de um equilíbrio, mas penso que nas primeiras vezes em que você se encontra com as jovens, seja em um ambiente de discipulado individual, seja em um ambiente de grupo pequeno, você tem de dar oportunidade para que elas falem, talvez dedicando mais tempo para elas contarem a respeito de suas lutas e responderem às suas perguntas do que para você falar a verdade.

O seu trabalho com as moças é como um longo percurso. Você não pode pensar que na primeira semana já irá consertar isso e depois, na segunda semana, consertar aquilo. Você não pode se esquecer de construir o relacionamento. É preciso construir um ambiente de confiança. Elas precisam perceber que existem interesse genuíno em conhecê-las e preocupação com cuidar delas. Na verdade, parece-me que podemos encontrar dois tipos diferentes de moças: uma é aquela que sabe qual é a verdade, que conhece os versículos bíblicos que falam do seu problema, e outra é aquela que não conhece a verdade. Tenho certeza de que há líderes nos ouvindo e pensando: “As moças com quem eu lido conhecem as Escrituras, foram criadas na igreja…”. É possível que exista por parte das líderes uma certa hesitação em citar novamente os versículos bíblicos, mesmo quando é disso que as moças necessitam, visto que Deus promete usar a Sua Palavra. Como lidar com isso?
Eu diria que como todos nós, há momentos em que sabemos a verdade, mas a verdade não tem tanto impacto até que chegue o momento em que dizemos: “Ok, isso se aplica a mim”. Há uma diferença entre saber e conhecer pela própria experiência. Precisamos sempre falar o que as Escrituras dizem. Ao mesmo tempo, precisamos lembrar que nós podemos dar às moças todos os versículos bíblicos possíveis, mas é Deus quem, pelo Espírito Santo, fará a obra em seu coração para ajudá-las a mudar ou para confortá-las em uma situação difícil.

Agora, vamos falar um pouco sobre como ajudar quando talvez haja algum pecado oculto na vida de uma jovem ou algo que você desconheça. Como você a ajuda para que ela exponha isso?
Conforme conversamos, cria-se um ambiente de abertura quando somos sinceras com elas, lembramos que os pecados não são incomuns e que elas não estão sozinhas em suas lutas. Pode ser útil mencionar por nome algumas dessas lutas, mostrar nos grupos pequenos como é possível lidar com elas biblicamente, dar casos onde elas podem interpretar papeis que talvez as ajudem a se identificar, mas também é recomendável você ser tão verdadeira o quanto possível sobre suas próprias lutas. Às vezes, damos a impressão de que nós temos tudo sob perfeito controle somos perfeitas. Se uma jovem vem até mim e conversa comigo sobre como ela luta com sua fala ou diz “Estou sempre dizendo coisas que eu gostaria de não dizer”, ou algo parecido, posso dizer honestamente a ela que eu também tive lutas parecidas e sempre pecava com a minhas palavras, tinha muita dificuldade para conseguir mantê-las sob controle, e que alguém me aconselhou a orar esse versículo: “Põe guarda à minha boca, SENHOR; vigia a porta dos meus lábios” (Sl 141.3). Durante anos orei esse versículo, e ainda tenho de orar. Quero que saibam que eu também luto com o pecado e que preciso de Deus todos os dias para me ajudar em minhas próprias lutas.

Nós as ajudamos a trazer suas lutas à luz. Em seguida, como podemos ajudá-las a lidar com essas lutas?
É hora de compartilhar amorosamente a verdade bíblica. O ponto principal é lembrar que precisamos do Evangelho. Às vezes, “pregar o Evangelho para si mesma” pode até parecer um tipo de clichê, mas nos últimos anos tenho investido em levá-las a pensar na seguinte pergunta: “O que a morte, o sepultamento e a ressurreição de Jesus têm a ver com minha vida diária?”. Por exemplo, se uma moça está se sentindo rejeitada ou excluída da turma, podemos dizer: “Você sabe que Jesus conhece exatamente como você se sente e que Ele foi rejeitado por algumas das pessoas que estavam bem próximas a Ele. Judas O traiu, Ele foi ridicularizado, agredido e rejeitado, e foi para cruz por nós. Jesus sabe exatamente como você se sente e Ele promete nunca a esquecer nem abandonar. Confie que Ele caminha ao seu lado nessa situação difícil que você está passando. Eu também vou caminhar ao seu lado”. Não deixe de trazer o Evangelho para o cotidiano, seja o que for que elas estejam passando.

Vemos as jovens correndo atrás de qualquer relacionamento ou de qualquer coisa que elas supõem que proporcionará um consolo. Como podemos ajudá-las a encontrar na Pessoa de Cristo e no Evangelho aquilo que elas procuram?
Obviamente, primeiro quero ter certeza de que elas são mesmo crentes. Quero ter certeza de que o seu maior problema, o problema de estar separada de Deus por causa do pecado, está resolvido e que ela conhece realmente Jesus como seu Salvador. Uma vez que sei que ela é crente, irei lembrá-la novamente que Jesus sabe exatamente como ela está se sentindo, quer sendo tentada, quer sofrendo alguma dor.  Hebreus 4.15 diz: “Porque não temos sumo sacerdote que não possa se compadecer das nossas fraquezas; pelo contrário, ele foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado”. Jesus foi tentado de todas as formas, como nós o somos, mas sem pecado, o que significa que Ele sabe quais são as lutas que enfrentamos aqui na terra. Jesus nos ouve, Ele se importa. Se as jovens estão lutando com um pecado já confessado, mas de que elas se envergonham, costumo usar Romanos 8.1: “Agora, pois, já não existe nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus”. É uma frase sucinta, que elas podem personalizar e repetir para si mesmas: “Eu não sou mais condenada por causa do que Cristo fez por mim. Não existe mais condenação para quem está em Cristo Jesus”.

A questão da identidade costuma ser um problema para as alunas?
Sim. É um grande problema. Atualmente, com a mídia social, é possível fazer muitas comparações e querer que nossa vida assuma determinada forma, seja em questão da imagem corporal, seja em outro aspecto qualquer ou mesmo em todos os aspectos. Acho que é importantíssimo lembrar a essas moças que a identidade delas está em Cristo e que, se elas conhecem Jesus como seu Salvador, elas são filhas de Deus, amadas por Ele. Nada pode separá-las do Seu amor, conforme diz Romanos 8. Elas estão em busca de amor, certo? Então, é muito importante lembrar que o amor supremo vem de Deus.

Quer estejam lutando contra um pecado, quer tenham em sua vida uma circunstância difícil que escapa d seu controle, parece-me que você tem entre as alunas algumas moças que querem mudar. Como você as aconselha?
Depende da situação. Se uma moça está lutando devido a um pecado, quero ajudá-la a encontrar a liberdade. Quero que ela conheça e aplique 1João 1. 9: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”. Se a luta é com alguma circunstância de sua vida, quero que lembre que, embora difícil, é possível viver essa circunstância sem pecar. Também quero que ela lembre que sua luta com o sofrimento não é um tempo desperdiçado. Deus está usando aquela circunstância para torná-la mais parecida com Jesus, e “Aquele que começou boa obra em vocês há de completá-la até o Dia de Cristo Jesus”, conforme diz Filipenses 1.6. Muitas vezes, elas não vão muito além de perguntar: “Ok, por que isso está acontecendo comigo?”. Não conseguem ver uma razão específica. Outras vezes, podem identificar um propósito mais claro por trás de uma luta, e isso pode ajudar a suportar o sofrimento. Em ambos os casos, precisamos lembrar a verdade de que Deus nos ama, Ele caminha conosco em nossas lutas e podemos confiar nEle. Voltamos para verdades elementares como Provérbios 3.5, 6: “Confie no SENHOR de todo o seu coração e não se apoie no seu próprio entendimento. Reconheça o SENHOR em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas”. Lembramos sempre que o propósito final, que conhecemos, é tornar-nos mais parecidas com Jesus e que este é um processo que Deus opera em nós ao longo de toda a nossa vida.

Para terminar nossa conversa, o que você gostaria de recomendar a quem deseja ajudar moças?
Penso que a coisa mais importante, a chave para criar um ambiente de abertura, é a oração. Como líder, como mãe, como amiga, ore com elas e por elas. Ore por algo que você esteja observando como, por exemplo, um nítido padrão errado de comportamento sobre o qual você quer encontrar uma oportunidade para conversar. Ore! Ore com elas. Conte-lhes que você ora por elas. Depois de orar, envie uma mensagem dizendo: “Orei por você hoje! Como você está? ”. Mantenha esse relacionamento vivo. A oração é um bom lembrete de que a obra em vidas não é minha, mas de Deus. Nós estamos apenas nos aproximando uns dos outros e ajudando uns aos outros a viver a verdade diariamente. Ore também pelas oportunidades e pelo momento certo para conversar. Às vezes, podemos pensar em algo que necessita ser conversado, mas talvez não seja ainda o momento certo para falar sobre aquilo. Precisamos dar o tempo necessário, ter paciência e pedir a Deus para dar a cada moça a oportunidade de abrir o coração ou simplesmente ser capaz de contar a verdade sobre sua vida.

Um desafio final
Se você está liderando um grupo pequeno de moças ou ministra às jovens de alguma maneira, e elas não têm se aberto com você, será que você está pronta a aplicar algumas das sugestões sobre as quais conversamos? Você está disposta a aprender a construir um relacionamento de verdade, a se importar genuinamente, a fazer boas perguntas?  Essas moças estão lidando com problemas e elas precisam da sua ajuda! Que nossa conversa de hoje possa motivá-la a dizer: ‘Eu preciso me envolver mais com as moças, preciso mergulhar em sua vida e ajuda-las”.  Quero desafiá-la a se envolver. Às vezes, não será imediato nem seguirá perfeitamente o seu plano, mas não deixe de se envolver e procure oportunidades para ministrar às jovens.

Parte 1



Original: Creating a Culture of Openness with Teen Girls – Amy Speck
Transcrição: Stephanie Cox Rinaldin
Tradução: Carla Silva
Revisão e adaptação: Conexão Conselho Bíblico