Beverly Moore
Mentoreio mulheres que estão se preparando para se tornar conselheiras bíblicas, e um dos meus objetivos é ajudá-las a evitar potenciais armadilhas no aconselhamento. Destaco aqui algumas das ciladas comuns às quais os conselheiros bíblicos devem estar atentos.
Pressa
Quando sofredores nos procuram com seus problemas, não precisamos nos apressar. Invés disso, entramos na crise e em seu sofrimento, ajudando-os a encontrar sua verdadeira esperança e conforto em Cristo. Desejamos ajudá-los a entender a liberdade que eles têm ao abraçar a verdade da Palavra de Deus para, então, viver de acordo com ela. Também queremos auxiliá-los a assumir a responsabilidade pessoal por suas respostas ao sofrimento, à medida que aprendem a ter uma perspectiva eterna do sofrimento.
Levará tempo e paciência para alcançar os problemas do coração. Devemos ouvir com atenção enquanto coletamos informações sobre sua vida e seu sofrimento atual. Mais importante, queremos ajudá-los a ver Deus em meio ao que eles estão vivendo. Para isso é preciso tempo. As respostas automáticas não ajudarão a produzir uma verdadeira mudança de coração.
Além do mais, devemos tomar cuidado para não sermos pegos na armadilha de tratar apenas os problemas evidentes, os “frutos”, sem ir às questões do coração, ou seja, à “raiz” do problema. Queremos usar a verdade da Palavra de Deus para confrontar a maneira errada de pensar, a teologia deficiente e a visão errada de Deus, para que nossos aconselhados possam olhar para sua vida e circunstâncias através das lentes das Escrituras e, consequentemente, responder de maneira que agrada e honra a Deus.
Foco na resolução de problemas
Quando um aconselhado vem com uma questão ou problema novo a cada semana, podemos, inadvertidamente, deixar que o próprio aconselhado e suas novas dificuldades definam a agenda do encontro de aconselhamento. Isso pode nos tirar do caminho e nos levar a esquecer nosso alvo para os aconselhados: ter uma visão correta e bíblica de Deus, interpretar a vida pela verdade da Palavra de Deus, e agradar e honrar a Deus em todos os aspectos da vida. Somente com esse conhecimento é que eles estarão aptos a resolver os problemas futuros de forma bíblica. Devemos evitar a prática de nos entreter em apagar os pequenos incêndios, às custas de não nos concentrarmos em ajudar nossos aconselhados a crescer para que sejam mais parecidos com Cristo.
Foco em sentir-se melhor
Devemos ter cuidado em não focar nas abordagens de aconselhamento baseadas no desempenho. Elas focam em ajudar o aconselhado a se sentir melhor em relação a si mesmo ou suas circunstâncias, ou seja, ajudá-los a agir de maneira que alivie a dor de viver em um mundo caído onde eles pecam e sofrem com o pecado de outros. Nós, certamente, queremos estender ao aconselhado o conforto de Deus, mas nosso objetivo não é meramente ajudá-lo a se sentir melhor ou fazer com que sua vida seja mais administrável. Se esse for o alvo principal, não haverá mudança de coração, não haverá foco na eternidade nem a necessidade de um Salvador, e Deus não será glorificado. Não queremos nos contentar com mudanças superficiais, mas buscar uma transformação de coração.
Não ter certeza de como lidar com um problema
O aconselhado pode ter alguns problemas ou situações bem difíceis com as quais ele está lutando, e nos apresentar circunstâncias com as quais não sabemos exatamente como tratar. Ao invés de ficar conversando para ocupar o tempo, ou dar a parecer que temos uma resposta quando, na verdade, não sabemos como lidar biblicamente com o problema, é melhor dizer que o problema é importante e precisa ser tratado. Voltaremos ao problema depois de termos tido tempo para orar, estudar a respeito ou consultar um pastor ou mentor para ter um entendimento mais adequado de como lidar com o caso.
Expectativas irreais
Precisamos estar atentos às nossas expectativas com relação ao progresso de nossos aconselhados. Queremos que eles abracem rapidamente a verdade da Palavra de Deus enquanto crescem em seu amor por Deus e se tornam mais parecidos com Cristo. No entanto, o aconselhamento é complicado porque as pessoas e a vida são complicadas. O pecado e o sofrimento complicam a vida. Nosso aconselhado não consegue progredir tão rápido quanto pensamos que ele deveria, ou gostaríamos que acontecesse. Mas se amamos as pessoas, devemos dar tempo para que elas cresçam no conhecimento e na aplicação da Palavra de Deus, assim como dar tempo para que cresçam em sabedoria para reconhecer áreas de sua vida que precisam ser tratadas.
Não esperar por problemas
Os problemas, frequentemente, pegam-nos de surpresa. Jesus disse em João 16.33 “Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições”. Precisamos ajudar nossos aconselhados a entender que Deus tem um propósito para nossos sofrimentos e ajudá-los a crer nas promessas dEle. Nossas dificuldade cooperam para nosso bem e para a glória de Deus enquanto somos transformados à semelhança de Cristo, e nada pode nos separar do amor de Deus (Rm 8.28-39).
Devemos esperar por dificuldade que podem ser enfrentadas somente com a ajuda de Deus. Jesus disse: “Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma” (Jo 15.5). As dificuldade expõem em quem ou em que estamos colocando nossa confiança para resolver os problemas da vida. A Palavra de Deus tem as respostas de que precisamos, então nossa confiança deve estar em Seu amor, graça, misericórdia, sabedoria e força.
Conclusão
Os conselheiros bíblicos devem estar atentos a essas armadilhas comuns que nos mantêm longe de sermos ministros eficazes da Palavra de Deus. Que nossa oração seja sempre que Deus nos ajude a crescer em sabedoria e amor como ministros da Palavra para aqueles que procuram ajuda.
Perguntas para reflexão
Você reconhece alguma dessas armadilhas no seu aconselhamento?
Em que áreas do seu aconselhamento você precisa trabalhar para se tornar um conselheiro mais eficaz?
Beverly Moore faz parte da equipe de aconselhamento da Faith Church em Lafayette, IN. Ela é coautora de In the Aftermath: Past the Pain of Childhood Sexual Abuse.
Original: Counselor, Beware
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition. Traduzido com autorização.
Tradução: Isabelle Largatera
Revisão e adaptação: Conexão Conselho Bíblico