Julie Ganschow
A relação entre a doutrina bíblica e o ministério de aconselhamento bíblico é inseparável. O aconselhamento bíblico não pode existir a parte das Escrituras e do que elas dizem sobre o homem e seus problemas. O conselheiro bíblico, portanto, deve ser leal à Palavra de Deus e ter uma cosmovisão bíblica.
A Palavra de Deus é investida de autoridade
A Bíblia é literalmente “soprada por Deus” (2Tm 3.16, 17) e é a única fonte de verdade intrínseca que podemos encontrar, investida de autoridade. É importante que o conselheiro entenda isso, pois vivemos numa cultura em que cada homem faz o que lhe parece certo, assim como no tempo dos juízes de Israel (Jz 21.25), e a sabedoria do homem é elevada acima de tudo. A alegação do conselheiro bíblico de que ele possui a fonte investida de autoridade para dizer como alguém deve viver e resolver seus problemas está fora do que é considerado hoje como uma conduta típica no aconselhamento.
A Bíblia fala sobre todos os aspectos da vida, mesmo quando ela não aborda diretamente um problema. Algumas questões são abordadas como princípio e não mandamento. Por exemplo, não existe um mandamento que regule detalhadamente a leitura da Bíblia. Entretanto, sabemos que as Escrituras contêm sabedoria para a vida e a piedade, que ajuda a pessoa a crescer em sua fé cristã e evitar muitas armadilhas do pecado (Sl 19.7-11; Sl 119.11; Rm 15.4).
O aconselhado que procura a ajuda de um conselheiro bíblico pode ter certeza de que o conselho que está sendo dado não é uma opinião ou preferência do conselheiro, mas vem da Palavra de Deus, e isso em si lhe confere autoridade (Jo 16.13). Tal conselho carrega um peso muito diferente do que aquele derivado de um sistema psicológico. Ao contrário dos sistemas psicológicos, o aconselhamento baseado na imutabilidade da Palavra de Deus é imutável. Enquanto a cultura dita vários comportamentos e práticas (por exemplo, os comportamentos sexualmente imorais) como normais de acordo com a sabedoria dos homens, a verdade bíblica sobre essas práticas permanece a mesma ao longo da história, chamando-os de pecado e idolatria (Is 40.8; Cl 3.5; 1Co 6.18).
Quando o conselheiro deriva sua autoridade da Palavra de Deus, ele remove a grande probabilidade de se tornar arrogante em seu conselho (Pv 11.2). Ele reconhece que não é a autoridade final, mas traz a plena autoridade da Palavra de Deus para a circunstância do aconselhado. Isso faz com que o aconselhado se sinta mais seguro no processo de aconselhamento – ele pode se dispor a obedecer sem reservas às diretrizes dadas pelo conselheiro, reconhecendo que elas não são meras opiniões subjetivas de um ser humano falível, mas, ao contrário, elas vêm da Palavra de Deus.
A Palavra de Deus tem poder para mudar
O aconselhamento bíblico é o único método de mudança que tem poder de mudar o aconselhado (2Tm 3.15, 16). Conforme diz 2Pedro 1.3, o cristão recebeu em Cristo tudo o que é necessário para a vida e a piedade. O conhecimento do que e como mudar vem pela leitura e internalização da Palavra de Deus. O Espírito Santo torna a verdade viva e capacita o cristão a realizar as mudanças no âmbito do coração. A mudança interior torna-se evidente à medida que o estilo de vida muda.
Isso é muito diferente do conselho que alguém receberia em outro lugar. O aconselhamento bíblico é diferente por configuração. Temos algo a oferecer que os conselheiros seculares, e até mesmo os profissionais cristãos que aconselham em situações nas quais a ética profissional os proíbe de falar do evangelho, não podem oferecer – a mensagem transformadora do evangelho. Queremos mostrar aos nossos aconselhados algo diferente do que viram até então. Isaías 9.6 fala do nosso Maravilhoso Conselheiro. Nosso Maravilhoso Conselheiro e Seu maravilhoso conselho são normalmente opostos à mensagem do aconselhamento humanista (1Co 12.3; Cl 2.16; Rm 12.2). O aconselhamento humanista proclama que o homem é deus e tem poder dentro de si mesmo para mudar. O aconselhamento bíblico exalta a pessoa de Deus e entende que o aconselhado não tem capacidade em si mesmo para mudar de maneira que glorifique a Deus, a não ser pelo Espírito Santo. Essa é outra característica que distingue o aconselhamento baseado nas Escrituras (Jo 14.6; Pv 4.1-27).
A Palavra de Deus revela a vontade de Deus
É verdade que há muitos problemas aos quais as Escrituras se dirigem diretamente e também há questões que as Escrituras abordam indiretamente. Muitos aconselhados seguem uma teologia voltada para os sentimentos, que vai além do que a Bíblia declara. Eles se contentam com acreditar que Deus fale com eles em seus sonhos ou por circunstâncias que eles interpretam como Deus abrindo portas e fechando janelas, dando preferência a essas práticas em lugar de aprender o que a Bíblia realmente ensina sobre determinado assunto. Alguns aconselhados dizem que é muito difícil, trabalhoso e até mesmo inconveniente pesquisar o que as Escrituras dizem sobre um assunto específico e, consequentemente, eles se voltam para o que “sentem” ser mais fácil e confiável do que investir tempo para ler e estudar. O conselheiro deve ajudar o aconselhado a entender que não há absolutamente nenhuma maneira de conhecer a vontade de Deus e determinar o que é bíblico sem ser por meio das Escrituras (Hb 4.12; Sl 78; Rm 12.2). É preciso incentivá-lo a estudar a Bíblia como a única maneira de adquirir sabedoria e discernimento para os problemas comumente enfrentados na vida e de ficar totalmente persuadido do curso de ação correto a seguir (1Co 7.22).
Pergunta para reflexão
O aconselhamento de natureza teológica não pode confiar na sabedoria humana e nas teorias humanistas que minam e desvalorizam a verdade bíblica. Devemos lembrar aos nossos aconselhados e uns aos outros que nem tudo o que se diz verdade é verdade de Deus, e que a satisfação está somente em Deus. O seu ministério de aconselhamento reflete essas verdades?
Julie Ganschow envolve-se com o aconselhamento bíblico e o discipulado há mais de 25 anos. Além de conselheira e professora, é também preletora em retiros e palestrante em conferências, e atua em Reigning Grace Counseling Center e Biblical Counseling for Women. É autora de vários livros e recursos para o aconselhamento bíblico e coautora de um curso de treinamento em aconselhamento bíblico. É certificada pela Associação de Conselheiros Bíblicos Certificados (ACBC).
Original: The Sufficiency of the Word in Biblical Counseling
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition. Traduzido com autorização.
Tradução: Isabelle Largatera
Revisão e adaptação: Conexão Conselho Bíblico