Conselhos para o conselheiro

A necessidade e o imperativo do autoaconselhamento

Kevin Carson

As pessoas perguntam frequentemente sobre as diferenças entre o aconselhamento bíblico e todas as demais formas de aconselhamento. A resposta, evidentemente, inclui múltiplos aspectos relacionados à teologia, filosofia e prática. Um aspecto que muitos esquecem é o estilo de vida coerente do conselheiro. A vida do conselheiro tem um papel integrante no modelo geral daquilo que chamamos de aconselhamento verdadeiramente bíblico.

De várias maneiras, você pode pensar no aconselhamento bíblico como um banquinho de quatro pernas. Uma perna é a teologia – a dinâmica do processo bíblico de mudança. Outra perna é a metodologia – os métodos coerentes com a teologia bíblica para promover as mudanças. A terceira perna é o contexto do aconselhamento bíblico – o corpo de Cristo na igreja local. A quarta perna é o conselheiro que participa daquela conversa  – o estilo de vida coerente com o de um crente em Jesus Cristo.

Sem a quarta perna – o estilo de vida coerente com o de um crente em Jesus Cristo – o modelo de aconselhamento bíblico não se sustenta. Considere como isso faz com que o aconselhamento bíblico seja tão diferente de qualquer outro modelo de aconselhamento. Ninguém nunca pergunta a um psicólogo ou psiquiatra sobre seu casamento. A fé e a obediência dos filhos do conselheiro são um tabu. A vida na sua igreja local não importa em nenhum outro sistema de aconselhamento. Ira? Amargura? Impaciência? Disciplinas espirituais? Contentamento? Pureza? Não, não, não, não, não e não. Nenhum desses aspectos é relevante em qualquer outro sistema de aconselhamento.

O que faz com que esses aspectos sejam imperativos no aconselhamento bíblico? A vida do conselheiro coloca um ponto de exclamação gigante no final do conselho bíblico centrado em Cristo ou a vida do conselheiro coloca um “X” bem grande sobre conselho transmitido. O estilo de vida do conselheiro demonstra o poder da Palavra de Deus operada pelo Espírito Santo ou questiona a sua veracidade.

Temos uns para os outros como exemplos
Quando o apóstolo Paulo desafiou os crentes filipenses a viverem por Jesus Cristo, ele admitiu que não havia atingido o alvo para a qual Cristo o havia chamado: “Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficam para trás e avançando para as que estão diante de mim,  prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Todos, pois, que somos maduros, tenhamos este modo de pensar” (Fp 3.13, 15). Ele se esforçava em direção ao alvo da semelhança com Cristo. Observe o que ele disse: “Irmãos, sejam meus imitadores e observem os que vivem segundo o exemplo que temos dado a vocês” (Fp 3.17). Quais são os exemplos a seguir? Dois foram mencionados nesse texto. Primeiro, Paulo exortou os crentes a imitá-lo como ele mesmo imitava a Cristo. O segundo grupo que deve servir de exemplo somos nós . Em outras palavras, temos uns aos outros como exemplos daquilo que significa ser um seguidor apaixonado e coerente de Jesus Cristo.

Quando olhamos para outro crente e sugerimos que ele deveria fazer X ou Y  para honrar a Deus, essa pessoa, em certo sentido, tem a mesma responsabilidade de perguntar se nós também vivemos e fazemos X ou Y.  Nenhum outro sistema de aconselhamento no mundo inclui esse tipo de prestação de contas e prova demonstrativa da veracidade dos conselhos dados ao aconselhado. Somente aqueles que praticam o aconselhamento bíblico vivem sob o mandato de aconselhar a Palavra de Deus depois de viver a Palavra de Deus.

É por isso que Paulo nos exortou em Gálatas 6.1-5 a um autoaconselhamento cuidadoso como parte do processo do ministério de restauração. Ele escreveu: “Irmãos, se alguém for surpreendido em alguma falta, vocês, que são espirituais, restaurem essa pessoa com espírito de brandura. E que cada um tenha cuidado para que não seja também tentado […]   cada um examine o que está fazendo”. Em outras palavras, no processo de aconselhar biblicamente – ou seja, no ministério de conversar, restaurar e levar as cargas uns dos outros –, pratique o autoaconselhamento. Verifique seu próprio coração para garantir que sua vida esteja coerente com o que você ensina (cf. Mt 7.3-5; 1Tm 4.16).

O que significa essa coerência? Como um conselheiro bíblico deve viver?
Paulo expressou a Timóteo como ele deveria disciplinar a si mesmo para exercer o ministério do evangelho. Ele lhe deu uma lista de áreas a serem consideradas para atuar bem no ministério, embora fosse ainda jovem: “Ninguém o despreze por você ser jovem; pelo contrário, seja um exemplo para os fiéis, na palavra, na conduta, no amor, na fé, na pureza” (1Tm 4.12).

Paulo desafiou Timóteo a viver de tal maneira que ninguém tivesse motivo algum para desprezá-lo por ele ser jovem, mas que ele fosse um exemplo para os crentes. Ele descreveu cinco diferentes aspectos do viver cristão:

  • Palavra: refere-se ao que dizemos. Cada crente deve considerar cuidadosamente seu suas palavras para ver se elas honram o Senhor, edificam os outros e promovem a graça (Ef 4.29-32).
  • Conduta: refere-se ao que fazemos. Como você vive no cotidiano? Sua conduta reflete um estilo de vida santo e justo (Fp 1.27)?
  • Amor: refere-se a como servimos. Amar como Cristo significa amar as pessoas com um serviço sacrificial que deseja fazer a vontade de Deus acima de qualquer outra coisa (Mt 22.37-39).
  • : refere-se a como vivemos . A responsabilidade de um seguidor de Cristo é ser encontrado fiel (1Co 4.2). A exemplo de Paulo, o alvo de todo crente deve ser terminar a corrida e manter a fé (2Tm 4.7).
  • Pureza: refere-se àquilo que queremos. Paulo termina sua lista com uma exortação para verificar os desejos do nosso coração. A pureza sexual é parte de sua preocupação, mas não a totalidade. A pureza de coração está na essência de toda a sabedoria (Tg 3.17). 

Perguntas para refletir
Você reconhece o peso do seu papel no processo de aconselhamento bíblico?
O seu coração e a sua vida refletem as qualidades de Cristo?
Quando os aconselhados observam a sua vida, o seu testemunho reflete o poder do Espírito Santo e a suficiência da Palavra de Deus?


Kevin Carson atua como pastor da Sonrise Baptist Church em Ozark, Missouri, e também como professor e chefe do departamento de aconselhamento bíblico no Baptist Bible College and Theological Seminary em Springfield, além de ensinar em outras instituições teológicas. Ele completou o mestrado no Baptist Bible Graduate School, em Springfield, e o doutorado em ministério no Westminster Theological Seminary. É certificado pela ACBC, onde atua também no ensino e treinamento de conselheiros.



Original: The Need and Imperative of Self-Counsel
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition. Traduzido com autorização.
Tradução e adaptação: Conexão Conselho Bíblico