Stephen Yuille
Todos meditam. Será? Sim. Nossa mente está constantemente pensando em algo. Infelizmente, muitos de nós permitimos que ela vague de maneira perigosa pelo reino dos pensamentos sedutores, dos pensamentos que desanimam, pensamentos que distraem, pensamentos preocupantes e outros mais. O que realmente precisamos é de meditação bíblica, por meio da qual fixamos nossa mente inquieta na Palavra de Deus para que ela governe nossa vida.
A natureza da meditação
Meditar biblicamente não é apenas ler ou estudar as Escrituras, mas é pensar e refletir sobre a Palavra de Deus para que ela capture nosso coração. Em outras palavras, o objetivo não é preencher o cérebro, é atingir o coração.
É importante que conheçamos a diferença entre saber com o cérebro (conhecimento conceitual ou teórico) e saber com o coração (conhecimento volitivo e prático). Muitos de nós falhamos em preencher a lacuna entre o cérebro e o coração, e por isso a necessidade da meditação bíblica. À medida que, pacientemente, imergimos o sachê de chá para que seu sabor penetre na água quente, assim também mergulhamos na Palavra de Deus para que ela penetre em nós. Relembramos as verdades de Deus, refletimos seriamente sobre elas e as aplicamos em nossa vida.
Como meditar?
A água é naturalmente fria, porém o fogo a aquece, levando-a a ferver. Da mesma maneira, nosso coração é naturalmente frio, mas a meditação bíblica o aquece, levando-o a ferver de amor por Deus.
Novamente, a meditação não é uma mera leitura ou estudo da Palavra, mas uma leitura e estudo com propósito. Quando meditamos na Palavra de Deus, nós a digerimos; isto é, nós relembramos suas verdades e ponderamos sobre elas até que fiquem gravadas em nosso coração.
Temos aqui uma estratégia simples:
- Orar pedindo a bênção de Deus: “Abre os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua lei” (Sl 119.18).
- Ler as Escrituras, seguindo um plano de leitura diário.
- Selecionar uma verdade que se destaca na leitura: algo relacionado aos atributos de Deus, à obra e às promessas de Deus, às obra e ao caráter de Cristo, e assim por diante.
- Fazer duas perguntas simples (extraídas do Breve Catecismo de Westminster, pergunta 3): O que devo crer em relação a Deus? Qual a resposta que Deus espera de mim?
- Aplicar essas respostas à vida diária: Como estou vivendo? O que eu tenho feito? O que eu preciso para mudar?
- Decidir agir de acordo com a verdade de Deus: O que eu vou mudar de hoje em diante? Como vou viver de hoje em diante?
- Orar pedindo a ajuda de Deus: “Inclina o meu coração para os teus estatutos” (Sl 119.36).
Esse é um método simples, mas é um bom ponto de partida. Ao trabalharmos nesses passos, meditamos sobre as verdades da Palavra de Deus e elas atingem três principais componentes do coração. Em primeiro lugar, ponderamos sobre a Palavra de Deus na nossa mente, voltando nossos pensamentos aos assuntos presentes nas Escrituras.
Em segundo lugar, fazemos com que essas verdades marquem nossas emoções. Se retirarmos a caneca de água do fogo antes dela ferver, a água esfriará rapidamente. Da mesma forma, se deixarmos de meditar nas Escrituras antes que as emoções estejam totalmente comprometidas com a verdade, nosso ardor diminuirá rapidamente. A meditação bíblica suscita três principais benefícios: pensamentos sobre o poder de Deus, que produzem temor a Deus; pensamentos sobre a sabedoria de Deus, que produzem fé em Deus, e pensamentos sobre a bondade de Deus, que produzem amor a Deus.
Em terceiro lugar, expressamos a verdade da Palavra de Deus por meio da vontade. Quando o nosso amor está posto em Deus, nosso coração funciona corretamente. Como resultado, encontramos alegria em Deus, direção na Sua Palavra, anseios por santidade como Deus é santo, e esperança em Suas promessas.
O fruto da meditação
Chegamos ao fruto da meditação bíblica: a obediência. Ao lutarmos contra o pecado, enfrentamos um dilema constante. Ele surge do nosso conhecimento de duas verdades. A primeira é que o pecado oferece sensações boas, e a segunda é que o pecado desagrada a Deus. Quando somos tentados, agimos de acordo com uma dessas duas verdades. Qual delas? A resposta é determinada por qual delas nos parece mais atraente naquele momento específico. Por essa razão, grande parte da nossa responsabilidade na santificação é a busca por tornar o pecado cada vez menos atraente para nós. Fazemos isso por meio da meditação nas Escrituras. Ela abre o caminho entre o cérebro e o coração para que o Espírito Santo faça grandes mudanças em nossas afeições. Ele cultiva o amor por Deus, fazendo com que o pecado se torne algo repugnante para nós.
Isso significa que a meditação bíblica tem um poder transformador (Ef 4.23; Fp 4.8). Ela cultiva o conhecimento, a nossa apreensão intelectual. Ela também cultiva o discernimento, a aplicação prática para nossa vida. Ela aprofunda o arrependimento, encoraja a mortificação, inflama a devoção, produz maturidade, conforta e produz alegria e ação de graças.
Conclusão
Qualquer coisa que controle nosso coração controlará nossa vida. Por essa razão, devemos procurar estar “nutridos com as verdades da fé e da boa doutrina” (1Tm 4.6). Metaforicamente, a expressão “nutrido” significa digerir internamente. O verbo no original grego é um particípio presente, indicando um processo contínuo. Em resumo, devemos nos alimentar continuamente da Palavra de Deus. A meditação bíblica é como o processo de digestão. Nós não nos limitamos a colocar a comida em nossa boca, pois ela não nos faz bem se não a engolirmos e digerirmos. Da mesma forma, não continuamos a colocar a Palavra de Deus em nossa vida sem digeri-la. Devemos fazer com que ela seja assimilada, porque todo conhecimento serve a um propósito: a transformação de vida.
Stephen Yuille atua como vice-presidente acadêmico no Heritage College & Seminary, Cambridge, Ontário. Ele também atua como professor associado de Espiritualidade Bíblica no Southern Baptist Theological Seminary, Louisville, KY.
Original: The Lost Art of Bible Meditation
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition. Traduzido com autorização.
Tradução: Ana Clara Milani Eugênio
Revisão e adaptação: Conexão Conselho Bíblico