Kevin Carson
A resposta é “Não, mas sim”!
Preciso explicar. No mundo dos conselhos sobre como se relacionar com os outros no dia a dia, muitas vezes as pessoas recebem conselhos para perdoar. Há várias razões pelas quais você pode ser é incentivado a perdoar como, por exemplo, liberdade e cura interior, benefícios para você e sua saúde física. Sem dúvida, existem muitas razões pelas quais alguém pode querer perdoar. Entretanto, o maior motivo para um discípulo de Cristo perdoar é cumprir um ato de obediência a Deus motivado pelo amor de Cristo (2Co 5.14).
O que significa perdoar?
Perdoar é abrir mão do direito de se vingar de uma ofensa, liberar o ofensor das suas garras e apagar o registro do erro em seu coração, ou seja, não o levantar mais contra a outra pessoa. Todo perdão deve basear-se no perdão que Deus nos concede (Ef 4.32; Cl 3.13). Quando Deus nos perdoa, Ele remove nossa dívida pelas transgressões (Is 43.25) e não mais retém nossos pecados contra nós (Hb 8.12; 10.17).
Como Deus perdoa?
Se devemos perdoar como Deus em Cristo nos perdoa, a pergunta a ser considerada é: “Como Deus perdoa?”. Nossa pergunta inicial assume, então, a seguinte forma: “Existem ocasiões nas quais Deus nos perdoa quando não pedimos perdão?”. Em poucas palavras, a resposta é não. Entretanto, por meio da cruz de Cristo, Deus se colocou em uma atitude de perdão para com todos nós.
Se você quiser receber o perdão de Deus, basta lhe pedir perdão. Deus não perdoa sem que antes a pessoa vá a Ele para solicitar o perdão (At 10.43; Rm 3.23-26; Rm 10.9 ; cf. At 2.38 ). Isso é verdadeiro inicialmente, quando reconhecemos nossa pecaminosidade e buscamos o perdão dos nossos pecados, o que chamamos de salvação. Isso também é verdadeiro quando, após a salvação, vamos a Deus em busca de Seu perdão para nossos pecados diários ( 1Jo 1.9).
A qualquer momento, o coração de Deus para com o pecador é um coração disposto a perdoar. Ele deseja perdoar. No entanto, o pecador não é perdoado até que ele peça perdão. Aquele que morrer em seu pecado, sem nunca ter pedido perdão a Deus, enfrentará a punição eterna — não porque Deus não se predispôs a perdoar por meio de Cristo e Seu sacrifício na cruz, mas porque aquela pessoa nunca pediu perdão pessoalmente. A atitude de Deus é de perdão; no entanto, o perdão nunca foi pedido e concedido.
A atitude de perdão
Jesus disse: “E, quando estiverem orando, se tiverem alguma coisa contra alguém, perdoem, para que o Pai de vocês, que está nos céus, perdoe as ofensas de vocês” (Mc 11.25). Jesus chama o indivíduo que está orando a que perdoe quem pecou contra ele. Esse texto pressupõe que a pessoa que cometeu a ofensa não esteja presente naquele momento. O texto não manda interromper a oração, levantar-se e ir dizer ao ofensor que você o perdoou. Consequentemente, Jesus está falando aqui sobre uma atitude de perdão ou uma disposição em seu coração.
Se alguém pecou contra você, e você estiver orando, você deve ser certificar de que o seu coração tem uma atitude de perdão para com aquela pessoa. Essa atitude é algo que Deus requer mesmo que o ofensor não tenha assumido a responsabilidade pelo pecado cometido nem tenha pedido perdão. A sua atitude de perdão para com a outra pessoa independe de um pedido de perdão ou do reconhecimento da ofensa por parte da pessoa.
Como isso é possível? Essencialmente, com humildade, o cristão compromete-se diante de Deus a estar pronto para comunicar seu perdão se e quando o ofensor pedir perdão. Esse compromisso significa que o discípulo de Cristo desiste de guardar ressentimento, inimizade, amargura e desejo de vingança. Em oração, ele promete diante de Deus que, com base na obra de Cristo na cruz e no perdão dos pecados que Ele lhe concedeu, ele aplicará para com a outra pessoa a misericórdia que Deus demonstrou. Ao fazer isso, ele adota uma atitude de perdão. Assim como Deus está pronto para perdoar o pecador que for a Ele, a pessoa ofendida está pronta para perdoar a pessoa que também for a ele.
O perdão pedido é concedido
Jesus também ensinou que conceder o perdão está condicionado a uma solicitação. Ele disse: “Tenham cuidado. Se o seu irmão pecar, repreenda-o; se ele se arrepender, perdoe-lhe” (Lc 17.3). Existem duas ações aqui. A primeira é repreender o ofensor. Por que é necessário repreendê-lo? Essa conversa permite que o ofensor reconheça o pecado cometido e peça perdão a Deus e àqueles a quem ele ofendeu. Em seguida, se o ofensor se arrepender, o ofendido deve conceder perdão. O perdão é pedido e só então é comunicado, ou seja, concedido em palavras ao ofensor.
Isso é semelhante a como Deus nos perdoa em Cristo. Quando o pecador que necessita de salvação vai a Deus e se arrepende do próprio pecado, Deus o perdoa. Quando o discípulo de Cristo também vai a Deus e pede perdão pelos pecados diários que comete (1Jo 1.9), Deus também é sempre fiel e justo para perdoar os pecados e purificar de toda a injustiça. Visto que Deus está sempre pronto a receber o pecador com uma atitude de perdão, Ele é sempre fiel e justo em conceder o perdão quando solicitado. O mesmo vale para cada um de nós. Como já decidimos ter em nosso coração uma atitude de perdão, quando o ofensor chegar até nós e pedir perdão, ele nos encontra prontos para atender fielmente ao pedido e comunicar o perdão. Isso se parece com a passar do bastão entre os corredores de uma corrida de revezamento: o ofensor e o ofendido transferem entre si a ofensa e o perdão pela ofensa. Ambas as partes estão cientes disso e cumprem seu papel naquele momento.
O perdão em dois passos
Perdoamos em nosso coração o ofensor assumindo um compromisso diante de Deus. Prometemos perdoar, embora nem sempre sem lutas, para termos esta atitude em nosso coração. Isso deve ser feito rapidamente após uma ofensa. Dessa maneira, podemos dizer que temos um coração perdoador para com a pessoa e a ofensa que ela cometeu.
Quando nosso coração está firme em sua atitude de perdão, o passo seguinte é abordar a pessoa e confrontá-la sobre a ofensa. O objetivo é dar à pessoa a oportunidade de reconhecer seu pecado e pedir perdão a Deus e a nós. Quando a pessoa nos pede perdão, nós o concedemos verbalmente. Há uma “transação” que ocorre entre ofensor e ofendido – uma entrega da ofensa confessada, por parte de um, e da misericórdia concedida, por parte do outro. Nesse momento, podemos dizer que o perdão se completou.
Resumindo
Devemos perdoar como Deus nos perdoa. Esse perdão é uma “transação” de Sua misericórdia por nossa ofensa sempre que pedimos perdão. Até irmos a Ele com nosso pedido, Deus está pronto para nos perdoar. De maneira semelhante, devemos perdoar e conceder o perdão aos outros. Quando alguém pecar contra nós, devemos ter em nosso coração uma disposição imediata de perdoar o ofensor – a atitude de perdão. No momento em que o ofensor solicitar nosso perdão, devemos lhe oferecer esse perdão com base nas misericórdias que Deus concedeu por meio de Cristo – o perdão pedido é concedido.
Voltando à pergunta inicial, podemos perdoar alguém que não pediu perdão? A resposta é “não” – a “transação” do perdão só é possível quando o perdão é pedido e concedido. Mas a resposta também é “sim” — você pode cultivar de uma atitude de perdão, ou um espírito de perdão, para com essa pessoa. Mesmo que o ofensor não desfrute das bênçãos de um relacionamento restaurado pelo perdão, você ainda pode desfrutar das bênçãos de Deus por lhe obedecer e ser uma pessoa que perdoa.
Original: Can you forgive someone who does not ask?
Artigo publicado por Kevin Carson