Pureza pra quem, pra quê?!

Julyana Neris

Fazer ou não fazer sexo antes do casamento. Talvez esse seja um dos temas mais comentados nas rodas de adolescentes e jovens cristãos. Em algumas famílias cristãs, é comum que pais de adolescentes presenteiem suas filhas e, até mesmo filhos, com um anel ou algum outro objeto que fique como símbolo da abstinência sexual até o casamento. Desde pequenas, muitas meninas são ensinadas a se guardarem para o marido. Mas será que sabemos o que de fato significa ser puro? E será que a pureza está ligada somente ao período pré-matrimonial e se restringe somente ao universo feminino?

O plano de Deus

Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é. Todo aquele que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro (1 Jo 3.2, 3).

A pureza é o desejo do Senhor para todos nós. Homens, mulheres, casados ou solteiros, “todo aquele que nele tem esta esperança” deve buscar a purificação todos os dias. O desejo de nos afastarmos do pecado está muito mais ligado ao amor que temos pelo Senhor do que à pessoa com quem iremos nos casar. Nesse sentido, ser puro está ligado a estar limpo diante de Deus, sem mácula. A pureza, então, envolve muito mais do que apenas não fazer sexo antes do casamento. Ela aponta para o quanto você está disposto a renunciar seus pecados, sejam eles na área sexual ou não.

Ser fisicamente abstinente não é a mesma coisa que ser moralmente puro. Pureza moral é uma questão do coração. Se o coração não for puro, o corpo não será mantido puro por muito tempo. […] o relacionamento em que há abstinência física honra automaticamente a Deus? Não. Uma pessoa pode ter um conjunto de alvos idólatras para um relacionamento e ainda sim ser fisicamente abstinente! [1]

O nosso plano 
Agora que já sabemos que a pureza envolve muito mais do que viver em castidade, por que ainda precisamos falar sobre imoralidade sexual? A verdade é que embora haja inúmeros artigos sobre o tema, e pensemos que já sabemos tudo sobre o assunto de nos preservar sexualmente, continuamos pecando nessa área.

Entre vocês [nós] não deve haver nem sequer menção de imoralidade sexual como também de nenhuma espécie de impureza e de cobiça; pois essas coisas não são próprias para os santos. Não haja obscenidade, nem conversas tolas, nem gracejos imorais, que são inconvenientes, mas, ao invés disso, ações de graças (Ef 5.3, 4).

Deus nos dá esta ordem, mas nós continuamos a insistir em que não há nada de mal em ver filmes, acompanhar séries, ouvir músicas, ler livros e participar de conversas que tratem desse assunto de forma diferente dos princípios que Deus estabeleceu para o sexo, seja abertamente ou mesmo de maneira sutil. Quando começamos a negociar aquilo que consideramos “coisas pequenas” para nossa pureza, e nos entretemos com elas na mídia, o passo seguinte é negociar a própria prática de tais coisas em nossa vida.

Os pecados que afrontam a pureza são muitos e todos precisam ser identificados e tratados com a mesma seriedade. No entanto, infelizmente, a imoralidade sexual é muito comum no meio cristão. A questão é: por que tal um pecado é tão comum entre cristãos quando a Bíblia diz claramente “fujam da imoralidade sexual. Todos os outros pecados que alguém comete, fora do corpo os comete; mas quem peca sexualmente, peca contra o seu próprio corpo” (1 Co 6.18)?

Acredito que um dos grandes motivos seja a nossa incredulidade. Deus nos oferece um plano perfeito e nos diz exatamente o que devemos fazer, mas no fundo não acreditamos que aquilo que Ele propõe seja tão bom assim. Preferimos seguir o nosso plano, mesmo que ele não venha com nenhuma garantia. Preferimos escutar nosso lado carnal que nos incentiva a ceder àquilo que nos faz sentir bem e, muitas vezes, nem insistimos em lutar para permanecer no Espírito porque isso nem sempre nos gratifica imediatamente. Acabamos nos esquecendo de que nossa satisfação deve estar em Cristo e revelamos, assim, o que realmente está em nosso coração: “Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração” (Mt 6.21).

Este deve ser o nosso plano: “Cada um saiba controlar o seu próprio corpo de maneira santa e honrosa, não dominado pela paixão de desejos desenfreados, como os pagãos que desconhecem a Deus. Neste assunto, ninguém prejudique seu irmão nem dele se aproveite” (1Ts. 4.4-8).

Erros de percurso no relacionamento
Vários jovens cristãos têm dificuldade em zelar por um relacionamento livre da imoralidade. Quando digo imoralidade, não me refiro apenas ao ato sexual, mas a carícias, conversas, entretenimentos, pensamentos que certamente desagradam a Deus. Afinal, o que você busca em sua vida: satisfazer a você mesmo ou ao Senhor? Creio que essa é uma questão para se pensar e que deve ser trazida à tona frequentemente como autoavaliação.

Muitas vezes nós nos esquecemos de que o plano de Deus é realmente o melhor e só nos damos conta disso quando já poderíamos ter evitado pecar e sofrer as consequências do pecado. Quando preferimos seguir o nosso próprio caminho, sem Deus, cometemos um erro de percurso seguido de mais outros erros que se tornam cada vez mais recorrentes.

Quando penso nas dificuldades que os casais cristãos enfrentam para não cederem a carícias em seu relacionamento, e eu também já passei por isso, penso em alguns erros que podem contribuir para aumentar tal dificuldade.

— Pensar que o jovem crente não é suscetível ao pecado
Qualquer um pode cair em pecado na área sexual, desde o adolescente até ao dirigente do louvor, e você não está isento. Quanto mais alertas estiver, mais cuidadoso você será. Além disso, os solteiros precisam estar atentos, pois a maneira como se lida com isso hoje poderá ecoar no relacionamento futuro.

Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia! (1 Co 10.12).

— Não depender de Deus
Quando o jovem percebe que as carícias estão aumentando e a tentação só cresce, geralmente pensa: “eu consigo lidar com isso, na próxima não vou deixar extrapolar”. Pensam que podem resolver sozinhos, mas a verdade é que não conseguem. Não ache que você conseguirá lutar contra o pecado com suas próprias forças. Dependa de Deus, mantenha a comunhão com Ele em oração e mediante seu tempo diário na Bíblia.

Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento; reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas. Não seja sábio aos seus próprios olhos; tema o Senhor e evite o mal (Pv 3.5-7).

— Não colocar limites
O  jovem pode acreditar que saber o que é pecado ou não o fará recuar quando necessário, e não coloca barreiras tangíveis. Ter limites ficam definidos desestimula a pecar. A comunicação sincera e aberta é essencial para se estabelecer esses limites, pontuando possíveis áreas fracas. Cada casal tem uma maneira diferente de lidar com isso, uns são adeptos da corte, outros não. O importante que é se o contato físico que vocês têm admitido agrada ou não a Deus.

Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus (1 Co 10.31).

— Achar que o jovem já é independente e autossuficiente
É fácil esquecer que na fase do namoro o jovem ainda está debaixo da autoridade dos pais. É preciso prestar contas às autoridades, inclusive sobre o andamento do namoro. Além disso, ter amigos de prestação de contas, crentes tementes a Deus e maduros na fé, também é uma boa maneira de evitar o pecado. Somos corpo e precisamos da ajuda uns dos outros para sermos cada dia mais santos.

Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz (Tg 5.16).

Voltar à rota certa
Precisamos analisar se algum desses erros de percurso pode estar nos impedido de ter um relacionamento totalmente agradável a Deus. O empenho pela pureza do casal deve ser prezado por ambos. Se você perceber em seu namorado ou sua namorada uma tendência para negociar os princípios propostos pelas Escrituras, fique alerta e lembre-se de que um relacionamento deve estar pautado primeiramente no amor de cada um a Deus (Mt 22.37).

Tenha em mente que a imoralidade sexual no namoro, mesmo que “pequena coisa”, pode abrir portas para que a infidelidade aconteça depois no seu casamento: “Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito, e quem é desonesto no pouco, também é desonesto no muito” (Lc 16.10).

Pode ser que você tenha em algum momento negociado algum aspecto da pureza ou, até mesmo, chegado a cair na imoralidade sexual. Independentemente de qual for o pecado cometido, é preciso reajustar o foco e voltar para a rota proposta por Cristo. Somente Ele é capaz de nos tornar santos e nos redimir do pecado: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.9).

Negar ou omitir o erro só o fará continuar na antiga rota sem saída. É preciso avaliar o coração e confessar os pecados. Pior do que negociar a sua pureza é não admitir que você precisa tratar o seu pecado com confissão e mudança.

Quem esconde os seus pecados não prospera, mas quem os confessa e os abandona encontra misericórdia. Como é feliz o homem constante no temor do Senhor! Mas quem endurece o coração cairá na desgraça (Pv 28.13, 14).

Confessar e mudar
Depois de pedir perdão àqueles contra quem o pecado foi cometido – sempre a Deus e, conforme o caso, a outra pessoa – o Senhor nos incita a deixar nosso erro e buscar novos hábitos. O que fizemos fica para trás, perdoado, e devemos seguir em frente. Precisamos lutar, com a ajuda de Cristo, contra aquilo que nos faz pecar. Ore pedindo a ajuda de Deus e pense em maneiras práticas de fugir do pecado diariamente.

Independentemente do que você já fez, Cristo tem o poder de o tornar puro novamente! Ao entender que o que Ele tem para você é realmente o melhor, viver conforme Ele deseja e desfrutar o que Ele tem preparado para você será sua maior motivação.

Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas (2 Co 5.17).

[1] ¹ TRIPP, Paul David. “O Caminho do Sábio. Coletâneas de Aconselhamento Bíblico. v.4 p.93.

Julyana Neris foi aluna do Curso de Liderança e Discipulado (CLD) da Organização Palavra da Vida, e é formada em jornalismo.


Artigo publicado originalmente em Jovem Crente. Material republicado com autorização.