Quando os pais se separam

Felipe Nunes

Hoje vamos falar de um assunto delicado, mas que muitos jovens têm enfrentado. Alguns podem achar normal, outros não, mas todos sofrem em alguma proporção. Separação – ela nunca é fácil! Seja por morte, por distância ou desentendimento,  seja de um amigo, namorado, colegas de turma, ou familiares. Ela sempre deixa marcas.

Pelo fato de que a união conjugal é a união mais forte dentre todas durante a vida aqui na terra, a separação entre marido e esposa é possivelmente a mais difícil de encarar. Quando envolve também os filhos, é particularmente dura. Meu propósito aqui é encorajar os filhos que lidaram ou lidam com isso a entender que, mesmo que o divórcio não seja o propósito de Deus para uma união a dois, ele pode trazer amadurecimento aos filhos e a certeza de que, por mais difícil que seja essa separação, Deus é o único capaz de nos dar forças para passar por tudo que a envolve. Podemos ter a certeza de que Ele cuida, zela e conforta Seus filhos e nos ajuda com nossos questionamentos em todos os momentos.

Por que isso aconteceu com meus pais?
Desde a entrada do pecado no mundo, os relacionamentos foram deturpados, inclusive o relacionamento entre marido e esposa, afetando profundamente o casamento. Além disso, somos parte de uma geração em que a construção da realidade do casamento é muito suscetível a frustrações, pois crescemos ouvindo que o importante é ser feliz. Essa realidade está presente, principalmente, em lares que não se renderam a Cristo e não vivem a transformação que o evangelho causa na esfera individual, como marido e esposa no relacionamento pessoal com Deus, e na esfera dos relacionamentos familiares interpessoais – marido, esposa e filhos. Sem uma vida conjugal obediente a Deus e centrada em Cristo, casamento não tem garantia nenhuma de ser bem-sucedido. Este é o plano de Deus:

Mulheres, sujeitem-se a seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, que é o seu corpo, do qual ele é o Salvador. Assim como a igreja está sujeita a Cristo, também as mulheres estejam em tudo sujeitas a seus maridos. Maridos, amem suas mulheres, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, e apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável. Da mesma forma, os maridos devem amar as suas mulheres como a seus próprios corpos. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo. Além do mais, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo, antes o alimenta e dele cuida, como também Cristo faz com a igreja, pois somos membros do seu corpo. “Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne” (Ef 5.22-31)

Como posso perdoar meus pais?
Minha história familiar é marcada por dor, sofrimento e separação. Passei por tudo isso no momento mais crítico da minha vida: durante a adolescência, quando necessitava de alicerces sólidos. Mesmo já frequentando a igreja, eu não conseguia entender o que levara meus pais àquela decisão e muito menos sentia vontade de perdoar. O que passava pela minha cabeça era: “Por que eles fizeram isso comigo, com a nossa família, como eles tiveram coragem?!”. Mas foi então que, ao começar a compreender a riqueza do evangelho, eu percebi que Deus me dava força e poderia me conceder sabedoria e maturidade, mesmo sendo ainda tão novo, em um momento como esse. A Palavra de Deus confrontava meu coração dizendo:

Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou. (Cl 3.13).

Graças a Deus, literalmente, hoje posso dizer que não guardo mágoa ou rancor dos meus pais, mas oro por eles, na certeza de que Deus está mais interessado do que eu em restaurar aquele relacionamento quebrado. Mais do que isso, Deus me deu a oportunidade de poder começar uma história nova e diferente. Não porque sou bom ou melhor do que eles, mas sim porque aceitei as minhas limitações e me rendi a Cristo, sabendo que Ele é capaz de transformar a minha vida em todas as áreas, inclusive a união com minha esposa.

Como posso fazer diferente?
Deus, em Sua eterna graça, tem poder para converter histórias de filhos feridos pelo divórcio em uma vida a dois perpétua e feliz. A história dos seus pais não é a sua! A Bíblia deixa claro que não existe maldição hereditária. O texto de Jeremias 31.29-31 fala sobre isso:

Naqueles dias não se dirá mais: “Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se mancharam”. Ao contrário, cada um morrerá por causa do seu próprio pecado. Os dentes de todo aquele que comer uvas verdes se mancharão. “Estão chegando os dias’” declara o Senhor, “quando farei uma nova aliança com a comunidade de Israel e com a comunidade de Judá”.

Os erros dos seus pais influenciam a sua história, porém eles não determinam quem você é e será. Pelo contrário, Jeremias enfatiza a responsabilidade individual pelo pecado. O Senhor nos dá oportunidades de termos relacionamentos diferentes daqueles que marcaram negativamente a história de nossos pais ou pessoas próximas. O Senhor nos incentiva a uma história diferente, agradável a Ele e dentro daquilo que Ele deseja para nós como Seus filhos.

Voltando à minha história, os conflitos familiares vividos me fizeram desejar e lutar por um namoro e um casamento diferentes. Com uma história permeada pela intervenção de Cristo, ele me fez amadurecer e confiar que, nele, minha vida e meu casamento poderiam ter um propósito e um rumo diferentes.

Sem dúvida, esse é um sentimento que o Senhor desperta em nosso coração em alinhamento com o que Ele tem para nossa vida. O evangelho é um convite à mudança e transformação da nossa história e o texto de Romanos 12.1-2 aponta-nos essa verdade:

Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês. Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

Esse é o lindo convite que o evangelho nos faz: experimentar a boa, perfeita e agradável vontade de Deus e não as mesmas frustrações que nossos pais viveram.

O evangelho me convidou e convida hoje você a começar uma nova história, com relacionamentos ressignificados e solidificados em Cristo. Temo tudo o que precisamos para que isso aconteça, conforme afirma 2Pedro 1.3 nos afirma:

Seu divino poder nos deu todas as coisas de que necessitamos para a vida e para a piedade, por meio do pleno conhecimento daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude.

Temos tudo para poder, de forma corajosa e ousada, começar sem medo uma caminhada de namoro rumo ao casamento. E este é o meu encorajamento para você: apegue-se ao evangelho de Cristo e à nova história que Ele quer que você viva pela Sua graça, deixando para trás as feridas e frustrações que você viveu até aqui na família. Continue a orar por seus pais, e ore para que você viva sempre pela graça e poder de Deus, que nos ajuda a vencer o pecado.


Felipe Nunes foi aluno do Curso de Liderança e Discipulado (CLD) e do curso Teológico Ministerial (TM) da Organização Palavra da Vida. É casado com Rhayana, e atua como pastor de adolescentes e jovens na Comunidade Batista de Moema em São Paulo (SP) e como professor no CLD.


Artigo publicado originalmente em Jovem Crente. Material republicado com autorização.