Quando os relacionamentos deixam marcas

Giovana Teixeira Reimer

Ninguém começa um namoro com a expectativa de um dia terminar. A intenção de um casal de cristãos ao iniciar um relacionamento é, ou pelo menos deveria ser, caminhar rumo ao casamento. Contudo, nem todos os namoros têm esse desfecho. Por mais que se trate de crentes comprometidos e que buscam a Deus, devido aos mais variados motivos, um casal de namorados pode chegar à conclusão de que é melhor colocar um fim na relação.

Por vezes, um término pode ser bastante doloroso e traumático, e muitos de nós já passamos ou passaremos por esse momento difícil. Por esse motivo, é importante aprender a lidar com as marcas deixadas pelos relacionamentos passados e não permitir que elas influenciem e interfiram em futuros relacionamentos.

Relacionamentos passados
Existe uma série de razões pelas quais um namoro pode acabar. As pessoas, geralmente, entram num relacionamento procurando encontrar amor, carinho, segurança, companheirismo, compromisso, intimidade e ajuda. Contudo, conforme o casal começa a se conhecer de maneira mais profunda, os pecados começam a se tornar cada vez mais evidentes. Imagine dois pecadores num processo de aprender a lidar com os próprios pecados e com os pecados do outro. Não é uma tarefa fácil!

Existem questões de caráter e padrões de comportamento que podem desqualificar para o casamento. A menos que possam ser adequadamente tratadas durante o namoro, chega o momento de terminar o relacionamento. Há grandes chances de que uma ou mesmo ambas as partes saiam machucadas e amarguradas por terem tido suas expectativas frustradas com relação ao namoro e casamento. No entanto, isso não anula a graça de Deus para com você.

Independentemente das falhas que houve em seu relacionamento, com toda a certeza, Deus não falhou em nenhum momento. Deus nunca o abandonou, e ele nunca o abandonará. Os propósitos de Deus são maiores que os erros cometidos por você e contra você.

Deus ama o casamento e sua frustração não muda esse fato
Podemos encontrar na Bíblia diversos versículos que mostram que Deus parece querer que a maioria de nós se case.

Então o Senhor Deus declarou: “Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda” (Gn 2.18).
Quem encontra uma esposa encontra algo excelente; recebeu uma bênção do Senho (Pv 18.22).
Mas, por causa da imoralidade, cada um deve ter sua esposa, e cada mulher o seu próprio marido (1Co 7.2).

O casamento foi criado por Deus, e a relação do marido para com sua esposa é a expressão mais próxima da relação entre Cristo e a Igreja:

Maridos, ame cada um a sua mulher, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se por ela (Ef 5.25).

O namoro é o caminho pela qual se chega ao casamento. Não importa quão negativas foram suas experiências nessa área, apegue-se ao que a Palavra de Deus diz, e não permita que aquilo que você viveu num namoro anterior deturpe sua visão sobre o relacionamento conjugal.

A cura do problema: o perdão
Estudei durante um ano no Cursos de Liderança e Discipulado da Palavra da Vida. Durante uma das aulas de Vida Cristã, foi dada a seguinte definição para perdão:

“Perdão é o reconhecimento de que existiu uma ofensa cometida primeiramente contra Deus e uma decisão de lidar com ela em obediência a uma ordem, com base naquilo que Deus já concedeu e me concede continuamente em Cristo, independentemente do merecimento por parte do ofensor, comprometendo-me a não me vingar e a não guardar e levantar registro de ofensas.”

Levar mágoas de relacionamentos passados para relacionamentos futuros revela um coração amargo e não perdoador. Quando realmente percebemos o tamanho da dívida que temos para com Deus, todas as ofensas que pessoas comentem contra nós, embora reais e difíceis, diminuem em comparação.

Pois se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará. Mas se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não lhes perdoará as ofensas (Mt 6.14, 15).

Por meio da morte de Jesus na cruz, fomos reconciliados com o Pai. Tivemos todos os nossos pecados perdoados, aqueles que já cometemos e os que ainda cometeremos.

Se pela transgressão de um só a morte reinou por meio dele, muito mais aqueles que recebem de Deus a imensa provisão da graça e a dádiva da justiça reinarão em vida por meio de um único homem, Jesus Cristo. Consequentemente, assim como uma só transgressão resultou na condenação de todos os homens, assim também um só ato de justiça resultou na justificação que traz vida a todos os homens (Rm 5.17-18).

Essa verdade deve produzir em nós um coração que confia em Deus e desfruta da paz que excede todo entendimento. Mesmo em situações difíceis, como lidar com um término e a dor de um namoro, Deus pode ajudá-lo a experimentar paz, perdão e alegria.

E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus (Fp 4.7).

Em Romanos 8.28, Paulo afirma que “Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam”. Em seu livro “Más lembranças”, Robert Jones pontua algo bastante importante:

“Deus não quer remover suas lembranças; Ele quer redimi-las. Ele quer transformá-las em algo bom, algo que o fará mais semelhante a Jesus. Você percebe a esperança que essa abordagem oferece aos cristãos? Suas más lembranças de pecados passados – mesmo os piores deles – podem ser oportunidades para crescimento e transformação de vida”. [1] (grifo original)

A cruz de Cristo é a certeza de que as experiências difíceis pela quais você passou têm um propósito maior de aprendizagem para a vida. Deus pode redimir sua maneira de encarar o passado, dando-lhe a perspectiva dele a respeito da sua história de vida.

Relacionamentos futuros: aprendendo com os erros
Perdoar e deixar para trás as ofensas, frustrações e situações doloridas vividas em relacionamentos passados não significa que você não pode aprender com seus erros e os erros de outros. As suas experiências podem incentivá-lo a não cometer os mesmos erros nas escolhas relativa ao namoro e casamento, a imitar bons exemplos e estar mais atento a áreas em que você não prestou tanta atenção antes.

Algo importante a ressaltar é que ter passado por um término de namoro o coloca diante de uma verdade que você não deve esquecer: pode ser que seu atual ou futuro namorado ou namorada não venha a se tornar seu cônjuge. Não cometa o erro de agir no namoro como se você tivesse essa certeza, que na verdade não tem.

Volto  primeira frase desse artigo: `ninguém começa um namoro na esperança de um dia terminar. Entretanto, grande parte dos marcas e mágoas deixadas por relacionamentos malsucedidos são consequência da falta de pureza no namoro. Os padrões de santidade que a Bíblia apresenta não são limitações sem sentido ou propósito, mas fruto do cuidado de Deus para conosco. Um namoro santo e que agrada a Deus não garante que o relacionamento culminará em casamento, mas garante que em um eventual rompimento, ambas as partes estarão com a consciência limpa diante de Deus.

A vontade de Deus é que vocês sejam santificados: abstenham-se da imoralidade sexual. Cada um saiba controlar o próprio corpo de maneira santa e honrosa, não dominado pela paixão de desejos desenfreados, como os pagãos que desconhecem a Deus. Neste assunto, ninguém prejudique seu irmão nem dele se aproveite (1Ts 4.3-6a).


 [1] JONES, Robert. Más lembranças: superando o seu passado. São Paulo: Nutra, 2010, p. 8.



Giovana Teixeira Reimer é formada em arquitetura e urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Foi aluna do Curso de Liderança e Discipulado (CLD) da Organização Palavra da Vida.


Artigo publicado originalmente em Jovem Crente. Material republicado com autorização.