Amando as pessoas que são difíceis de amar

Brenda Pauken

Por natureza, o aconselhamento bíblico conecta-nos a pessoas que não estão em seu melhor momento, pessoas cuja vida foi tocada pelo pecado e sofrimento, e que estão lutando com isso. Como conselheiros, somos chamados muitas vezes a amar e cuidar de pessoas que nos apresentam desafios específicos. Pode ser alguém com uma personalidade bem diferente da nossa ou alguém que se encontra no caos do vício. Pode ser um aconselhado intensamente carente e exigente, que se mostra frequentemente desapontado com nosso cuidado, poucas vezes envolvido de verdade com o aconselhamento ou particularmente lento para mudar. Como podemos estar melhor equipados para perseverar no amor com aquelas pessoas que são difíceis de amar?

Peguei-me fazendo essa pergunta com relação a uma aconselhada com necessidades tremendamente complexas. A situação em que essa aconselhada se encontrava era médica e financeiramente complicada, além de que ela tinha um histórico de abuso profundo e extenso. Todas as pessoas que ela vinha a conhecer passavam por uma avaliação rigorosa quanto à confiabilidade, como era de se esperar, e aquelas que passavam no teste eram arrastadas para o que muitas vezes parecia ser um buraco negro de carência. Com o tempo, a exaustão começava a se infiltrar entre aqueles que se achegaram a ela, pois um rápido “Oi, como você está?”  transformava-se frequentemente em uma conversa de horas de duração. Qualquer tentativa de limitar uma interação era recebida com desapontamento ou ira. O desejo que esse grupo de pessoas tinha de ajudá-la e cuidar dela era substituído, às vezes, pelo desejo de evitá-la ou por culpa, o que eu também experimentei algumas vezes.

Ainda assim, a Palavra de Deus nos chama a ir aos outros em amor, como Deus mesmo faz. Isso nos relembra que amamos porque Ele nos amou primeiro (1Jo 4.19) e que Jesus sacrificou Sua própria vida pelos pecadores (Rm 5. 8). O amor conduz a transformação. Portanto, quando estamos lutando para amar como devemos amar, é preciso recalibrar nossa abordagem. Nosso chamado para amar as pessoas difíceis de satisfazer e que se mostram cronicamente necessitadas de atenção força-nos a voltar aos fundamentos do amor e do cuidado, que podem ter sido toldados pela pressão do aconselhado sobre nós e pelas suas dificuldades que passaram a representar um desafio para nós.

O que você precisa lembrar
-1- Todos os conselheiros têm fraquezas e limitações por natureza. Isso está dentro dos desígnios de Deus. Não somos capazes de atender a todas as necessidades, em todos os momentos, nem somos chamados a tanto. Ao respeitar nossas próprias limitações, evitamos o esgotamento e o ressentimento em relação ao aconselhado, e o aconselhado aprende a evitar a dependência excessiva de nós conselheiros. Nossas limitações também podem restringir o número de pessoas que podemos ajudar em dado momento.

-2- Todos os conselheiros são também pecadores, e não estão acima daqueles a quem servem. Embora de maneiras talvez diferentes, nós também somos difíceis de amar e servir, e as pessoas queridas em nosso círculo de relacionamentos podem bem dizê-lo. Precisamos do mesmo Salvador, precisamos do mesmo evangelho do qual nossos aconselhados precisam.

-3- Deus é soberano sobre cada pessoa necessitada que Ele permite entrar em nossa vida. Portanto, Ele nos dá graça e a força para cuidar de maneira sábia do aconselhado difícil, enquanto Ele usa esse mesmo aconselhado para revelar nosso próprio coração com seus pecados e tentações.

-4- O amor requer nosso tempo e disposição. As necessidades raramente surgem nas horas mais convenientes ou em doses administráveis. Amar alguém é abraçar o imprevisto e o sacrifício.

-5- Jesus é o único Messias. Não importa o quão bem ou mal amamos e cuidamos dos outros, somente Jesus pode realizar a verdadeira mudança, quebrantar e redimir os duros de coração.

O que você precisa fazer
-1- Examine seu coração e se arrependa. De que forma você precisa do Evangelho para abandonar a ira, a impaciência, o egoísmo ou o desejo de ser o messias do seu aconselhado?

-2- Seja honesto com seu aconselhado sobre o que você pode e não pode fazer. Embora sejamos chamados a amar de maneira sacrificial, Deus também nos deu outras responsabilidades e necessidades, inclusive a de descansar para nos revigorar. As explicações claras e amáveis ​​ajudam a lidar com o aconselhado a lidar com o desapontamento e impedem que nós recorramos de forma pecaminosa à desonestidade ou a alguma estratégia para despistar a pessoa.

-3- Reúna uma equipe de auxiliares. Os aconselhados com maiores necessidades precisam da ajuda de várias pessoas que podem contribuir com diferentes habilidades e tempo disponível para atender às diversas necessidades. Identifique e treine pessoas que possam auxiliá-lo para oferecer ao aconselhado um cuidado mais abrangente.

-4- Vá a Cristo e beba abundantemente da Água Viva para poder ministrar bem e com sabedoria. Nós cuidamos dos outros não em nossa própria força e sabedoria, mas em nossa fraqueza, por meio do poder de Cristo que opera em nós (2Co 12.9). Não permita que o ministério roube seu tempo diário na Palavra de Deus e em oração.

-5- Relembre regularmente seu aconselhado de que toda ajuda, em última análise, vem de Jesus, o verdadeiro Salvador, cuja ajuda é ilimitada. Ele é Aquele que nunca cochila nem dorme (Sl 121. 4), que é dono de toda a criação (Sl 50) e nos faz andar em novidade de vida (Rm 6.4). É muito fácil para um aconselhado fixar seus olhos na ajuda que vem de pessoas e perder de vista o próprio Cristo.

Perguntas para refletir
-1- Que tipo de aconselhado você acha especialmente difícil de amar? Que padrões de pecado e tentação você enfrenta ao ministrar a esses aconselhados?

-2- Como Deus está usando seu relacionamento com um aconselhado difícil para conformar tanto ele quanto você à imagem de Cristo?


Brenda Pauken concluiu o mestrado em aconselhamento bíblico no Westminster Theological Seminary e o programa de estágio na Christian Counseling and Educational Foundation. Ela aconselha e ensina em sua igreja local, Sterling Park Baptist Church, em Sterling, Virginia. 


Original: Loving the Hard to Love
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition
Tradução e adaptação: Conexão Conselho Bíblico
Usado com permissão.