Filhos pródigos: Sete recomendações para os pais

Robert Jones

“Horrorizada. Traída. Envergonhada. Irada. Desonrada. Sentindo-me inútil. Triste. Desesperada.” Essas foram as palavras que minha amiga Jill usou quando soube que sua querida filha de 20 anos de idade estava envolvida em um relacionamento pecaminoso.

Esses adjetivos capturam a experiência de muitos pais e mães cujos filhos abandonaram a educação cristã recebida. Talvez seu filho tenha seguido um caminho irresponsável de autonomia, que resultou em vícios, dívidas ou desemprego. Talvez o estilo de vida de sua filha pareça estável, com amizades saudáveis ​​e uma carreira promissora, mas ela ainda está perdida, “sem Cristo, […] não tendo esperança e sem Deus no mundo” (Ef 2.12).

Embora possamos multiplicar os cenários, todos eles compartilham o mesmo tema: duas pessoas que amamos –  nosso filho e nosso Salvador – estão separadas uma da outra. Muita angústia surge quando uma filha ou um filho querido afasta-se de Cristo.

Pais, Deus promete ajudá-los a lidar com essas dificuldades e a navegar nessas águas turbulentas. Vamos considerar sete recomendações com base na Palavra de Deus.

1- Deus compreende a sua aflição – fale com Ele.
Começando com Adão e Eva, a história de Israel registra uma narrativa longa e recorrente de ocasiões em que o povo afastou-se de Deus. Em uma demonstração comovente de Seus sentimentos paternos em Oséias 11, Deus lamenta a apostasia resoluta de Israel: “O meu povo é inclinado a rebelar-se contra mim” (v. 7). A resposta de Deus? Sofrimento. “Como poderia eu abandoná-lo, Efraim? Como poderia entregá-lo, Israel? […] Meu coração se comove dentro de mim; toda a minha compaixão se manifesta” (v. 8). Deus decide, então, reter Sua justa ira (v. 9). O amor santo de Deus implica o não abandono de Seus filhos e filhas rebeldes. No entanto, é um amor misturado com angústia em Seu próprio coração.

Vemos o mesmo coração revelado em Jesus quando Ele chorou pela descrença de Jerusalém e lamentou sua rejeição a Ele (cf. Lc 19. 41, 42; Mt 23.37).

Esses vislumbres da angústia do coração do Pai e também do Filho convidam-no a compartilhar sua luta com Ele. “Confie nele em todo tempo, ó povo; derrame diante dele o seu coração. Deus é o nosso refúgio” (Sl 62.8). Você pode abrir o seu coração com Deus porque Ele entende a sua angústia.

2- Encontre sua força, segurança e identidade em Deus, não na paternidade.
Creia e descanse na soberania, sabedoria e bondade de Deus. Considere o Salmo 27.10 – “Ainda que me abandonem pai e mãe, o Senhor me acolherá” – que fala no abandono pelos pais. No seu caso, não são seus pais que o rejeitaram, mas seu filho ou sua filha. Mesmo quando nossos filhos rejeitam nossos valores cristãos e se afastam de nós, Deus nos acolhe. O cuidado de Deus consola na rejeição.

Considere agora o Salmos 46.1, 2: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações. Portanto, não temeremos, ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio dos mares”. Descobrir que seu filho abandonou a Cristo pode se parecer com um terremoto. Você precisa do poder sempre presente de Deus para ajudá-lo a lidar com isso.

3- Faça distinção entre as suas responsabilidades e as responsabilidades de seu filho.
Os pais que tomam Provérbios 22.6 como uma garantia absoluta de sucesso na criação dos filhos, mas não como um provérbio, presumem que sua falha como pais fez com que os filhos não seguissem o Senhor. A Bíblia discorda; você não é responsável perante Deus pela caminhada de seu filho com Ele. Em Isaías 1.2, Deus declarou: “Criei filhos e os fiz crescer, mas eles se revoltaram contra mim”. Deus não falhou como Pai, causando a rebelião de Seus filhos. Embora sejamos responsáveis por nossa atividade como pais – por exemplo, devemos instruir, disciplinar e ser modelos –, nós não podemos controlar os resultados. Isso é entre nossos filhos e Deus. Você não é responsável pelas decisões de sua filha ou de seu filho pródigo.

4- Procure amar humildemente e comunicar-se com seu filho descrente.
Humildade não significa concordar com as escolhas pecaminosas de seu filho; você não deve mudar sua bússola moral. Humildade significa ouvir seu filho sem rejeitá-lo ou ridicularizá-lo, e perguntar bondosamente sobre seu comportamento e sua visão de mundo, visto que a raiz do problema está na descrença, desobediência e recusa em temer a Deus e se submeter a Ele (veja, por exemplo, Rm 1.18-32). Humildade significa também expressar suas crenças sobre Deus de maneira graciosa e humilde. Esse equilíbrio permite que você preserve o relacionamento com seu filho sem comprometer suas convicções bíblicas nem apagar seu desejo ardente de que ele siga a Jesus.

5- Se você for casado, trabalhe para se manter unido com seu cônjuge.
Os cônjuges podem responder de maneira diferente ao filho pródigo, e esta provação pode polarizar seu casamento. Um dos cônjuges pode desaprovar fortemente e responder com ira; o outro pode procurar apoiar o filho, chegando perto de aprovar suas escolhas ímpias. Como acontece com qualquer problema familiar, a provação oferece uma oportunidade para o crescimento do relacionamento conjugal ou do conflito conjugal.

6- Conecte-se com sua igreja local para receber apoio e conselhos sábios.[1]
Conte seu problema aos pastores e a dois ou três outros membros maduros na fé e atenciosos. É provável que vocês não sejam os únicos pais com filhos adultos rebeldes. Vocês precisam do apoio espiritual e emocional que o Senhor deseja dar por meio do Seu corpo, por meio de irmãos e irmãs que seguem o mandamento bíblico: “Alegrem-se com os que se alegram e chorem com os que choram” (Rm. 12.15; cf. 1 Cor. 12:26). Não esperem que os outros entrem em contato com vocês; vocês também têm a responsabilidade de buscar ajuda.

Você precisa de que sua igreja reafirme também o que a Bíblia ensina, para não sucumbir a qualquer pressão de seu filho para mudar sua teologia e aceitar seu estilo de vida contrário à Bíblia. Além disso, é provável que você tenha que enfrentar muitas decisões práticas e difíceis – por exemplo, você deve deixar seu filho rebelde morar em sua casa, ou você deve comparecer ao casamento de sua filha com alguém do mesmo sexo? Você precisa de orientação bíblica segura vinda de pastores sábios, conselheiros bíblicos e outros pais que enfrentaram desafios semelhantes e encontraram ajuda oportuna do Senhor.

7- Entregue seu filho a Deus, submeta a Deus seus desejos legítimos, e ore.
Entregar um filho pródigo a Deus significa submeter a Ele o seu desejo de ter certeza da salvação de seu filho. Embora seja inegavelmente um desejo bom, ele pode rapidamente se tornar excessivo – uma exigência ou ídolo que, por sua vez, controlará e cegará você. Em vez disso, você deve colocar sua esperança somente no que Deus prometeu. Por mais difícil que seja de aceitar, não temos garantia de que os filhos pródigos se voltarão para o Senhor ou se arrependerão de seu caminho pecaminoso. Apesar de uma profissão de fé feita no passado, não temos nenhuma garantia bíblica de que eles pertencem realmente a Jesus se não há evidência de que eles seguem a Jesus no presente (cf. Jo 10.27, 28; Mt 7.13-27; Jo 6.66; 8.30-44; Tg 2.12-26; Hb 3.12-14; 1Jo 2.5-6, 19).

O que podemos fazer é orar, pedindo a Deus que trabalhe diretamente nos corações e traga influências tementes a Deus na vida dos filhos pródigos – amigos, colegas de trabalho, vizinhos – que podem desafiá-los a se voltarem para Jesus. Pedimos até mesmo que Deus permita providencialmente circunstâncias difíceis em seus caminhos se isso puder levá-los a buscar o Senhor. No entanto, devemos também pedir a Deus que nos ensine o contentamento, mesmo que um filho pródigo nunca se volte para Ele. Nunca devemos colocar nossa esperança final em algo que Deus não garantiu em Sua Palavra.[2]

Perguntas para refletir
1- Qual desses sete conselhos bíblicos você mais precisa seguir? Quais são os mais difíceis de seguir?

2- Você compartilhou sua luta com os pastores de sua igreja e com irmãos ou irmãs maduros na fé? Mostre-lhes este artigo e peça-lhes que orem por você, encorajem e orientem você sobre como lidar com suas dificuldades como pai e mãe de um filho pródigo.


[1] Supondo que seja uma igreja que crê na Bíblia, e que pratica o cuidado pastoral e mútuo centrado em Cristo. Se não for seu caso, procure uma igreja nesses moldes.
[2] Este artigo foi adaptado em parte de um livreto do autor, Prodigal children: hope and help for parents  (Phillipsburg, NJ: 2018).


Robert Jones é professor de aconselhamento bíblico no The Southern Baptist Theological Seminary em Louisville, KY. Anteriormente, serviu por 12 anos no Southeastern Baptist Theological Seminary e por 19 anos na Open Door Church, em Raleigh, como pastor. Ele também atua como professor visitante em vários seminários nos Estados Unidos e no Brasil. Robert Jones formou-se no The King’s College, na Trinity Evangelical Divinity School (M.Div.), no Westminster Theological Seminary (D.Min.) e na University of South Africa (D.Theol.). Ele é membro da Association of Certified Biblical Counselors (ACBC), e certificado pelo Peacemaker Ministries, além de autor de Ira: arrancando o mal pela raiz e Em busca da paz: princípios bíblicos para lidar com conflitos e restaurar relacionamento quebrados, e de vários livretos publicados pela editora Nutra Publicações.



Original: Seven Recommendations for Parents of Prodigal Children
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition
Tradução: Carla Silva
Revisão e adaptação: Conexão Conselho Bíblico
Usado com permissão.