Filhos pródigos: Por que alguns filhos tornam-se pródigos?

Jim Newheiser

Os pais de filhos pródigos passam muitas horas agonizantes, perguntando a si mesmos: “Por que meu filho se rebelou? Será porque fui um péssimo pai? Será porque meu filho se juntou aos colegas errados?” Às vezes, podem até perguntar a Deus: “Por que o Senhor não faz algo para trazer meu filho de volta?”

O problema dos filhos rebeldes não é algo novo. Os primeiros pais, Adão e Eva, tiveram um filho rebelde, Caim, que se afastou deles e de Deus quando assassinou seu irmão. Nos milhares de anos desde então, muitos pais compartilharam a dor que o primeiro casal deve ter sentido. Embora as Escrituras não ofereçam uma fórmula para que você possa ter seu filho pródigo de volta, a Palavra de Deus explica por que os filhos tomam esse caminho. As Escrituras também dão esperança aos pais de filhos pródigos.

1- Os pais influenciam seus filhos
As instruções bíblicas para os pais estão resumidas em Efésios 6.4: “Vocês, pais, não provoquem os seus filhos à ira, mas tratem de criá-los na disciplina e na admoestação do Senhor”.  As Escrituras oferecem a esperança de que Deus abençoa a paternidade fiel: “Corrija o seu filho, e você terá descanso; ele será um prazer para a sua alma”(Pv 29.17). A Palavra de Deus também avisa que uma má educação dada pelos pais pode influenciar negativamente nossos filhos (cf. Pv 19.18; 13.24). Eli contribuiu para a ruína de seus filhos porque os honrou acima de Deus (cf. 1Sm 2.9). A Bíblia diz a respeito de um dos filhos rebeldes de Davi: “Seu pai jamais o tinha contrariado, dizendo: ‘Por que você fez isso ou aquilo?’” (1Rs 1.6).

2- A influência dos pais não é determinante
Muitos pais estão procurando uma fórmula ou método para que possam garantir que seus filhos darão certo na vida. A realidade é que criar filhos não é como fazer um bolo, não há como seguir uma receita com atenção e obter o resultado desejado. Você poderia perguntar o que fazer, então, com Provérbios 22.6: “Ensine a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se desviará dele”. Os Provérbios não são promessas incondicionais. Eles são máximas, ou seja, declarações gerais de sabedoria. Por exemplo, Provérbios 10.4 diz sabiamente: “Quem trabalha com a mão ociosa fica pobre, mas o que trabalha com diligência enriquece”. Em geral, é verdade que quem trabalha muito tem mais dinheiro do que quem é preguiçoso. O fato de que alguns preguiçosos ocasionalmente ganham na loteria não invalida o princípio da sabedoria. Da mesma forma, em geral, é verdade que os pais fiéis são abençoados, mas há outros fatores envolvidos em como nossos filhos se desenvolvem.

3- Nossos filhos serão expostos a outras influências
O livro de Provérbios descreve as influências ímpias que buscam atrair nossos filhos à medida que eles se aproximam da idade adulta. A sabedoria adverte o jovem a ter cuidado com aqueles “que abandonam as veredas da retidão, para andarem pelos caminhos das trevas” (Pv 2.13) e com “a [mulher] estranha que lisonjeia com palavras” (Pv 2.16). Não importa o quanto os pais procurem proteger seus filhos do mal, é inevitável que eles sejam expostos à tentação e tenham que fazer sua própria escolha entre o caminho da sabedoria divina, como lhes foi ensinado por seus pais, e o caminho do mundo. Os primeiros nove capítulos de Provérbios imploram a um jovem adulto que faça a escolha certa. Em Provérbios 9, a Sabedoria e a Loucura são personificadas como duas mulheres que convidam o jovem para um banquete, mas apenas um dos convites pode ser aceito.

4- Nossos filhos farão escolhas que não podemos controlar
Quando nossos filhos são ainda pequenos, exercemos muito controle sobre eles. Determinamos o que comem, com quem podem brincar, quando é hora de ir para a cama, e outras coisas mais. À medida que crescem, continuamos a exercer algum controle sobre eles, pelo menos externamente, sobre o uso da mídia, a mesada, a educação, o primeiro smartphone e assim por diante. À medida que crescem, porém, nós não podemos controlar seu coração: o que eles creem, amam e odeiam. Quando se tornarem adultos, suas escolhas refletirão o que está em seu coração.

5- Nossos filhos são responsáveis ​​pelas escolhas que fazem
Qual é a diferença entre Caim e Abel? Eles foram criados pelos mesmos pais tementes a Deus. Eles cresceram em um mundo sem muitas das más influências às quais nossos filhos estão sujeitos. No entanto, cada um teve que escolher entre o caminho da sabedoria de Deus e o caminho da loucura do mundo. O próprio Senhor aconselhou Caim, que se recusou a ouvir e escolheu o caminho da inveja e do ódio assassino (Gn 4.6, 7).

O princípio de que cada filho faz sua própria escolha é ensinado explicitamente em Ezequiel 18.5-18. Um pai justo, que guarda a lei de Deus (vv. 5-9), tem um filho que rejeita os caminhos de seu pai e vive desregrado (vv. 10-14). Finalmente, o filho perverso tem um filho que se afasta da maldade de seu pai e segue os caminhos justos de Deus (vv. 15-18). Vemos isso ilustrado também em todo o Antigo Testamento, especialmente entre os reis, onde observamos que homens justos frequentemente têm filhos maus e, às vezes, vice-versa. Jesus também advertiu que o evangelho dividiria as famílias por causa das escolhas feitas por cada pessoa: “Vocês pensam que vim para dar paz à terra? Eu afirmo a vocês que não; pelo contrário, vim para trazer divisão. Porque, daqui em diante, estarão cinco divididos numa casa: três contra dois e dois contra três. Estarão divididos: pai contra filho, filho contra pai; mãe contra filha, filha contra mãe” (Lc 12. 51-53a).

6- Dependemos da graça soberana de Deus para salvar nossos filhos
Não podemos salvar nossos filhos por meio de nossas boas obras da paternidade. Nossos filhos nascem com uma natureza pecaminosa e estão espiritualmente mortos (Sl 51.5; Ef 2.1-3). Separados da graça de Deus, o mundo e a carne são atraentes para eles, e a sabedoria de Deus parece-lhes insensatez (1Co 2.14). Mesmo se fôssemos pais perfeitos, sem a graça de Deus, nossos filhos ainda se rebelariam contra nós, assim como Caim rejeitou o conselho do Senhor. Mas nós não somos pais perfeitos. Se nossos filhos fossem uma lousa em branco, nossos erros como pais – egoísmo, ira, inconsistência, orgulho, entre outros —  fariam deles uma verdadeira bagunça. Embora seja bom nos esforçarmos para ser pais fiéis, somos totalmente dependentes de Deus para abrir os olhos cegos e quebrar os corações endurecidos. Mas a graça soberana de Deus também nos dá esperança. Não importa por quanto tempo e quão longe nossos filhos possam se afastar de Deus, Ele ainda é capaz de trazê-los à razão e atraí-los a Si. Isso deve manter todos os pais de joelhos.

Conclusão: aprendendo a amar um filho pródigo
A tão conhecida Parábola do Filho Pródigo traz aos pais cujos filhos são rebeldes uma esperança de que talvez um dia eles voltem para casa. A parábola também ilustra o grande amor de Deus por nós que, enquanto éramos ainda pecadores, enviou Seu Filho para morrer por nós para que pudéssemos ser resgatados (cf. Rm 5.8). À medida que crescermos na compreensão do amor de Deus por nós, seremos cada vez mais capazes de perseverar em amar aqueles filhos que arrebentaram nosso coração. Continuaremos a olhar para a estrada, na esperança de vê-los voltando para o Senhor e para nós!

Perguntas para refletir
1- Como você aconselharia os pais que se culpam por seu filho jovem rebelde?
2- Os líderes da igreja são sempre desqualificados se tiverem filhos rebeldes?
3- Como a igreja pode apoiar os pais de filhos pródigos?


Jim Newheiser é diretor do programa de aconselhamento cristão e professor associado de teologia pastoral no Reformed Theological Seminary em Charlotte, NC. Ele serviu no ministério pastoral por mais de trinta anos no sul da Califórnia e na Arábia Saudita, e atuou como diretor do Institute for Biblical Counseling and Discipleship (IBCD). Ele é membro do conselho da Association of Certified Biblical Counselors (ACBC) e está envolvido na prática do aconselhamento bíblico desde 1982.



Original: Why Do Some Children Become Prodigals?
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition
Tradução: Carla Silva
Revisão e adaptação: Conexão Conselho Bíblico
Usado com permissão.