Como reatar uma amizade após um conflito

Caroline Newheiser

Eu quase destruí o relacionamento com uma aconselhada. Quero compartilhar as lições que aprendi com meu erro e também um testemunho da graça de Deus que trouxe a reconciliação.

Todos nós valorizamos as amizades que se desenvolvem no contexto do aconselhamento. Assim como acontece com qualquer amizade cristã profunda, elas se baseiam no amor mútuo pelo Senhor e por Sua Palavra.  Frequentemente, quando um conselheiro caminha com um irmão em Cristo nas experiências mais difíceis de sua vida, formam-se laços que perduram para toda a vida. Essas amizades especiais podem ser prejudicadas por uma palavra insensível ou descuidada. O que um conselheiro pode aprender para evitar mal-entendidos, e como reparar os sentimentos feridos?

Encontrei-me numa situação de precisar restaurar uma amizade que poderia ter sido destruída por minhas palavras descuidadas. Essa amizade havia se desenvolvido nos encontros de aconselhamento alguns anos atrás. Minha amiga e eu nos tornamos próximas enquanto passávamos juntas por uma situação de vida dolorosa. A caixa de lenços foi passada algumas vezes entre nós duas e também uma conselheira em treinamento que observava o aconselhamento. Quando aquela série de encontros de aconselhamento terminou, eu deixei uma porta aberta, figurativa e literalmente, para que ela me ligasse quando precisasse conversar novamente.

Recentemente, recebi uma mensagem pedindo para conversarmos. Antes de termos a possibilidade de nos encontrar, compartilhei parte daquele texto com uma amiga em comum. Era algo que pensei ser de conhecimento público. Não me dei conta de que aquelas informações deveriam ser mantidas em sigilo. Mais tarde, descobri que minha querida amiga ficou magoada por eu ter informado a outra pessoa o conteúdo de sua mensagem. Eu fiquei arrasada. O temor de homens por não ter agradado minha amiga cresceu em meu coração. Tive medo de que ela não confiasse mais em mim e que nossa amizade estivesse irreparavelmente rompida. Aprendi algumas lições.

1- Aproxime-se da pessoa ofendida sem demora. Quando descobri que minha amiga estava ferida, meu marido pediu que eu ligasse para ela imediatamente. Eu me perguntei: “Devo mesmo ligar? Será que não vou apenas criar mais problemas? O que vou dizer?”. Eu sabia que Mateus 5.23, 24 aplicava-se àquela situação: “Portanto, se você estiver trazendo a sua oferta ao altar e lá se lembrar que o seu irmão tem alguma coisa contra você, deixe diante do altar a sua oferta e vá primeiro reconciliar-se com o seu irmão; e então volte e faça a sua oferta”. A necessidade de buscar a reconciliação é tão grande que precede a expressão de adoração a Deus. Percebi que deveria ligar para ela o mais rápido possível.

2- Fale pessoalmente, porque é o melhor método. Eu poderia ter enviado um e-mail ou uma mensagem de texto, mas sabia que a comunicação pessoal facilitaria o entendimento.[1] A interação que aconteceu em nossa conversa permitiu que ela ouvisse meu coração e me ajudou a compreender seus sentimentos. Entendi rapidamente por que as mensagens que enviei a impactaram. Eu não tinha compreendido sua perspectiva até que ela me explicou. A verdade contida em Provérbios 18.13 bateu na minha mente: “Responder antes de ouvir é tolice e vergonha”. Ambas seguimos o conselho de  Tiago 1.19: “Vocês sabem estas coisas, meus amados irmãos. Cada um esteja pronto para ouvir, mas seja tardio para falar e tardio para ficar irado”.

2- Presuma o melhor da outra pessoa. Eu sei que minha amiga é graciosa e pronta a perdoar. Filipenses 4.8 ensina-me a focar nas coisas que são dignas de louvor. Além disso, 1Coríntios 13.7 – “O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” – orienta-me a esperar uma boa reação. Na verdade, quando ela atendeu minha ligação, minha amiga disse imediatamente com uma risada: “Eu sei por que você está ligando”. Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, ela disse: “Eu a perdoo!”. Que alegria experimentar a reconciliação entre nós, sabendo que ela reflete a nossa reconciliação com o próprio Deus (2Co 5.18).

4- Seja humilde. Fiquei feliz em admitir minha culpa diante de minha amiga, mas sua resposta graciosa tornou tudo mais fácil. Experimentei a bênção de pedir e receber perdão. O Senhor realmente dá maior graça ao humilde. “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tg 4.6). Não erramos quando nos aproximamos uns dos outros com humildade.

Minha amiga também deu alguns passos por parte dela, o que tornou nossa reconciliação mais tranquila. Ela me disse que “procurou se acalmar” quando começou a ficar aborrecida comigo. Em outras palavras, ela lutou contra sua dor usando a verdade bíblica, ao invés de se guiar pelas suas emoções. Ela repetiu versículos bíblicos em voz alta. Isso a ajudou a segurar seus pensamentos (2Co 10.5). Ela também foi rápida em cobrir meu pecado em amor (Pv 19.11) e perdoou como havia sido perdoada por Deus (Ef 4.32).

Mais tarde, minha amiga me disse que lhe pareceu que Satanás estivesse tentando desencorajá-la, aproveitando-se desse mal-entendido para fazê-la crer que ela não poderia confiar em ninguém. Pareceu-lhe uma batalha espiritual tangível. O inimigo é mentiroso (Jo 8.44) e gosta de separar os crentes uns dos outros. Nosso relacionamento é uma ameaça para ele e seus planos constantes de levantar intrigas. Entretanto, Deus é bom. Minha amiga escreveu: “Louvado seja o Senhor porque o Espírito Santo estava falando a nós duas e que a porta para o pecado fechou-se rapidamente!”.

Concluindo, meu arrependimento por minhas palavras descuidadas transformou-se rapidamente em gratidão e amor por minha amiga. A experiência de conceder e receber perdão aproximou-nos ainda mais. Minha porta permanece aberta para o diálogo futuro. Felizmente, aprendi algumas lições importantes que vão melhorar meu aconselhamento e beneficiar outras pessoas.


[1] Veja o post Fale comigo, não me envie mensagens de texto, por Jim Newheiser.


Caroline Newheiser é coordenadora do aconselhamento de mulheres no Reformed Theological Seminary em Charlotte, na Carolina do Norte, onde seu marido, Jim Newheiser, é diretor do programa de aconselhamento cristão e professor. Ela é conselheira certificada pela Association of Certified Biblical Counselors (ACBC) e tem muitos anos de experiência aconselhando mulheres na igreja local. É coautora de When Words Matter Most: Speaking Truth with Grace to Those You Love.



Original: Reconciling Friendships After Conflict
Artigo publicado pela Association of Certified Biblical Counselors.  Traduzido com autorização.

Tradução de Carla Silva
Revisão e adaptação para o português por Conexão Conselho Bíblico