Fale comigo, não me envie mensagens de texto

Jim Newheiser

Certa vez, ouvi Sam Crabtree, autor de um dos meus livros favoritos Elogios que Edificam, dizer que havia pensado em escrever logo em seguida um volume intitulado “Confrontação que edifica”. Entretanto, se assim fizesse, ele disse que seria um livro muito mais longo, pois percebeu que corrigir as pessoas pode ser complicado. Jesus comparou o ato de corrigir alguém com tirar um cisco do olho da pessoa – um procedimento, no mínimo,  delicado (Mt 7.5). Corrigir e receber correção é sempre um assunto delicado. Nenhum de nós gosta que alguém cutuque seus olhos.

Quando o apóstolo Paulo escreveu sobre nosso dever de restaurar uns aos outros, ele também enfatizou a importância de como proceder para corrigir uns aos outros. “Irmãos, se alguém for surpreendido em alguma falta, vocês, que são espirituais, restaurem essa pessoa com espírito de brandura. E que cada um tenha cuidado para que não seja também tentado” (Gl 6.1). Paulo nos lembrou que o propósito da correção é a restauração de um irmão. Não vamos à pessoa para desabafar, mas para ajudá-la a carregar os seus fardos (Gl 6.2). Paulo nos lembrou que aqueles que corrigem devem ser “espirituais”, isto é, devem ser crentes que andam no Espírito (Gl 5.16ss). A maioria das correções ocorre de forma dolorosa, porque muitas pessoas evitam o confronto até acumularem ira a ponto de explodir (Gl 5:20). Isso geralmente resulta em uma resposta defensiva ou até mesmo em um contra-ataque da pessoa que está sendo admoestada. Confrontar movidos pelo Espírito significa sermos caracterizados por amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5.22, 23).

Acredito que a melhor maneira de oferecer uma admoestação com mansidão e amor é fazê-lo pessoalmente sempre que possível, de preferência frente a frente, ou pelo menos em um contexto em que a comunicação bidirecional imediata seja possível como em uma conversa por telefone ou uma videochamada. Jesus ensinou que se o seu irmão pecar contra você, você deve “ir” e repreendê-lo (Mt 18.15). Tenho visto muitos danos acontecerem quando a confrontação ocorre de forma impessoal, ou seja, por mensagens de texto ou e-mail.

Alguns de nós preferem escrever para a pessoa que precisa de correção porque isso lhes parece mais fácil de fazer. Podemos não estar confiantes em nossa capacidade de pensar rapidamente durante  uma conversa. Escrever nossos pensamentos pode nos ajudar a expressar com clareza nossas preocupações. Visto não gostarmos de conflitos, pode nos parecer mais seguro enviar um e-mail ou uma carta do que confrontar um irmão diretamente. No entanto, ainda estou convencido de que as desvantagens de admoestar por escrito são significativas e as vantagens resultantes de confrontar pessoalmente são enormes, por mais difícil que nos pareça ir à pessoa.

1- Na comunicação por escrito, podemos usar palavras duras e descuidadas que não usaríamos frente a frente, especialmente se estivermos exaltados ou irados.

2- Um encontro frente a frente permite uma comunicação mais profunda. Podemos mostrar amor, preocupação e cordialidade por meio do tom de voz e das expressões faciais. Quem está corrigindo pode ver como suas palavras impactam o irmão que recebe a correção, e pode responder com compaixão.

3- Um encontro frente a frente dá oportunidade para esclarecimento imediato de possíveis mal-entendidos. As palavras escritas podem ser facilmente mal interpretadas.

4- Você não consegue identificar o tom de voz numa mensagem de texto ou e-mail. Alguém pode querer adicionar um toque de humor a um texto sério, mas se o texto for lido no tom de voz errado, as palavras podem ter um efeito oposto ao pretendido. Alguém pode lhe escrever com um ânimo muito calmo, mas se você já estiver um pouco na defensiva, poderá ler aquelas palavras imaginando ouvir uma voz irritada e, consequentemente, interpretá-las mal. O tom de voz pode fazer toda a diferença, e o melhor é ouvir a voz ao vivo.

5- Se você acredita ser necessário colocar suas ideias por escrito, entregue pessoalmente o que escreveu ao mesmo tempo em que expressa as suas preocupações. Você pode também usar o que escreveu como notas para quando estiver conversando com a pessoa. Quando estiver de fato diante da pessoa, é bem possível que você descubra que pode suavizar o que escreveu.

6- Se você for realizar a “cirurgia ocular”, faça-a corretamente. Alguns podem alegar que muitas vezes é inconveniente marcar um encontro pessoal. Minha resposta seria que se existe um problema que é importante o suficiente para ser corrigido, é importante fazê-lo da melhor maneira possível, ou seja, com amor e face a face. Em vez de pensar no que é mais fácil para você, pense em qual seria a maneira mais bondosa e amável de abordar e restaurar seu irmão em Cristo.

Vários anos atrás, ouvi contar de um grupo de líderes espirituais que entrou num acordo de que se algum deles tivesse uma preocupação significativa com relação a outro, ou precisasse fazer uma admoestação, isso nunca seria feito por e-mail nem mensagem de texto, mas sempre pessoalmente. Acho que esta é uma abordagem sábia não apenas para os líderes da igreja, mas também para os familiares e amigos.

Tomei conhecimento de uma situação em que dois amigos cristãos expressaram suas discordâncias um com o outro por meio de uma troca de e-mails. Os e-mails geralmente consistiam em uma defesa da própria posição e um desafio ou ataque à opinião do outro. A cada interação, o relacionamento deteriorava-se mais. Finalmente, marcaram um encontro pessoal. Com uma hora de conversa, ao se encontrarem frente a frente, eles conseguiram reafirmar e restaurar sua amizade. Eles também foram capazes de se envolver em um diálogo proveitoso que lhes permitiu entender, respeitar e considerar melhor as posições um do outro. Estou convencido de que eles conseguiram melhores resultados nesse intervalo de uma hora do que poderiam ter conseguido com mais algumas dezenas de e-mails.

Para terminar, quero mostrar como devemos responder quando outros nos corrigem. Quando alguém vem me corrigir, repito mentalmente Provérbios 9.8: “Não repreenda o zombador, para que ele não odeie você; repreenda o sábio, e ele o amará”. Ao sermos corrigidos, frequentemente somos tentados a nos defender e contra-atacar a pessoa que está nos repreendendo. É fácil concentrar-se em como ela não está à altura do padrão que está estabelecendo para nós, ou como sua maneira de nos confrontar não condiz com o padrão bíblico. Em vez disso, devemos ouvir o que Deus pode querer nos dizer por meio daquela pessoa.

Portanto, se você acha que alguém precisa ser admoestado, considere falar com a pessoa frente a frente em vez de escrever. Por outro lado, minha oração é que Deus ajude aqueles de nós que são admoestados a responder como humildade, independentemente da abordagem, reconhecendo que não deve ser fácil para a pessoa aproximar-se de nós para nos confrontar.

Cada um de nós é um pecador que precisa de admoestação. Devemos ser gratos por ter amigos que nos amam o suficiente para nos ajudar. “Leais são as feridas feitas pelo que ama” (Pv 27.6).


Jim Newheiser é diretor do programa de aconselhamento cristão e professor no Reformed Theological Seminary em Charlotte, na Carolina do Norte. Ele é membro da diretoria da Association of Certified Biblical Counselors (ACBC).



Original: Talk to Me, Don’t Text Me
Artigo publicado pela Association of Certified Biblical Counselors.  Traduzido com autorização.

Tradução de Carla Silva
Revisão e adaptação para o português por Conexão Conselho Bíblico