O conselheiro impaciente

Dan Kirk

“Responder antes de ouvir é tolice e vergonha.
O coração do sábio adquire o conhecimento, e o ouvido dos sábios procura o saber.
O primeiro que pleiteia a sua causa parece justo, até que vem o outro e o examina” (Pv 18.13, 15 , 17)

Não é por acaso que paciência aparece na Bíblia como fruto do Espírito (Gl 5.22) e a primeira característica do amor bíblico (1Co 13.4). Desconsidere a paciência em seu aconselhamento e você pode, ao mesmo tempo, apagar o Espírito e sabotar o amor, dois dos meios de graça mais fundamentais para o aconselhamento. Quem seria descuidado a tal ponto? “O tolo”, diz Provérbios 18.

Conheça mais de perto o tolo, um homem que exibe descuidadamente a sua impaciência por meio da língua. Temos um primeiro vislumbre do tolo no versículo 13. Em vez de ouvir silenciosamente e aprender como o sábio, “antes de ouvir” ele já se deixa levar pelo impulso irresistível de atirar palavras de sua própria sabedoria improvisada. Neste versículo, a palavra “ouvir” merece nossa atenção. Ela significa “prestar muita atenção”.[1] Essa é precisamente a disciplina que o tolo, para sua vergonha, não consegue ter.

No aconselhamento, conforme vamos ilustrar, essa dinâmica infeliz pode ocasionalmente acontecer quando um cristão tenta ajudar alguém a resolver um problema. Num típico encontro de aconselhamento, o conselheiro teria o cuidado de “ouvir” e demoraria para oferecer conselho, mas naquele dia algo saiu errado. Talvez fosse o último encontro de aconselhamento do dia. Seu cérebro estava cansado, era tarde e aquele conselheiro preferia muito mais jantar com sua família a começar um encontro com um novo aconselhado que necessitava de seus cuidados. Qualquer que fosse sua motivação, inadvertidamente, ele iniciou aquela conversa com um espírito impaciente.

Tendo ouvido pouco e reunido dados insuficientes, ele interpretou ao acaso o problema de seu novo aconselhado e tirou conclusões prematuramente. Durante todo o tempo, ele – um conselheiro bíblico — permaneceu surdo aos fatos essenciais do caso e cego ao seu próprio erro. O resultado? Não foi sabedoria e conselho adequado, mas “tolice e vergonha”. O que é pior, a pessoa que recebeu aquele conselho provavelmente deixou o encontro não com esperança e palavras que a ajudariam, mas com um “espírito abatido” (Pv 18.14).

Vamos presumir bondosamente que tal falha no aconselhamento se deveu ao descuido ou cansaço. Ocasionalmente, porém, o conselheiro impaciente é motivado por impulsos de natureza mais sombria. Sonde mais profundamente o coração do conselheiro impaciente e você poderá descobrir um orgulho que se alimenta do desejo de impressionar os outros, em vez de glorificar Deus investindo na santificação de Seu povo. A ambição do tolo é ser honrado, mas ele cai na armadilha da própria presunção (Pv 18.7).

Mais adiante, no livro de Provérbios, ouvimos um eco dessa advertência em outro versículo: “Você viu alguém que é precipitado no falar? Há mais esperança para um tolo do que para ele” (Pv 29.20 ). Talvez essa preocupação seja o motivo pelo qual Derek Kidner fala em “uma armadilha especial do presunçoso”.[2] “Responder antes de ouvir”, diz Duane A. Garrett, “implica um espírito arrogante e, na verdade, rude”.[3]

Em contraste com o tolo, o autor desse conjunto de provérbios sugere que o sábio ouve pacientemente até adquirir todo o conhecimento necessário sobre o caso (v. 15) antes de dar um conselho. Mesmo assim, embora ele sinta que os dados coletados formam um conjunto precioso para a compreensão sobre o assunto, ele ainda procede com cautela porque, como todo conselheiro experiente pode atestar, mesmo um conselheiro com boas intenções pode, inadvertidamente, desconsiderar fragmentos importantes de conhecimento pertinentes ao caso. A Escritura adverte corretamente: “O primeiro que pleiteia a sua causa parece justo, até que vem o outro e o examina” (Pv 18.17). Sempre há mais informações a serem coletadas e algumas delas podem ser extremamente importantes.

Portanto, caro conselheiro, discipline-se para ser um ouvinte atencioso. Ame seus aconselhados ouvindo-os antes de falar. Resista ao impulso de tirar conclusões precipitadas. Reserve um tempo para coletar dados suficientes. Faça perguntas ao longo de cada encontro. Repita o que você acha que ouviu e peça uma confirmação para ter certeza de que você realmente entendeu.

Ouvir com paciência é o caminho do conselheiro sábio. Longe de colher “tolice e vergonha”, prejudicando o aconselhado, seu ministério poderá ser recebido como um fruto doce, que promove cura e comunica a mensagem do próprio Espírito de Deus.


[1] WALTKE, Bruce. Provérbios. São Paulo: Cultura Cristã, 2011. v. 1

[2] KIDNER, Derek. Provérbios: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1980.

[3] GARRETT, Duane A. Proverbs, Ecclesiastes, Song of Songs. Nashville: Broadman & Holman, 1993. The New American Commentary, vol. 14.


Dan Kirk pastoreia a Calvary Bible Church em Fort Worth, TX.



Original: The Impatient Counselor
Artigo publicado pela Association of Certified Biblical Counselors.  Traduzido com autorização.

Tradução de Carla Silva
Revisão e adaptação para o português por Conexão Conselho Bíblico