Robert Jones
Quando o assunto é ansiedade, temos muito a dizer. Poderíamos encher um artigo com mais de uma dúzia de razões pelas quais as pessoas podem estar ansiosas ou com medo neste mundo caído. Poderíamos gerar outro artigo detalhando as mais de uma dúzia de consequências negativas da nossa ansiedade. Em vez disso, vamos ouvir o que Deus tem a dizer.
Em 1Pedro 5.6, 7, Pedro abordou o problema da ansiedade e nos ajudou a lidar com ela de maneira que nos dá esperança e transforma nossa vida. Pedro escreveu:
Portanto, humilhem-se debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, os exalte. Lancem sobre ele todas as suas ansiedades, porque ele cuida de vocês.
Três verdades simples, mas profundas, emergem desse breve texto.
1- Em meio à nossa ansiedade, Deus nos chama a nos humilharmos diante dele
Pedro escreveu sua carta aos cristãos que estavam no exílio, crentes espalhados por todo o mundo romano (1Pe 1.2), que estavam sofrendo perseguição por sua fé no Senhor Jesus Cristo (1Pe 1.6; 4.12).
Quando olhamos o mundo ao nosso redor e as pressões diárias que nos consomem, percebemos, como os leitores de Pedro, o quão pouco podemos controlar nossa vida. Não podemos mudar a economia, o clima, o governo, nossa saúde ou nossos amigos e familiares. Não podemos fazer com que as pessoas ajam conforme nós queremos. Temos muito com que nos preocupar.
Por essa razão, a carta de Pedro nos chama ainda hoje a nos humilharmos diante de Deus. No versículo anterior, 1Pedro 5.5, ela nos exorta a nos humilharmos uns diante dos outros e nos lembra da profunda oposição de Deus ao orgulho. Mas no versículo 6, ao lidar com o problema da ansiedade, Pedro reconheceu que nada menos do que a submissão ao Senhor é que pode nos trazer ajuda e esperança.
2- A maneira de nos humilharmos em meio à nossa ansiedade é lançando-a sobre Deus
No versículo 7, Pedro falou sobre a ansiedade. Embora algumas vezes o Novo Testamento use o termo do grego merimna em sentido positivo para falar do cuidado/preocupação adequado que devemos ter uns pelos outros – por exemplo, 2Coríntios 12.28 e Filipenses 2.20)[1] – aqui, quando Pedro escreveu para leitores sofredores e os chamou a lançar sua ansiedade sobre o Senhor, a palavra carrega seu sentido negativo normal de preocupação ou ansiedade.
Enquanto a tradução para o português, que vimos acima, começa o versículo 7 com o imperativo “lancem”, no texto grego temos um particípio que modifica a ordem principal dada no do versículo 6 “humilhem-se”. Tom Schreiner esclareceu:
“O particípio […] explica como os crentes podem se humilhar sob a mão poderosa de Deus. […] Os crentes se humilham lançando sua ansiedade sobre Deus. Por outro lado, se os crentes continuam ansiosos, eles estão cedendo ao orgulho.”[2]
Em outras palavras, Pedro mostrou que a raiz da nossa ansiedade está em querermos depender de nós mesmos e na nossa autoconfiança.
Tom Schreiner prosseguiu:
“A ansiedade é uma forma de orgulho porque quando os crentes se deixam tomar pela ansiedade, eles estão convencidos de que devem resolver todos os problemas da vida com suas próprias forças. O único deus em que eles confiam são eles mesmos. Quando os crentes lançam sua ansiedade sobre Deus, eles expressam confiança em Sua poderosa mão, reconhecendo que Ele é o Senhor, o Soberano sobre toda a vida.”[3]
Os crentes combatem a ansiedade pela fé. Nós “lançamos” nossa ansiedade “jogando-a” sobre Deus. Pedro usou aqui o mesmo verbo que Lucas usou para contar que os discípulos “lançaram suas capas”, ou seja, jogaram suas capas sobre um jumentinho (Lc 19.35-NVI). Combater a ansiedade requer o ato concreto de entregar deliberadamente e com confiança nossas preocupações a Deus em oração.
Aqui, uma simples distinção faz uma grande diferença: entregamos ao Senhor as coisas que não podemos controlar e confiamos no Senhor para fazer o que Ele promete fazer. Não podemos e não devemos confiar que o Senhor faça aquilo que nós queremos que Ele faça. Ele não é nosso gênio da lâmpada; a fé bíblica confia das promessas de Deus, não em nossas expectativas. No entanto, podemos e devemos entregar em Suas mãos soberanas, sábias e amorosas os muitos detalhes da nossa vida que não podemos controlar. Vamos lançar sobre Deus nossa ansiedade e entregar em suas mãos os nossos problemas, os problemas de nossa família e amigos, confiando que Ele cuidará e fará o que Sua Palavra promete.
3- Deus nos convida a nos humilharmos e lançarmos nossa ansiedade sobre Ele por causa de quem Ele é e daquilo que Ele promete
Felizmente, a Palavra de Deus não vem a nós como uma ordem dura, mas ela nos persuade com promessas poderosas. Considere oito descrições do nosso Deus encontradas 1Pedro 5.6, 7 e no contexto imediato:
- Deus “dá graça”, ou seja, mostra seu favor àqueles que se humilham (v. 5). O chamado de Pedro no versículo 6 – “humilhem-se” – segue (repare no “portanto”) essa garantia bondosa e generosa.
- A mão de Deus é “poderosa” (v. 6a), poderosa o suficiente para lidar com as circunstâncias que nos deixam ansiosos.
- Deus promete nos “exaltar” no devido tempo – no tempo estabelecido por Ele – se nós nos humilharmos (v. 6b).
- Deus “cuida de nós” (v. 7). Observe que Pedro não diz que Deus se importa conosco porque lançamos nossa ansiedade sobre Ele. Não, é o contrário. O cuidado de Deus conosco precede nossas ações. Podemos lançar sobre Ele as nossas ansiedades porque ele já se importa conosco!
- Deus lembra que não estamos sozinhos. Outros crentes “estão passando por sofrimentos iguais” (v. 9; também 1Co 10.13, 14; 2Co 1.3-5).
- Deus é “o Deus de toda a graça, que em Cristo nos chamou à sua eterna glória” (v. 10a). Quaisquer que sejam as nossas pressões atuais, Deus graciosamente nos garante uma herança gloriosa (cf. 1.3-5).
- Deus nos aperfeiçoará, firmará, fortificará e fundamentará (10b). O Senhor está ansioso por nos acolher e Ele é capaz de carregar nossas ansiedades.
- O poder soberano de Deus reina “para sempre” (11). Os problemas com que nos preocupamos são de curta duração. O poder de Deus – sua poderosa mão (v.6) – nunca terá fim.
Conclusão
Quero encerrar com um resumo de uma de minhas alunas de pós-graduação em aconselhamento bíblico, descrevendo como usou 1 Pedro 5.5-11 para ajudar uma mulher ansiosa que ela aconselhou:
Abrimos a Bíblia em 1Pedro 5.5-11 para aprender que ela recebeu a ordem de se humilhar (deixar de buscar/exigir o controle e de nos preocupar com o futuro) debaixo da poderosa mão de Deus (Ele é digno de confiança), lançando todas as suas ansiedades sobre Deus (o meio/maneira pela qual ela pode se humilhar diante de Deus). A aconselhada quer o poder de controlar tudo o que acontece com ela e controlar suas respostas às circunstâncias, mas pertence a Deus (não à aconselhada] “o domínio para sempre”.
Observe sua compreensão cuidadosa da relação entre os versículos 6 e 7, sua compreensão das questões básicas de exigir controle e sua aplicação do contexto mais amplo, incluindo o versículo 11.
Amigos, certamente temos muito com que nos preocupar, mas temos muitas promessas de Deus em que confiar em 1Pedro 5 para combater nossa ansiedade.
Perguntas para reflexão
1. Como a distinção acima entre confiar e entregar o ajuda a lidar com áreas específicas de ansiedade?
2. Por que devemos procurar entender o significado não apenas de um ou dois versículos, mas também do contexto mais amplo?
[1] Rob Green, “Worry, Anxiety, and Fear,” in Robert D. Jones, Kristin L. Kellen, and Rob Green, The Gospel for Disordered Lives: An Introduction to Christ-Centered Biblical Counseling (Nashville: B&H Academic, 2021), 274; Robert D. Jones, Why Worry? Getting to the Heart of Your Anxiety (Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2018).
[2] Thomas R. Schreiner, 1, 2 Peter, Jude, vol. 37, New American Commentary (Broadman & Holman, 2003), 240.
[3] Ibid., 241.
Robert Jones é professor de aconselhamento bíblico no The Southern Baptist Theological Seminary em Louisville, KY. Ele também atua como professor visitante em vários seminários nos Estados Unidos e no Brasil. É formado pela Trinity Evangelical Divinity School (M.Div.), pelo Westminster Theological Seminary (D.Min.) e University of South Africa (D.Theol.). É membro da Association of Certified Biblical Counselors (ACBC), conselheiro certificado pelo Peacemaker Ministries e autor de vários livros já traduzidos para o português.
Original do artigo: Learning to Trust and Entrust: Fighting Anxiety with 1 Peter 5:6–7
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition. Traduzido com autorização.
Tradução: Carla Silva
Revisão e adaptação para o português por Conexão Conselho Bíblico
SUGESTÃO DE MATERIAL DO AUTOR SOBRE O TEMA

JONES, Robert. Por que se preocupar? Alcançando a raiz de sua ansiedade. São Paulo: Nutra, 2020. 36 p.
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Talvez nenhum outro problema perturbe mais pessoas do que a preocupação ou ansiedade. Ela pode surgir repentinamente e nos aborrecer diariamente. Ela suga o nosso sono, esgota nossa alegria, exaure nossa energia, nubla nosso raciocínio, arruína nossos relacionamentos e piora as indisposições do nosso corpo. Embora a preocupação seja crônica e incapacitante para alguns de nós, é uma importunação cotidiana para todos nós.

JONES, Robert. Quando os problemas surgem… Enxergando o amor transformador de Deus. São Paulo: Nutra, 2013. 30 p.
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Embora muitos fatores possam fazer um sofrimento perdurar, nada é mais importante do que saber que há um Deus soberano e bondoso atuando tanto para o seu bem como para a Sua glória. Ele está junto nas tribulações, está no controle e tem propósitos amorosos ao permitir que os problemas surjam. Deus está usando a sua luta para produzir algo proveitoso em você e através de você.

JONES, Robert. Aprendendo o contentamento em todas as circunstâncias. São Paulo: Nutra, 2010. 36 p.
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Deus faz uma poderosa promessa àqueles que pertencem a Jesus Cristo. Ele promete contentamento. O apóstolo Paulo descreve em Filipenses 4.11-13 seu testemunho pessoal. Mas o que é contentamento? Neste ensaio, Robert Jones oferece uma resposta a esta pergunta que é ao mesmo tempo biblicamente profunda e perfeitamente aplicável.