DEPENDÊNCIA EMOCIONAL ENTRE MULHERES
Caroline Newheiser
Deus nos criou como seres sociais. Vemos grupos de pessoas comendo juntas, caminhando juntas, divertindo-se juntas, conversando face a face ou pelo celular. Os laços entre as pessoas ficam evidentes em todos as situações. A Bíblia encoraja os cristãos à comunhão dentro do corpo de Cristo e enfatiza que pertencemos uns aos outros (Rm 12.5; 1Co 12.12-27). Esta comunhão é um sinal de uma igreja saudável.
O problema
Às vezes, os relacionamentos mais chegados entre mulheres transformam-se em idolatria pecaminosa. Uma mulher escolhe concentrar seu tempo e atenção em uma amiga em particular, e o relacionamento torna-se possessivo. A parte mais forte começa a controlar o comportamento da parte mais fraca, e o ciúme aparece quando o tempo é dividido com outras amigas. O relacionamento torna-se cada vez mais chegado e exclusivo. A proximidade pode ultrapassar os limites da pureza sexual. Um relacionamento afetivo transforma-se em uma obsessão.
Já aconselhei várias mulheres que saíram de situações semelhantes. Os rompimentos foram devastadores e dolorosos para elas, e resultaram em isolamento. Algumas se sentiram destinadas a não ter nunca mais amizades íntimas e saudáveis . Outras ouviram que sua vida tinha sido prejudicada para sempre por causa do relacionamento sexual distorcido. Como uma conselheira bíblica pode ajudar essas mulheres quando elas procuram conselho?
A BÍBLIA TEM AS RESPOSTAS
1. A Bíblia fala sobre a raiz do problema.
A conselheira pode investir tempo para falar sobre comportamentos pecaminosos, e existe lugar para isso. No entanto, é preciso abordar também a raiz pecaminosa que causa o comportamento. Jesus ensinou que os pensamentos e o comportamento vêm do coração (Lc 6.45). Concentrar-se na necessidade espiritual oferece uma mudança duradoura porque o aconselhamento alcança a motivação por trás do pecado.
Algumas dessas mulheres feridas precisam ir ao Senhor pela primeira vez. Mesmo que estivessem na igreja durante esse período, é possível que não tivessem um relacionamento pessoal com o Salvador. Jesus disse que não podemos honrá-lo nem ter transformação de vida sem uma conexão com Ele. Ele é a videira verdadeira, e Seu povo são ramos cheios de frutos. Ele diz: “… sem mim vocês não podem fazer nada” (Jo 15.1-5). Comece apresentando o evangelho.
2. A Bíblia oferece a solução.
Quando Deus deu a lei ao Seu povo em Êxodo 20, Ele “falou todas estas palavras: ‘Eu sou o SENHOR, seu Deus, que o tirei da terra do Egito, da casa da servidão’” (Êx 20.1, 2). A obediência aos Dez Mandamentos é baseada em um relacionamento — o relacionamento entre o Libertador e Seu povo. O primeiro mandamento é “Não tenha outros deuses diante de mim” (Êx 20.3). Não deve haver amor ou serviço aos outros maior do que amor e serviço a Deus. O segundo mandamento exige que nenhuma criatura seja adorada ou valorizada acima do Senhor. Ele é um Deus ciumento. Essa adoração equivocada é chamada de ódio nas Escrituras, ódio e inimizade para com Deus (Êx 20.5; Mt 6.24; Lc 16.13; Rm 1.18-25; Tg 4.4, 5). Um relacionamento com outra pessoa não deve se tornar idólatra. A idolatria nos afasta de Deus.
Outros versículos bíblicos falam em substituir o amor a Deus pelo amor a si mesmo ou a outros. Efésios 3.14-19 é uma oração que coloca a atenção na obra da Trindade para cumprir a vontade de Deus na vida dos crentes e termina explicitando que toda glória pertence a Deus (Ef 3.20, 21). O Espírito Santo capacita os crentes para lutar contra o pecado da idolatria (Rm 6.5-14; Ef 4.17-24; Fp 3.7-11). A substituição de afetos é realmente uma luta para as mulheres que trocaram a adoração devida a Deus pela adoração de outra pessoa, assim como é uma luta para todos nós. Reconhecer a raiz do pecado é o início do processo de mudança.
CUIDADOS QUE A CONSELHEIRA PRECISA TER
1. Evite um foco excessivo no passado pecaminoso.
Na minha experiência como conselheira, a mulher que procura aconselhamento não quer reviver em palavras toda a degradação que já provou. No entanto, é possível que ela esteja arrependida, mas que suas ideias não estejam de todo corretas. Ela pode ter raiva daquela que foi sua amiga ou de outras pessoas. Ela pode achar que não tem mais condições de ser amada por Deus. Ajude-a, oferecendo a promessa de purificação, santificação e justificação encontrada em 1Coríntios 6.9-11 e 1João 1.9. Esteja preparada para chorar ao lado dela enquanto você lhe oferece a verdade de Deus.
2. Evite tratar esse pecado como pior do que todos os demais pecados.
A mulher que procura aconselhamento é sensível ao fato de ser rotulada por seu pecado. Se ela está há tempo na igreja, ela já conhece Romanos 1.24-27. Talvez alguém tomado de ira a tenha acusado de seu pecado, dizendo que Deus a entregou a julgamento. A continuidade da leitura de Romanos 1, chegando aos versículos 28 a 32, descreve vários tipos de pecado praticados por aqueles que desprezam o conhecimento de Deus. O lesbianismo não é o pecado imperdoável.
3. Evite se tornar um novo foco distorcido das afeições da aconselhada.
A conselheira deve resguardar-se da tentação de assumir um papel de salvador. O relacionamento intenso que se desenvolve no contexto do aconselhamento poderia se deteriorar em uma substituição distorcida e controladora da própria pessoa que a aconselhada está procurando deixar para trás. É surpreendente quantas mulheres se envolvem pecaminosamente no contexto de um relacionamento “espiritual”. A conselheira deve constantemente lembrar à aconselhada que Jesus Cristo é o Salvador que oferece a verdadeira amizade (Jo 15.13-15). Não deve haver ídolos, nem mesmo a conselheira.
Conclusão
À medida que nossa cultura deixa de servir somente a Deus, muitos tipos de pecado aparecerão no aconselhamento. O relacionamento obsessivo e controlador com uma pessoa do mesmo sexo é um desses pecados. Ele ultrapassa as barreiras da idade e acontece também entre crentes. A verdadeira mudança ocorre ao levar a aconselhada a Jesus, seu verdadeiro amigo. À medida que o Espírito Santo trabalha, sua aconselhada começará a admirar o Senhor com temor (Pv 9.10) e responder a Ele em amor (Mt 22.37, 38). Ela conhecerá o amor de Deus e experimentará o amor puro pelo próximo.
Perguntas para reflexão
1- Que outras passagens bíblicas podem ser usadas para ajudar uma mulher com desejos distorcidos?
2- Você precisa mudar de alguma forma o método de aconselhamento que vem usando?
3- Você tem uma aconselhada que está começando a idolatrá-la? Em caso afirmativo, que medidas precisam ser tomadas?
Caroline Newheiser é coordenadora do aconselhamento de mulheres no Reformed Theological Seminary em Charlotte, na Carolina do Norte, onde seu marido, Jim Newheiser, é diretor do programa de aconselhamento cristão e professor. Ela é conselheira certificada pela Association of Certified Biblical Counselors (ACBC) e tem muitos anos de experiência aconselhando mulheres na igreja local.
Original do artigo: When a Woman Moves from Affection to Obsession with Another Woman
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition. Traduzido com autorização.
Tradução e adaptação para o português por Conexão Conselho Bíblico