Kim Kira
O aconselhamento bíblico é o exercício árduo, ainda que indispensável, de conectar a meditação às verdades bíblicas. Meditar significa basicamente pensar em profundidade sobre algo. Passagens como o Salmo 1 mostram-nos que meditar verdades bíblicas é essencial para permanecer firme e dar fruto.
Caminhar fielmente com um aconselhado envolve, portanto, ajudá-lo a meditar na verdade durante o encontro de aconselhamento e também durante o restante da semana. Contudo, embora costumemos reconhecer a importância de pensar profundamente nas Escrituras durante um encontro de aconselhamento, podemos não nos dar conta de que o desafio da meditação durante o restante da semana costuma ser que ela não falta, mas está mal direcionada.
Colocamos sempre nossa mente em algum lugar
Em Colossenses 3, como em várias de suas cartas, Paulo fez uma transição das realidades do evangelho, que ele apresentou nos capítulos 1 e 2, para como esse evangelho opera na vida diária, que é assunto dos capítulos 3 e 4. No entanto, antes de Paulo ter dado ordens como “façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena” (v.5) e “vocês se despiram da velha natureza com as suas práticas e se revestiram da nova natureza” (v.9), ele começou pela nossa vida mental: “pensem nas coisas lá do alto”(v.2). É um encorajamento para meditar nas coisas de Cristo.
O importante é que Paulo não terminou essa frase assim. Ele continuou: “Pensem nas coisas lá do alto, e não nas que são aqui da terra” (Cl 3.2, ênfase acrescentada). Percebe o contraste? Nós “colocamos nossa mente” em alguma coisa. Direcionamos nosso foco, afeições, fé e adoração quer para as coisas do alto quer para as coisas terrenas.
No mínimo, isso é significativo por algumas razões. Primeiro, todos nós estamos sempre pensando em alguma coisa. Normalmente pensamos que a meditação é algo que acontece apenas durante os momentos de quietude devocional; na realidade, porém, estamos constantemente pensando em profundidade sobre alguma coisa. Isso significa que a meditação não diz respeito apenas a um “momento de devocional diária”, mas à nossa vida cotidiana como um todo. Segundo, existem dois possíveis objetos primários da nossa meditação: as coisas lá do alto ou as que são aqui da terra. Portanto, a melhor pergunta para se fazer àqueles que aconselhamos não é “Você está meditando?”, mas “Em que você está meditando?”. A resposta a esta pergunta indicará um crescimento do aconselhado na fé e adoração a Cristo ou na fé e adoração a ídolos.
A matemática espiritual
Imagine, por exemplo, um homem que luta com ira e amargura para com sua esposa. Eles brigam constantemente, e o casamento tornou-se frio e com pouca afeição. Frequentemente, ele pensa que já poderia ter entrado com um pedido de divórcio há muito tempo se não fosse cristão. Em situações como essa, costumamos nos concentrar no que ele deveria fazer quando as brigas acontecem. Ensinamos sobre como vencer a ira ou o egoísmo. Podemos oferecer algo sobre habilidades bíblicas de comunicação e de resolução de conflitos. Tudo isso é bom.
No entanto, algo que tenho percebido é que o grande problema nem sempre é o que eles fazem quando estão juntos, mas o que fazem quando estão separados. Não me surpreenderia descobrir que esse homem talvez tenha gastado meses, ou até anos, meditando nos pecados e falhas da sua esposa. Se isso for verdade, o fato de ele estar irado e amargurado deveria nos surpreender? Claro que não. É a matemática espiritual básica: talvez 15 minutos pela manhã meditando nas Escrituras, mas horas incontáveis ao longo do dia meditando nos pecados e falhas da sua esposa. Quem ganhará essa batalha? Independentemente de como tenha sido seu tempo devocional pela manhã, ele passou muito mais tempo meditando nos seus ídolos. Ao longo do dia, é como se ele tivesse feito muitas “devocionais” sobre amargura. Não deve nos surpreender que o seu amor e devoção aos ídolos tenham se aprofundado cada vez mais.
Redirecionando a meditação
A meditação mal direcionada afeta não apenas nossas lutas com a ira e a amargura, mas também com preocupações, lascívia, cobiça, depressão, impaciência, medo e miríades de outras questões. Então, o que precisamos fazer? Além de encorajar a meditação durante o tempo devocional diário, duas coisas podem ser muito úteis.
Em primeiro lugar, ajude os aconselhados a estar cientes do perigo da meditação mal direcionada. Eles precisam compreender o perigo que representa para o seu coração o fato de colocar sua mente em coisas opostas à verdade bíblica, aquelas que Paulo chamou de “coisas que são aqui da terra”. Geralmente, eles sequer percebem quanto tempo gastam nesses pensamentos.
Em segundo lugar, mostre aos seus aconselhados verdades bíblicas significativas e memoráveis para as quais se voltarem quando se sentirem tentados a uma meditação mal direcionada. Por exemplo, se um homem é tentado a se concentrar nos pecados e erros da esposa, você deve encorajá-lo a meditar no evangelho e na nossa necessidade de perdão (Mt 18.15-35), na paciência e amor de Deus (Sl 86.15), ou em como colhemos o que plantamos (Gl 6.7). A chave é ter verdades às quais ele pode voltar para colocar sua mente nas coisas do alto.
Precisamos compreender que a vida como um todo é um exercício de meditação contínua. A questão está naquilo que escolhemos para ser o conteúdo da nossa meditação. Devemos amar de verdade nossos aconselhados, e isso inclui encorajá-los a colocar sua mente nas coisas do alto, não nas que são aqui da terra.
Perguntas para reflexão
1- Você pergunta àqueles que aconselha no que estão meditando e não apenas se estão meditando?
2– Como você pode encorajar a meditação nas verdades bíblicas como um constante exercício de fé e adoração, e não algo limitado a um curto momento devocional diário?
3– Como conselheiro, quando você fica desencorajado, você é diligente em colocar sua mente nas coisas do alto?
Kim Kira é responsável pela pregação na Lighthouse Community Church em Torrance, Califórnia. Seu ministério é movido por um profundo desejo de encorajar as pessoas com o poder transformador do Evangelho, as Boas Novas que oferecem não apenas a entrada no céu, mas uma esperança poderosa e prática de mudança na vida cotidiana.
Original do artigo: Meditation Isn’t Missing—It’s Misdirected
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition. Traduzido com autorização.
Tradução e adaptação para o português por Conexão Conselho Bíblico