Greg Gifford
Estamos cercados de preocupações. São preocupações com a saúde, pandemias, incertezas econômicas, objetivos a alcançar no estudo e no trabalho, e assim por diante. Nossa vida é repleta de preocupações, mas você já se perguntou em que ponto suas preocupações tornam-se uma ansiedade pecaminosa? Em que ponto podemos dizer que você está “preocupado demais”? Neste artigo, quero lhe mostrar o que a Bíblia diz sobre preocupações, como saber se essas preocupações tornaram-se ansiedade e o que a Bíblia nos chama a fazer para tratar a ansiedade.
Preocupação vs. Ansiedade
A Bíblia fala de preocupações que você pode e deve ter. Paulo diz que um cristão deve se preocupar, por exemplo, com os outros membros do corpo de Cristo (1Co 12.25) e com o seu cônjuge (1Co 7.33, 34). Paulo até elogia Timóteo por se preocupar com o bem-estar dos filipenses (Fp 2.20). É importante notar que nós, como cristãos, devemos nos importar com as preocupações bíblicas e levá-las a sério. Deus não nos chamou para ser “despreocupados” nem cabeças-de-vento. Não, ao contrário, temos preocupações que são certas e boas.
A pergunta é: quando deixamos que essas preocupações se tornem grandes demais? Em outras palavras, quando elas se transformaram em ansiedade pecaminosa? Jesus nos ajuda a ver que existe diferença entre preocupação e ansiedade quando Ele diz em Mateus 6.25-32 que a ansiedade é enfaticamente errada. Ela é sempre errada! Mas como podemos saber se estamos lidando com uma preocupação bíblica ou uma ansiedade pecaminosa? Jesus nos ajuda nisso.
Em primeiro lugar, Jesus diz que o cuidado com seu bem-estar como foco principal na vida é errado (vv. 25, 26). Sua vida e seu corpo não são sua preocupação central, ou pelo menos não deveriam ser. Em segundo lugar, Jesus fala que ficar ansioso é viver funcionalmente sem Deus. Para nos explicar isso, Jesus nos relembra do caráter e atuação de Deus: Deus alimenta, Deus veste e Deus conhece cada detalhe de nossa vida (vv. 26, 30, 32). Por último, Jesus mostra que a ansiedade é inútil. É por isso que Ele pergunta: “Qual de vocês, por estar ansioso, acrescenta uma hora sequer ao tempo de sua vida?” (v. 27). A ansiedade acontece quando nós fazemos nossas próprias tentativas de resolver aquilo que não podemos resolver.
Como, então, podemos saber se a nossa preocupação se tornou uma ansiedade pecaminosa? Aqui estão três critérios extraídos de Mateus 6 que nos ajudam a responder a essa pergunta.
Você sabe que suas preocupações tornaram-se ansiedade quando:
- O foco das preocupações está principalmente em você. Tudo gira em torno da sua vida e do seu corpo; a autopreservação é a finalidade última.
- Você se esquece de Deus. Você não pensa em Sua bondade, Seu conhecimento, poder e habilidade. Um dos meus professores disse certa vez: “A ansiedade é uma forma branda de ateísmo”.[1] Ele estava certo.
- Você procura resolver as situações exclusivamente por conta própria. Não pensa na soberania de Deus e em como você deve depender de Deus.
Talvez a maneira mais fácil de descrever a diferença entre preocupação e ansiedade pecaminosa seja esta:
As preocupaões são uma avenida, e a ansiedade é um beco sem saída.
Na minha infância, minha família e eu morávamos em uma avenida movimentada. Você conhece aquele tipo de via pública que lhe dá a impressão de estar na calçada caminhando ao lado de uma pista de corrida de Fórmula 1? Um passo errado resulta em problemas! Minha mãe sempre nos dizia que minha irmã e eu deveríamos brincar em uma rua próxima, literalmente um beco sem saída. Não havia veículos circulando.
Nossa ansiedade é assim: um beco sem saída. Em vez de nos movermos em direção a Deus e de crescermos na confiança em Seu caráter e ação, nós ficamos rodando em volta do eu, da autoconfiança e do interesse próprio. Nossas preocupações, por outro lado, são avenidas que nos levam a Deus. Sim, temos muitas preocupações: saúde, futuro profissional, educação, filhos, finanças e assim por diante. Essas preocupações, porém, não terminam em nós. Nós as levamos a Deus, confiantes de que Ele é sábio, Ele cuida de nós, Ele está no controle de cada situação e Ele é bom. As preocupações são uma avenida; a ansiedade é um beco sem saída.
A solução para a ansiedade
Quando nossas preocupações passam a ser uma ansiedade pecaminosa, devemos saber que a Bíblia também nos mostra a solução. Este é um resumo do que a Bíblia quer que façamos em resposta à ansiedade pecaminosa:
- Reconhecer que a ansiedade é algo de que devemos nos arrepender. Jesus condena diretamente a ansiedade, assim como Paulo (Mt 6.25; Fp 4.6).
- Lembrar-se da natureza e do caráter de Deus (Mt 6.26-32) nos momentos de ansiedade. Nossa ansiedade é resultante de ver a Deus através de um cano: é uma visão pequena e incompleta. Quanto mais conhecermos realmente o caráter de Deus, mais nossa ansiedade parecerá tola.
- Levar as preocupações a Deus. Pedro, citando o Salmo 55.22, lembra-nos em 1Pedro 5.7a que devemos levar nossas preocupações ao Senhor. Levamos nossas situações de potencial ansiedade ao Deus que cuida de nós (1Pe 5.7b). Paulo diz que fazemos isso pela oração (Fp 4.6).
- Responder às preocupações sendo fiéis em fazer aquilo que nos cabe fazer, sem querer controlar o que não podemos controlar. O Salmo 131.1b diz: “Não ando à procura de coisas grandes, nem de coisas maravilhosas demais para mim”. Não evitamos a ansiedade fugindo completamente de todas as nossas preocupações nesta vida! Não somos cabeças-de-vento. Em vez disso, respondemos sendo fiéis ao que Deus nos chamou para fazer – por exemplo, planejar o futuro, trabalhar duro, ir ao supermercado, cuidar da saúde – enquanto confiamos os resultados a Ele.
Conclusão
Deus, em Sua bondade, permite em nossa vida períodos de mais preocupações e períodos de menos preocupações. Sim, podemos ter muito com o que nos preocupar, mas nada pelo que ficar ansiosos. Não podemos minimizar os cuidados ou preocupações desta vida, mas também não nos permitimos ficar ansiosos. Deus conhece cada situação. Deus provê. Deus é bom. Levamos, portanto, as nossas preocupações a Ele, sabendo que Ele é um Deus bondoso, que cuida realmente de Seus filhos (Lc 12:32).
Perguntas para reflexão
- Em que áreas da sua vida você precisa parar para identificar preocupações às quais você deve responder sendo mais fiel ao que Deus o chamou para fazer?
- Usando as perguntas acima, quais são as áreas de ansiedade pecaminosa que você precisa entregar ao Senhor?
- Na prática, o que você vai fazer para ser fiel quanto às suas preocupações e, ao mesmo tempo, entregar a ansiedade ao Senhor?
[1] Citação de aula de Kevin Carson no Baptist Bible College, Springfield, MO.
Greg E. Gifford é professor assistente de aconselhamento bíblico em The Master’s University (TMU). Sua formação inclui o mestrado em aconselhamento bíblico em The Master’s University e o doutorado também em aconselhamento bíblico no Southwestern Baptist Theological Seminary. Antes de ingressar no corpo docente de TMU, serviu como pastor e conselheiro bíblico em tempo integral e também como conselheiro em organizações sem fins lucrativos. É conselheiro certificado pela Association of Certified Biblical Counselors (ACBC) e autor de dois livros: Helping Your Family through PTSD e deHeart and Habits.
Original do artigo: Anxiety is a Cul-de-Sac: Biblical Clarity on Anxiety
Artigo publicado pela Biblical Counseling Coalition. Traduzido com autorização.
Tradução e adaptação para o português por Conexão Conselho Bíblico