Cinco falas destrutivas com crianças e adolescentes

Kevin Carson


Você já se perguntou por que não consegue ir muito longe na conversa com uma criança ou adolescente? Quando você considera suas dificuldades na comunicação, você culpa a criança ou o adolescente? Pode ser que você seja parcialmente responsável pela comunicação ruim entre vocês. Aqui estão cinco tipos de comunicação com potencial para matar a conversa com crianças e adolescentes. Eles não seguem uma ordem específica.

1. Críticas desnecessárias
Você já percebeu o mundo em que a criança ou adolescente cresce? Ele é duro, difícil e implacável. Quando a criança ou o adolescente comete um erro, as pessoas ao seu redor ficam felizes em apontá-lo, rir ou, ainda pior, zombar. Sem dúvida, para os adultos, é fácil identificar áreas de imperfeição, crescimento necessário e melhora nas habilidades. Exemplos não faltam. Pode ser a habilidade para esticar os lençóis na cama, fazer uma tarefa com melhor lógica ou servir uma bebida sem derramar. Essa lista nem sequer toca todas as maneiras que um adulto pode encontrar para ajudar uma criança ou adolescente a melhorar.

Pare. Pare por um momento e pense. Como conselheiro há quase três décadas, percebo que a maioria dos pais, avós, professores e adultos críticos não ouvem nem veem o problema. Literalmente, o objetivo frequentemente declarado é ajudar. No entanto, pare e ouça a si mesmo. Suas palavras são críticas? Você exige perfeição? Você pode deixar passar alguma imperfeição? Ou é necessário ter certeza de que eles sempre acertem ou aprendam de primeira? Sim, eles precisam aprender. Eles também precisam ouvir com vontade de aprender aquilo que você tem a dizer. No entanto, se você criticar desnecessariamente, você encoraja a criança ou adolescente a simplesmente parar de ouvi-lo: “Não importa o que eu faça, nunca é bom o suficiente”. Em vez disso, procure maneiras de edificar. Pense em encorajar e elogiar antes de criticar. Na verdade, uma ótima disciplina para aprender e aplicar pela prática intencional é procurar algo para elogiar antes de criticar. A criança ou adolescente não verá como uma crítica dura aquilo que você dirá a seguir.

O apóstolo Paulo nos encoraja a ter palavras que edificam em vez de destruir (Ef 4.29). Precisamos que nossas crianças e adolescentes ouçam a repreensão (Pv 9.8; 15.32); portanto, precisamos falar com eles de uma forma que os encoraje a ouvir (cf. Tg 3.17, 18).

2. Sarcasmo ou piada que deprecia
Frequentemente, os adultos confundem sarcasmo, ironia e sátira. Apontar algo irônico ou usar sátira para enfatizar um ponto importante de maneira amorosa para ajudar a criança ou adolescente a crescer em maturidade ou piedade e é apropriado quando usado com moderação na conversa. O apóstolo Paulo usa a sátira (1Co 4.13-18). Jesus usa a ironia (Mt 7.3, 4). Se o propósito da sua palavra é chamar a atenção ou esclarecer uma situação, ela pode ser útil quando usada ocasionalmente. No entanto, o sarcasmo que insulta, menospreza ou eleva quem fala, e não quem ouve, deixa de honrar a Deus e destrói a conversa com uma criança ou adolescente. O sarcasmo esmaga a alma da criança ou adolescente a quem se dirige. Quem gostaria de dar atenção a alguém que faz da criança ou adolescente alvo constante de sarcasmos ou piadas?

O apóstolo Paulo recomenda que a nossa fala seja marcada pela verdade em amor (Ef 4.15), edifique em vez de destruir (Ef 4.29) e não contenha palavras tolas nem piadas grosseiras (Ef 5.4). Jesus deu uma advertência severa contra falar palavras ou atitudes duras (Mt 5.22). Uma escritora chama o sarcasmo de “alegremente odioso.[1]  Portanto, ao conversar com uma criança ou adolescente, a motivação deve ser piedosa e clara. Suas palavras e seu tom não podem deixar em dúvida a motivação ou propósito do que é dito. Paulo nos lembra que, como seguidores de Jesus Cristo com um novo coração piedoso, devemos falar com humildade e mansidão, usando palavras compassivas e perdoando como Cristo nos perdoou (Ef 4.2, 3, 32).

3. Impaciência
Alguma vez você já ficou impaciente com uma criança ou adolescente? Essa frase parece uma piada, não é? Claro que sim! Não precisamos pensar muito para descobrir por que a Bíblia condena a impaciência e ordena a paciência (Cl 3.12, 13; Gl 5.22; 1Ts 5.14; Ef 4.2). Paciência demonstra maturidade espiritual e humildade. No entanto, a maioria dos adultos luta para ser paciente enquanto as crianças e os adolescentes vivenciam a perda da paciência e o dano provocado da impaciência. Seja qual for a área em que precise de instrução, ajuda ou sabedoria, para poder dar ouvidos ao que um adulto tem a dizer, a criança ou adolescente deve lidar primeiro com a impaciência desse adulto – o que é particularmente difícil. A tolice está ligada ao coração da criança (Pv 22.15), em vez do amor ao temor de Deus e ao respeito dos adultos. Quando um adulto de confiança demonstra impaciência, isso muda o tom e propósito da conversa. A criança ou adolescente se distrai com o pecado da impaciência em vez de conseguir se concentrar no problema ou na necessidade que está diante dela.

O apóstolo Paulo descreve o amor como paciente e bondoso (1Co 13.4). Quando somos pacientes, escolhemos amar corretamente e ajudar a criança ou adolescente a encontrar da melhor forma possível o caminho para crescer em maturidade e piedade. Assim como um pregador deve corrigir, repreender e encorajar com grande paciência e instrução cuidadosa (2Tm 4.2), também os adultos que desejam um impacto piedoso sobre uma criança ou adolescente devem fazê-lo. Como adultos apaixonados por ver a criança ou adolescente crescer e se tornar um jovem que honra a Deus, exalta a Cristo e anda no Espírito, não queremos nos cansar de fazer o bem – o que, porém, demonstramos fazer quando somos impacientes (Gl 6.9).

4. Escuta desinteressada
Você já conversou com alguém e lhe pareceu que a outra pessoa não o estivesse ouvindo? Claro que sim! Todos nós já passamos por isso. Lembro-me de uma pessoa com quem trabalhei que nunca tirava os olhos do computador para ouvir. Sim, eu poderia falar, mas ela estava sempre distraído diante da tela do computador. Muitas vezes, ela me ouvia só parcialmente ou nem me ouvia. Eu precisava tirá-la do seu escritório, chamá-la para o meu ou levá-la para algum lugar longe do computador. O que costumava ser o computador agora é o telefone. Com que frequência você conversa com alguém e essa outra pessoa não consegue parar de olhar para o telefone por tempo suficiente para convencê-lo de que está ouvindo?

As crianças e os adolescentes também percebem quando você faz isso. Seja o telefone, seja a televisão, o computador ou um livro nada pode ser mais importante do que ouvir a criança ou adolescente que quer conversar com você. É claro que, em alguns momentos, você pode precisar pedir à criança ou adolescente que adie por algum tempo a conversa para que você possa prestar atenção em algo que precisa terminar, em um pensamento que quer acabar de escrever ou uma outra conversa que precisa encerrar. No entanto, a criança ou adolescente nunca deve sentir que está competindo com a Netflix, um evento esportivo, os videogames ou a mídia social. Em vez disso, ouça, e ouça mais um pouco. Você colher benefícios na vida e no relacionamento com a criança ou adolescente.

Assim como Deus nos ouve, precisamos ouvir com interesse a criança ou o adolescente (Sl 5.3; 18.6; 34.15; 130.1, 2). Devemos ouvir, e mesmo saber o que se passa no coração da criança ou adolescente, antes de dar uma resposta (Ef 4.2, 3, 32) e, depois de ouvir, fazer boas perguntas para entender ainda melhor. Tanto quanto possível, faça perguntas em vez de dar imediatamente sua opinião. Deixe a criança ou adolescente pensar nas respostas, em vez de definir a resposta sem um bom diálogo.

5. Falta de domínio próprio
Uma criança ou adolescente precisa saber que pode confiar na sua reação ao que está sendo dito. Se você tiver dificuldade para se controlar fisicamente, para controlar suas palavras, sua atitude ou sua resposta, a criança ou adolescente parará de falar. Se houver pouca confiança na sabedoria e no domínio próprio do adulto, a criança ou adolescente escolherá falar muito pouco. Quando provar um sentimento de ameaça, a criança e o adolescente podem acatar momentaneamente a colocação do adulto, mas o diálogo e o objetivo de crescimento se perderão.

Como você reage quando ouve o que uma criança ou adolescente diz? Você mantém o autocontrole? Ou você perde o controle, faz ameaças, usa insultos e responde com ira pecaminosa? Você é uma cidade sem muros (Pv 25.28)? Um adulto que entende o evangelho e olha para Jesus como exemplo, reconhece a natureza essencial do domínio próprio (Ef 4.2). Também ligado à mansidão, o domínio próprio implica tratar o outro com cuidado. O apóstolo Paulo descreve o domínio próprio como parte do fruto do Espírito e nos chama a praticá-lo (Gl 5.22; 6.1). Tanto Jesus como Moisés foram marcados pela mansidão.

Fale com humildade e mansidão, paciência, atenção concentrada e domínio próprio e você verá que a conversa ficará muito mais fácil com a criança ou o adolescente


[1] https://www.thegospelcoalition.org/article/battling-sinful-sarcasm/


Original: 5 conversation killers for children and teenagers
Artigo publicado em Kevin Carson, traduzido e publicado com autorização.

Tradução e adaptação para o português: Conexão Conselho Bíblico