Conselhos para os cuidadores

Para quem cuida de um familiar idoso, ou de alguém com uma doença crônica, o artigo de Michael Emlet Ajuda aos ajudadores oferece orientações preciosas com base em verdades bíblicas. Os detalhes podem variar de um caso para outro, de acordo com as condições físicas e mentais da pessoa de quem você cuida, mas os princípios gerais aplicam-se certamente à sua situação e podem ajudá-lo a pensar e a agir biblicamente, com perseverança e amor “mesmo quando você sentir vontade de ‘pendurar a chuteira’ no cuidado de outra pessoa”. Dr. Michael Emlet, médico e conselheiro bíblico, inicia seu artigo apresentando duas verdades bíblicas que mostram que você e a pessoa que está aos seus cuidados têm muito em comum.

Você e a pessoa de quem você cuida: dois cristãos em processo de transformação
Se a pessoa de quem você cuida é um crente em Cristo Jesus, ela está em processo de transformação tanto quanto você.

Você e a pessoa que está sob seus cuidados foram criados à imagem de Deus (Gn 1.26-28; Sl 8.4-8). Deus nos fez para refletirmos Sua imagem diante do mundo. Não fazemos isso de modo perfeito por causa do pecado e da doença, mas a despeito das nossas inaptidões, nós nunca deixamos de refletir a imagem de Deus!

O evangelho diz respeito à renovação da verdadeira imagem de Deus por meio de Jesus (Ef 4.24; Cl 3.10). Esse processo não é interrompido por uma doença ou por alguma incapacitação; pelo contrário, Deus usa essas coisas para nos tornar mais semelhantes a Ele. Deus promete completar a obra que começou em cada um de nós (Fp 1.6). Isso significa que Deus está realizando Sua obra de transformação na pessoa de quem você cuida e em você, à medida que você enfrenta os desafios de cuidar dela. Deus está aperfeiçoando o caráter de Cristo em vocês dois, em meio às suas lutas.

Você e a pessoa de quem você cuida: dois seres humanos com corpo e alma
Tanto você quanto a pessoa que está sob seus cuidados têm um corpo e uma alma (Gn 2.7; Ec 12.7; Jo 3.6; 2Co 4.16-18).

A Bíblia nos diz que somos constituídos de dois aspectos: o espírito (ou alma, coração, mente, homem interior) e o corpo (ou carne, homem exterior). Quando falamos do “espírito” ou do “coração”, falamos sobre questões de motivação e de crença, falamos sobre a pessoa estar a favor ou contra Deus, sobre justiça ou impiedade, as emoções e a vontade de agir. Quando falamos do corpo, pensamos em termos de saúde versus enfermidade, e de pontos fortes versus fraquezas. Algumas dessas distinções são mais simples que outras: fofoca e ódio são claramente questões do coração. Por outro lado, um derrame, o mal de Alzheimer ou um traumatismo craniano são evidentemente problemas do corpo. Você pode se arrepender do ódio, mas não do mal de Alzheimer.

Por que é necessário lembrarmos esses dois aspectos da nossa pessoa? Porque somos inclinados aos extremos. Às vezes, focamos os aspectos físicos da nossa existência e menosprezamos o aspecto espiritual da imagem de Deus de que somos portadores. Outras vezes, focamos os aspectos espirituais e minimizamos os aspectos físicos.

Quando cuidamos de alguém, devemos considerar o corpo e o coração. Você deve tratar as fraquezas físicas e também o pecado gerado pelo coração. O que você vê à mostra na pessoa de quem você cuida – o inteiro conjunto de como aquela pessoa se relaciona com Deus e com os outros por seus pensamentos, emoções, motivações e ações – é uma combinação de fraquezas e pontos fortes físicos, unida às motivações do coração.

Em seguida, Dr. Emlet oferece sete conselhos.

1. Como cuidador sábio, entenda a distinção entre o espiritual e o físico.
Essa compreensão, aliada à oração e dependência de Deus, permite identificar quando é hora de oferecer consolo e quando é hora de confrontar um comportamento.

Não se surpreenda com o fato de as pessoas terem mais lutas espirituais no contexto de uma doença crônica ou após um derrame cerebral. Há uma estreita ligação entre o corpo e o coração. O físico afeta o espiritual. Você pode, porém, lembrar à pessoa de quem você cuida que Jesus continua a operar a renovação interior em sua vida, mesmo quando o corpo fraqueja (2Co 4.16). Encoraje a pessoa que está sob seus cuidados a pedir ajuda diária ao Espírito Santo. Embora algumas tentações específicas estejam vinculadas à incapacidade física, o apóstolo Paulo nos lembra que “não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar” (1Co 10.13). Relembre diariamente à pessoa a fidelidade de Deus. Orem juntos por graça para suportarem a situação.

2. Como cuidador sábio, esteja ciente das tentações às quais você está exposto.
Não é só a pessoa de quem você cuida que está exposta a tentações. O mesmo pode acontecer com você em três áreas em particular: ira, medo e indispensabilidade.

Como você pode discernir se está lutando com ira contra Deus ou contra a pessoa de quem você cuida? Pergunte a si mesmo se você tem algum destes pensamentos:
–􀂊 Eu quero alívio, mas Deus não está me socorrendo.
–􀂊 Será que as coisas não poderiam ser mais tranquilas? Tudo o que eu quero é…
–􀂊 Eu mereço algo melhor.
–􀂊 Tudo o que eu quero é uma família normal.
–􀂊 Deus colocou sobre mim mais do que eu posso suportar.

Medo e ansiedade frequentemente se expressam em pensamentos como estes:
–􀂊 E se as coisas piorarem? Eu sei que eu não conseguirei lidar com isso!
–􀂊 Eu não vou conseguir fazer isso por muito tempo.
–􀂊 Eu não vejo nada senão sofrimento pelo resto da vida.
–􀂊 Se eu não agir apropriadamente, tornarei a situação ainda pior.
–􀂊 Como pagaremos a conta da farmácia?

Se a sua vida está tão envolvida em cuidar de alguém que você ignora outros relacionamentos, incluindo a sua vida espiritual e física, você pode estar sofrendo da síndrome da indispensabilidade”. Essa síndrome expressa-se mais ou menos assim:
–􀂊 Ninguém faz melhor do que eu.
–􀂊 Ninguém se importa, a não ser eu.
–􀂊 Se eu não fizer, ninguém fará.

Quando você perceber essas três ideias (e ainda outras!) no seu coração, volte-se para o Senhor. Peça a Ele graça, misericórdia e ajuda em seu momento de necessidade (Hb 4.16). Contra a ira, medite no fato de que o Deus que não poupou Seu próprio Filho (o presente maior de todos) não nos negará aquilo que realmente necessitamos (Rm 8.32). Contra o medo, ouça as palavras de Jesus: “Não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o Seu reino” (Lc 12.32).

3. Como cuidador sábio, aquiete-se diante de Deus.
Não permita que as tantas responsabilidades e preocupações tomem conta da sua vida.

Se você não praticar o aquietar-se diante de Deus, você esquecerá quem Ele é (Sl 46.10). Você esquecerá que “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações” (Sl 46.1). Não se transforme física e mentalmente em uma constante máquina de cuidar de outros. Sem dúvida, como você já percebeu, é necessário ser mais proativo, cuidadoso e sacrificial do que você poderia imaginar. Certifique-se, porém, de não abandonar o hábito de simplesmente sentar aos pés de Jesus e aprender dEle. Embora isto seja um clichê, é também verdade: no que diz respeito ao ministério, você não pode dar o que não tem. Se você quiser ministrar a graça de Cristo à pessoa que você ama, você também precisa receber a graça e a misericórdia dEle em sua hora de necessidade (Hb 4.15, 16).

4. Como cuidador sábio, cuide de sua saúde também!
Nem sempre é fácil, mas é preciso que você lembre que a sua saúde também merece atenção para que você possa continuar a servir.

Não esqueça que Jesus, em meio ao furacão do ministério, ainda comia, bebia, dormia e passava Seu tempo tanto com os santos quanto com os pecadores. O constante cansaço físico, a falta de sono ou o adiamento das suas próprias questões de saúde, podem acabar por destruir sua capacidade de ministrar com sabedoria e compaixão.

5. Como cuidador sábio, trabalhe o seu coração.
Deus continua a formar em você o caráter de Cristo em meio à situação com a qual você está lidando. Disponha-se a cooperar com Ele no processo de transformação.

Trabalhe seu coração avaliando como os seus desejos, exigências, temores, inseguranças, vontades e expectativas impactam a sua capacidade de prover cuidado. Volte à seção que fala das suas tentações pessoais. Peça que Deus lhe mostre em quais pontos você enfrenta dificuldades. Para onde os seus “se tão somente” o conduzem? Fazer aquelas perguntas revelará qual o seu maior tesouro e o que pode tomar o lugar da sua submissão ao desígnio sábio de Deus para a sua vida.

6. Como cuidador sábio, seja um instrumento de redenção
Peça a Deus sabedoria para entender quais os limites da sua responsabilidade e para responder aos constantes desafios (Tg 1.2-5). Algumas vezes você é chamado a agir, e outras vezes é chamado a esperar que Deus aja naquela vida.

Nos momentos em que você acreditar que foi chamado para agir (e não simplesmente para orar e esperar), adapte a sua atuação à pessoa de quem você cuida, tendo como base as distinções entre corpo e espírito conforme já discutimos. Reconheça as limitações que o corpo/cérebro impõe sobre o membro de sua família e responda de acordo. Suas expectativas quanto à outra pessoa podem variar, baseadas nos pontos fortes e nas fraquezas físicas que a pessoa tenha.

7. Como cuidador sábio, viva em comunidade
Busque e aceite o apoio das pessoas ao seu redor.

Na Bíblia, depender de outras pessoas é o modo normal de se viver. Por favor, não sofra em silêncio; pelo contrário, peça ajuda. Peça ajuda à sua família, aos amigos e à comunidade da sua igreja. E aceite a ajuda oferecida. Mesmo que as pessoas não façam as coisas exatamente como você faria, elas ainda podem ser uma bênção. Combata sua tendência de ser “o indispensável”, e compartilhe suas lutas com as pessoas ao redor.

Com seu artigo, Dr. Emlet alerta-nos para uma perspectiva que nunca devemos perder de vista. Ela se aplica aos cuidadores, mas se aplica também a todos os conselheiros, discipuladores, pais, professores.

Lembre-se de que você e a pessoa que está sob seus cuidados têm mais semelhanças do que diferenças. Vocês dois foram feitos à imagem de Deus e Ele quer transformar ambos para que sejam um belo reflexo de sua imagem diante do mundo que os observa. Essa transformação acontece à medida que você pede diariamente a Deus sabedoria e força que vêm do Espírito, e depende dEle, pela fé, para tudo o que necessita para a vida e a piedade (2Pe 1.3).

Prover um cuidado integral a uma pessoa é ao mesmo tempo algo cansativo e transformador. Ciente do desafio, Dr. Emlet termina assim seu artigo:

Permita que as palavras de Paulo o encorajem neste dia: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis, e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (1Co 15.58).  Deus confiou a você uma oportunidade única de ministrar o evangelho de Jesus Cristo em palavra e ação. Ainda que por vezes você sinta que ninguém sabe o que você está passando, Deus está vendo. Ele sabe tudo sobre suas lutas e sacrifícios. Ele está com você, pronto para ajudá-lo em sua hora de necessidade.

Você encontra na íntegra o artigo Ajudando os Ajudadores no volume 8 de Coletâneas de Aconselhamento Bíblico, que pode ser adquirido na Livraria OPV.

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