Conceder perdão àqueles que nos ofendem e pecam contra nós é um dos maiores desafios da vida cristã. Muitas vezes a dificuldade torna-se ainda maior porque o perdão não é compreendido biblicamente. Pedir perdão também não é tarefa fácil!
No artigo Buscar e Conceder Perdão, Timothy Lane explica a dinâmica do perdão. Ele se dirige a todos nós: “Não passa uma semana sequer sem que você seja ofendido ou ofenda outra pessoa. Isso faz parte de sermos pecadores caídos e até mesmo pecadores que foram perdoados por Deus”. A realidade é patente, mas ele não nos deixa sem esperança: “O pecado é uma realidade diária, mas a maravilhosa graça de Deus também é. Até que morramos ou que Cristo volte, haverá muitas oportunidades para praticar o perdão em nossos relacionamentos”.
Na continuidade do artigo, Timothy Lane detalha (1) o que é o perdão, (2) a prática do perdão, (3) a razão por que não perdoamos, (4) os lembretes da graça de Deus em Cristo. O ponto de partida é entender o perdão.
O que é o perdão?
Uma passagem bíblica clássica sobre o perdão é a parábola do servo impiedoso (Mt 18.21-35). Leia com atenção as palavras de Jesus. Essa passagem nos ensina várias coisas a respeito da natureza do perdão.
1 – O perdão cancela uma dívida
Na parábola do servo impiedoso, a prática de cancelar uma dívida serve de metáfora para a prática do perdão. O perdão exige que alguém tome sobre si o custo do que é devido.
2 – O perdão faz uma promessa tripla
Quando você perdoa alguém, você assume o custo da ofensa cometida e cancela a dívida. Com isso, você faz uma promessa tripla.
“Não vou levantar essa ofensa de novo nem usá-la contra você.”
O único motivo para voltar a se referir à ofensa com o ofensor diz respeito ao propósito de reconciliação, não de vingança.
“Não vou fofocar nem difamá-lo por causa dessa ofensa.”
Um aconselhamento adequado pode ajudá-lo a lidar com a ofensa cometida contra você. Isso muitas vezes é complicado porque somos tentados a fofocar com muita facilidade. Damos a melhor interpretação possível ao nosso lado da história e reservamos a pior para a outra pessoa.
“Não vou remoer essa ofensa.”
Não farei um replay do seu pecado para saborear cada detalhe penoso.
3 – A falta de perdão transforma as vítimas em vitimizadores
O servo da parábola não perdoou. Pelo contrário, ele “agarrou e sufocou” aquele que lhe devia (Mt 18.28). Quando deixamos de perdoar, somos ativos, não passivos. […] Quando deixamos de perdoar as pequenas ofensas da vida cotidiana, lentamente, mas certamente, trilhamos o mesmo caminho — pode ser diferente apenas no grau, mas não no tipo. Quando alguém peca contra nós, nós nos sentimos, a princípio, inundados por uma ira justificada. Mas a sensação inicial de injustiça logo se transforma em sede de vingança e tomamos o lugar de Deus ao distribuirmos doses da nossa própria versão da “justiça divina”.
4 – A falta de perdão tem um custo alto
Praticar o perdão não é fácil! E custa caro. A amargura destrói a pessoa e os relacionamentos daqueles que não perdoam.[…] Jesus, porém, chama a nossa atenção para uma dimensão eterna e vertical. Ele mostra quão alto é o preço que precisamos pagar se não perdoarmos. A falta de perdão, no final, pode nos custar caro! Quando deixamos de perdoar, algo muda dentro de nós. Essa mudança afeta inevitavelmente a nossa vida como um todo e os nossos relacionamentos.
5 – O perdão é um evento tanto quanto um processo
Note a pergunta de Pedro na parábola do servo impiedoso: “Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu hei de perdoar? Até sete? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete; mas até setenta vezes sete” (Mt 18.19). Quando perdoamos alguém, é um evento: “Eu o perdoo”. Mas esse não é o fim da questão. Toda vez que me lembrar da ofensa, preciso manter o perdão. “Eu perdoo e continuarei a manter meu perdão. Não agirei com base no meu desejo pecaminoso de vingança.” Nós perdoamos… e perseveramos no perdão.
6 – Perdoar não é esquecer
A Bíblia é realista acerca do perdão. Ela não diz que, se você perdoar alguém, você esquecerá o pecado que essa pessoa cometeu. Isso não é bíblico. Muitas pessoas citam Jeremias 31.34 e concluem que, como Deus se esquece dos meus pecados quando Ele me perdoa, eu devo esquecer os pecados que outros cometeram contra mim. Jeremias 31.34 diz: “E não ensinarão mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior, diz o Senhor; pois lhes perdoarei a sua iniquidade, e não me lembrarei mais dos seus pecados”. Mas o Deus onisciente não tem amnésia com relação aos nossos pecados. Nesta passagem, a expressão “não lembrar” não diz respeito a apagar da memória, mas a guardar uma promessa. Quando Deus perdoa os nossos pecados, Ele não esquece que aconteceram. Antes, Ele faz a promessa de não nos tratar de acordo com os nossos pecados. Ele decide assumir o custo na Pessoa e na obra de nosso Redentor, Jesus Cristo.
7 – O perdão não é paz a qualquer custo
Mal-entendidos, bem como atitudes e reações erradas, são o resultado de conceitos equivocados sobre o perdão.
Um conceito errado é a ideia de que o perdão deixa a pessoa em uma posição vulnerável: se eu perdoo aqueles que pecam contra mim, torno-me um capacho. Mas as Escrituras não nos dizem para abrir o caminho para que as pessoas pequem contra nós. Elas nos chamam a amar devidamente as pessoas, contrapondo-nos às suas ações. Sofrer é uma escolha viável quando a confrontação piedosa estiver fora do alcance. A confrontação piedosa, porém, é importante. Na verdade, não confrontar adequadamente mostra falta de amor!
Você encontra na íntegra o artigo Buscar e Conceder Perdão no volume 5 de Coletâneas de Aconselhamento Bíblico, publicada pela Organização Palavra da Vida.