Paul Tautges
A sociedade em que vivemos supõe que a vida seja sem problemas; existe um pressuposto de que nós, de alguma forma, temos direito a uma vida fácil. Essa mentalidade é retratada na resposta a uma típica pergunta: “Qual é a pergunta número um feita aos futuros pais? ‘Vocês estão esperando por um menino ou uma menina?’ E qual é a resposta mais comum? ‘Tanto faz, desde que o bebê seja saudável.’ Essa conversa, aparentemente inocente, pode revelar uma crença fundamental que reside no coração de muitos de nós: há poucas coisas piores para um pai do que ter uma criança que não é saudável”.
Infelizmente, essa mentalidade não é prevalente apenas entre os descrente, mas também na igreja. Consequentemente, os crentes precisam de uma teologia da deficiência que tanto glorifique o Criador quanto honre o incrível valor de cada vida humana. Sendo eu um pai que vive a realidade das necessidades especiais, considero que existem 12 verdades bíblicas que se tornaram importantes em minha vida e nas quais preciso meditar constantemente. Estas verdades formam pilares teológicos que sustentam a nossa fé.
1 – Deus é soberano sobre tudo (leia o Salmo 103.19 e Efésios 1.11).
Não há nada em nossa vida que esteja fora do guarda-chuva da soberania de Deus. Tudo o que acontece esta dentro do conselho da Sua vontade e da Sua amorosa providência.
Nota pessoal: Nós temos que nos livrar da nossa ânsia por controle.
2 – Deus é o sábio Criador de tudo – inclusive das pessoas com necessidades especiais (leia Êxodo 4.11).
Independentemente das causas secundárias (genética, ferimento, ataques satânicos etc.), Deus – o soberano Deus – é sempre a causa primária. Como Deus deixou claro a Moisés em Êxodo 4.11, Ele nunca se envergonha da Sua autoria como criador de todos aqueles que têm necessidades especiais.
Nota pessoal: Nós precisamos confiar na Sua sabedoria.
3 – Deus molda cada criança de acordo com Seus propósitos (leia o Salmo 139.13-17).
Uma pergunta comum que os pais de crianças com necessidades especiais fazem é: “Onde você estava, Deus, que você não corrigiu o meu filho quando ele estava se desenvolvendo?”. A resposta de Deus é: “Eu estava bem ali, no útero, formando aquele menino precioso ou menina preciosa exatamente como eu havia planejado”. O útero é o estúdio do Artista Divino.
Nota pessoal: Nós precisamos confiar nos bons propósitos de Deus.
4 – Os caminhos de Deus são bons, sábios e amorosos (leia o Salmo 145.17).
Não importa qual seja a definição humana de “bom”, os caminhos do Senhor são sempre bons. Ele sempre age em bondade para com os Seus filhos.
Nota pessoal: Nós precisamos crer em Sua Palavra, não nas nossas emoções.
5 – O meu filho com necessidades especiais não é uma punição de Deus pelos meus pecados pessoais (leia João 9.1-3).
Assim como foi com os discípulos, a mente humana caída tem a tendência de sempre estabelecer uma ligação – uma relação de causa e efeito – entre o sofrimento e o pecado (alguém deve ser responsabilizado!). Certamente, de forma genérica, todo sofrimento é resultado do pecado – do pecado original no Jardim do Éden. No entanto, nem todo sofrimento pessoal é resultado de um pecado pessoal. Essa é uma diferença expressiva.
Nota pessoal: Nós precisamos nos lembrar de que vivemos em um mundo caído no qual iremos experimentar diferentes tipos de sofrimento até que a maldição seja finalmente removida quando a redenção se completar. (Confira Romanos 8).
6 – Deus usa as deficiências físicas e mentais para nos lembrar da nossa maior incapacidade: Nós somos todos deficientes espirituais.
Exceto pela nossa união com Jesus Cristo e pela contínua obra do Espírito Santo:
– Todos nós somos cegos (Rm 1.21-23; 2Co 4. 3, 4; Ef 5.11, 12).
– Todos nós somos deficientes auditivos (Zc 7.11, 12; Rm 11.8; Is 6.9, 10; Hb 5.11).
– Todos nós somos mentalmente incapazes (1Co 2.14; Ef 2. 3; 4. 17, 18).
– Todos nós estamos perdidos (Jr 13.23; Rm 5.6-8).
As necessidades especiais, como dádiva divina, são uma forma graciosa de nos lembrar das nossas próprias deficiências. Se algum de nós pensa ser saudável, perfeitamente sadio e sábio, está enganando ninguém mais além si mesmo. Nós todos vivemos em um estado constante de terrível necessidade.
Nota pessoal: Nós precisamos correr para Cristo constantemente e encontrar nEle o descanso para nossa alma.
7 – A graça de Deus é suficiente em qualquer provação (leia 2Coríntios 12.9, 10).
Não importa a provação, não importa a necessidade, a graça de Deus em Jesus Cristo é suficiente para fortalecer e sustentar aqueles que realmente pertencem a Ele. Quando o seu cuidado atento de 24 horas por dia para com uma criança com necessidades especiais o deixar em profunda fraqueza e cansaço, perceba que a força de Deus é então aperfeiçoada em você.
Nota pessoal: Nós precisamos ser dependentes.
8 – O objetivo de Deus é nos moldar à imagem de Seu Filho (leia Romanos 8.28-30).
Todas as coisas não cooperam por si mesmas para o bem. Não. Leia os versos acima mais uma vez. Não é que todas as coisas de alguma maneira se resolvem bem no final; é Deus quem opera ativamente para que todas as coisas cooperem para o bem. Não há nenhuma dificuldade (e Deus realmente quis dizer nenhuma) que fuja do Seu controle. A sabedoria de Deus capacita-O a trabalhar em todo e qualquer sofrimento e adversidade para cumprir o propósito da Sua glória e nossa semelhança com Cristo. Nossa santificação – tornarmo-nos como Jesus – é de grande interesse pessoal do Senhor.
Nota pessoal: Nós precisamos centralizar nosso foco em Cristo.
9 – Deus disciplina aqueles que Ele ama (Leia Hebreus 12.3-13).
Deus só disciplina aqueles que realmente pertencem a Ele, enquanto que os desviados espiritualmente seguem tranquilos em seu caminho para a destruição. O desejo de Deus de que nos tornemos semelhantes a Cristo leva-O a desenvolver um programa de treinamento pessoal para cada um de nós. Ele nos corrige, guia e treina de acordo com as nossas necessidades. Nossas provações não são punições. Não. Cristo já cuidou de toda a nossa punição. O sofrimento é parte do programa de treinamento de Deus para nos conformar à imagem de Seu Filho.
Nota pessoal: Nós precisamos ser submissos à estratégia de treinamento de Deus.
10 – Deus nos criou com dignidade (leia Gênesis 1.26).
Quando a Trindade se reuniu antes da criação do mundo, a decisão foi separar a humanidade de qualquer outro ser criado. Somente nós possuímos um incontável valor como portadores da imagem de Deus. Toda criança, quer nasça “com saúde” ou “com necessidades especiais”, é de valor inestimável aos olhos de Deus.
Nota pessoal: Nós precisamos ser gratos por cada pessoa criada à semelhança de Deus, pois cada um tem um valor inestimável.
11 – Deus nos redimiu para vivermos em comunidade (leia 1Coríntios 12.14-25; Romanos 12.10, 11).
A igreja não é como um corpo; ela é um corpo. Ela é um organismo vivo, com muitas partes, cada uma das quais é de igual importância e valor, embora a proeminência das funções seja diferente. A igreja precisa de pessoas com necessidades especiais, membros mais fracos, para que funcione como Deus planejou. Se as pessoas com necessidades especiais não forem incluídas na vida da igreja, na plena medida do possível para cada caso, a própria igreja torna-se disfuncional.
Nota pessoal: Nós que temos filhos com necessidades especiais precisamos nos humilhar e permitir que os outros sirvam a nós e a nossa família.
12 – O sofrimento ordenado por Deus para a nossa vida neste mundo decaído é “leve” em comparação ao peso de glória que um dia Ele nos revelará (leia Romanos 8.18-25; 2Coríntios 4.17, 18).
Quando comparados com a eternidade na presença do Criador, que se tornou o Salvador, todo sofrimento e toda incapacidade nesta vida ganham pouca relevância. O brilho da glória de Deus dissipa toda sombra de dúvida.
Nota pessoal: Nós precisamos manter nossos olhos em Jesus e ansiar pela volta do Senhor.
Que esses pilares em uma teologia das necessidades especiais sejam para nós um fundamento de conforto e estabilidade para uma fé vibrante!
Original: 12 Pillars of Faith for Parents of Children with Disabilities – Biblical Counseling Coalition Blog
Tradução: Rebeca Araújo
Revisão: Conexão Conselho Bíblico
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