Conselhos de Deus para o aconselhamento dos mais jovens

Rick Horne

Provérbios fala a respeito de sexo e dinheiro fácil, boas e más amizades, beleza, medo do que os outros pensam de mim, empréstimos descuidados, preguiça e trabalho, prazeres e dor, reações de ira impetuosa, desatenção com conversas insensatas, uma boa ou má reputação. Esta lista poderia seguir por muitas linhas. Declarações incisivas sobre centenas de aspectos da vida de interesse para os jovens e a sabedoria de Deus para lidar com todos eles: é assim que definimos o livro de Provérbios.

Provérbios: um livro para adultos jovens
Provérbios é um livro para adultos jovens. Provérbios 1.4 diz enfaticamente que o livro é para dar aos jovens “conhecimento e bom senso”. A palavra hebraica para jovem, na’ar, é usada centenas de vezes no Antigo Testamento e, na grande maioria das vezes, refere-se a pessoas jovens desde a puberdade até a completa maioridade por volta dos 30 anos de idade. (As cerimônias do Bar Mitzvá para os meninos e Bat Mitzvá para as meninas, aos 13 e 12 anos de idade respectivamente, continuam a marcar na atual cultura judaica a entrada na comunidade como jovens responsáveis).

Na’ar tem a plena competência de um adulto, todas as responsabilidades, mas não toda a liberdade de um adulto maduro. Este é o motivo pelo qual são chamados de adultos “jovens”. Eles ainda estão debaixo da autoridade de seus pais. Provérbios é adequado para jovens, e também para crianças mais novas quando os pais e professores expõem os conceitos de modo a facilitar a compreensão. A brevidade, a natureza poética, a conexão com a vida real e os interesses dos jovens, e o consequente foco em praticar ou não praticar a sabedoria, são trabalhados artisticamente e adaptados habilidosamente para a etapa em que a vida dos jovens é moldada.

A sabedoria de Deus para os jovens
Em meu trabalho com os adolescentes ao longo dos últimos 40 anos, algumas observações sobre a sabedoria de Deus para os jovens destacaram-se para mim em Provérbios. Certamente há ainda outras, mas estas são aquelas que me vêm à mente em primeiro lugar. Os líderes e os pais de jovens devem prestar atenção à abordagem de Deus e devem seguiá-la para poder oferecer conselhos úteis aos jovens.

1- Dar conselhos aos jovens é sempre um ministério.
“O temor do SENHOR é o princípio” tanto do “conhecimento” (Pv 1.7) quanto da “sabedoria” (Pv 9.10). Quem trabalha com jovens precisa estar ciente de que cada palavra que for dita no aconselhamento conduzirá os jovens para perto ou para longe da vontade sábia de Deus para sua vida. As palavras hebraicas usadas nesses versículos e traduzidas como “princípio” são diferentes. Ambas colocam os adolescentes no universo redentor de Deus. SENHOR, YHWH, é o nome do Deus do pacto, o Redentor.  “Do SENHOR é a terra” (Sl 24.1). Tudo pertence a Ele e é para Ele (Cl 1.16). Isso inclui os adolescentes e os anos da adolescência.

Em Provérbios 1.7, “princípio” significa que o temor a Deus é a característica mais importante do conhecimento. Ele é como o oxigênio, necessário para o seu corpo sobreviver. Você pode ter muitas outras coisas, mas você fica sufocado e morre se não tiver o oxigênio. Todo o conhecimento no mundo, em muitos bytes de dados, não se mostrará útil em longo prazo (e, muitas vezes, nem em curto prazo) sem o temor do Senhor atuando como a força interna de coesão para configurar os dados de modo preciso e sadio. Isso é verdade em todas as áreas da vida e Provérbios identifica centenas delas. “Para que devo viver, Senhor?” Este é o começo de pensamento produtivo em todas as esferas da vida. Jesus é o Alfa e o Ômega.

Em Provérbios 9.10, a palavra hebraica para “princípio” tem a ver com a ordem das coisas. É como abotoar uma camisa ou lançar um foguete – o ponto de partida afeta o resultado final. O temor a Deus é o ponto mais crítico para começar a ter uma perspectiva sobre como colocar a vida em ordem, ou seja, viver com sabedoria. “Como devo viver, Senhor?”  Este é o ponto inicial do comportamento proveitoso em qualquer área. Como devo usar o que estou aprendendo sobre este mundo e a vida, para que eu não seja como alguém que fugindo de um leão, encontra um urso, ou como alguém que refugiando-se em sua casa e, encostando a mão na parede, é picado por uma serpente  (Am 5.19)?

2- Todo o conselho dado aos jovens aponta para uma consequência
Não precisamos avançar muito na leitura do livro de Provérbios para perceber que os sábios que o escreveram abordaram tanto as consequências temporais positivas quanto as negativas para motivar os jovens a fazer boas escolhas.  Já a partir do primeiro capítulo somos atingidos por um tsunami de consequências. Com certeza, há implicações eternas para cada decisão. No entanto, o “aqui e agora” da vida está na linha de frente para os adolescentes e precisa estar na linha de frente para o aconselhamento dos adolescentes em Provérbios.

Pelas minhas contas, em Provérbios, existem 368 consequências temporais negativas e 324 positivas direcionadas aos jovens para que as considerem ao tomar decisões na vida: o benefício do trabalho duro, a pobreza que resulta da preguiça, a armadilha de fazer promessas tolas, sua vulnerabilidade para ser sexualmente seduzido mesmo dentro do ambiente cristão, as consequências das amizades sábias ou tolas, e outras centenas mais.  Os sábios de Provérbios acenam continuamente diante dos jovens, expondo os resultados agradáveis ou dolorosos das suas escolhas como um toureiro que movimenta a capa vermelha para chamar a atenção do touro.

Os conselhos de Provérbios não são neutros a respeito do que constitui uma vida sábia. Eles também não tomam as decisões em lugar dos jovens, mas são claros em dizer o que é prudente e o que é insensato em suas escolhas e em explicar a razão de ser assim.

3- O mundo exterior é uma “porta de entrada” para o coração dos adolescentes
Os resultados habituais das escolhas que eles fazem é uma “porta de entrada” para chegar à motivação do coração dos adolescentes. Conforme já destacamos, nossa conversa é um ministério. Nosso alvo não é apenas conseguir que os jovens façam aquilo que é certo, como os fariseus. Nós queremos atingir e ganhar o seu coração. No entanto, as quase 700 consequências traçadas em Provérbios parecem apontar que a nossa ajuda dirigida aos adolescentes deve começar com conselhos que alertam para tais consequências. Muitas vezes, aquilo que faz mais sentido para os adolescentes são justamente os resultados e consequências que eles conseguem visualizar como prováveis de ocorrer em sua vida.

É pelos frutos colhidos que Deus parece começar Sua conversa com jovens diante das centenas de decisões que eles têm para tomar. Isso não contradiz aquilo que dissemos anteriormente, mas o que temos em mente agora é que o ponto ao qual nós queremos chegar com nossos conselhos não é necessariamente aquele pelo qual os adolescentes querem começar uma conversa. O exterior está vinculado ao interior, com certeza. Mais adiante, poderemos estabelecer essa conexão. À medida que os jovens praticam ativamente a sabedoria de Deus e veem seus frutos (e eles normalmente os veem – Provérbios 9.10), cultivamos com eles um relacionamento de confiança que pode se tornar forte o suficiente para aguentar a nossa sondagem e conduzi-los a uma autoconfrontação mais profunda, que atinge o coração.

4- Os adolescentes são motivados por “vontades” boas
Pela graça comum, ou seja, a bondade de Deus para com todos, os adolescentes costumam querer coisas que são boas para eles. Evidentemente, o pecado deturpa de várias maneiras esses desejos bons, mas por trás do livro de Provérbios como um todo está um currículo de desejos estabelecidos por Deus para o qual os sábios querem atrair os jovens com seus conselhos.
“O alongar-se da vida está na sua mão direita…” (Pv 3.16a)
“Riquezas e honra estão comigo…” (Pv 8.18a)
“O filho sábio alegra a seu pai…” (Pv 10.1a)
“A boa inteligência consegue favor…” (Pv 13.15a)

Pense nas conjeturas que o conselheiro de Provérbios apresenta aos jovens para cada um dos casos acima. Os jovens querem essas coisas boas. Eles querem uma vida longa, riqueza, honra, pais satisfeitos e uma boa reputação. É por esse motivo que Provérbios faz sentido para os eles. Deus concede esses benefícios como fruto de uma vida sábia.

Ao ouvir os jovens, é possível discernir essas “vontades”. No entanto, frequentemente, o pecado deturpa sua maneira de definir ou até mesmo buscar a concretização de vontades que podem ter sido inicialmente boas. Os conselheiros podem lhes mostrar que aquilo que, de fato, eles estão pensando, querendo ou fazendo acaba sendo como um tiro no pé. Eles estão, provavelmente, destruindo a si mesmos. Com esta perspectiva, a porta se abre para o caminho da sabedoria de Deus. Quando os adolescentes entendem a mensagem de Provérbios, eles costumam buscar mudanças significativas tendo em vista alcançar os resultados esperados. Se eles chegaram a se dispor a tais mudanças, e se você está envolvido na vida desses jovens, você provavelmente construiu com eles um relacionamento forte a ponto de poder aprofundar o aconselhamento rumo ao nível seguinte, o nível do coração.

5- Você pode encorajar cuidadosamente os jovens com base em algumas boas escolhas que eles já fizeram
Visto que a vida é constituída de incontáveis escolhas, os adolescentes com quem você trabalha já fizeram, sem dúvida, algumas boas escolhas. Os escritores de Provérbios reconhecem que algumas dessas boas decisões aconteceram porque ainda há chances para eles. Eles não estão completamente autodestruídos. Existe a esperança de que eles venham a tomar boas decisões no futuro, assim como já tomaram algumas boas decisões no passado.

Às vezes, os adolescentes com quem conversamos estão desanimados: “Nada do que faço está certo! Tudo o que faço está errado!”. Em geral, diante desse desânimo, aponto para o adolescente que está sentado diante de mim e lhe digo que notei que ele está vestido.
— Esta é uma boa escolha que você fez hoje, a não ser que tenha sido sua mãe que o vestiu.

Outra possibilidade seria lhe perguntar se ele, ao acordar e sentir um desconforto abdominal, levantou-se, foi resolver a questão no lugar certo e sentiu-se prontamente bem.
— Você está me perguntando se eu fui ao banheiro?
— Sim! E essa foi uma boa decisão que você tomou.
Eu nunca conversei com um adolescente que não risse a essa altura da conversa. E isso abre-nos caminho para ir ao ponto desejado: eles ainda conseguem tomar boas decisões.

Na verdade, é bem provável que eles já tenham feito algumas escolhas ruins, que podem ter resultado em consequências dolorosas. No entanto, como cristãos, tais escolhas não definem a identidade de cada um deles. O fato, porém, é que os adolescentes costumam ser míopes e enxergar apenas o que está perto. Eles não veem o quadro maior, mas você pode ajudá-los a ter uma visão mais ampla da vida, mostrando-lhes que eles já tomaram algumas boas decisões no passado e são capazes de fazê-lo novamente. Isto pode lhes dar um senso de que “as coisas ainda podem ser diferentes”. As mudanças são possíveis com Cristo.

Há muito mais a dizer e aprender sobre o processo e o conteúdo do aconselhamento de jovens. Considerar o modelo que nosso Pai providencia na literatura de sabedoria para a orientação desses jovens preciosos é o melhor lugar para começar – e para terminar: “Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: Tema a Deus e guarde os seus mandamentos, pois isso é o essencial para o homem. ” (Ec 12.13). Para todos os adolescentes (e adultos também), a essência é “tema a Deus”.


Original:  God’s Counsel About Counseling Youth  – Biblical Counseling Coalition Blog