Jeanne Harrison
Como viver em nossa cultura e conviver com a mídia sem comprometer o nosso relacionamento com Deus? O desafio é para todos, mas ele se torna particularmente significativo no mundo feminino quando consideramos as mensagens das séries de TV, que tão facilmente cativam. “O que há de errado com essa série? Ela não é ‘suja’! É só um entretenimento inofensivo!”
Se você, mulher cristã, chegou até aqui, não interrompa a leitura pensando que iremos lhe pedir para desfazer-se da TV, cancelar a assinatura do serviço de streaming e nunca mais assistir a um filme. Esta não seria uma abordagem realista para a maioria. No entanto, disponha-se a pensar sobre aquilo que a mídia lhe oferece e a tomar decisões sensatas como mulher cristã. Quais são as expectativas de amor, relacionamentos e estilo de vida que a mídia comunica? Elas condizem com a sua realidade? Elas despertam em você um certo tom de inveja e descontentamento?
Ainda que o conteúdo não afetasse o seu coração, as séries viciam. Elas passam a dominar as horas do dia. Será que elas ocupam mais horas do seu dia do que Deus e Sua Palavra? Elas ocupam mais horas do seu dia do que o seu investimento ativo e amoroso em outras vidas, dentro e fora da sua família? Quais são as responsabilidades que ficam para trás, derrotadas por mais um episódio da sua série favorita?
Nossas escolhas de entretenimento são um reflexo do nosso coração. Abra a sua Bíblia, considere o seu coração diante da Palavra de Deus, e invista tempo para discernir o que é edificante e o que é tóxico em sua vida. O testemunho a seguir, escrito por Jeanne Harrison, tem o propósito de encorajá-la nessa avaliação (1).
Puro para você, mas não para mim.
Esse era o meu guilty pleasure – um prazer com um toque de culpa. Pelo menos era isso que eu dizia a mim mesma quando as crianças já estavam na cama, a louça estava lavada, e eu me acomodava em frente à TV, enrolada em um cobertor. Eu havia descoberto aquela série tarde da noite, certa vez que meu marido estava participando de uma reunião e eu estava exausta demais para fazer qualquer coisa produtiva. Era a nova tendência da Netflix, e por isso resolvi ver de que se tratava. Dois episódios, e eu já estava viciada. O enredo era cativante, as personagens eram deslumbrantes e seu mundo era extremamente emocionante.
Era tudo tão diferente do meu mundo!
Além do mais, era uma série “limpa”. Eu já estava no meio da primeira temporada e os personagens principais ainda não tinham sequer se beijado. Na verdade, era isso que tornava aquela série emocionante – Será que eles terminariam juntos?
Era tudo tão romântico!
Foi assim que todas as noites eu pegava minha pipoca, afundava-me no sofá e dizia a mim mesma: “Esta série é muito mais limpa do que as que minhas amigas assistem. Muito mais limpa!”.
Havia um único problema, e ele me incomodava.
Incomodava-me de manhã, ao acordar na vida real com o episódio emocionantes da noite anterior ainda fresco em minha mente. Incomodava-me à tarde, enquanto eu dobrava as roupas lavadas, brincava com as crianças, mas contava as horas para que elas estivessem na cama. Incomodava-me à noite, quando eu comparava o meu relacionamento conjugal estável com o romance florescente que eu via na tela. “Desconfio que eu preciso parar de assistir a essa série”, foi o que eu finalmente disse a uma amiga. “Ela está me tirando da realidade.” Então, para que minha amiga não me julgasse, eu rapidamente acrescentei: “Mas é uma série limpa! Não há sexo nem nudez alguma”.
A relatividade da pureza
Em 2012, Ted Turnau escreveu um livro chamado Popologetics, que examina a cultura pop de uma perspectiva cristã. O livro ensinou-me uma verdade esclarecedora: quando consomem mídia, os crentes devem considerar mais do que apenas o conteúdo; é preciso considerar o contexto.
O conteúdo é facilmente observável. Na verdade, muitos sites úteis como o Plugged In alertam para o conteúdo questionável nos filmes, permitindo que os cristãos façam escolhas sábias. Eles alertam para a presença de sexo, nudez, violência, palavrões – toda sorte de lixo que queremos evitar.
O contexto, porém, é algo bem mais complicado. Vou lhe dar um exemplo. Alguns meses atrás, meu marido e eu escapamos durante um fim de semana para celebrar o nosso aniversário de casamento. A programação televisiva de uma daquelas noites incluía um filme antigo e clássico. Eu já o havia visto uma dúzia de vezes, mas Clint deu uma olhada e disse: “Eu não posso ver esse filme”. “Sério?”, eu perguntei. Eu sabia que havia algumas cenas ruins, e lhe disse que eu as pularia. No entanto, ele balançou a cabeça e disse: “O problema é a maneira de vestir daquela atriz”. “Eu não quero ver isso.” Rapidamente mudei de canal, sentindo-me grata pela honestidade de meu marido.
Na noite seguinte, foi a vez de um filme de ação. “Gosto desse filme!”, ambos dissemos ao mesmo tempo. Nós o assistimos. Do ponto de vista de conteúdo, ele mereceu nota 10. Houve pouca violência, quase nada de palavrões e absolutamente nada de sexo e falta de modéstia. Nem um beijo sequer.
No entanto, aquele filme mexeu interiormente comigo. O herói era bonito, forte e invencível. Ele sempre resgatava a moça nos momentos mais críticos. Quando ele adoeceu, ela cuidou dele até recuperar a saúde. Eles formavam uma dupla perfeita, lutando juntos pela vida, e protegendo com bravura um ao outro.
Naquela noite, deitada na cama, pensei nos dois filmes, tão diferentes um do outro. O primeiro tinha algum conteúdo questionável, mas aquilo não me incomodava. As roupas da heroína não me fariam tropeçar, e o herói do filme era velho e pouco atraente para mim. No passado, eu costumava assistir por gostar da história e achá-lo divertido. Eu sempre pulei as cenas impróprias, e me esquecia do filme no momento em que ele terminava.
O segundo filme, porém, ficou na minha mente e, pior ainda, no meu coração. Ele me levou a cobiçar uma vida que não era real, uma aventura, um romance e um herói que nunca existiriam na realidade. Fez-me desejar intensamente algo que não passava de uma fantasia.
É isso que Turnau quer dizer quando ele fala que o contexto também é importante. O “contexto” é diferente para cada pessoa. Em outras palavras, o que é puro para você pode não ser puro para mim. Agora, entenda-me bem: eu acredito absolutamente que há um padrão bíblico pelo qual pecado é pecado, e ponto final. Ninguém pode se justificar dizendo: “A pornografia pode não ser pura para você, mas é pura para mim”. Há um ponto em que o “conteúdo” é contrário à Palavra de Deus e os crentes devem se posicionar contra ele. Muitas vezes, porém, é tentador apontar o dedo para alguém que assiste “àquela tal série” na TV, enquanto a minha “série pura” pode ser tão venenosa para a minha alma, ainda que não tenha conteúdo explícito. Seria sensato investir menos energia em julgar os outros e mais energia em aprender o que é impuro para mim, talvez não pelo conteúdo, mas pelo contexto que provoca. Filipenses 4.8 diz:
Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas.
Esse verso levanta algumas questões: Você está assistindo a alguma série ou lendo alguns livros que a levam a pensar em coisas que não são recomendáveis? Que tipo de conteúdo a faz tropeçar? Você está consumindo alguma forma de mídia que faz você se sentir insatisfeita com a vida que Deus generosamente lhe deu?
Tempo atrás, desafiei uma amiga a parar de assistir a um programa muito popular de decoração e utilidades para a casa porque despertava em seu coração muito descontentamento e materialismo. O programa era tão “limpo” que uma criança poderia vê-lo, mas estava causando brigas entre minha amiga e seu marido. “Mas é um programa tão bom!”, ela me disse. “Eu sei”, foi minha resposta, “mas talvez não seja um bom programa para você“.
A recompensa da obediência
Eu me lembrei de minha amiga quando precisei lutar para abrir mão de minha “série especial”. Havia sido fácil para mim detectar aquilo que comprometia a vida cristã de outra pessoa, mas era tão difícil vencer aquilo que estava comprometendo a minha vida. Finalmente, um dia eu afundei no sofá e disse a Deus: “O que estou fazendo? Eu me conheço. Séries como esta são a minha kryptonita!”.(2) Como as pessoas insensatas de Romanos 1.18, eu tinha “suprimido a verdade” porque eu amava o meu pecado. Mas naquele dia, tomei a decisão de amar mais Jesus do que um entretenimento. Pela Sua graça, cortei da minha vida aquela série. Abandono total e imediato!
Dentro de dias, a névoa do descontentamento começou a se dissipar. Descobri que eu estava me deliciando com a minha família – interessando-me por meu marido com uma afeição renovada, agradecendo mais e mais a Deus pelos meus pequenos. Melhor que tudo, senti o prazer de Deus. “É muito melhor”, eu sussurrei para o Senhor, “Seu caminho é muito melhor!”.
A verdade é que o caminho de Deus raramente é fácil, mas é sempre o melhor. Se você está lutando hoje com alguma forma de mídia que está minando a sua alma, você está pronta a abandoná-la com determinação? Faça-o para agradar a Deus! Substitua por algo que resulte em benefício espiritual e pessoal – um bom livro, um café com uma amiga, sair com seu marido, ir dormir mais cedo! Você poderá não ver uma diferença imediata, mas aquela névoa irá se dissipar. Quando isso acontecer, você perceberá que havia trocado a verdadeira alegria por um ídolo banal.
(1) Extraído de Pure for You, But Not for Me.
Copyright Revive Our Hearts. Usado com permissão.
(2) NdT. Nas histórias relacionadas ao Superman (histórias em quadrinhos, filmes e séries de TV), a kriptonita é um mineral que tem o efeito principal de enfraquecer o (de outro modo invulnerável) Super-Homem. Wikipedia